sexta-feira, 30 de março de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 18 -

- Keira Knightley -
- 18 -
CAMINHOS
O irmão do falecido homem, Severino Policarpo, era o agricultor de uma simples fazenda bem distante daquele triste local, em um município para além dos montes eternos da plena saudade dos habitantes da região.  Era o homem Gustavo Policarpo. A sua família: Dolores, a esposa; Margarida, Norma e Abreu, os filhos. Era toda gente simples cuidadosa com os seus entes queridos. Eles vieram de tão longe para o sacrifício do sepultamento de Severino, irmão mais velho da família. Esse povo simples nem sabia falar direito quando era preciso. Viviam eles do cuidar da lavoura, do aboiar cinco cabeças de gado, alimentar as aves domésticas e a olhar o tempo em volta. Gente muito simples mesmo, a dormir com as primeiras horas do anoitecer e acordar quando o sol nascia. O homem, Gustavo, nada sabia falar. Era tudo um “sim” e um “sim senhor”. O irmão mais rico era o Severino, homem senhor de terras. A sua morte foi um infausto acidente para os Policarpos. Porém, nada Gustavo sabia dizer ou falar.  O filho do velho Severino, chamado de Deodato, parecia puxar a família do seu tio. Ele levava a vida a dormir de sol a noite. Se alguém o chamasse, ele nada respondia. Apenas seguia os passos da empregada, comia e voltava a se deitar e dormir com certeza. Se alguém lhe perguntasse o construir de novo à casa grande, ele respondia:
Deodato:
--- Não paga a pena. - era o que dizia o rapaz.
O seu namoro com a moça da terra vizinha ele nem deu por conta. Ludmila, mais esperta, também não deu a mínima no seu casório. Então, Deodato decidiu rumar para o distante cercado do tio além dos montes e deixou o fogo consumir o restante da casa grande. Essa foi a sina do senhor Policarpo. Severino, por sinal.
Após guardar os seus pertences – no muito eram roupas e utensílios de cavalo além de balas para rifle e revolveres – o pistoleiro Renovato ainda estava de costa para a porta de entrada do seu quarto quando surgiu e figura enigmática de Ludmila. Ela entrou sem bater e fechou a porta sem fazer ruído. Apenas observou o homem acocorado fazendo os arremedos com os petrechos e a contar qualquer coisa a ela não saber. E Ludmila ficou de pé escorada na porta do quarto olhando o homem a embrulhar e desembrulhar as coisas. Depois de seguido tempo Ludmila resolveu dar sinal de sua graça. E pigarreou. Renovato se assustou e bem depressa se pós de pé e assustado indagou da moça:
Renovato:
--- Bom dia. Faz tempo que a senhora está aí? Eu estava arrumando os meus petrechos! – sorriu sem querer o rapaz
Ludmila sem graça respondeu:
Ludmila:
--- Não! Eu cheguei inda agorinha. A chuva está braba e eu queria fazer um negócio, mas assim não dá para ser feito. – falou calmamente a jovem Lu.
Renovato:
--- É. Tá chovendo muito. Parece até ser inverno. – pontuou Renovato enxugando a testa.
E o tempo, por volta das dez horas, começou a estiar, porém não de todo. Na cavalariça os animais batiam as patas a espantar as moscas e, mais adiante, um vaqueiro tremia de raiva quando uma rês lhe chutou o pé descalço machucando por demais o seu calo agudo, fruto de botas de calçar para apanhar animais.
Vaqueiro:
--- Arra lasqueira! Tais cega burra? – e saiu a gritar e a espremer o calo a latejar demais.
Ludmila caiu na gargalhada com o desespero do vaqueiro e este ouviu a risada e ainda olhou para a casa grande. Ele saiu mancando dali adiante e foi ao pé de bananas onde cortou uma porção e lavou seu pé descalço e com o miserável calo. A moça se acercou da janela do quarto e viu a cena sem parar de sorrir chegando a por a mão na boca para evitar do vaqueiro notar onde a moça estava. Nesse ponto Renovato se acercou da janela para ver também o vaqueiro sofredor. Ele sorriu de leve e se sentou na cama.
Com um tempo a moça, escorada na janela, perguntou ao pistoleiro onde ele aprendera a atirar tão bem como fazia. Então o atirador respondeu:
Renovato:
--- Com a vida, moça! Com a vida! Eu me encrenquei logo cedo e fiz o meu primeiro disparo. Dai por diante fui aprendendo, aprendendo e hoje já sei sacar uma arma! Não tão bem feito a senhora. Mas saco para me defender! É por isso que hoje estou nessa vida! Tem quem saque melhor do que eu! Isso tem! Mas até lá, eu me defendo! – falou sem gloria o pistoleiro.
Ludmila:
--- Mas o senhor conhece todos os que estão no seu bando? – indagou como sem saber a moça Ludmila.
Renovato:
--- Conhecer por conhecer, eu não conheço! Apenas sigo as ordens do meu chefe! Se um dia nós nos apartarmos, eu sigo o meu caminho e eles seguem os deles! Só isso! – relatou sem pressa o pistoleiro.
Ludmila:
--- Ah bom! Entendi! E o homem que não usa revolver? O que o senhor diz dele? – indagou a moça sem muito querer saber.
Renovato:
--- Antero? Ah eu não sei. Apenas ele diz não ter jeito de andar armado! Ele só usa o punhal e nada mais! Agora, eu não me meto com a arma dele! E silenciosa e fatal! – responde o homem
Ludmila:
--- Ah bom! E se ele desaforar o senhor? – perguntou novamente a moça.
Renovato:
--- Ah minha senhora! Ele não usa disso! Nem por brincadeira! Se ele está no bando é porque o chefe ajustou com ele. Com o punhal ele mata em surdina! Foi assim que se deu na Vila! E inclui muitos caso também! Ele não é valente! Até que é manso! Mas ninguém brinque com o punhal que ele trás escondido! Ninguém! Se quiser contar história! – respondeu o pistoleiro.
