quinta-feira, 31 de março de 2011

DESEJO - 17 -

- Penelope Cruz -
- 17 -
Após o almoço Armando Viana estava a repousar na sala de entrada e a contemplar as figuras expostas na parede de cima das estantes. Quadros bem velho. Talvez tirados de um desenho qualquer. Era o mundo de sonhos e quimeras para os herdeiros de tudo aquilo. Sonhos de um dia muito distante. Nesse instante a moça Norma Vidigal surgiu com vagas de entre a porta. Era uma verdadeira deusa aquela mulher sedução. E trazia consigo um copo de ponche ou algo assim para ofertar a Armando. Aquele era um convite de uma emoção em flor para o rapaz já imensamente cansado das aventuras inolvidáveis de uma manhã de sol. Enfim Armando aceirou o ponche trazido pela sua nova namorada, talvez, talvez. Ele estava a olhar um quadro de um homem de barbas longas. A moça notou e indagou do rapaz:
--- É belo o quadro? – indagou a moça ao rapaz.
--- Sugestivo. Talvez fosse uma pintura. Magistral. – respondeu o rapaz coçando o queixo.
--- Aquele é o coronel. Feitor de tudo isso onde hoje nós pisamos. – sorriu a moça.
--- Interessante. Há quanto tempo. Ele nem pensava em mim. – sorriu o rapaz em comentários.
Norma a sorrir se pôs a sentar no tapete a forrar o alcochoado de veludo do sofá se deitando com a sua cabeça no ombro amado de Armando. Ela também ficou a cismar os velhos retratos estampados na parede tudo aquilo como se fosse um sonho da eterna afeição. O retrato do Coronel Epaminondas Vidigal chamado de apenas Coronel Vidigal era o primeiro de todos da lista imensa estendida na ampla sala de visitas.
--- Epaminondas Vidigal era o seu nome. Porém todos o chamavam de Coronel Vidigal. Homem severo. Ele fez diversos tuneis por baixo da casa grande. Eu me lembro bem de dois. Um em direção as pedras da praia. E o outro em direção à  serra chamada de Serrote do Coronel. Esse se chamava de “Três Bocas”. Meu pai me contava quando eu era criança. Certa vez, o Coronel fez emboscada a um bando de bandidos sanguinários comandados por tal alemão. Já nem me lembro o nome do facínora. Parece ser Josef. O Coronel emboscou a turma toda em Três Bocas e ele matou quase todos. Só escaparam uns poucos para contar a historia.
--- Puxa! – falou Armando alarmado com a estória.
--- Ora mais. Na Pedra Grande, a que dá na praia, ele matou um sem numero de corsários. Eles chegaram num Galeão para roubar tudo o haver de fortuna, prata, ouro, diamantes e comida mesmo. O velho Coronel Vidigal quando soube do saque deslocou os seus capangas e índios aqui servindo pelo túnel da Pedra Grande e esperou o momento de atacar. Os jagunços, os índios e mais uns escravos libertos.  A praia se encheu de corsário. Tudo quito. Quando os corsários se arrancharam, os índios atiraram flechas umas atrás das outras acertando em cheio os bandidos. Esses corsários começaram a atirar. Foi à vez dos jagunços do Coronel fazer fogo também. Era flecha pelo ar e as carabinas comendo fogo. Só sobraram os que fugiram para o Galeão. A praia ficou coalhada de bandidos mortos. – descreveu Norma a sena.
--- Ora merda! – respondeu alarmado o jovem Armando.
--- Quer saber de outra? – indagou sorrindo a jovem Norma.
Sem querer forçar a mente da moça cuja emoção era maior daquele momento, Armando, sem muito querer disse-lhe apenas se tinha outra historia capaz de contar.  Norma sorriu e respondeu de muitas aventuras e peripécias do coronel e outros famigerados donos de terra em busca de tomar mais terra. A do Coronel Vidigal era uma das maiores terras já vistas na região. E por isso ela era muito cobiçada por outros fazendeiros. Ao pedir algo mais do acontecido nos tempos do Coronel, a moça Norma fez um:
--- Depois eu conto mais. Agora nós vamos tomar banho de mar. Passear na praia. É o que se deve fazer de melhor. Ver a praia. – sorriu franca a jovem enamorada.
Armando Viana sorriu e concordou até por que não teria a intenção de fazer a jovem e augusta moça tanto falar dos seus ancestrais, uma vez ter o assunto um tanto desgastado para ele, um repórter de cidade vindo de província. Com certeza o velho Coronel Vidigal devia ter sido um português misturado enfim com puro espanhol, certamente. Nisso pensava bem Armando matutando consigo mesmo. Tomaria por sinal Armando a partir de Vidigueira, de pura origem espanhola. Família de punho linho Real. Com isso o rapaz deu por encerrado o seu raciocínio sobre o sobrenome Vidigal.
Andando por mais extensos passos ele viu uma encosta de cerca de vinte metros de altura. E ficou Armando a imaginar ser aquele o local da chamada Pedra Grande. E ele então indagou a Norma não ser aquele o local assumido pelo Coronel Vidigal para ser à saída do túnel cuja entrada era bem estreita, dando passagem a um homem. Ela ficou curiosa com o acerto tido por Armando e chegou a lamentar ter sido tão desprevenida a contar uma estória de longos tempos. E então ela perguntou ao rapaz.
--- Como você descobriu a entrada ou saída da Pedra Grande? – indagou a moça plenamente assustada.
--- Perguntei por perguntar. Apenas isso. – sorriu Armando a decifrar o tal segredo da Pedra.
--- Mas você é daqui mesmo ou é um estudioso das façanhas dos antigos homens da região? – averiguou a moça assustada.
--- Nada disso. Eu vi a Pedra, examinei com perfeição o local e aventurei a indagar de você. – sorriu Armando acochando a moça ao seu peito.
--- Vou acreditar no que você diz. – sorriu a moça a olhar a Pedra Grande.
--- Tem muitas falésias por toda a região. Pelo menos uma era a que mais se destacava entre as demais falésias. – argumentou o rapaz.
--- Inteligente e curioso você. – sorriu a moça se acomodando no peito do rapaz a verificar de modo amplo o segredo da Pedra Grande.
--- São coisas simples as que guardam maiores segredos. – sorriu Armando ao explicar a sua descoberta da Pedra Grande.
--- Tens pura e total razão. – sorriu a moça por ser tão desprevenida com o assunto.
E a partir desse ponto Norma Vidigal tomou por dianteira a dizer o lugar ser proveitoso para o Coronel Vidigal fazer o seu extenso túnel por entre a casa grande e a praia e a enfrentar os pretensos invasores aventureiros e piratas por ventura existentes naquela região desprovida de maior vigilância no tempo de 1850 quando o velho coronel se apossou do lugar por ordem do Rei do Portugal. Outros posseiros também chegaram ao interior e fizeram do lugar o seu sustento para si e a sua família. Foram muitos os posseiros de terra devoluta a residir no novo Continente descoberto por Portugal. Era uma região inóspita só habitada por fazendeiros, seus vaqueiros, capangas e índios pacificados. A guerra pela posse das terras era um inferno onde o mais forte dominava o mais fraco. E Norma relatou:
--- Eu vivo hoje. Porém, quando eu era menina, um velho, seu Homero, chegou a me dizer ter havido muito sangue derramado por essas bandas. E relatou: no túnel do Coronel Vidigal havia coisas estranhas, como uma sala dos mortos vivos. Os escravos eram confinados ali para o resto da sua vida. Esse os escravos rebeldes. O que fugisse era capturado e levado para o salão dos mortos vivos. Eu tremi de medo com esse relato. E tinha um buraco sem fim. Quem caía do buraco não mais se achava. Era como quem chegava ao inferno. – contou Norma ao seu amado.
--- Nossa!!! Será que tem ainda esse buraco? – indagou Armando assombrado.
--- Deve ter. Deve ter. Eu nunca fui ver. Aliás, eu nunca entrei no túnel, se você quer saber. – descreveu Norma assustada também.
--- Você não tem coragem de ir agora comigo? – indagou Armando à moça para ver sua reação.
--- Deus me livre! Nunca! – respondeu Norma assustada até a medula.
--- Vamos! Só perto. A gente não bole em nada! – sorriu Armando cutucando a moça.
--- Vai tu se tens coragens! – deflagrou Norma se soltando de Armando para encetar corrida.
Armando Viana soltou uma bela gargalhada e perseguiu a jovem linda e atormentada pelo convite que lhe fizera o rapaz. A moça corria e atrás dela, Armando. Dizia apenas:
--- Espere! Espere! Não corras! Eu estava galhofando. Espere! – respondeu Armando a moça.
Mas não houve conversa. Quando terminou as forças de Norma essa caiu ao chão. E quase desmaiada olhou para o seu namorado e lhe disse:
--- Por favor. Nem fale nessas coisas. – reclamou Norma quase a chorar.
O rapaz lhe fez agrados como se estivesse acabrunhado por ter feito a moça quase chorar. Ele na verdade, não queria fazer o que fez. Apenas procurou fazer uma graça com a moça. E se ajoelhou junto a Norma fazendo mil carinhos. Ela se compenetrou e apenas relatou:
--- Eu contei essa estória, mas você nem fale a meu pai, se um dia conhecê-lo. Eu peço que você jure pelo amor de Deus.! – soluçou a moça se estreitando ao peito do homem.
--- Eu juro. Pode deixar. Não falo a ninguém. – respondeu Armando  compassivo.

