segunda-feira, 27 de junho de 2011

DESEJO - 55 -

- Natalie Wood -
- 55 -
À noite daquele mesmo dia Marta Rocha, com precaução, comentou com reservas à sua mãe da possibilidade de vir trabalhar em outro órgão. Por não saber de coisa alguma dona Nair, a sua mãe, apenas lhe disse ser prudente ter que sair de um trabalho para outro sem saber de tudo o que precisava. A moça ficou calada, pois não adiantava adiantar o assunto. No entanto, dona Nair ainda perguntou se o novo emprego daria certo. Ela respondeu:
--- Bem. Acho que sim. Também não vai ser logo. – comentou a moça sem subir a voz..
--- E alguém sabe disso? – indagou dona Nair.
--- Acho que poucas pessoas sabem do convite. – respondeu Marta ainda muito confusa com suas palavras.
--- Você tenha cuidado! Não vá meter os pés pelas mãos! – advertiu a mulher.
--- Não tem nada disso. Afinal foi apenas um convite. Mas, para mais tarde. – respondeu Marta
--- Eu sei. Mas esses convites é que são elas. Nunca se sabe. E em qual jornal? – perguntou Nair
--- Não tem nome ainda. – respondeu Marta Rocha temendo dizer mais coisas.
--- Ah bom. Talvez nem vingue essa promessa. – respondeu Nair.
--- É. Talvez. Eu não sei bem. – retorquiu Marta.
--- É. Mas cuidado. Depois não vá ser mais um trambique de alguém. – falou Nair.
--- Não. Isso não é. Disso eu tenho certeza. – expos Marta para tirar a dúvida de sua mãe.
--- E o rádio? – indagou a mulher.
--- Está em banho Maria. Nada mais o Assessor veio me dizer. – respondeu Marta.
--- Tá vendo! Esses homens só têm conversa! Cuidado! É o que digo. – falou dona Nair abrindo os olhos da moça.
--- É. Mas o negócio do rádio vai depender de patrocínio. – reclamou Marta.
--- Eu sei muito bem dessas propostas! Ele queria era experimentar você! – respondeu alarmada a mulher.
--- Que experimentar que nada, minha mãe! A senhora só ver sexo nessas coisas! – respondeu abusada a moça.
--- E  é o que eles querem! No começo: “Vamos ali!” E depois é o que sobra. Sexo!! – reclamou a mãe da moça já aborrecida.
--- Pare com isso se não eu não vou mais falar coisa alguma! Sexo! Sexo! Sexo! Isso é uma merda. Eu vejo muito bem esse negócio. E a senhora também. Tem duas em casa! – relatou com raiva Marta Rocha.
E saiu da cozinha onde começou a conversa amena e terminou com aborrecimento. Marta saiu para a sala e passou a ouvir o radio. O seu pai lhe pediu um pouco de água e Marta foi atender ao pedido sem mais conversa. O velho estava deitado em uma cama de solteiro, pois era mais fácil se levantar para fazer os asseios.
Em uma quarta feira, a turma, no jornal, estava em polvorosa. No domingo era dia de eleição para a nova diretoria do Sindicato dos Jornalistas. Marta ficou calada diante de tanto alvoroço. Afinal, ela não podia se meter nas eleições uma vez não ter diploma. Certa vez, ela procurou o Sindicato dos Radialistas, onde se associou. E fez isso com bastante raiva, uma vez não ver vantagem nesse negócio. Porém, mesmo sem trabalhar em radio, ela se associou como membro do Sindicato, pois, afinal, tinha em vistas um programa a ser apresentado. Mesmo assim, o programa não saiu e ela ficou na mesma. Na redação, na parte da tarde, a turma de jornalistas gritava, pois era certa a vitória de sua chapa. Para ainda mais comemorar, os jornalistas vestiram a camisa da chapa exultando como se fossem uns meninos ou meninas. A glosa durou quase a tarde inteira com as camisetas  das moças e rapaz tomando conta de toda a redação. Até Marta Rocha ganhou ou comprou um como suvenir e passou a vestir também, para não se diferenciar dos demais.
Em dada hora chegou o fotógrafo Canindé com o novo repórter Carlos Coimbra. O repórter chegou contente por ter feito a primeira reportagem para o Jornal A IMPRENSA. Porém, o caso não foi tão bel assim. A prisão de um rapaz de menos de 18 anos por acusação de estupro a uma moça. Tal moça caminhava para a sua casa, depois das dez horas da noite, quando foi agarrada pelo sedutor. O rapaz arrastou a moça para um matagal e ali estuprou a jovem, sem dó nem piedade. A polícia foi acionada e veio a encontrar o agressor em um bar. Após prendê-lo ele foi identificado e fez exame de esperma para a Polícia saber se havia compatibilidade entre as marcas encontradas no corpo da moça. Foi um caso simples e corriqueiro dentre os demais onde a Polícia fazia prisões quase que diariamente. Carlos Coimbra redigiu a matéria e Canindé exibiu a foto da moça, uma vez que era menor de idade o acusado. Foi a primeira reportagem de Carlos Coimbra para o Jornal A IMPRENSA.