Ludmila;
--- O senhor tem medo dele? – indagou de modo sutil a moça.
Renovato:
--- Eu?  Ter medo? Por que haveria de ter? De modo algum! – falou serio Renovato.
Ludmila:
--- E se o homem pegar o senhor dormindo? – quis saber a moça.
Renovato:
--- A mim? Isso ele não faz! Os pistoleiros tem uma lei! Só defrontam o outro de peito aberto! Não tem nada de escondido! Agora, se for de tocaia, o bando sabe se defender! Com a gente não sobra um pra contar historia! – relatou Renovato.
Ludmila:
--- Nenhum mesmo? – indagou persistente a moça.
Renovato:
--- Nenhum, digo eu! Nenhum mesmo! – cuspiu fora uma palha de feno o pistoleiro.
A moça então sorriu e disse ter sido boa a conversa e depois do almoço ela estaria de volta para mais conversar. O atirador respondeu positivo e saiu para o alpendre onde estavam os outros três bandoleiros. Ao se acercar do grupo viu a conversa do seu chefe de quem ficaria de vigia naquela noite. Renovato ouviu a escala do plantão e não respondeu coisa alguma.

OS QUATRO CAVALEIROS - 17 -

Agostina Belli -
- 17 -
O ENTERRO
A manhã chegou nublada. Ouvia-se ao longo o roncar dos trovoes. Apenas os trovões! Nada de relâmpago. O vento soprava de sul a norte com uma frieza imensa a chegar doer nos osso de velhas e novas pessoas. Os vaqueiros, bem protegidos pela manta e cobertos pelo seu gibão de couro curtido a suportar aos espinhos da caatinga não sentia tanto frio assim. A véstia do vaqueiro era curtida de couro resistente. A sua couraça era semelhante ao couro do gado. O gibão era todo fechado com cordões de couro. Além disse os vaqueiros vestiam o parapeito a proteger o seu peito. Além do mais era o vaqueiro vestido de calça, perneiras, luvas a cobrir as mãos e, nos pes, as alpercatas simples. Para o dono da fazenda a questão era mais simples, apesar de se vestir de tecido grosso. As moças trajavam vestidos soltos com uma combinação e os atiradores, cada um, tinha as suas manhãs. Porém. No total, estavam todos bem arrumados. Havia prenuncio de chuva e o coronel e deputado Godinho estava atento olhando para o céu carrancudo e frio. Os andarilhos eram os jagunços a passar de um lado para outro sem conversa e sem assunto. Apenas passavam levando os seus trabucos. Logo cedo da manhã surgiu à porta a moça Ludmila, toda protegida por um cobertor e olhou para o céu nublado e feiticeiro. Apenas Ludmila comentou:
Ludmila:
--- Chuva! – e entrou para o interior da casa.
No seu canto, a sentar no seu acolchoado predileto, estava o pistoleiro Renovato Chulé a examinar a sua arma Colt 45, tirando e repondo a munição do seu lugar e depois a fazer mira e rodar o tambor para depois travar. Estava tudo bem, ele pensava. Nesse instante surgiu no alpendre ao lado a garota Emília, coberta dos pés a cabeça e ficou de perto de Renovato. O homem se assustou com tamanha travessura a mocinha.
Renovato:
--- Que susto! Não tem vergonha, não! Vá fazer medo assim ao diabo! – reclamou Renovato cheio de pavor
A moça sorriu e então comentou:
Emília:
--- É o frio. Estou feia? – indagou Emília ao rapaz.
Renovato olhou-a de seu modo e declarou:
Renovato:
--- Está um monstro! Ora! Ora! – relatou o pistoleiro
Emília:
--- Não diga assim. E não fiz por mal. E eu tenho uma palavra para trocar com o senhor. – reportou Emília.
O cavaleiro olhou de novo suspendendo o seu chapéu e voltou-se ao trabalho. Com um pouco de tempo falou.
Renovato:
--- Fale logo. Tenho pressa! – detonou o pistoleiro a acertar a missa do revolver.
Emília:
--- Tem pressa que nada! Guarda essa porqueira! Deixa em falar! – ressaltou Emília meio quente de raiva.
Renovato:
--- Porqueira não! Isso é minha segurança! Eu que o diga! – reprovou o pistoleiro.
Emília:
--- É porqueira sim! Agora deixe que eu fale! Você quer dormir em meu quarto? – perguntou a moça sem que nem mais.
O rapaz se assomou de susto com tal questão. E logo veio igual a um trovão.
Renovato:
--- Que? Você é doida? Eu dormir em seu quarto! Nunca! Ora mais! Você é biruta! – relatou assombrado o rapaz.
Emília:
--- O senhor está com um palavreado à toa! Eu perguntei se o senhor quer dormir em meu quarto! Foi isso! – ressaltou novamente a moça.
O rapaz levantou a aba do chapéu novamente e desceu a olhar para as suas armas. E falou!
Renovato:
--- Não! Estou bem onde estou! E estamos conversados! – disse com brutal insolência o pistoleiro.
Emília:
--- Tá vendo! Tá vendo! – pondo as mãos nos quadris – É o que a gente ganha quando se quer fazer um favor a um degenerado que nem esse! - e batendo o pé da soleira do alpendre – Eu perguntei se o senhor quer dormir! Eu não estou no quarto não! E eu nem vou lá para bem lhe informar! Se o senhor prefere as vacas? Pois passe bem! – e saiu apressada com os desaforos a sair ao longo do caminhar pelo corredor.