quarta-feira, 30 de março de 2011

DESEJO - 16 -

- Jessica Alba -
- 16 -
O carro tomou o rumo de uma praia distante da capital. Após rodar por estrada asfaltada, ingressou por outra, sem calçamento até, e cheia de depressões onde o motorista se livrava de uma panela e logo depois tinha outra a sua espera. Tudo isso pelos solavancos de caminhões e outros carros menores formando atoleiros descomunais. O passageiro gingava para um lado e para outro tentando se proteger da melhor forma possível de tantos buracos rompidos. Era um sufoco se transitar por aquele meio de estrada. Arrotos e soluços Armando se cuidava em ao menos cuidar. Obedecendo a mesma deferência de uma oferta prometida de chegar a uma praia deserta, ele chegou a lembrar do sofrido na noite do tiroteio no município de Sertânia. Chuva intensa quando a comitiva do Governo voltava e um atoleiro inesperado. O veículo do Governador se atolou de vez. Somente na manhã do dia seguinte foi possível desatolar de vez o veículo oficial. Isso fez Armando sorrir.
--- Por que achas graça? – indagou a moça que estava na condução do seu carro.
--- Nada não. Apenas os buracos. Teve uma noite onde em voltava com o Governador e foi desse mesmo jeito. O carro do Governo atolou e só saiu no dia seguinte. – gargalhou o rapaz.
A moça também se encheu de graças e relembrou das vezes de não poder voltar por causa da chuva intensa na região. E teve de ficar parada, sem fazer nada na praia por dois longos dias. Apenas ela retornou à cidade quando o tempo melhorou.
--- Terrível se houver chuva nesses dias e não se poder retornar. – gargalhou o rapaz.
--- Não há de ser nada. Nós nos comemos um ao outro. – gargalhou a moça também.
Não tardou muito e o carro chegou ao casarão na beira-mar. Era mesmo um verdadeiro casarão para ninguém por defeito. Talvez tivesse sido construção do tempo de mil oitocentos ou coisa assim. Por duvidas, Armando de nada quis saber. Se fosse atraente, a moça Norma por si só diria. Aquela era a hora de se retirar a bagagem de dentro do carro. Frutas, legumes e até mesmo carne seca pronta para assar. A praia era mesmo muito distante e de casa nobre só havia umas quatro ou cinco. A vila era tão somente uma vila. Casas de taipa ou de palha. Uma bodega fazia a vez de mercado. O pessoal da vila vivia da pesca. Alguns faziam carvão de tronco de árvores derrubadas pelo tempo. Quando o tempo era de estio os carvoeiros faziam sua bagagem e tinham de vender na cidade grande, como era comum se chamar a capital. E nesse ponto, Armando olhou bem as casas e a bodega do outro lado do setor de onde eles estavam àquela hora da manhã.
--- Não tem mercado aqui? – indagou Armando a Norma Vidigal.
--- E nem precisa. O povo tira seu sustento do próprio mar. – sorriu Norma ao levantar uma bolsa até os seus peitos e levar para dentro da casa.
Armando Viana viu tal esforço que se precipitou em dizer a Norma.
--- Deixa que eu pego as mercadorias. – falou vexado o rapaz.
A moça sorria e disse ao rapaz que ela mesma fazia o grande esforço.
Após alguns instantes de tempo, com tudo arrumado no interior do casarão, Norma Vidigal retornou à porta de saída acompanhada por Armando Viana. Ela desceu a escadaria que dava acesso ao casarão, tendo passado pelo alpendre e seguiu firme ao portão onde com um forte assobio chamou a atenção de um pescador. O homem estava bem distante. Porém ouviu o chamado por assobio feito pela moça. Armando Viana ficou de sobressalto com a tamanha audácia a moça: chamar alguém através de um assobio. E quando ouviu a confirmação do chamado, Norma Vidigal fez um gesto com a sua mão querendo dizer:
--- Lá pra dentro. Suba ou espere no portão. – era o que talvez dissesse com a sua mão fazendo um serpentear no gesto para o pescador.
Com isso, Armando Viana sorriu baixinho percebendo quanto vale uma mulher ser criada em uma praia encantada como a que estava presente. Com certeza, Norma Vidigal, se nasceu ali, pelo menos foi criada desde criança e a todos conhecia. Ele olhou mais uma vez o casarão e o alpendre o qual circundava todo o casario. E ficou a meditar:
--- Casarão e tanto. Certamente de 1800 e lá vai fumaça. – pensou Armando a visitar mais de perto as dependências da casa grande.
Nesse momento, Norma chegou ao alpendre do casario e se largou para dentro olhando de soslaio para Armando e dizendo até:
--- Venho já. Espere! – sorriu a moça entrando para o interior do casario.
Armando sorriu, mas não perguntou ainda de quando era aquela construção daquele casario. Voltou para o salão grande de visitas, vendo os quadros dos velhos senhores de engenho. Com certeza os avos ou mais para trás. Pessoas que fizeram a construção daquele enorme casarão. E passou pela memória a questão:
--- Senzala! Será que tem? – indagou para si Armando Viana.
Essa era uma questão de soberba importância: senzala. Se alguém construiu tal império, com certeza devia ter feito pelas mãos dos escravos. E ele olhava atento aos quadros suspensos na parede grossa como se estivesse de boca aberta. Nesse instante retornou de dentro da casa a moça Norma Vidigal e viu com deveras curiosidade o rapaz a esquadrinhar os retratos da parede dos velhos senhores de engenho. E respondeu:
--- Pode olhar. São meus antepassados. Bisavós. Avos. Entre outros. – sorriu Norma a caminhar para a saída da casa.
O rapaz sorriu e se espreguiçou de momento com os braços estendidos do sofá para um lado e para o outro. A moça foi até o portão e Armando ouviu a conversa ligeiramente baixa por causa da distancia. O pescador trazia alguns pescados. Parecia ser de boa conversa esse pescador, pois afinal a moça lhe reprovou ao ouvir dizer ter aquelas ótimas aparências.
--- Conversa! Ficou com esses dois. – reclamou a moça.
--- Fique com mais esse! – sorriu o pescador oferecendo outro peixe.
--- Não. Só quero esses dois. – reprovou Norma Vidigal.
Tão depressa como foi mais depressa ainda Norma retornou a casa mostrando em uma bandeja os dois pescados que ela havia comprado. O tamanho do peixe era regular de modo a poder guardar em uma geladeira a querosene. Tal geladeira doméstica era como se fosse toda feita em madeira. Talvez tivesse sido comprada por seu pai.  E nesse vai e vem à moça retornou a sala onde se postou ao lado de Armando alegando estar com bastante calor. Enquanto o rapaz fez perguntas de quando eram aquelas fotos:
--- Antigas. Antigas. Essas são do meu bisavô. Tem muito tempo. – sorriu Norma a relatar.
Após alguns momentos de explicação e de lembranças tardias, recordando o tempo da aurora da vida de Norma, a moça sugeriu ao seu companheiro ir a praia tomar um pouco de ar e deitar na areia vendo o mar bravio a segredar costumes e momentos passados de tempos de antigamente.  O moço olhou bem firme para Norma e então sorriu.
--- Eu vou colocar o meu maiô de banho. E venha você. Só há nos dois nesse casarão. – sorriu a moça a inquietar o jovem mancebo.
Não tendo outra coisa a ser feita, o rapaz caminhou para um dos aposentos do casarão onde vestiria a sua indumentária. Norma, aproveitando a ocasião chamou o rapaz para o mesmo aposento onde ela estava e deveria se trocar de vestes. O rapaz relutou, porém não resistiu ao puxão lhe dado pelas mãos de Norma Vidigal. E entrou na alcova toda feita de veludo onde o silencio era de ouro. Armando ficou desnorteado com o seu ingresso no patamar do destino. Por muito pouco ele não vira o chão mais perto diante do arrancar para dentro feito por sua companheira de doce ilusão. E ele voltou a falar de modo prudente:
--- Nós e um só quarto? – indagou cismado o jovem e débil convidado.
--- E o que há demais? Nós somos dois adultos. Tu vestes teus trajes e eu os meus. – sorriu Norma para Armando.
--- Mas acontece que eu só tenho o calção! – disse vexado o rapaz.
--- E eu só tenho o maiô. – sorriu Norma declarando um terno amor profundo.
Ela se achegou próximo do rapaz e fez um aconchegante momento de verdadeiro amor. Era divinal como a moça dedicava-se a murmurar ternos segredos de alcova ao ouvido do jovem e imaturo poeta da ilusão quimérica. O dia se prolongava por todo o seu destino e desatino enquanto os dois amantes em volúpia de eternos prazeres sentiam-se um ao outro. Amado e amante por vez dizer nas procelas do destino deslumbrante. O mar ao quebrar nas onduladas pedras pontilhadas perdia o seu sereno mágico da plena manhã de sol de primavera onde meros pescadores destinavam suas barcaças ao largo do mar azul. Os ouriços se encobriam por entre as pedras letárgicas sob brumas dos inocentes e voluptuosos acasos. Não se podia pensar em manhã de sol ao murmurar das ondas a derramar a sua canção de divinal afeto. Era tarde demais para recordar uma distante afeição para guardar as eternas fantasias. E não era então saber o que aqueles ternos amantes apenas faziam o afetuoso amor do momento.
--- Alguém como você jamais eu encontraria. – recitou Armando enternecido de encanto.
--- Goze amor. Goze. Faça o que desejas. – respondeu a mulher enamorada.

