- Nelly Jere -
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Verdade pura. Vera Muniz estava encantadora mais que no tempo de adolescente ou mesmo ainda menor como garota. Sua formosura era irradiante em plena liberdade de dizer e ouvir falar. A candura de sua face se igualava com as dos seus seios e mesmo a do corpo inteiro. Seu andar parecia uma fada ao pisar por onde passava. Olhos vibrantes, cor mais que alva. Cabelos se fossem castanho era mesmo o que dizer cor de ouro. Vera Muniz caminhava para se tornar em um doce encanto de primavera igual às borboletas douradas. Já com vinte ou vinte e poucos anos de idade, Vera era capaz de ter tudo o que a uma mulher necessita. Seu veículo era um Chevrolet Corsa Classic modelo com quatro portas. De tudo o que era moderno estava aos pés de Vera Muniz. Havia tempo em que ela estava nos Estados Unidos. Em outros, era na Europa e mesmo no Japão. Quando certa vez alguém lhe falou a cerca da Turquia, ela viajou até aquele País. Foi então que conheceu a região de Capadócia, um lugar de pedras e de cavernas que o mundo todo admirava. Vera não somente conheceu como viu as gigantescas e colossais pedras perfuradas habitações dos nômades da Anatólia. O significado do nome é muito simples: “Terra de cavalos de raça”.
Quando seguiram para o trigésimo terceiro andar do edifício onde funcionava a suntuosa e elegante Agencia Pomar os dois conversaram coisas do presente, pois, naquele dia, Silas seria o novo empregado da luxuosa agência. Dormir no apartamento da vice-diretora da organização já havia sido uma vitória para Silas, apesar de conhecê-la há mais tempo. A se ver trajando roupas simples para uma nobre função, já deixara Silas um tanto decepcionado. Com isso, ele falou para Vera Muniz que ainda precisava ir a sua – dele – casa para mudar os trajes, pois a sua função exigiria trajes bem mais completos.
--- Tolice! Isso depois se observa. – sorriu a amante Vera.
--- Mas eu estou sujo!!! – exclamou com veemência Silas Albuquerque.
--- Não vejo por que. – respondeu a jovem Vera.
Com esses detalhes a cumprir Silas e Vera foram então para o escritório da vice-presidência onde ambos ficaram mais livres de olhares estranhos. Muito embora estivesse trajando roupas simples. Vera trajava roupas grã-finas. Silas ao seu lado parecia um homem despido. Mesmo assim, chegaram os dois ao gabinete de Vera por um elevador privativo. No meio do caminho, a moça respondeu ao rapaz que se ele quisesse, poderia adquirir roupas de melhor porte do próprio edifício onde ele seria então o novo auxiliar da vice-presidência. Com tal observação de Vera, ele então se sentiu completamente despido de corpo e alma. Quando Silas rumou para o apartamento de Vera Muniz, ele estava a trajar roupa simples, as mesmas que então trajava. Ele estava em aula e nada mais de suntuosidade pusera em seu corpo. Tivera apenas um telefone celular para fazer contato com a moça. Tudo isso e nada mais.
Após deixar a documentação necessária na bancada de sua amada, foram os dois amantes ao magazine da organização procurar o traje adequado para vestir o pobretão Silas. O magazine do edifício era luxo só. Silas ficara admirado com tamanha nobreza em um repleto edifício onde havia de tudo para se escolher ou comprar. Com tamanha altivez de negócios, ele se sentiu ainda menor que os próprios servidores do bazar. Após esmiuçar por demais, Vera Muniz concluiu estar completo o fardamento do seu soberbo jovem. O pagamento foi feito através de cartão de credito da própria Vera Muniz.
--- Aqui todos têm seu cartão de crédito. Você terá o seu. – sorriu Vera Muniz perante Silas.
--- Mas querida, eu nem sei quanto vou ganhar de salário? – estranhou o jovem Silas.
--- Tolice. Isso não tem importância. Depois a gente vê isso. Compras! – sorriu Vera.
Assim passaram os dois amantes o restante da manhã a comprar roupas de etiquetas famosas. Na hora do almoço Vera convidou Silas para irem fazer a refeição no restaurante do mesmo edifício, pois naquela organização tinha de tudo o que necessitassem no seu dia-a-dia de modo que os funcionários não precisassem procurar em outros locais. No espaço reservado a Vera Muniz apareceu um cidadão de seus cinqüenta anos a cumprimentar a jovem e olhar bem para o rapaz. Tímido como uma rolinha silvestre, o rapaz nem teve ao menos tal lisonjeado prazer de cumprimentar tal figura. O homem é quem veio em sua direção.
--- Prazer, senhor Albuquerque! Vejo que está em boa companhia! – soletrou o homem a Silas.
