domingo, 9 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 28 -

- Sofia Loren -
- 28 -
VÍTIMA
Àquela hora da noite, logo nas primeiras horas, o corpo do Prefeito estava exposto no Palácio Negro, interior do Estado. Junto com o do prefeito estava também o do seu motorista. Toda gente da cidade estava presente ao velório de forma silenciosa. Pessoas choravam de comoção. O ataúde era todo negro com enfeites dourados ao seu redor. O do motorista também era igual a do Prefeito. O sacerdote estava no seu local todo vestido de paramentos negros. Havia ainda a família do Prefeito e o seu vice Prefeito já tomado posse. A família do então vice Prefeito também estava presente. O sino batalhava com uma pausa entre um toque e outro. De momento, se podia notar a presença do Coronel Araújo e parte da sua família. Ainda estavam presentes todos os secretários do Município. Um clamor total se abraçou da gente pobre da cidade onde o Prefeito era querido de todos pela ajuda dada a cada um. Notava-se em frente à Praça do local um silencio mortal do povo reunido. Não havia iluminação urbana e o Palácio estava às escuros. Apenas velas vestiam de todo luto o velório. O sacerdote começou a solenidade abençoando a todos os circunstantes. Era um ritual lacrimoso para todos os presentes. Vanesca indagou por que o sacerdote estaria rezando a Missa em horário tão apressado. O seu logo falou em murmúrio ser motivo de viagem para outra Cidade.
Vanesca:
--- Como para outra cidade? – indagou espantada a moça.
Coronel:
--- Não. Parece existir defunto em outros locais. – respondeu a tranquilizar o homem.
Um arrepio de temor percorreu a espinha da filha pelo fato de o seu pai falar em ter “defunto”. E a moça respondeu:
Vanesca:
--- Coisa triste! – murmurou a moça segurando no braço do sei pai.
Otto:
--- A morte é triste. Uma tristeza. Uma dor insuportável! – falou murmurando o rapaz.
Morcegos passavam aos bandos por dentro do Palácio Negro como se viessem prestar singela homenagem aos defuntos. Os silvos dos pequenos andirás eram acompanhados pelo sibilar dos enormes ratos vindos da mata solitária e misteriosa.
Matilde:
--- Bichos! – falou a mulher a observar para o alto.
Otto:
--- São animais noturnos! – comentou o seu genro.
Matilde:
--- Podia se dar fim a esses animais! – reprovou com temor a mulher.
O rapaz calou, mas por dentro sorria.
Ao iniciar a cerimônia fúnebre o sacerdote logo benzeu os ataúdes e a Missa Fúnebre teve inicio com as orações solenes para todos os circunstantes e, de modo especial, para as almas subidas dos mortos.  A celebração litúrgica foi em um clima por demais nervoso de parte das famílias presentes. A angústia comoveu principalmente a mulher do prefeito. Em certo instante, quando o sacerdote falava de bons costumes ouviu-se um grito e a mulher desmaiou. Somente não foi ao chão por estar segura nos braços de sua filha. E foi o grito da moça que se ouviu.
Moça:
--- Ai. Minha mãe! – esse foi o grito assustado da inquieta moça.
Um verdadeiro tumulto se formou no Palácio Negro com gente a indagar assustada o estado de comoção a ser manifestado. A mulher caída nos braços da filha, parecendo a Madona Pietá de Michelangelo uma das mais famosas esculturas já feitas. Tal escultura representa Jesus morto nos braços da Virgem Maria. Era assim como estava a mulher do ex-prefeito no colo de sua filha. O alarido tomou conta do ambiente soturno onde se rezava a Santa Missa. Do silencio ambiental a comoção total. Quem chegou de imediato para ajudar a moça foi o dono da Farmácia, seu Macário, homem dos seus 70 anos. Em seguida chegou o médico veterinário o Dr. Lindolfo, dos seus 50 anos. Não havia médico naquele pequeno município onde a receita gerava principalmente da criação de gado. E o povo todo se ajuntou em redor da moça para ver o sucedido. O medico veterinário retirou de seu bolso o instrumento da verificar pressão e passou a auscultar a senhora verificando o seu estado de saúde. O povo a tirar as suas conclusões:
Povo;
--- A mulher morreu? – perguntava alguém um tanto assombrada.
Outro:
--- Não sei. Parece. – respondia outro a murmurar.
Terceiro:
--- Terá sido o defunto que veio busca-la? – articulou outra tagarela
Quarto:
--- Sei lá. Isso acontece quase sempre. Você não se lembra do velho Aragão? – fez questão de tecer outro personagem
Quinto:
--- A velha não tem um pingo de sangue. – relatou mais outra pessoa a sair de perto.
Sexto:
--- Está morta? – era a pergunta constante.
Sétimo:
--- Pergunte ao médico? – respondia outra ao desespero.
Oitavo:
--- Vou nada! Saiu já daqui! – respondia a mulher a sair.
Velho:
--- Homem! Isso é apenas um chilique! – articulou um velho a sorrir.
Com o passar dos minutos, a mulher do ex-prefeito morto em acidente foi conduzida para um cômodo separado pela força do Coronel Araújo, a filha da vítima, o veterinário e outras pessoas. Todos se juntaram e levaram a mulher desacordada. A sala era pequena, porém tinha ventilação adequada. Não havia iluminação elétrica e logo alguém trouxe velas para clarear o ambiente. O sacerdote um pouco alarmado, ainda veio até a sala onde puseram a mulher e por fim perguntou e podia continuar com a missa.
Coronel:
--- Faça o que tem a fazer. – respondeu o coronel um pouco neurastênico.
O sacerdote respondeu afirmativo e foi para a sala dos mortos a concluir a cerimonia religiosa. Com o alvoroço feito pelo pessoal, o sacerdote viu não ter muito a concluir. E logo benzeu as urnas e deu por encerrada o ato litúrgico. Mas depressa o sacerdote saiu e ninguém sabe ao certo para onde fugiu. As pessoas reunidas ainda ficaram no salão do Palácio até horas da madrugada.  Quando chegaram às 9 horas, houve o sepultamento no cemitério local e tudo estava concluído.
O dia pareceu um domingo. Gente conversava sobre o acidente crucial do Prefeito. Houve quem dissesse ser a estrada mal traçada. E pessoas alegaram com surpresa ter muitos carros nos acostamentos dos postos de combustível. Alguém falou na destruição da capital.
Um:
--- É destruição total! – relatou alguém.
Dois:
--- Prédios foram ao chão! – falou outro.
Três:
--- Tem mortos em cima de mortos! – reclamou por seu turno outra pessoa.
Quatro:
--- E não se enterra? – perguntou algum desastrado.
Quinto:
--- E como vai se enterrar os mortos? Ora basta! – reclamou o que estava a falar.
Sexto:
--- Ah eu estando lá! – delirou um pau d’água.
Sétimo:
--- Que tu fazias seu pau d’água? – indagou uma mulher com voz antipática.
Sexto:
--- Me deitava com a defunta! – disse o pau d’água.
Sétimo:
--- Tu queres é levar uma nas ventas! – respondeu exaltada a mulher.
Sexto:
--- Ou na...- e um bofete comeu no centro dado pela mulher pondo o bêbado por terra.

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