terça-feira, 29 de março de 2011

DESEJO - 15 -

- Kristen Stewart -
- 15 -
No sábado à tarde, Armando Viana seguiu de carro de praça para a casa de Leane Ventura, sua namorada. Ele jantaria em casa de Leane e aproveitaria para propor em ir ao cinema à noite, no mesmo bairro onde Leane morava. Com isso, acertou com o motorista Giba ele ir pegar aos dois ou três em casa para onde estava a seguir. No trajeto, Armando conversou com Giba sobre o preço de um automóvel usado. Giba lhe informou não saber ao certo, porém poderia se cientificar sobre o assunto. Outro trecho do assunto foi de como Armando poderia aprender a dirigir um auto. Então Giba informou ser bastante simples: era bastante passar marcha. E sorriu com o desacerto de Armando Viana.
--- Eu sei seu porra! Mas tem outras conversas; carburador e não o que mais. – resolveu dizer Armando encolerizado.
Então o motorista quase morre de tanto achar graça com a preocupação de Armando em saber tudo a respeito de mecânica, assunto próprio para os profissionais do ramo. Por fim, ao cabo de tanto sorrir, Giba lhe disse que tal assunto era próprio de mecânico. O motorista poderá saber como trocar um pneu, examinar o óleo, pôr combustível necessário, mudar a água do carro, ver a bateria. Coisas simples.
--- E como eu faço essas coisas “simples”? – indagou um tanto colérico Armando.
--- Bem. Você só faz isso com o tempo. Tem carro que não precisa de água. A Volks por exemplo. Tem carro que se coloca óleo com gasolina de dois tempos no motor. Tem uma infinidade de segredos. Só aprende se fazendo. – relatou muito calmo o motorista.
--- Puta merda. Eu não vou aprender nunca! – esbravejou Armando.
--- Aprende. Aprende. Eu não aprendi? Você aprende. – sorriu o motorista do carro de praça ao informar com muita calma a Armando.
--- Com quem? – indagou Armando atento a conversa.
--- Com quem o que? Comigo. Eu posso te ensinar. Você só tem que tomar cuidado com as travessas ou mesmo com os zig-zags dos outros motoristas à sua frente. O resto é só dirigir. – sorriu Giba ao relatar ao rapaz os segredos da condução de um veículo.
--- Assim espero. Chegamos. Agora você vem pegar a gente às sete e meia. E depois pegar de novo no cinema. Então a gente volta para casa. É o fim esse namoro. Ou cargas d’águas. – lamentou Armando ao motorista.
Logo após o jantar das sete horas da noite Armando foi com a sua namorada Leane Ventura e a irmã, Sueli para assistir uma fita romântica estando a passar no cinema do bairro. A irmã Sueli era já habitual em freqüentar as sessões de cinemas com a sua irmã. Ela servia de vigia para evitar algum desacerto no percurso. Porém, naquela noite, ao se iniciar a projeção do filme, algo se deu entre Sueli e Armando. A sala estava totalmente escura com a projeção da fita e Armando notou a moça a se projetar para frente deixando a saia descer e ela apenas se ajeitar com o joelho na cadeira que estava à frente de si. Armando estava no meio entre a namorada Leane e a quase cunhada Sueli. Ele não fez coisa alguma. Abraçado a namorada continuou a assistir a fita de puro amor e cobiça mostrando na tela os dois amantes a negociar ternura de afeto entre beijos e carícias. Era uma tensão abrasadora aquela a se projetar para uma platéia pudica em plena hora de anseios e divinal agrado. A mocinha Sueli, irmã de Leane se extasiou por completo ao sentir tamanha afeição entre os namorados na nubente hora de emoção. A sua saia caiu mais, com uma coxa levantada à cadeira em frente, desvendando todo o seu divinal pudor de fêmea alucinada. O rapaz sentiu a leve mão da moça a lhe roçar suave e ternamente a sua perna como quem pedia de forma alucinada um pouco de amor sensual. Na solidão da sala escura de cinema o rapaz deixou-se escravizar na emoção de notar alguém mais a perceber as suas exímias vontades. Enfim, a jovem moça eternizou a lembrança de tantas noites de ansiedades e de loucuras. O lamento do seu coração se abrasou fiel pela cobiçada e eterna simples ternura de alcova. Enfim, encobrindo com um gesto o rosto de sua amada, ele permitiu a sua outra fêmea se acudir a emoção virginal de quem teria ambição. E a terna mão de Sueli se enveredou por suas calcinhas para ter a mesma emoção da fada do filme. E com a sua terna mão a roçar a perna de Aramando ele quase delirou. Enfim, Armando não sabia de vez da eterna magia que lhe deixava tão louco e alucinado pela afeição da pequena dama de amor. Após a sessão os três passeadores voltaram de carro para a casa de Leane. Por sua vez Armando era o único a recordar daquele amor profundo de forma tão suave e juvenil onde lhe deixou em êxtase a carinhosa e diletante Sueli. Ele então disse adeus às irmãs partindo então para o seu aconchegante e afetuoso destino onde pernoitaria até a manhã seguinte quando Norma Vidigal teria sua vontade de alcova atendida.
Às sete horas da manhã do domingo Norma Vidigal estava batendo à porta do apartamento de Armando Viana. Esse mal acordara, pois estivera a sonhar e estava a fazer asseio de sua boca além de outras necessidades da manhã cedinho. Apenas gritou de dentro do banheiro:
--- Eu vou já! – gritou Armando para alguém da porta.
Notadamente, a moça sorriu e viu então que era cedo demais para despertar o rapaz. Então Norma relatou ter de ir ao mercado e de volta passaria em seu apartamento. Armando ouviu e respondeu;
--- Nós nos encontramos no café de dona Gloria. – gritou de dentro o rapaz.
A moça sorriu e concordou em procurar o café de dona Nazaré. Então se desculpou e partiu sorrindo. O rapaz enfim teve pressa em se arrumar. Além do habitual ele procurou um calção, coisa simples, porem de faltar para ele. Enfim, calção era negocio de praia. E ele não sabia o que era ir a praia. Por isso mesmo buscou por inteiro o calção sem encontrar onde punha a roupa uma nesga sequer. Por fim ele alarmado disse:
--- Isso é uma merda. Vou ter que comprar um calção no Mercado! Porras! – resmungou o rapaz desatinado.
E foi assim que se deu. Tão de imediato ele pulou para fora do seu apartamento, levando toda a indumentária do serviço com a falta do calção. E assim, ele se embrenhou por dentro do Mercado a procura de um calção de banho. Triste noticia: calção não tinha onde ele procurou. As lojas de vendas de tecidos com certeza tinham também calção. Porém, àquela hora todas as lojas ainda estavam fechadas. Teve alguém que disse:
--- Troque com um moço da descarga de frutas! – alegou o homem.
--- Quem? Eu? Você é louco? Eu vestir um calção esfarrapado? Nunca! – respondeu Armando cheio de raiva.
--- Foi só uma idéia. – disse o homem a sorrir.
--- Deixa pra lá. Eu compro da feira. – argumentou Armando saindo para o café de dona Gloria.      
Não tendo feito, se faz. E foi isso que Armando Viana fez. Ao chegar ao café de Gloria já encontrou Norma Vidigal. A moça estava contente, pois o recebeu com um largo sorriso. Por seu lado, o rapaz também para a moça. E os dois se acomodaram em um banco onde Nazaré servia café aos fregueses. Por breve momento a mulher indagou da moça:
--- Café também? – indagou Gloria com a cabeça abaixada quase perto de Norma Vidigal.
--- É. Eu vou tomar. Mas ponha pouco. – sorriu a moça.
--- Não paga nada. É de graça. Agora, se comer algo, eu ponho na conta. – sorriu Gloria.
--- Como uma tapioca? – sorriu Armando convidado Norma a sentar junto a ele.
--- Tapioca! Faz tempo que não como! Lá em casa só tem pão com ovo. – gargalhou a moça.
--- Pobreza! – fez o rapaz.
E Norma Vidigal voltou a gargalhar sem sossego. Ao para de sorrir ela reparou o que dissera.
--- Na verdade, é que o pessoal dá pouca importância à comida caseira. Meu pai é quem prefere essas comidas. Cuscuz, mungunzá, arroz doce, tapioca. Mesmo assim nunca se faz. As empregadas se arrumam com bolos, milho, e ainda tem frutas. Ah isso tem de monta. Essas comidas caseiras eu nem sei se elas sabem fazer. – confidenciou a moça ao rapaz.
Após o café da manhã, Armando e Norma Vidigal partiu em busca de algo ainda em falta: o calção. Ele rumou para a feira do domingo e encontrou um calção de certa forma elegante. A moça acompanhou na compra e disse em estilo:
--- Esse fica elegante ao seu modo. Porém, lá em casa, na praia, tem outros calções de banho. De qualquer forma você tem o seu, comprado novo. – sorriu Norma Vidigal ao seu modo.
--- Com quem casei a minha filha! – raciocinou Armando Viana.
--- O que está a pensar? – indagou Norma de surpresa.
--- Nada não. Apenas pensei alto. Eu pensava em você poder um calção em sua casa de praia – argumentou o rapaz.
--- Pois é! Vamos? Está tarde! – reclamou Norma por conta do atraso sofrido.
--- É verdade. Está tarde. E o caminho é longo. – reclamou Armando de cabeça baixa.
--- Isso a gente tira na viagem. – sorriu Norma Vidigal