Nesse momento o pistoleiro entendeu a pergunta e depois de alguns minutos se aproximou dele o pistoleiro Otelo Gonçalves para lhe informar a boa nova:
Otelo:
--- Compadre! Tenho novas para o senhor. A partir de agora nós estaremos acomodados na sala de hospedes da casa grande como gente grã fina. – relatou Satanás a sorrir.
Renovato procurou chão nos pés sem encontrar. E relatou em seguida:
Renovato:
--- Que? Foi o que Emília quis dizer! Ah maluca sem meias palavras! Deixa-me pegar a danada! – relatou Renovato e rodou nos pés saindo apressado em direção à cozinha da casa.
E lá chegando foi de encontro com Emília e em vez de pedir desculpas ele foi a pedir licença e logo despachou Emília. Mas ao mesmo tempo a reconheceu e voltou-se para Emília a dizer palavras desconexas querendo exprimir as suas desculpas.
Emília:
--- Ah! Agora já quer né? Eu bem podia jogar o senhor nos chiqueiros dos porcos! Ora mais! E não devia não dar mais o quarto para o senhor! Umpf! – fez a moça por arrogo.
Tudo feito e o desaviso mostrado o rapaz caminho para o seu quarto especial onde poria seus petrechos a toda guarda. Uma vez ter ele entrado e se encontrou com Ludmila. Essa não vez por menos: sorriu a valer pelas travessuras feitas por Emília. O rapaz não entendeu patavinas do ocorrido e entrou no novo quarto.
O tempo se fechou inteiramente por completo com relâmpagos e trovoes atormentadores. A chuva era torrencial As biqueiras jorravam água a todo minuto! Cavalos e gados estavam nas suas cocheiras. Os vaqueiros a gritar:
Vaqueiros:
--- Haja chuva! Tempo bom de inverno! Uip! – gritavam os vaqueiros.
No meio de toda a alarmante ventania, de muito longe se ouvia um som de um realejo a tocar uma triste e tortuosa melodia como sinal de eterno aceno. Era uma perene e imortal marcha de desvelo fúnebre. Da fazenda de Severino Policarpo vinha o distante som entre meio o ribombar dos trovoes e de turbilhão das frias águas. Chuva e mais chuva. A temporal fazia a vez de lamúrias de talvez um ente querido ao cair a terra frígida e umedecida. Uma mulher, talvez. Quem sabe! A sua mulher. Talvez a sua mãezinha. Certa vez Policarpo chorou as lágrimas incontidas pela morte da sua esposa. Isso fazia longos anos. E nesse momento talvez os dois estivessem juntos no soar do sino amargo do carente pároco. O padre na intensa chuva, debaixo de um pano estirado por cima para os mais favorecidos, rezava o oficio da morte e bendizia a urna onde repousava em paz o velho Policarpo. Choro se ouvia de parentes  amigos e afortunados semelhantes. Uma mulher chorava as mágoas de não poder estar presente na propicia hora do acidente inevitável. Chuva e lágrima eram sempre presentes nos sepultamentos de entes queridos. Um clarim tocou a música do silencio para todos os desnorteados e tristes circunstantes. Naquela hora de temor era todo o momento de pura saudade e eterno pranto. De um lado estava o irmão do morto e a sua família e do outro estava apenas o seu filho, o jovem Deodato, o mais lamentoso de todos os presentes. O clarim tocava em um aceno de dor e pranto ao lado do realejo a impingir as mais dolentes notas de um lamentoso infausto. Até o derradeiro instante era o choro derramado entre todos os presentes.


quinta-feira, 29 de março de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 16 -

- Daniele Suzuki -
- 16 -
O ENTERRO
A manhã chegou nublada. Ouvia-se ao longo o roncar dos trovoes. Apenas os trovões! Nada de relâmpago. O vento soprava de sul a norte com uma frieza imensa a chegar doer nos osso de velhas e novas pessoas. Os vaqueiros, bem protegidos pela manta e cobertos pelo seu gibão de couro curtido a suportar aos espinhos da caatinga não sentia tanto frio assim. A véstia do vaqueiro era curtida de couro resistente. A sua couraça era semelhante ao couro do gado. O gibão era todo fechado com cordões de couro. Além disse os vaqueiros vestiam o parapeito a proteger o seu peito. Além do mais era o vaqueiro vestido de calça, perneiras, luvas a cobrir as mãos e, nos pes, as alpercatas simples. Para o dono da fazenda a questão era mais simples, apesar de se vestir de tecido grosso. As moças trajavam vestidos soltos com uma combinação e os atiradores, cada um, tinha as suas manhãs. Porém. No total, estavam todos bem arrumados. Havia prenuncio de chuva e o coronel e deputado Godinho estava atento olhando para o céu carrancudo e frio. Os andarilhos eram os jagunços a passar de um lado para outro sem conversa e sem assunto. Apenas passavam levando os seus trabucos. Logo cedo da manhã surgiu à porta a moça Ludmila, toda protegida por um cobertor e olhou para o céu nublado e feiticeiro. Apenas Ludmila comentou:
Ludmila:
--- Chuva! – e entrou para o interior da casa.
No seu canto, a sentar no seu acolchoado predileto, estava o pistoleiro Renovato Chulé a examinar a sua arma Colt 45, tirando e repondo a munição do seu lugar e depois a fazer mira e rodar o tambor para depois travar. Estava tudo bem, ele pensava. Nesse instante surgiu no alpendre ao lado a garota Emília, coberta dos pés a cabeça e ficou de perto de Renovato. O homem se assustou com tamanha travessura a mocinha.
Renovato:
--- Que susto! Não tem vergonha, não! Vá fazer medo assim ao diabo! – reclamou Renovato cheio de pavor
A moça sorriu e então comentou:
Emília:
--- É o frio. Estou feia? – indagou Emília ao rapaz.
