domingo, 2 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 25 -

- HEDY LAMARR -
- 25 -
RESGATE
A conversa entre os visitantes e o pessoal de casa demorou um longo tempo. Nem sequer houve tempo de assar o porco. O bicho ficou para cozinhar no dia vindouro. Otto falava das agruras pelas quais sua família passou e Vanesca, sempre junta a seu pai discorreu sobre a hecatombe pela qual sofreu a capital. Prédios elevados foram ao chão. Não havia água ou luz elétrica. Houve fogo no campo de pouso da Aeronáutica. Não se sabia de coisa algumas. As emissoras de rádio estavam fora do ar. Nem jornais circulavam, mesmo por causa da onda gigante de uma semana passada e depois por causa do sismo. As pessoas comentavam os estragos sofridos nas suas residências. A pista principal estava em ruínas. Não havia suprimentos para quem precisasse. Os hospitais vivaram cemitérios. Pessoas ao desespero findavam morrer ao relento, pois não havia como atendê-las. Os veículos particulares tinham virado escombro. Não havia gás ou demais combustíveis para atender ao pessoal rico ou pobre. Alguém se soubesse de algo era o transmissor das notícias. Vanesca ao dizer tudo ainda chegou à vez de falar por ela a dormir no chão no meio do mato. O noive tinha escapado do Hospital onde estava sendo atendido.
Vanesca;
--- É um horror! – chorou lágrimas a moça.
Otto:
--- Se o fim do mundo for daquele jeito, já estamos no fim. Isso é o que penso. – falou com voz engasgada o rapaz.
Coronel:
--- Calma! Calma! Para tudo há um jeito. Não vejo desespero para tão pouco. O sismo foi sentido aqui também. Casas racharam, a Matriz sofreu danos. O povo correu com temor. Porém, tudo passou. Pode-se notar um sismo por dia e nada mais. Na capital o negócio foi mais violento. Eu tenho recebido preciosos  informes dos incêndios até mesmo na Base Aérea. E não tive mais contato com vocês por falta de energia na capital e adjacências. A Marinha e o Exercito já estão mobilizados. Essa questão das estradas é um perigo para quem utiliza esse meio de transportar gente e carga. Mesmo assim, tudo se resolve a contento. – tranquilizou o coronel com voz serena.
Otto:
--- Eu penso nisso, - comentou melancólico o rapaz.
Corina:
--- As galinhas daqui deixaram de por ovos. Eu só penso nos tremores. – reclamou a mulher.
Matilde:
--- Mas as galinhas tem esse costume. Quando ouve um grito suspende a postura. – relatou por seu lado a mãe de Vanesca.
O Coronel sem querer. E os demais também sorriram. Afinal todos sorriram. Enfim, era uma gargalhada só. E com esse estado de coisas, sem porco para comer, o coronel resolveu a questão.
Coronel:
--- Bem! De manhã logo cedo nós vamos buscar os parentes do rapaz. – relatou o homem.
Vanesca:
--- E a égua? – indagou a moça um tanto assustada.
Coronel:
--- Fica aqui. Alguma dúvida? – perguntou o coronel aos demais.
Ernesto:
--- Eu fico com a égua. Pode deixar. – disse o vaqueiro bem ciente da situação.
Coronel:
--- Ovos! Ora já se viu? – perguntou o coronel aos demais.
Então todos sorriram menos dona Corina cujo semblante era de zanga, pois ninguém acreditada no que ela afirmava. Então, ela saiu e deixou pra lá o pessoal. Vanesca observou Corina e se largou a procura de sua antiga ama. Chegou até Corina, ela se abraçou e pediu imensas desculpas por conta do velho coronel. A mulher ficou feliz por ter Vanesca a seu lado.
Logo cedo do dia seguinte, após o desjejum de todos os viajantes o Coronel Araújo acionou o seu veículo, colocando na mala a sela e outros complementos da égua, tudo o que Otto havia dado a ele. A manhã cedo era de sol firme denunciando verão dos mais terríveis. Acercaram-se do veículo, a moça Vanesca, filha do coronel, o noivo Otto e mais o vaqueiro Ernesto. Esse disse saber onde morava o vaqueiro Chagas, antigo morador da fazenda do coronel. Esse homem esteve preso por algum tempo após ter matado a sua mulher com mais de 90 facadas. Isso fazia algum tempo. Quem falou sobre esse crime foi à noiva de Otto. Todos sabiam, porém não comentavam o caso.  O coronel Araújo se viu pronto e chamou a turma para a viagem quando teria que buscar a família de Otto.
Coronel:
--- Vamos? Tudo arranjado por aqui. – falou o homem a fixar a mala do carro.
A moça sorriu com a nova aventura. De remente a moça quis saber:
Vanesca:
--- E a égua? – indagou inquieta.
Otto:
--- O animal fica. O vaqueiro Ernesto se prontificar em cuidar da égua. E ela está amojada, por fim da história. – relatou o homem
Vanesca:
--- E você vai dizer isso ao homem? – indagou espantada a moça.
Otto:
--- Eu digo. Não tem pra que mentir! – afirmou o rapaz.
Coronel:
--- Vamos passar na casa do Prefeito Gregório. Apenas para dar comprimentos. Eu sei como essa gente é feita. De um modo ou de outro.  .... – falou o coronel
Vanesca:
--- Quem é o prefeito. Meu pai? = perguntou sem lembrança a moça
Coronel:
--- O mesmo! O mesmo! – achou graça o coronel por dizer tal coisa.
Em alguns minutos o carro parrou em frente a Prefeitura da Cidade. O coronel falou com uma moça, filha do Prefeito. Ele queria saber do paradeiro do Chefe. A moça respondeu:
Moça:
--- Foi na capital! – sorriu a moça em pé junto a porta da Prefeitura.
Coronel:
--- Quando? – indagou o coronel sem maior preocupação.
Moça:
--- De manhã cedinho! – relatou a moça com o mesmo sorriso.
Coronel:
--- Foi buscar lenha? – indagou o coronel querendo fazer graça.
A moça soltou uma gargalhada e depois respondeu.
Moça:
--- Quase isso! Ele foi ver o problema da falta de energia. O senhor sabe né? – disse a moça sorrindo.
Coronel:
--- Tomara! O negocio está preto! Eu tenho energia. O prefeito também. Mas a população está na miséria. Os poços estão vazios. A barragem não funciona! Tá ruim mesmo! – rebateu o coronel.
Moça:
--- O povo está indo buscar em tambor, lata, jegue e até pinico. – e caiu na gargalhada a moça.
Coronel:
--- Pinico?! Essa não dá! Mas pinico? – indagou assustado o coronel.
Moça:
--- Sim. Tem gente que traz água em urinol mesmo! – sorriu a  moça por ultima instancia.
Coronel.
--- Assim não dá! Vou seguir! Lembranças! – disse o coronel confuso com a história de “pinico!”.
Na volta do carro ainda teve de ouvir a sua filha afirmar.
Vanesca:
--- Ora pai! Que tem isso? Tem gente que bebe água até em pneu de carro! – sorriu a moça.
Coronel:
--- Mas pinico? – falou sem saber o que dizer o coronel.


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