segunda-feira, 28 de março de 2011

DESEJO - 14 -

- Faye Dunaway -
- 14 -
O comandante avançou bar adentro empurrando com os próprios pés as portas dos quartos onde alguns noturnos dormiam a vontade enquanto outros militares detinham o dono do bar, seu Neco, o repórter e o fotógrafo. O repórter Armando Viana não faz qualquer esboço de fuga como também o fotografo Canindé. Esse, aproveitando a ocasião registrou a ação da policia. Os soldados estavam totalmente aparelhados e apenas diziam:
--- Deita! Deita! Deita! – relatavam os policiais.
Era uma balburdia tremenda aquela que acordava a todos no instante da manhã. No bar, os homens nem tentavam correr, pois a porta de saída e de entrada estava fechada por militares fardados e fortemente armados de revolver e escopeta. As poucas mulheres que estavam a despachar apenas choravam com medo não se sabe de que ou por que. O Coronel empurrou com um pontapé a porta do quarto onde estava dormindo ainda os três jagunços e estes ao acordar, viram-se cercados pela tropa armada. Um deles tentou puxar a arma, porém a tropa toda acudiu o coronel disparando sem cessar os tiros de escopetas contra o jagunço. O marginal caiu deitado, esparramado contra a parede, ficando de qualquer jeito, pernas abertas, corpo todo crivado de bala, mãos abertas e apenas um grito de terror ele soltou.
--- Ai! – gritou o jagunço a morrer.
Os dois outros se levantaram e disseram:
--- Não atire meu coronel! Não atire! Estamos rendidos! – gritaram apavorados os jagunços.
A tropa toda caiu em cima dos dois marginais enquanto alguém da tropa retirava do encosto da parede o jagunço ferido de morte. Esse nem mais falava. O Coronel foi até a sala dos fundos e encontrou o restante da tropa fazendo revista nos outros homens que estavam detidos. Ao ver o repórter, ele mandou soltá-lo bem como o fotógrafo. Ficou apenas Neco, dono do bar. Esse era apontado pelo militar como cúmplice dos jagunços. Daí em diante, o repórter Armando Viana foi tomar mais novos apontamentos ouvindo o Coronel da Polícia. O fotógrafo Canindé aproveitou da oportunidade para fazer novos flagrantes. O Coronel pediu o nome de Armando e esse disse como também o do fotógrafo. O Coronel sorriu e findou dizendo:
--- Vocês foram mais rápidos que a Polícia! – falou com um sorriso trancado o coronel.
O repórter Armando nem precisou perguntar o nome do coronel militar, pois o mesmo estava estampado na lapela do fardamento: Coronel Ferreira.  Com isso, dessa matéria estava tudo concluído faltando apenas os depoimentos dos dois assassinos, vez que o terceiro jagunço estava morto, tendo sido deixado onde a perícia seria feita pelo médico legista algumas horas depois. Três soldados bem armados guardavam o corpo da vítima. O bar, naquela hora não mais funcionou. Seu dono, Neco, foi levado igualmente para o Distrito Policial onde prestaria depoimento a respeito de hospedar os três jagunços responsáveis pela morte de Alfredo Lopes na manha do dia passado. O repórter Armando Viana teve um dia cheio de afazeres, pois seria o único a visualizar a prisão dos criminosos. E Canindé fotógrafo ainda comentou:
--- Eu sabia que ainda ia dar confusão! – respondeu Canindé quando chegou a Delegacia.
No dia seguinte Armando Viana recebeu em seu kitnet a visita da moça do Cartório. Seu nome: Norma. O rapaz já estava de saída para o Café do Mercado. E até se assustou com a tal vista tão inesperada para ele. De qualquer forma não mostrou a sua desatenta conduta. E assim Armando se mostrou tranquilo a ver Norma em dia de trabalho, vestindo um verde claro, saia longa, busto proeminente, cintura fina e uma flor ao lado do busto. Ele quando abriu a porta de seu kitnet se deparou com aquela imagem de mulher sedutora. E um sorriso lhe chegou tão assim de repente daquela nobre e extasiante figura de jovem moça. O rapaz se refez da extasiante juvenil moça a qual nada pode dizer. Apenas o que ele confessou:
--- Ora viva! Tão cedo e por aqui? – disse Armando a moça procurando não demonstrar seu susto de tal inesperada visita.
--- Eu já ia a passar e vi você que ainda estava no seu apartamento. – sorriu a moça Norma espraiando um leve perfume de flor.
--- Ah sim. Eu já estava de saída. E foi quando você chegou tão de repente. – argumentou o rapaz ajeitando-se por completo.
--- Eu sei, Também já vou trabalhar. E te quero deixa essa humilde lembrança. – sorriu Norma ao entregar uma rosa ao seu galante personagem.