Renovato olhou-a de seu modo e declarou:
Renovato:
--- Está um monstro! Ora! Ora! – relatou o pistoleiro
Emília:
--- Não diga assim. E não fiz por mal. E eu tenho uma palavra para trocar com o senhor. – reportou Emília.
O cavaleiro olhou de novo suspendendo o seu chapéu e voltou-se ao trabalho. Com um pouco de tempo falou.
Renovato:
--- Fale logo. Tenho pressa! – detonou o pistoleiro a acertar a missa do revolver.
Emília:
--- Tem pressa que nada! Guarda essa porqueira! Deixa em falar! – ressaltou Emília meio quente de raiva.
Renovato:
--- Porqueira não! Isso é minha segurança! Eu que o diga! – reprovou o pistoleiro.
Emília:
--- É porqueira sim! Agora deixe que eu fale! Você quer dormir em meu quarto? – perguntou a moça sem que nem mais.
O rapaz se assomou de susto com tal questão. E logo veio igual a um trovão.
Renovato:
--- Que? Você é doida? Eu dormir em seu quarto! Nunca! Ora mais! Você é biruta! – relatou assombrado o rapaz.
Emília:
--- O senhor está com um palavreado à toa! Eu perguntei se o senhor quer dormir em meu quarto! Foi isso! – ressaltou novamente a moça.
O rapaz levantou a aba do chapéu novamente e desceu a olhar para as suas armas. E falou!
Renovato:
--- Não! Estou bem onde estou! E estamos conversados! – disse com brutal insolência o pistoleiro.
Emília:
--- Tá vendo! Tá vendo! – pondo as mãos nos quadris – É o que a gente ganha quando se quer fazer um favor a um degenerado que nem esse! - e batendo o pé da soleira do alpendre – Eu perguntei se o senhor quer dormir! Eu não estou no quarto não! E eu nem vou lá para bem lhe informar! Se o senhor prefere as vacas? Pois passe bem! – e saiu apressada com os desaforos a sair ao longo do caminhar pelo corredor.
Nesse momento o pistoleiro entendeu a pergunta e depois de alguns minutos se aproximou dele o pistoleiro Otelo Gonçalves para lhe informar a boa nova:
Otelo:
--- Compadre! Tenho novas para o senhor. A partir de agora nós estaremos acomodados na sala de hospedes da casa grande como gente grã fina. – relatou Satanás a sorrir.
Renovato procurou chão nos pés sem encontrar. E relatou em seguida:
Renovato:
--- Que? Foi o que Emília quis dizer! Ah maluca sem meias palavras! Deixa-me pegar a danada! – relatou Renovato e rodou nos pés saindo apressado em direção à cozinha da casa.
E lá chegando foi de encontro com Emília e em vez de pedir desculpas ele foi a pedir licença e logo despachou Emília. Mas ao mesmo tempo a reconheceu e voltou-se para Emília a dizer palavras desconexas querendo exprimir as suas desculpas.
Emília:
--- Ah! Agora já quer né? Eu bem podia jogar o senhor nos chiqueiros dos porcos! Ora mais! E não devia não dar mais o quarto para o senhor! Umpf! – fez a moça por arrogo.
Tudo feito e o desaviso mostrado o rapaz caminho para o seu quarto especial onde poria seus petrechos a toda guarda. Uma vez ter ele entrado e se encontrou com Ludmila. Essa não vez por menos: sorriu a valer pelas travessuras feitas por Emília. O rapaz não entendeu patavinas do ocorrido e entrou no novo quarto.
O tempo se fechou inteiramente por completo com relâmpagos e trovoes atormentadores. A chuva era torrencial As biqueiras jorravam água a todo minuto! Cavalos e gados estavam nas suas cocheiras. Os vaqueiros a gritar:
Vaqueiros:
--- Haja chuva! Tempo bom de inverno! Uip! – gritavam os vaqueiros.
No meio de toda a alarmante ventania, de muito longe se ouvia um som de um realejo a tocar uma triste melodia como sinal de eterno lamento. Era uma perene e imortal marcha fúnebre. Da fazenda de Severino Policarpo vinha o distante som em meio o barulho dos trovoes e de turbilhão de águas. Chuva e mais chuva. A chuva fazia a vez de lamúrias de talvez um ente querido. Uma mulher, talvez. Quem sabe! A sua mulher. Talvez a sua mãezinha. Certa vez Policarpo chorou as lágrimas incontidas pela morte da sua esposa. Isso fazia longos anos. E nesse momento talvez os dois estivessem juntos. O padre na intensa chuva, debaixo de um pano estirado por cima para os mais favorecidos, rezava o oficio da morte e bendizia a urna onde repousava em paz o velho Policarpo. Choro se ouvia de parentes e amigos. Uma mulher chorava as mágoas de não poder estar presente na propicia hora do acidente fatal. Chuva e lágrima eram sempre presentes nos sepultamentos de entes queridos. Um clarim tocou a música do silencio para todos os presentes. Naquela hora era tudo momento de pura saudade e eterno pranto. De um lado estava o irmão do morto e a sua família e do outro estava apenas o seu filho, o jovem Deodato, o mais lamentoso de todos os presentes. O clarim tocava em um aceno de dor ao lado do realejo a impingir as mais dolentes notas de um acorde infausto. Até o derradeiro instante era o pranto derramado entre todos os presentes.




quarta-feira, 28 de março de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 15 -

- Charliza Theron -
- 15 -
O BANHO
De imediato chegaram ao seu destino os três homens e a filha de Godinho a conversar bastante animados a mostrar a destreza com suas armas. E cada qual contasse mais lorotas com a moça Ludmila a sorrir animada sem nada falar. A sua mãe estava possessa com o atraso do marido para o almoço e dizia poucas e boas. No canto da parede da casa grande estava também à moça Emília a bufar de raiva com o atraso do atirador Renovato Alvarenga, o Chulé. A jovem casta queria porque queria ver o homem a ir para o banheiro, pois fazia uma semana ou coisa assim ter Renovato se aborrecido de tomar banho todos os dias ou dia sim, dia não. E a virgem fazia cara feia como quem dizia, com o chinelo a bater na calçada da casa.