--- Muito prazer. É. Vera é uma amiga de infância. E hoje estou aqui. – sorriu sem graça Silas
--- Ele é o rapaz que eu te falei. É um grande profissional do ramo. – sorriu Vera Muniz ao seu chefe, Diogo de Lá Veja.
--- Eu admiro os jovens. Sempre graciosos. Eu sei que ele se sairá bem na sua nova missão! – relatou De Lá Veja entre sorrisos.
--- Tenho certeza que sim senhor La Veja. – respondeu Vera Muniz.
Silas apenas sorriu, pois nem sabia o que reservava para si a sua nova função. O homem parecia ser de origem espanhola. Recatado, elegante, brioso, feitio perfeito para um magnata da estirpe do velho/novo cidadão. Foi então que Silas caiu do céu, pois a organização em que se metera era muito mais além do que ele esperava. Havia conversa, sim. Porém todos fariam a sua parte. No salão de refeições conjuntas Silas pode ver como os seus futuros companheiros se comportavam com esmero e maestria. Era para ver as conversas reservadas que alguém se comportava. E naquele instante, à sua mesa, estava o presidente da organização, senhor Diogo de La Veja, um cavalheiro de escol. O refeitório em que Silas estava era por demais decente, cercado por meias paredes e onde só tinha acesso as pessoas devidamente convidadas ou aquelas que eram as das mais altas classes. O homem se esquivou em sentar ao lado de sua vice e decidiu que outros compromissos lhe assumiam, pois eles estariam em reunião às três horas da tarde.
--- Eu estarei presente. – relatou Vera Muniz.
--- E o rapaz também. – verificou o senhor De La Vega sorrindo afinal.
--- O senhor Albuquerque já está sabendo! – sorriu a moça ao patrão.
O certo é que Silas não sabia de coisa alguma e sentiu uma pontada na perna dada por Vera para ele apenas concordar.
--- Eu estarei sim senhor – sorriu sem querer ao se levantar o jovem Silas.
Logo após o presidente De La Vega sair, Silas se voltou para Vera e indagou que tal de reunião era essa. Ele não sabia de coisa alguma. E ainda teve que mentir ao dizer ao chefe que estaria presente. A moça sorriu com vagar. E respondeu:
--- Assuntos da diretoria. Com certeza para te apresentar aos novos consorciados. – sorriu Vera
--- Onde fui amarrar meu burro! – falou Silas de forma irônica.
A jovem Ver Muniz se reservou para não soltar uma tremenda gargalhada ao ver a cara de Silas amargando o seu destino. E disse ainda Vera Muniz que ela não lhe havia descrito a tal reunião para que ele não se assombrasse de tamanha situação em que a jovem moça o metera. No mesmo sentido, Silas adiantara que teria de ir a sua casa, pelo menos para tomar banho e mudar de roupa, pois a que estava usando lhe apertava por demais o colarinho.
--- Nem pensar! Troque a camisa no bazar onde comprou! – acudiu Vera Muniz com olhar tenso para o rapaz Silas..
--- Agora tem mais essa? – reclamou o rapaz a sorrir.
--- Vá se ajeitando do seu modo de agir, pois de agora em diante tudo mudou para você. – reclamou Vera Muniz com olhar severo.
O rapaz ficou inquieto. Logo pensou no Cine Clube. E pensou também em sua casa. A mãe estaria em pânico por não ter noticias suas. Então ele se lembrou de discar para casa e avisar a sua mãe que estaria então em uma nova função em um novo escritório, pois teria serviços extras a executar e, talvez apenas retornasse a casa para o jantar. A jovem Vera Muniz escutou tudo que o rapaz falou ao celular e não disse mais coisa alguma. Apenas pensou na casa em que ele morava e o velho mendigo que tanto eles corriam com medo de ser alcançados. Só então a moça sorriu numa verdadeira gargalhada. Todos a olharam com cismas. E o rapaz com temor e aturdido inquiriu a Vera:
--- O que foi? – indagou o rapaz meio cético.
--- Nada não. Eu me lembrei de Molambo, o velho de nossa infância. – respondeu ainda a sorrir a jovem Vera Muniz.
--- Que velho? Ah sim. Molambo. Dá pra se ver. O que é feito dele? – averiguou Silas.
--- Não sei. Deve ter morrido. Certamente. Molambo! – apenas cismou a jovem moça apenas a lembrar de fatos de outrora.
A noite veio, e os dois amantes deixaram a repartição. Ela seguiu para o seu apartamento após deixar o rapaz em sua casa, em ouro bairro para onde ele e sua mãe se mudaram logo depois da morte de seu pai. O velho Albuquerque foi acometido por uma leucemia e teve morte quase prematura, apesar de ter sofrido com sintomas há vários anos.