--- Ora, pois. Uma rosa. Que presente divino! – ele recebeu e cheirou a rosa.
--- Não se cheira rosas. Guarda-se  em locais  de toalete. – sorriu a moça ao repreender o rapaz
--- Eu não sabia de tal coisa. – sorriu Armando Viana.
--- A propósito: o que tens a fazer nesse próximo domingo? – indagou a sorrir a moça Norma.
--- Eu? Creio que nada! Leio os jornais, escuto rádio, além de tomar café no Mercado e também de ir almoçar no boteco do Sinésio. – sorriu com franqueza Armando à moça.
--- Bem. Eu tenho um programa mais interessante a fazer. – sorriu Norma esperando ouvir a indagação do rapaz.
--- É? Qual é esse programa? – indagou o moço Armando com surpresa.
--- Praia! – ressaltou a moça sem duvidar do impacto do motivo.
--- Na verdade, é um bom lazer: a praia. Porém resta-me saber qual é essa praia. – quis aventurar Armando uma resposta decisiva.
--- Tem várias praias nesse litoral. As mais afastadas são melhores. – sorriu Norma ao rapaz.
--- É verdade. Mesmo assim há um problema: condução! – respondeu Armando a moça.
--- Isso não é problema. Vai-se de carro. Você sabe dirigir? – indagou eufórica a moça.
--- Confesso que ainda não tirei a minha carta. E é bem certo também não saber dirigir um veículo automotor. – respondeu acabrunhado Armando vendo o seu passeio ir por água a baixo.
--- Por isso não se desiluda. Eu sei dirigir veículos. E o meu pai tem um automóvel. Ele sempre me oferece a dirigir em seu lugar. No domingo eu pretendo ir a uma praia bem mais distante que outras. – sorriu Norma ao formalizar o tal convite a Armando.
--- Quer dizer que vão você e o seu pai? – indagou com pressa o rapaz vendo o declínio da esperança em também poder ir a praia.
--- Não. O meu pai não sai de casa. Eu mesma pretendo ir. E se você quiser me fará companhia. - relatou a moça querendo saber das intenções de Armando.
--- Só você? – argüiu Armando de modo intranqüilo.
--- No caso, eu e você. – sorriu Norma ao sentir a fragilidade de Armando em sair de casa.
--- Sabe? Não me leve a mal! Temo por sua segurança. E no caso de uma praia distante é bem mais perigoso de se aventurar. – recomendou Armando a Norma.
--- Temos casas na tal praia. E não mora ninguém. Geralmente eu cuido da casa quando tenho a oportunidade de ir. Isso, aos domingos. – sorriu Norma cheia de orgulho.
--- A bom. Assim é outra coisa. Pois eu vou me arrumar para a tal viagem. Onde você mora mesmo? – perguntou Armando a Norma.
--- Aqui perto. Eu te pego em teu apartamento. – sorriu Norma ao ver cumprido sua missão.
E os dois saíram do kitnet caminhando em direção ao cartório. E, por sua vez, Armando se deslocou para o café do Mercado com a cabeça plena de idéias absurdas. Ele estaria só com a moça por todo o domingo. Com relação à Leane, essa ele daria um  jeito para atender aos seus anseios de moça tão dedicada ao seu doce lar. Na verdade, Armando namorava Leane, porém não era todo o dia que estava em sua casa. Isso por causa de compromissos de trabalho. Ainda havia os desacertos de namoro quando tudo terminavam em discussão. Armando costumava ir a casa de Leane apenas no sábado. Nos demais dias da semana, eles às vezes se encontravam e conversavam por pouco tempo. O trabalho de jornalista era árduo para Armando. Mesmo assim ele era um profissional dedicado ao oficio. Para bem dizer, o rapaz não bebia e nem fumava, coisa que era habito entre os demais companheiros. Outra coisa que ele era avesso se dizia o sindicato dos jornalistas. Quando havia assembléia geral. Ele até podia estar presente. Mesmo assim, por toda a vida jamais quis assumir um cargo ou função na direção do grêmio representativo da classe. Ele sempre alegava não haver tempo para tal caso. Era associado apenas do Sindicato e pagava regularmente as suas mensalidades.
--- Não tenho tempo! Estou ocupado! Estou a viajar para o interior! – dizia Armando.
E desse modo ele escapava de assumir funções na diretoria sindical. Havia gente que lhe perguntava o porquê de tudo isso. Ele apenas dizia estar ocupado e nada mais. Nem mesmo as promoções festivas do grêmio ele freqüentava. Apenas uma vez ele apareceu em um jantar de confraternização organizado pela entidade. E foi e logo saiu sem mais nem menos. Naquele instante, a vida sentimental do rapaz parecia ter tomado um novo rumo. Ele aceitou em ir à praia com a bela e estonteante Norma de Vidigal. A mulher insinuante aparecida em sua modesta existência.