Emília:
--- Quero ver qual a desculpa dele! – fomentava ao desespero a jovem Emília.
Dona Cantídia deu uma rabissaca e volto a casa falando horrores.
Cantídia:
--- Quem se viu? Cinco horas da tarde e ninguém almoça? – reclamava apoquentada a mulher.
E os homens sorriam a bem querer. E não era certo se por causa dos arroubos de Cantídia ou por causa dos tiros perdidos do Coronel Godinho. Esse não casava de dizer:
Godinho;
--- Essa aí é eximia atiradora. Mestre no tiro. – falava serio o velho a apontar a filha.
Ao chegarem ao batente da calçada eles três ouviram a voz cruel de Emília a chamar o moço Renovato para ir tomar banho de imediato. O rapaz ficou até espantado com a jovem por não ter o que repostar. Apenas ele afirmou já ter tomado banho:
Emília:
--- Quando? Quando? Quando o senhor tomou banho? Vá já para o banheiro! E me dê à roupa se não eu entro lá e arranco tudo! Via! Bora! É no banheiro da casa! E é para esse lado! – falava a garota em tom atrevido a empurrar Renovato pelas costas até o destino do banheiro.
E Renovato sem entender dizia apenas:
--- Mas eu tomei banho faz uma semana! – relatava lastimoso o cavaleiro.
E a moça então se espoletou:
Emília:
--- Ah é? Uma semana? Pois vai tomar banho duas vezes por dia! E ainda quer namorar um homem como esse! Uma semana! – falou com brutal arenga a donzela Emília.
O homem pistoleiro a segurar pelas paredes apenas dizia:
Renovato:
--- Espera! Não empurra! Eu findo cair! Ora de desmantelo! – falava aperreado o pistoleiro.
E a moça a empurrar o homem como se fazia com uma pipa. De fora, o coronel achava terrível graça da moça a empurrar Renovato. E Otelo acompanhado pela moça Ludmila assanhava ainda mais a Emília, a atirada da turma do banho. Até Renovato entrar no banheiro a turma não conseguia parar de mangar da gozação.
Nesse ponto, Ludmila então falou para Otelo:
Ludmila:
--- Como é? E você? Vai precisar que eu empurre também? – indagou Lu para Otelo.
Otelo:
--- Quem? Eu? – e então Otelo foi à carreira para o banheiro, pois bem sabia da ação da moça em leva-lo para o banho.
Logo após o almoço/jantar Otelo Gonçalves – o Satanás – chamou a turma de bandoleiros para efetuar o pagamento do contrato feito pelo Coronel Godinho. Um quarto para cada um de todo o dinheiro.  E a conversa durou um bom tempo, pois o coronel Godinho tenha feito um novo trato com os pistoleiros. Dessa vez, não tinha arma. Satanás queria ouvir dos compadres os pormenores desse contrato. E não necessitava ter resposta imediata. O enterro do homem devia acontecer na manhã seguinte, conforme ficou, a saber, o coronel, dito pelo prefeito de Alcântara. Era um sepultamento a ser feito no mesmo sitio da fazenda onde se deu a ação desse mesmo dia. Era prudente ninguém – nenhum dos quatro – falar nada sobre o assunto, pois o negocio ainda era recente e todo cuidado era pouco para os quadrilheiros.  Esse assunto era bastante sigiloso. E havia outro. O futuro dos quatros pistoleiros.
Otelo:
--- O negócio é um pouco complicado. Eu não dei resposta. Eu disse ter primeiro de ouvir os meus compadres. O coronel, ele também é deputado. Toa semana tem de ir a Capital. Pois bem: ele me convidou para ser o seu suplente. Tudo bem: mas eu quero a turma junta! O que me dizem vocês? – indagou Otelo meio cismado.
Os três olharam bem para Otelo e depois de alguns instantes Renovato falou:
Renovato:
--- Eu vejo o negocio de varias formas. Para mim, não tem desespero. Com esse dinheiro eu me arrumo para o resto da vida. Aqui, alí, acolá! Seja aonde for. Tem terras muitas para esses lados. Mas: e os moços? Como é que ficam? Um não sabe atirar! O outro é seu lugar-tenente. Além de atirar muito bem, eu no sei mais nada sobre ele. Estou falando de Júlio Medalha. Poucas vezes alguém falou nesse nome. Não sei se ele sabe tratar de gado ou de cabras. Não sei nada sobre Júlio. Quanto ao sem armas o que eu sei é que ele sabe usar o punhal. É só! A palavra fica com os dois. – enfatizou Renovato.
O olhou para o outro e depois de instante Medalha falou:
Medalha:
--- Bem: Já que o compadre não quis usar da palavra, eu vou falar por mim. Eu aprendi atirar quanto estava nas Forças Armadas. O pessoal me chamava de Vento, pois eu atirava como o vento. E como ventou ficou sendo o meu nome. Tempos depois eu dei baixa das fileiras. Ainda podia estar nas Armas. Mas eu não quis. E fiquei no sertão. Alguns dizem ter sido por astúcias de minha parte que eu ganhei o apelido. Talvez tenha sido. Mas, na minha casa, a casa de fazenda onde trabalha meu pai, eu aprendi a cuidar de gado. Disso eu sei. E muito bem. Se eu não estou é por causa de uma desavença que eu tive no interior. Questão de mulher! O homem atirou em mim, porém antes eu atirei nele. Foi troca de tiros. Daí para frente eu sempre tirava teima com um atrevido. E assim foi a minha sina. – comentou Júlio Vento.
