- HEDY LAMARR -
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RESGATE
A conversa entre os visitantes
e o pessoal de casa demorou um longo tempo. Nem sequer houve tempo de assar o
porco. O bicho ficou para cozinhar no dia vindouro. Otto falava das agruras
pelas quais sua família passou e Vanesca, sempre junta a seu pai discorreu
sobre a hecatombe pela qual sofreu a capital. Prédios elevados foram ao chão.
Não havia água ou luz elétrica. Houve fogo no campo de pouso da Aeronáutica.
Não se sabia de coisa algumas. As emissoras de rádio estavam fora do ar. Nem
jornais circulavam, mesmo por causa da onda gigante de uma semana passada e
depois por causa do sismo. As pessoas comentavam os estragos sofridos nas suas
residências. A pista principal estava em ruínas. Não havia suprimentos para quem
precisasse. Os hospitais vivaram cemitérios. Pessoas ao desespero findavam
morrer ao relento, pois não havia como atendê-las. Os veículos particulares
tinham virado escombro. Não havia gás ou demais combustíveis para atender ao
pessoal rico ou pobre. Alguém se soubesse de algo era o transmissor das
notícias. Vanesca ao dizer tudo ainda chegou à vez de falar por ela a dormir no
chão no meio do mato. O noive tinha escapado do Hospital onde estava sendo
atendido.
Vanesca;
--- É um horror! – chorou
lágrimas a moça.
Otto:
--- Se o fim do mundo for
daquele jeito, já estamos no fim. Isso é o que penso. – falou com voz engasgada
o rapaz.
Coronel:
--- Calma! Calma! Para tudo há
um jeito. Não vejo desespero para tão pouco. O sismo foi sentido aqui também.
Casas racharam, a Matriz sofreu danos. O povo correu com temor. Porém, tudo
passou. Pode-se notar um sismo por dia e nada mais. Na capital o negócio foi
mais violento. Eu tenho recebido preciosos informes dos incêndios até mesmo na Base
Aérea. E não tive mais contato com vocês por falta de energia na capital e
adjacências. A Marinha e o Exercito já estão mobilizados. Essa questão das
estradas é um perigo para quem utiliza esse meio de transportar gente e carga. Mesmo
assim, tudo se resolve a contento. – tranquilizou o coronel com voz serena.
Otto:
--- Eu penso nisso, - comentou
melancólico o rapaz.
Corina:
--- As galinhas daqui deixaram
de por ovos. Eu só penso nos tremores. – reclamou a mulher.
Matilde:
--- Mas as galinhas tem esse
costume. Quando ouve um grito suspende a postura. – relatou por seu lado a mãe
de Vanesca.
O Coronel sem querer. E os
demais também sorriram. Afinal todos sorriram. Enfim, era uma gargalhada só. E
com esse estado de coisas, sem porco para comer, o coronel resolveu a questão.
Coronel:
--- Bem! De manhã logo cedo nós
vamos buscar os parentes do rapaz. – relatou o homem.
Vanesca:
--- E a égua? – indagou a moça
um tanto assustada.
Coronel:
--- Fica aqui. Alguma dúvida? –
perguntou o coronel aos demais.
Ernesto:
--- Eu fico com a égua. Pode
deixar. – disse o vaqueiro bem ciente da situação.
Coronel:
--- Ovos! Ora já se viu? –
perguntou o coronel aos demais.
Então todos sorriram menos dona
Corina cujo semblante era de zanga, pois ninguém acreditada no que ela
afirmava. Então, ela saiu e deixou pra lá o pessoal. Vanesca observou Corina e
se largou a procura de sua antiga ama. Chegou até Corina, ela se abraçou e
pediu imensas desculpas por conta do velho coronel. A mulher ficou feliz por
ter Vanesca a seu lado.
Logo cedo do dia seguinte, após
o desjejum de todos os viajantes o Coronel Araújo acionou o seu veículo,
colocando na mala a sela e outros complementos da égua, tudo o que Otto havia
dado a ele. A manhã cedo era de sol firme denunciando verão dos mais terríveis.
Acercaram-se do veículo, a moça Vanesca, filha do coronel, o noivo Otto e mais
o vaqueiro Ernesto. Esse disse saber onde morava o vaqueiro Chagas, antigo
morador da fazenda do coronel. Esse homem esteve preso por algum tempo após ter
matado a sua mulher com mais de 90 facadas. Isso fazia algum tempo. Quem falou
sobre esse crime foi à noiva de Otto. Todos sabiam, porém não comentavam o
caso. O coronel Araújo se viu pronto e
chamou a turma para a viagem quando teria que buscar a família de Otto.
Coronel:
--- Vamos? Tudo arranjado por
aqui. – falou o homem a fixar a mala do carro.
A moça sorriu com a nova
aventura. De remente a moça quis saber:
Vanesca:
--- E a égua? – indagou
inquieta.
Otto:
--- O animal fica. O vaqueiro
Ernesto se prontificar em cuidar da égua. E ela está amojada, por fim da
história. – relatou o homem
Vanesca:
--- E você vai dizer isso ao
homem? – indagou espantada a moça.
Otto:
--- Eu digo. Não tem pra que
mentir! – afirmou o rapaz.
Coronel:
--- Vamos passar na casa do
Prefeito Gregório. Apenas para dar comprimentos. Eu sei como essa gente é
feita. De um modo ou de outro. .... –
falou o coronel
Vanesca:
--- Quem é o prefeito. Meu pai?
= perguntou sem lembrança a moça
Coronel:
--- O mesmo! O mesmo! – achou
graça o coronel por dizer tal coisa.
Em alguns minutos o carro
parrou em frente a Prefeitura da Cidade. O coronel falou com uma moça, filha do
Prefeito. Ele queria saber do paradeiro do Chefe. A moça respondeu:
Moça:
--- Foi na capital! – sorriu a
moça em pé junto a porta da Prefeitura.
Coronel:
--- Quando? – indagou o coronel
sem maior preocupação.
Moça:
--- De manhã cedinho! – relatou
a moça com o mesmo sorriso.
Coronel:
--- Foi buscar lenha? – indagou
o coronel querendo fazer graça.
A moça soltou uma gargalhada e
depois respondeu.
Moça:
--- Quase isso! Ele foi ver o
problema da falta de energia. O senhor sabe né? – disse a moça sorrindo.
Coronel:
--- Tomara! O negocio está
preto! Eu tenho energia. O prefeito também. Mas a população está na miséria. Os
poços estão vazios. A barragem não funciona! Tá ruim mesmo! – rebateu o
coronel.
Moça:
--- O povo está indo buscar em
tambor, lata, jegue e até pinico. – e caiu na gargalhada a moça.
Coronel:
--- Pinico?! Essa não dá! Mas
pinico? – indagou assustado o coronel.
Moça:
--- Sim. Tem gente que traz
água em urinol mesmo! – sorriu a moça
por ultima instancia.
Coronel.
--- Assim não dá! Vou seguir!
Lembranças! – disse o coronel confuso com a história de “pinico!”.
Na volta do carro ainda teve de
ouvir a sua filha afirmar.
Vanesca:
--- Ora pai! Que tem isso? Tem
gente que bebe água até em pneu de carro! – sorriu a moça.
Coronel:
--- Mas pinico? – falou sem
saber o que dizer o coronel.
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