domingo, 27 de março de 2011

DESEJO - 13 -

- Mischa Barton -
- 13 -
Canindé fotógrafo chegou esfogueado logo após fazer as fotos do Dr. Alfredo Lopes, inclusive a Identidade Civil onde continha a foto do homem e se largou para o laboratório de revelação. Ele estava agoniado por tudo e por nada. Suava por todos os poros. Ao entrar na sala olhou e viu Armando Viana. O rapaz já estava a digitar a matéria sobre o crime de morte do advogado filho do Coronel Manoel Lustosa Lopes conhecido muito bem por Coronel Lustosa. Canindé ainda perguntou a Armando se a polícia tinha alcançado os matadores de Alfredo Lopes. Em resposta Armando disse apenas:
--- Não! Mas pegam! – falou Armando com os olhos pregados na máquina de datilografia.
--- Ah Bom. Tenho a foto da vitima. – relatou Canindé e entrou no laboratório.
Armando estava só, pois aquela manhã o seu outro redator não aparecera no escritório, pois estava de serviço da FAB. Humberto Patrício era o seu nome. O horário da FAB variava dia após dia. Naquela manhã Humberto chegaria à tarde para o trabalho. O seu rádio estava desligado e Armando nem pensava em ligar o imenso rádio todo feito de ferro. Se alguém perguntasse o que era aquilo, Armando apenas respondia:
--- Um rádio. – e se trancava em seu serviço.
O equipamento sonoro fora conseguido por Humberto Patrício no setor de despachos da FAB. Porem, ele levou para o escritório. E quando ele estava digitando matérias no escritório de Armando ouvia o radio apenas em suas transmissões de código Morse. Isso, de certa forma deixava Armando um pouco aborrecido, pois reclamava constantemente.
--- Isso é uma mania desgraçada. Passa o dia a ouvir esse ti-ri-tim-tim. – reclamava Armando.
--- Hê Hê! – fazia Humberto a sorrir.
Na matéria do morto Armando abriu com vexame: - ALFREDO LOPES – em corpo maior. Em seguida pôs: Assassinato à Sangue Frio. – Esse era um subtítulo. E daí começou a matéria contando a narrativa do trucidamento da vítima. Alfredo Lopes era advogado e estava na Cidade a trato de negócios da fazenda do seu pai. Era costume ele se hospedar como de fazia no Hotel Internacional e naquele dia estava a chegar quando um bando de jagunços lhe alvejou pelas costas. Após o trucidamento, os bandidos fugiram em um automóvel para lugar incerto. A polícia foi acionada para a captura dos jagunços em toda a região da capital. A matéria foi extensa, pois Armando teve a contar ser Alfredo Lopes filho do Coronel Manoel Lustosa Lopes, homem de severas posições políticas e tendo como inimigos ferrenhos diversos personagens de igual patente no interior do sertão. Naquele dia Alfredo Lopes tinha chegado a capital para tratar de assuntos com efeito ao abate de gado. Essas entre outras noticias do homem morto.
Logo após essa trágica noticia Armando apenas olhou as fotos trazidas por Canindé e pôs a da Identidade junto com a cena do aglomerado de gente na Rua da Laranjeira e em seguida levou todo o material da o jornal “A Imprensa” para efeitos de publicação. O fotógrafo Canindé seguiu com o companheiro até a redação do jornal.
Quando chegava às dezoito horas, Armando Viana caminhava para o restaurante onde fazia costumeiramente as suas refeições do meio dia e da noite. Ele caminhava de cabeça baixa pensando no desatino sofrido pelo advogado Alfredo Lopes, na ação da Policia para a captura dos algozes assassinos e o que faria no dia seguinte. Nesse instante alguém tocou as suas costas. Ele estremeceu de susto. Armando olhou de imediato para ver quem era e de imediato distinguiu a figura de Norma. Um frio lhe cortou a espinha, porém logo ficou alegre por ser alguém que ele há tempos não tinha noticias apesar de trabalhar no Cartório da mesma rua onde morava. Atento a situação ele se refez do susto. E Norma sorriu do medo que empregou no rapaz.
--- Teve susto? – indagou a sorrir a moça.
--- Nossa! E muito! Como vai você? – indagou Armando a Norma.
--- Normal! Normal! Não tanto como alguém tão ilustre como você. -  sorriu Norma adiantando o passo para seguir de perto o seu amigo.
--- Ilustre! É o que você pensa! Operário da noticia! – reclamou Armando  a moça.
--- História! E estás indo para onde? – indagou a moça.
--- Vou ao café. Apenas. – sorriu Armando para a moça Norma.
--- Ah bom. Eu saí um pouco mais tarde e estava vagando quando descobri então você. – sorriu a moça como distraída.
--- É verdade. Eu e meio mundo. O pessoal está saindo agora do trabalho. – relatou Armando.
--- É verdade. Mas os outros são os outros. Apenas você é quem dá maior importância. – sorriu Norma a gracejar com Armando.
--- Você quer ir ao café? – indagou o rapaz desnorteado com a conversa.
--- Não. Eu vou seguir em frente. Até a minha casa. Amanhã a gente se encontra! – relatou a moça seguindo direto para a rua de sua casa.
--- Amanhã! Está certo! Eu sigo por aqui mesmo. Até! – respondeu Armando a Norma.
No dia seguinte, logo cedo Armando Viana estava no café do mercado a ouvir conversas. Na mesma hora também estava ao seu lado o amigo Canindé fotógrafo. Um dos presentes comentou a noticia do jornal “A Imprensa” adiantando não saber o porquê o jornal não teria posto o nomes dos criminosos, pois ele adiantava que eram três os jagunços autores da morte: Zé Coelho; Canhoto e Cininha.
--- Quem te deu a notícia? – indagou Armando de sobressalto.
--- Ora! Todo mundo viu os jagunços. Só o jornal não deu! – respondeu o homem falante.
--- E eles onde estão? – voltou a perguntar Armando.
--- Agora eu não sei. Mas eles estavam no bar de Neco. – respondeu o homem.
--- Naquela hora? – indagou Armando querendo saber mais.
--- O dia todo. Eles estavam lá há dois dias. – falou o homem com altivez.
Nesse ponto o fotógrafo Canindé se preparou para fazer o flagrante do homem entusiasmado em saber demais que a Polícia, pois àquela hora continuava às tontas a procura dos jagunços. E Armando Viana esquadrinhou o homem de meio a meio se ele sabia tanto então por que não dizia a ninguém o assunto.
--- Eu não! Eles que se virem! Duvido que eles descubram! – reclamou o homem enfezado.
--- Como é o seu nome? – indagou Armando ao homem.
--- Porfírio. José Porfírio. Seu criado! – relatou o homem a Armando.
--- Vamos fazer um negócio. O senhor me diz o que sabe e eu não revelo quem me disse! Feito? – indagou Armando jogando as cartas na mesa.
--- Não! Pode por que fui eu. E quem é o senhor? – perguntou Porfírio a Armando.
--- Eu trabalho no jornal. E não sabia quem eram os jagunços. E você conhece o homem Neco? – perguntou insistente o repórter.
--- E quem não conhece? Ele tem um bar na Alameda Quatorze perto da Rua Quinze! – relatou o homem cheio de si.
E Armando Viana pôs a conversa em dia levando a seu lado o homem até ao seu escritório onde conversou por um bom tempo entre várias questões alusivas ao assassinato de Alfredo Lopes, filho do Coronel Manoel Lustosa Lopes. Após diversas fotos e conversas, algumas sem nexo, o homem seguiu com Armando Viana até o bar do Neco. Por precaução, Armando evitou a entrada de Porfírio e buscou informação direto como o dono do estabelecimento. De início, Neco relutou em falar, dizendo apenas meia conversa. Não sabia quem eram os homens. Mas eles estiveram no bar. E quando Armando falou em ameaça a imprensa então foi que Neco concordou em falar sob rigoroso sigilo.
--- Os três estão a dormir nos quarto reservado. – respondeu Neco dentro da casa do bar.
--- Eles estão aqui mesmo? – indagou alarmado o repórter com o auxilio do fotógrafo ao seu lado a registrar a fala de Neco.
--- Mas eu não quero ver nem a polícia aqui! – declarou alarmado com os olhos arregalados com medo dos jagunços acordarem.
Nesse justo instante três carros da rádio-patrulha estacionaram em frente ao bar do Neco. As viaturas estavam cheias de soldados fortemente armados. Homens carrancudos, alguns com o rosto coberto por um capuz. Eles se posicionaram em frente ao bar, na Alameda Quatorze em um verdadeiro aparato militar sem contemplação. Um coronel da Policia se adiantou de vez penetrando no bar seguido por uma tropa muito bem armada e gritando.
--- Ninguém se mexe. Todos estão detidos! – gritou o oficial de campanha.