O silencio imperou por alguns momentos até o homem do punhal falar como de surpresa:
Antero:
--- Sou eu agora? – falou Antero Foguetão.
Otelo:
--- Estamos a ouvi-lo! – disse o home apelidado de Satanás.
Passaram-se alguns minutos e Foguetão falou:
Antero?
---Eu não uso armas, Até por que a minha profissão impede. Eu sempre fui um homem de lutar com fogos de artifícios. Certa vez, alguém aprontou para mim, e o que eu tinha em mãos era um punhal. Acertei no homem e desde então eu só uso o punhal. Fez um colete para pô-lo fora da vista dos outros. E uso quando preciso. Desde aquela época eu deixei o foguetório e rumei por campo afora sempre com o meu punhal. Se alguém me fareja, eu meto-lhe o punhal. Só isso. – e sorriu o matador de punhal Antero Foguetão.
Com isso, todos soltaram uma larga gargalhada de quase morrer. Teve um de se levantar da mesa do salão dos vaqueiros a sorrir demasiadamente.
Renovato:
--- Um punhal? – indagou a sorrir sem modos de aplacar:
Antero:
--- É. – respondeu o homem sem sorrir.

terça-feira, 27 de março de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 14 -

- Audrey Hepburn -
- 14 -
ACERTO
O pistoleiro Renovato Chulé veio com calma e paciência para chegar até a porta fixando os olhos no seu comparsa e nada mais. Apenas ele estava calado. O pistoleiro Satanás estava impaciente e pedia pressa do homem quase desconhecido em suas andanças pelas veredas do sertão. Conhecedor profundo das artimanhas dos bravos incautos, homens de dizer ser sabido por nada, o pistoleiro Renovato era um desses tipos caladão e apenas a falar quando se perguntava algo. Na bodega da vila ele mostrou a sua destreza onde o dono empurrando a barriga teria de puxar o rifle e o pistoleiro meio rapaz, alto, franzino, cabelos ondulados, musculatura rígida, ligeiro no olhar e no fazer acercou-se e mandou deixar o rifle no seu lugar e, depois de desengatilhar a arma pôs em cima do balcão e se recostou na parede a espera do sucedido. Mas isso era normal para Renovato. Tudo ele fazia sem a menor preocupação. E nesse momento, era a vez de mostra ou de falar coisa de pouca importância, uma vez de só dizer aquilo o qual lhe dizia respeito. Ao chegar à porta o pistoleiro ainda olhou forte para o bandoleiro Satanás e entrou no recinto onde estava o coronel Marcolino Godinho a estudar o comportamento do rapaz como se nada houvesse de mais.  Renovato entrou na sala a passos lentos com rosto austero e retirou o seu chapéu ficando com o mesmo. Não se importando com o mesmo a segurar por entre as duas mãos à altura de sua barriga o bandido, de pernas ligeiramente abertas com seus coldres à mostra esperou a conversa. O coronel se levantou do estofado e veio para frente do birô. Olhos firmes sem combinar muito bem com seu porte atarracado de colete aberto aos peitos, uma camisa de linho, gravata borboleta, calças escuro parecendo brim, cinturão preso e um coldre sem arma. O homem, de cara séria, levou algum tempo para saber do nome de Renovato.
Godinho:
--- Então o senhor é o Chulé? – indagou com voz mansa o coronel.
O pistoleiro não se incomodou com o nome e respondeu.
Renovato;
--- Sim. Sou eu sim! – disse por sua vez o pistoleiro.
O coronel se aproximou de Renovato e com os seus olhos de lince viu as armas do bandoleiro, todas esculpidas com cabo de prata e cano longo também esculpidos com prata. E levou algum tempo para perguntar:
Godinho:
--- Essas armas servem para alguma coisa? – falou o coronel no ar de provocação.  
O  rapaz olhou bem forte com seus olhos frios e não querendo fazer a vez de injusto declarou:
Renovato:
--- Depende coronel. Eu sempre as tenho como companheiras! – falou sisudo o pistoleiro.
O coronel deu volta inteira em tono do pistoleiro sempre a perceber qualquer movimento e, quando retornou a frente, foi dizendo sem gracejos:
Godinho:
--- Eu não vejo sentido de se usar duas armas. Talvez alguém possa explicar de vez. Você, por exemplo, talvez possa. – lembrou o coronel.
Renovato então fechou a cara após um breve sorriso talvez de zombaria. Ele olhou para o coronel por alguns segundos e, de imediato puxou as armas deixando cair o seu chapéu ao chão e se curvando mais um pouco. Em seguida ele rodeou com os dedos as suas armas e as pôs nos coldres como eram enfim o seu lugar de repouso. O coronel Godinho não se assustou e nem fez cara de espanto. Apenas olhou o rapaz e voltou a se sentar em seu estofado a frente da escrivaninha. Ele cruzou as mãos a olhar Renovato tendo ao longe por traz do rapaz a figura do outro bandoleiro Otelo Gonçalves. Passaram-se os minutos e o coronel pediu licença ao pistoleiro, pois ele teria de pegar uma arma a estar depositada na gaveta da escrivaninha.
Godinho:
--- Cuidado com seus trabucos. Eu tenho uma arma aqui na gaveta. E quero mostrar para vocês um pouco da arte de fazer atirar. – e se curvou para tirar a provável arma e com um segundo já estava com o seu bendito 38 a mostrar aos dois cavaleiros.
Renovato não se espantou com o belo revolver. Nem tampouco Satanás a de postar atrás de Renovato.  Por esses segundos o pistoleiro aproveito para apanhar o seu chapéu e conserva-lo seguro a cintura preso com as duas mãos sem tirar os olhos do coronel.
Godinho:
--- Aquiete-se. Não vai acontecer nada! – disse o coronel a Renovato.