No mesmo instante chegou a redação do Jornal o Secretário de Comunicação do Governo com uma ordem de não se divulgar qualquer nota sobre estupro de certa moça. A notícia chegou como uma tromba d’água da editoria.
--- Mas é um caso comum! – relatou o redator chefe com alarme.
--- Eu sei disso. Mas é ordem do Governador! – falou serio o Secretario Armando Viana.  
--- Puta merda! Assim não dá! Como é que pode? – indagava o redator José Fernandes.
--- Pois é seu editor. Manda quem pode. Obedece quem tem cabeça! – falou serio o Secretario
--- Sabe de uma coisa! Eu deixo o cargo agora! Censura de jornal não me agrada! Que fique com seu jornal e eu procuro nova vida!!! – definiu o editor chefe.
--- Bem. Eu até podia pedir a você que ficasse até amanha. Porém se é uma forma de recusa então eu aceito de qualquer jeito! - expôs Armando Viana.
--- Pois o jornal está sem chefia! – disse o editor e saiu muito bravo para não mais voltar.
Com essa decisão, Armando Viana ficou na poltrona do editor e fez o jornal sair sem a nota do estupro. Ele cuidaria do assunto no dia seguinte. Na ocasião, Armando não se lembrou de chamar Cione Damásio para a editoria. Tal fato só pensaria depois do rapaz esfriar a cabeça. Marta comentou com Armando o caso:
--- Tem Cione. Quem sabe? – relatou Marta sorrindo baixo para Armando.
--- Teria você se não fosse o fato de não ter diploma. – comentou Armando também baixo.
--- Eu nem poderia pensar em tal hipótese. – falou Marta a sorrir.
Na quinta-feira, Armando Viana, em seu Gabinete no Palácio, conversou por longo tempo com a Jornalista Cione Damásio. Ele ouviu as negativas de Cione e, por algum tempo até se pensou em chamar o rapaz Francisco Wanderlei, pois ele era um homem de meia idade, professor e por sua aptidão faria um trabalho decente. Afinal, Wanderlei já exercera a função de editor do mesmo jornal em anos passados.
--- Boa idéia essa sua! – comentou Armando a sorrir.
--- Você vai convidá-lo? – perguntou a jovem Cione.
--- Tentarei. Tentarei. Espero que ele aceite! – comentou Armando. 
Com essa informação, Armando se despediu da jovem Cione Damásio e partiu para o Gabinete do Governador. Quando estava a subir a escada de acesso ao gabinete do Governador, outra repórter lhe chamou devagar. Era Marta Rocha:
--- Armando! Quem esteve na redação do Jornal foi José Fernandes. Mas a sua sala estava fechada. Ele então ficou sentado em uma poltrona na sala de espera. Não sei se ainda ele está por lá. – comentou Marta.
--- Deixa assim. Não fale a mais ninguém. Eu vou conversar com o Governador. Ele já era! Bruto! Estúpido! – disse em troca Armando Viana.
A moça sorriu sem querer quando Canindé vinha caminhado do setor de rádio. E disse para o seu Chefe Armando Viana.
--- Tem terremoto! - falou serio e de cabeça baixa ajeitando o seu material de trabalho.
--- De novo? Aonde foi dessa vez?  - indagou alarmado Armando.
--- No mar. Bem ali. Quer que eu faça? – perguntou Canindé aborrecido.
--- Vou falar com o Governador. Depois eu falo com você! – respondeu Armando a Canindé.
--- Então pronto. Ele bem vai saber! Vamos menina! – falou Canindé a Marta.
--- Pra onde? Pra onde? – indagou assustada a repórter temendo um novo terremoto.
--- Universidade! Esse bosta só sabe dizer! “Vou falar com o Governador”! Bosta!. Vamos! – chamou Canindé de uma só vez a moça. 
--- Mas eu estou trabalhando! – respondeu Marta inquieta.
--- Como é? Vai ou não vai? – perguntou irritado o fotógrafo.
A moça parou um instante e afinal responder depois de olhar para Armando.
--- Vamos! Seja o que Deus quiser! – respondeu Marta ao fotógrafo.
E os dois caminharam a toda pressa apanhado o carro da Assessoria de Imprensa para direto a Universidade. No caminho, o motorista ainda perguntou:
--- Para onde? – indagou o motorista enfadado de fazer o serviço.
--- Siga em frente! Universidade! – respondeu sem graça o fotógrafo. 
--- Universidade! – respondeu o motorista sem achar graça.

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