sábado, 26 de março de 2011

DESEJO - 12 -

- Olivia Wilde -
- 12 -
No instante em que Armando Viana estava a entrevistar o deputado, entrava pela porta a direita do Palácio, pegando o Salão Nobre, a figura de Jurandir, o rapaz funcionário público do Estado, responsável pelos carros oficiais do Governo. Ele entrou depressa e mais que depressa atravessou a sala enveredando até o final do palácio chegando à cantina onde estavam outros servidores. O pessoal conversava o trivial. Uma senhorita também se aproximou da banca com um copo na mão. Ela sorriu para Jurandir e foi correspondida com satisfação. A senhorita era Nancy funcionário do Palácio. Sua idade era em torno dos vinte e cinco anos. Nancy era de uma estatura muito baixa, corpo esguio, pele clara, tinha um pai vereador. O rapaz Jurandir pediu apenas um café. Ela olhou para o rapaz e voltou a sorrir sem conversar. Com um pouco de tempo chegou o café. Em seguida Jurandir olhou a prateleira e vasculhou o que havia. Ele se fixou nas tapiocas e em seguida pediu uma das quais. A mulher, Nazaré, olhou para Jurandir, cara de nada satisfatória e em seguida serviu a tapioca. O rapaz sorriu de estremecer e se empanturrou de tapioca.
--- Ave Maria! Que fome! – relutou a moça Nancy ao ver tanta comilança.
O rapaz Jurandir quis sorrir, mas não tinha modos com tanta tapioca enchendo a sua boca. Nazaré foi quem falou:
--- É assim! Bicho bruto! – reclamou a mulher passando o pano em cima do balcão.
E um rapaz ao lado foi quem disse:
--- Mata ele antes que ele te mate! – gargalhou o rapaz.
E quase todos sorriram enquanto o garçom chegava com a bandeja para dona Nazaré por café nas xícaras pequenas as quais o homem trazia de outros gabinetes sediados na repartição. Ao chegar ao balcão ele cumprimentou a todos com um sorriso largo na face e passou o lenço na testa enxugando o suor àquela hora de começo da manhã.
--- Calor! – disse o garçom sorrindo para Jurandir nem se importando com a boca cheia de tapioca do rapaz.
--- Faz calor mesmo. – respondeu a moça ao lado de nome Nancy.
E aquietou-se no seu canto de balcão junto à parede do lado de fora da cantina. E na sua ação ele era toda encolhida por demais como se alguém ou algo a estivesse a ameaçar com um ataque imediato. Seu traje era de um branco meio cor de rosa. Ela usava em torno à cintura uma espécie de cordão para fazer o tipo de bela jovem. Mesmo assim, nenhum dos presentes notou esse adorno. No mesmo instante em que o garçom pedia o serviço do café a mulher Nazaré levou o copo de Nancy para ser lado e colocar o café. Logo depois ainda Nazaré lhe perguntou se teria algo mais a pedir.
--- Um bolo de coco. – sorriu Nancy para a mulher do balcão.
Então a Nazaré serviu a moça um bolo de coco enquanto o garçom passava o lenço na testa procurando enxugar o molhado do suor.
Quando acabava de descer a escadaria do Palácio onde esteve a entrevistar um parlamentar, Armando topou com seu amigo Canindé fotógrafo. Esse vinha do lado de dentro do Palácio, bem de dentro onde tinha o setor de comunicação por rádioescuta, todo suado e alertando a Armando estar a haver conflitou no bairro da Ribeira.
--- Têm confusão as pampas! – relatou Canindé fotógrafo
--- Quem confusão? – indagou Armando procurando se compenetrar após a entrevista.
--- Mataram um. – descreveu Canindé enxugando o suor da testa.
--- Ah. Isso não é comigo. – disse por vez Armando.
--- Não? Pois sim. O homem que mataram era o filho do meio do coronel Lustosa. – apostou o fotógrafo ao relatar tal fato.
--- Lustosa? E quem matou? Onde foi isso? – indagou Armando querendo saber com pressa de maiores detalhes.
--- Eu não sei. E vou pra lá agora. Hotel Internacional. Rua das Laranjeiras. Faz pouco tempo. O corpo está estendido do chão. Lustosa é inimigo do coronel Vitorino. Está toda a Polícia em estado de alerta. – disse de vez Canindé fotógrafo procurando ajeitar sua câmera.
--- Puta merda! E quem disse? – perguntou atarantado Armando Viana.
--- Quem disse uma merda. Você vai ou não vai? – declarou Canindé procurando se ausentar do Palácio com rancor.
--- Espere! Eu preciso de mais subsídios! Não é assim, não! Seu porra! – reclamou Armando.
--- Vai procurar teus subsídios que eu vou bater as fotos do morto. – reclamou Canindé aborrecido.
--- Espera porra! Eu preciso saber do nome da vítima. Como se chamava.! – relatou Armando afogueado com a notícia.
--- Era belzebu! – alarmou o fotógrafo afogueado e com pressa.
--- Espera seu bosta! Não é assim que se faz matéria. Temos que ir com muita calma! – relatou Armando correndo atrás do fotografo.
--- Vai com tua calma que eu vou fazer as fotos! -  correu Canindé batente a baixo.
--- O nome dele! O nome dele! – reclamou Armando a todo instante.
--- Vai no carro da assessoria ou não vai? – indagou com pressa o fotografo.
--- Vou! Deixa-me chamar o motorista de plantão! O nome do morto! – perguntou mais uma vez Armando.
--- Parece que é Alfredo ou coisa assim. -  falou Canindé enxugando o suor da testa com pressa.
Quando o fotógrafo e o repórter chegaram com pressa a Rua das Laranjeiras, próximo ao Hotel Internacional, o tumulto era generalizado. Gente muita ao redor do corpo da vitima. A polícia organizou o cerco em torno para afastar os curiosos. Mulheres da vida a chorar, outras a sorrir baixinho, homens a conversar.
--- Quem era o morto? – perguntava alguém.
--- Não sei. Nunca nem vi. – respondia outro.
Era um tumulto generalizado. Canindé viu o outro fotógrafo do Instituto Médico batendo fotos do corpo para a perícia. Ele não quis entrar no meio da roda e buscou subir em uma firma existente em frente ao Hotel, pegou a escada que dava para o primeiro andar, e com a permissão de alguém pulou para fora da firma ficando em cima de um parapeito e de lá pode tirar fotos do corpo da vítima, do pessoal enlouquecido para ver o morto, da rua nos dois sentidos. Enquanto isso, Armando procurava ouvir o tenente de guarda. O oficial era quem mandava o povo sair para mais distante formando um cerco em torno da vítima. Armando ficou sabendo o nome da vítima: Dr. Alfredo Lopes, filho do Coronel Manoel Lustosa Lopes. E assim foi fazendo a matéria com todas as respostas obtidas com o comandante da corporação no local.  Depois de obter essas informações, Armando foi até o dono de o Hotel Internacional saber de maiores detalhes a respeito da vitima.
--- Eu não sei muito. – declarou o hoteleiro inquieto com aquela multidão e de ser entrevistado o momento inoportuno.
--- Mas o senhor viu ou ouviu os tiros? – indagou Armando ao hoteleiro.
--- Bem. Eu ouvi os tiros. A porta estava fechada. Quando eu abri a porta já encontrei o morto caído. – respondeu o hoteleiro um tanto aborrecido.
--- Mas o morto sempre vinha a este hotel? – voltou a indagar Armando de modo calmo.
--- Sempre vinha. Sempre vinha. Ele tratava dos assuntos da fazenda do seu pai. – declarou o hoteleiro com o rosto tenso.
--- E já havia feito reservas para esse dia? – indagou Armando ao hoteleiro.
--- Não. Ele não precisava fazer reservas. Tem um quarto só para ele no Hotel. – respondeu o hoteleiro um tanto aborrecido.
--- E a vítima tinha carro? Ele veio de carro? – perguntou Armando Viana.
--- Tinha, mas deixava no posto. É o que eu sei. – respondeu o hoteleiro impaciente.
--- O grupo que atirou nele? O senhor viu algum deles? – perguntou Armando.
--- Não. Isso eu não vi. Ouvi somente um chiado de borracha depois dos tiros. Foram bem uns dez ou doze. – lamentou o hoteleiro ao afirmar esse estrago.
--- O carro saiu na contramão? – perguntou Armando ao hoteleiro.
--- Saiu na mão mesmo. – relatou o hoteleiro franzindo a testa.