Renovato Alvarenga fez de conta que estava a entender o caso do Coronel Godinho e ficou  logo moderado em seu canto a espera de um acerto por vir. O seu companheiro de acerto veio de lá e buscou a arma do coronel. Sorriu e a deixou na mesa de trabalho. De passagem, ele alertou para Chulé apenas com os olhos. Era um alerta de modo a falar algo sem necessitar dizer. Chulé fez de conta ter entendido e saiu do meio da sala ficando ao lado a espera do Coronel. De momento, Godinho saiu da sua escrivaninha e andou para sair em busca de um lugar mais distante fora de casa. E feito isso o coronel os chamou:
Godinho:
--- Vamos até o local de tiro. – relatou o coronel e seguiu com pressa.
Satanás e Chulé acompanharam o coronel para o caminho de tiro no outro lado da casa bem mais distante onde se podia ficar e atirar com segurança de não se acertar um alvo, como uma pessoa a passar. Por isso, o local era marcado como de Tiro ao Alvo tendo alí um cercado bem amplo para se manejar armas de fogo. O sol era de rachar o crânio aquela do meio dia ou coisa mais. Os três homens caminhavam sem parar tentando chegar o mais breve possível ao terreno amplo. Podiam-se verão longe um coelho se aparecesse. Mas não eram caças, afinal. O velho tinha o seu terreno com estande com bonecos, patos e coelhos de ficção apenas para se acertar no alvo além de modalidade esportiva com teste de precisão e velocidade no manejo de uma arma. Na verdade, era uma prática dessa modalidade requerendo treinamento e disciplina. O coronel Godinho buscou um alvo móvel para experimentar a sua pontaria. Os outros dois atiradores ficaram cada qual, com suas partes escolhidas para ver se de fato eles estavam com a pontaria segura. O velho manejava com esmero a sua arma. Satanás, algumas vezes, atirava fora do alvo a uma distancia de vinte metros. E mais novo de todos, Chulé, acertava todos os disparos com seu revolver Magnum 45 ou coisa parecida. A arma era simples no seu carrego e de disparo eficiente como poucos. A trinca de atiradores permanecia no seu ponto há meia hora quando alguém disparou por cima do pistoleiro Renovato Alvarenga de causar espanto aos demais. Era então a moça Ludmila. Ela acabara de chegar sutilmente e olhou o mais certeiro dos pistoleiros e fez a mira por cima de sua cabeça. E quando acabou de fazer o disparo Ludmila pediu desculpas.
Ludmila:
--- Desculpa! Foi só para experimentar a arma. Ela está em ordem! – sorriu Ludmila a guardar o seu Colt.
Renovato:
--- Você é doida? Chega tirou fogo dos meus ouvidos! – reclamou o pistoleiro Renovato.
Ludmila:
--- Que nada! O senhor já teve tempo de metralhar até mesmo os bandoleiros na mata! – relatou a moça a sorrir.
E Renovato ficou a apertar os ouvidos, a bocejar como quem quer botar para fora algo. Enfim, a sacudir os ouvidos quase moucos. Ludmila a sorrir integralmente e a pedir desculpas por mais uma vez pelo susto causado. O seu pai, Marcolino Godinho, de surpresa, teve de explicar ter Ludmila puxada ao seu avô, homem robusto e exímio atirador pelos rincões dos sertões.
Godinho:
--- Isso é de raça! Acerta em um alvo há 300 metros de distancia. Eu duvido quem tenha maior destreza do que a minha filha. – argumentou o velho Godinho.
Renovato:
--- É de raça ruim! Ainda estou mouco. Ora mais! – dizia o pistoleiro enquanto sacudia os ouvidos para verse destampava tudo.
E o tira-teima continuou até bem duas horas ou mais enquanto munição houvesse. Ludmila mostrou a sua exuberante destreza a competir de par a par com o seu protetor Renovato Alvarenga. Após esse tira teima o grupo deixou o parque, cada um contando vantagem. Mesmo assim foi Ludmila a eximia atiradora daquela tarde. A sua mãe, já um tanto angustiada gritava para os companheiros:
Cantídia:
--- Almoço gente! Deixa de tiro! – reclamava Cantídia de cima da calçada do solar.

segunda-feira, 26 de março de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 13 -

- Ava Gardner -
- 13 -
ACORDO
Após a saída do prefeito Jorge Nepomuceno de sua estancia acompanhado dos quatro cavaleiros o deputado-coronel Godinho se voltou para o quarto ou sala do seu escritório onde havia deixado o pistoleiro Satanás. Ao entrar na sala-quarto ainda encontrou o pistoleiro com os olhos marejando de lágrimas. O coronel Godinho viu e fez de conta não ter percebido. Apenas se encaminhou para a sua escrivaninha já cheia de documento, os mais diversos, alguns para ser revisados. Outros sem a menor importância. Pedras feitas de vidro torneadas igual a um cuscuz totalmente transparentes. Um tinteiro para nunca ser usado. Canetas muito bem feitas. Um boneco preto e barrigudo de uns sete centímetros para escorar objetos. E outros utensílios diversos. O coronel Godinho sentou na cadeira estofada e cruzou as mãos para tirar um dedo de prosa. O pistoleiro Satanás enxugou as lágrimas se pôs pronto a dialogar no que viesse a falar. O coronel passou um tempo relativamente curto, mas parecendo para Satanás uma eternidade. E depois o homem falou:
Godinho:
--- O homem morreu mesmo! – relatou o coronel com a cara tristonha.