sexta-feira, 25 de março de 2011

DESEJO - 11 -

- Zsa Zsa Gabor -
- 11 -
O tempo passou e a situação voltou ao normal após cindo dias de temporal. O balanço do Governo era por demais catastróficos. Pontes derrubadas. Trânsito de caminhões e carros se fazendo por desvios no interior do Estado, casas caídas, gente morta. Era um caos total. E o Estado não tinha recursos para cobrir todo o prejuízo. O próprio pagamento das folhas do Estado sofreria atraso. E o Município nem se fala. Mesmo assim, o Exército mantinha a ponte no extremo do local de Sertânia. No café do Mercado Público, logo cedo do dia, estava à turma a conversar sobre os estragos das estradas. Canindé era um deles. Armando ainda não tinha chegado. Ele deveria aparecer em poucos instantes. Os talhadores de carne continuavam a bater com os seus facões em cima das pedras e a amolar em seguida para bater novamente na carne e chamar um freguês para comprar a parte nobre do boi. Em determinado instante um freqüentador do café logo disse aos outros presentes:
--- Você sabe que esse mercado, antigamente, foi um matadouro e um mercado de peixe? – indagou o homem presente falando calmo.
--- Eu não. Quem te disse? – perguntou de forma calma o fotógrafo Canindé.
--- Eu era menino quando ouvi essa e estória. Quem me contou foi meu avô. Ele sabia por que o  pai dele também trabalhou aqui mesmo. – disse o homem sorrindo.
--- Interessante! E pai do seu avô? O bisavô do senhor? - indagou o fotógrafo Canindé sem muito entender.
--- É. Foi o que ele me disse. Lá para os idos de mil oitocentos e tarara. – sorriu com bastante franqueza o homem.
--- É isso. Aqui sempre foi um local de peixes e carne verde. – sorriu Canindé.
--- Isso lá pras tantas.  Em mil oitocentos e votes. – sorriu o homem.
E Canindé também sorriu. Nesse ponto Armando vinha chegando ao Mercado mastigando uma casca de romã como ele mesmo declarou.
--- Romã! – sorriu Armando Viana para tirar um espanto da cara do fotógrafo. Esse nem necessitou de saber mais coisa alguma. Apenas disse ao ver um pouco da casca ressecada de romã trazida por Armando em suas próprias mãos.
--- Romã. É bom. – consertou o fotógrafo de olhos fitos na casca da fruta.
--- Eu ouvi dizer que o governo rumou para a Capital da República. – falou Armando pessimista.
--- É. Ele tá doidinho com essa calamidade. – argumentou o fotógrafo.
--- Você já sabia? – perguntou Armando ao fotografo.
--- Alguma coisa assim. Garcia me falou hoje cedo da manhã. – relatou o fotógrafo.
--- Vou passar na assessoria para saber os detalhes. – comentou Armando.
--- Aqueles bostas não sabem de nada. – refletiu Canindé olhando a vagar para a rua.
--- Pelo menos o Secretário de Imprensa. Ele deve saber mais alguma coisa. – falou sem muita confiança o repórter.
--- Pode ser. Se não estava chumbado! Ele só vive chumbado por esses tempos. – reclamou o fotógrafo.
--- Puta merda. O sujeito daquele só vive bêbado. – enfatizou de forma lenta o repórter.
--- Dizem que a mulher dele bota chifre. – sorriu o fotografo.
--- É por isso que ele vive de cara cheia. – retornou Armando a resposta.
--- É a vida! – declarou de forma lenta o fotógrafo Canindé.
--- Bom. Vou tomar café. Quem me acompanha? – indagou Armando a todos os presentes.
--- Eu já tomei o meu. O cuscuz tá uma maravilha. – respondeu um rapaz no local.
--- Tudo tá bom aqui. Não tem nem graça. Tapioca, cuscuz, mungunzá, bolo-preto. Tudo ta bem pra se comer. Ora! – respondeu dona Dora, dona do café.
--- É por isso que eu gosto dessa mulher. Tudo tá bom. – sorriu franco Canindé.
Armando Viana já estava bem melhor. A rouquidão já passara. O tempo bom voltara e ele ainda assim tossia um pouco e costumava mascar a casca da romã que alguém lhe dissera ser um bom remédio.
--- E tiro e queda. – declarou quem disse.
E ele acreditou no conselho de quem lhe disse. Após o café no Mercado, Armando foi com o fotógrafo Canindé ao Palácio do Governo a procura do Secretário de Imprensa. Era bem claro que o homem àquela hora não estaria no serviço. E se fosse, só estaria por volta das dez horas e se o Governador também estivesse no seu Gabinete de trabalho. Então, vendo ele a porta trancada do Secretário de Imprensa, se dirigiu para a redação onde estava apenas o mesmo repórter da vez anterior que ele procurou saber do Governado. Ao indagar pelo paradeiro do Secretário, o rapaz, um pouco corcunda, com uma porção de livros em cima da mesa de trabalho foi logo dizendo apontando o dedo para a porta.
--- Ele está ai! – o sorrio por várias vezes como quem tinha certeza do que dizia.
--- Tá nada! Está tudo fechado! – rosnou com raiva o jornalista Armando Viana.
E o repórter magro e meio corcunda, magro que nem um sibite se levantou com pressa e disse ao colega de oficio.
--- Está sim! Quer ver? Quer ver? Quer ver? – sorriu o repórter sem querer com um rosto de criança.
E foi até ao Gabinete. Então abriu a porta e mostrou o Secretario a dormir como criança chega à cabeça batia no encosto da cadeira.
--- Não disse! Não disse! Não disse que ele estava! Olhe ali! – sorriu o repórter outra vez.
--- Eu devia fazer uma foto dele. – falou baixinho o fotógrafo Canindé.
--- Faça uma! Eu compro! – falou o repórter de plantão a sorrir falando a Canindé.
E não teve outra. Canindé fotografou o Secretario a dormir chega roncava. E Armando disse uma vez o que estava a ver.
--- Não tem jeito não. É melhor eu ir embora. – argumentou Armando falando baixo.
E saiu Armando acompanhado por Canindé fotógrafo. E bem atrás vinha o repórter de plantão que chegara bem cedo ao trabalho. Ele vinha sorrindo. Um sorriso sem pé nem cabeça. Apenas sorria. Sua boca era cheia de dentes quando ele mostrava a sorrir. Cheirava ele bem pouco ou quase nada, parecendo não tomar banho. O repórter vinha depressa com um livro na mão e se aproximou bem mais de Armando oferecendo a brochura a sorrir:
--- Ei! Com...com..compre aqui um li...li.. livro! – sorria bem mais como não precisando.
---Quero nada! Ofereça a Canindé! -  respondeu Armando atribulado procurando subir até o Gabinete do Adjunto onde devia obter informações sobre o Governador.
--- Já ofereci a ele! (sorriu o reporte e disse a seguir) – Compre um! – e sorriu.
--- Quer não. Vou atrás do Adjunto. – respondeu Armando com  a cara feia.
E ele subiu as escadas que dava acesso ao Gabinete do Adjunto. Canindé ficou pra trás e disse completamente alheio a consulta do livro do repórter.
--- Vou falar com Garcia. Saber se o Governador viajou mesmo. – resmungou o fotografo aos seus botões. O repórter ainda o perseguiu e vendo o seu insucesso na venda do precioso livro respondeu a sorrir com a boca cheia de dentes.
--- Muquirana! – e torceu a cabeça para um lado e para outro voltando em seguida para o seu ambiente de trabalho.
Após alguns minuto pareceu Armando, descendo a escada que dava ao primeiro andar. Ele ainda cruzou com um deputado da situação e teve a idéia de perguntar ao parlamentar sobre a questão da chuva no interior do Estado. O deputado querendo aparecer naquela oportunidade concedeu a entrevista. O homem procurou se ostentar de bem arrumado com se estivesse falando ao um órgão importante de noticias, pois Armando disse logo ser para uma matéria mandada para o sul do País. E o parlamentar sorriu e falou tudo o que sabia e o que não sabia relatando sobre a ação do Governo naquele instante de inquietação e desespero com o povo pobre sofrendo a maior desgraça, com fome e sede. Crianças ao abandono. Idosos sofrendo as mais terríveis necessidades. E toda essa coisa dita por um parlamentar.