O pistoleiro nada comentou. Ele ficou sempre a esperar por um assunto de sua combinação. E o homem Godinho olhou as armas penduradas na cintura de Otelo, mas nada comentou. Ficou sem nada a falar. Com um pouco de tempo girou a sua cadeira e pôs-se a observar os retratos na parede. Em um deles fixou o olhar. Com certeza era do seu pai ou seu avô. Ele permaneceu ali pensativo como quem dizia ter a vingança chegada ao fim. Mesmo assim não se sabia se era mesmo aquele o tal pensar. Podia ser pensamento de outras quimeras. O seu nome era de procedência latina. E significava: Bondoso. Era de um homem muito sério, e com grande honestidade no meio profissional. Godinho buscava a perfeição em tudo e se aborrecia quando as coisas não saiam conforme o planejado. Após esse longo e terrível instante ele se voltou para Satanás. E foi logo a dizer:
Godinho:
--- O enterro deve ser amanhã. Eu não posso ir. Inimizade ferrenha! Tudo por causa tola! – relatou Godinho de forma pensativa.
E se voltou na cadeira a ficar de pé e olhar o retrato de sua genitora, ao que parecia. Depois de algum tempo caminhou para frente da escrivaninha onde se escorou com os braços cruzados olhando firme para o pistoleiro. E por final falou:
--- O dinheiro está pronto. – fez ver Godinho.
Satanás, de pé, nada falou. Apenas olhava para o coronel. Esse por mais uma vez olhou para os coldres do pistoleiro, porém nada falou de armas. Apenas indagou se ele não pretendia ficar por mais algum tempo. E o pistoleiro respondeu perguntando:
Satanás:
--- A serviço? – indagou o pistoleiro ao coronel.
O coronel ficou pensativo antes de responder. Isso demorou um logo espaço:
Coronel:
--- Pode ser. Um serviço. Mas se o senhor não sabe, eu também sou o deputado estadual. E deve haver eleição no próximo ano. E fiquei a pensar. Coisa sem grande importância. Quando eu entrei na sala encontrei o senhor chorando. Nem precisa explicar. Mesmo assim, quando um pistoleiro chora algo de mais o afeta. O meu pensar sobre o senhor deu volta de 360 graus, Isso é: virou o mundo ao contrario. E eu tenho um plano. Sendo eu um deputado, devo ter um suplente. E agora eu penso no senhor em ser meu suplente. Eu quero ouvir a sua proposta; - confidenciou o coronel.
Satanás de momento sentiu-se um pouco constrangido com a pergunta a sangue frio e nada soube responder com certeza. Ele era um homem do mato. E sair para um suplente de deputado era coisa muito séria. Otelo Gonçalves Dias procurou chão nos pés sem encontrar. E levou um bom período de tempo para ter ele a resposta. E após longos minutos Otelo falou:
Satanás:
--- Mas coronel! O senhor nem me conhece! Eu sou homem do mato! Eu pego cobra! Mato onça! Corro de cócoras! Faço cada besteira que só se vendo! – relatou Otelo ao coronel.
O Coronel sorriu de repôs em troca:
Coronel:
--- Olhe bem seu moço. Quem já serviu o Exercito faz tudo isso e muito mais. E nem por isso deixa de ser macho! Andar de cócoras! Ora já se viu? Quem importância tem isso? – indagou o coronel ao pistoleiro.
Satanás:
--- (sorriu breve) – É por que na cidade não tem nada disso! – comentou lamentando Satanás.
Coronel:
--- Besteira! Besteira! Lá tem um punhado de beradeiros. Gente simples do mato. A gente encontra um ou outro que sabe ler. O resto só engordar a pança. Gente besta por sinal! E afinal o senhor não vai ficar no lugar. Eu arranjo um empreguinho aqui no mato e o senhor fica por aqui. A não ser ter eu necessidade do senhor como meu guarda costa. – relatou o coronel a espinhar as costelas do pistoleiro.
Satanás:
--- É. Pode ser! Mas primeiro eu tenho a ver os rapazes da empreitada! Vou dividir a soma com cada um e depois ver o que vai dar certo. – comentou com mágoa Satanás.
Coronel:
--- A propósito dos outros, tem um que me deixa curioso. Ele está aí fora. Os senhores o chamam de Chulé. Quem é ele? – indagou o coronel.
Satanás:
--- É também do mato. Ele veio de longe. Eu o contratei por ver o moço com duas pistolas e, com certeza, ele atirava muito bem. Eu fiz a experiência e deu certo. – comentou Satanás.
Coronel:
--- Bom. Muito bom. O senhor me chame para nós termos uma conversa! – acerto o Coronel.
Satanás:
--- Agora? – indagou com espanto o pistoleiro.
Coronel:
--- É preferível! – comentou o coronel já sentado à sua mesa e olhando a Satanás.
Satanás saiu do escritório e foi chamar Renovato Alvarenga, o Chulé. Muito rápido e sem conversa. A chegar ao alpendre encontrou Chulé com as pernas esticadas e o chapéu cobrindo a visão em uma aparecia de estar a dormir. Satanás foi até o companheiro de empreitada e chutou de leve os seus pes.
Satanás:
--- Acorda? Estás dormindo? O coronel mandou te chamar. – disse Otelo bem cismado.
Renovato levantou a aba do chapéu para cima e olhou Otelo como quem não queria sair do local r perguntou afinal.
Chulé:
--- Que diabos ele quer? – indagou Renovato ainda com as pernas esticadas para frente.
Satanás:
--- Não sei. Talvez seja um novo contrato! – respondeu Otelo sem querer dizer tudo afinal.
Renovato:
--- Tem que ser agora? – indagou Renovato a puxar o chapéu novamente para baixo.
Satanás:
--- Eu temo que sim. Vamos! – reclamou o bandido Otelo.
Nesse ponto, Renovato recolheu as pernas um tanto longas e se levantou da poltrona, saindo para dentro da sala da casa grande. O seu companheiro saiu logo à frente para ensinar a porta de entrada. Otelo ainda olhou para Renovato e fez sinal com a cabeça para o pistoleiro entrar na sala da casa onde se fazia contratos.