- Natalie Wood -
- 08 -
O rapaz foi pego de surpresa. Alguém estava a lhe procurar. De imediato, sem contemplação, ele guardou os ingressos vendidos e, pôs a caminho. Poderia ser qualquer uma das lindas e exuberantes moças que ele as conhecia. Como poderia ser alguém que pela primeira vez teria meios de conhecer. Com a mente presa nos talões de ingresso vendidos, Silas chegou até fora onde alguém dissera querer lhe falar. Ele e o rapaz que com Silas caminhou. Àquela hora, perto do almoço, já nem podia pensar em alguma fada, maga ou mesmo Cinderela. Talvez alguém acompanhada do seu elfo, mito dos célticos, germânicos ou nórdicos. A rua do Cinema Olímpia estava quase deserta. Um carro passava a toda velocidade a buzinar para ninguém, cheio de moças a gargalhar. O motorista era outro charmoso rapaz. Esse dizia pilherias a toda prosa. Um bar existente em um beco estreito onde poucos automóveis se aventuravam passar estava repleto de bêbados àquela hora da manhã ou tarde. Dos ébrios se ouvia pilherias sem graça a que todos achavam airosas. Do mictório do Cinema Olímpia saía um dos que estavam atrasados para chegar a sua casa na hora do almoço. O aficionado de filmes saiu tão depressa que nem se desculpou a Silas naquela hora quando foi de encontro ao rapaz. E no instante derradeiro, Silas recuou um passo para o azougado passar. O homem era baixo, tinha cerca de 30 anos, quase careca, branco que nem uma lesma e usava óculos de lentes para míopes. E foi Silas quem pediu desculpas pelo acidente incontinente.
Ao chegar ao salão de entrada do cinema, Silas e o homem que o chamou, não encontraram mais ninguém. Silas ainda entrou no salão de exibição de filmes, porém não havia alma. O rapaz ainda foi fora e procurou em uma sorveteria que funcionava ao lado do cinema, porém não havia mais nem sinal da pessoa. Era uma moça jovem e, aparentemente estava só, pois o rapaz não vira outra companhia ao seu lado. No mesmo instante, Silas caminhou até a esquina de uma rua próxima onde havia uma farmácia, e ali também não encontrou a tal figura. Ainda olhou ao correr da pracinha cujo setor se aproximava a certa distancia, e lá entre pessoas que transitavam também não vira nenhuma pessoa que pudesse ser alguém familiar ou mesmo conhecido de tempos passados. Mesmo pessoas da Faculdade de Jornalismo. Colegas, entre muitos conhecidos. O que ele notou foi à presença de um mendigo que se aproximara dele a pedir esmola. A esse indigente Silas só teve um dizer:
--- Perdoe!. – falou Silas ao esmoler que se pôs a caminhar.
--- Porras! Será uma alma! – falou o rapaz do cinema que se aproximou de Silas.
Silas olhou para o rapaz do cinema e teve vontade de dizer um desaforo, porém de quase nada respondeu voltando para ver o mapa dos ingressos vendidos. Na hora, ele não cogitou ser alguém da Faculdade ou da associação do Cine Clube. Bem que podia ser alguém querendo tomar informações sobre o filme que havia sido apresentado no horário matinal. O certo é que, de cabeça totalmente inchada de tanto pensar, Silas resolveu esquecer tudo que passara de uma só vez.
--- Os ingressos? – indagou Silas ao rapaz da cabine.
--- São esses. – respondeu o rapaz olhando para Silas.
Dias depois Silas estava no seu trabalho como aprendiz de jornalismo porque o seu curso teria conclusão no final do ano. Então ele passaria de vez da condição de simples “foca” para jornalista categoricamente profissional. Mesmo assim, ele já estava safro em muitas matérias apesar de ser um revisor de matérias policiais. Silas já estava no jornal há cerca de um ano gozando do maior afeto da diretoria. Nesse dia, pouco tempo depois da sessão de cinema, ele foi chamado pela secretaria do jornal para atender ao telefone, como era de costume quando havia ligação externa. No seu birô tinha um telefone de ramal e ele pediu para a secretaria ligar para o seu telefone. A moça concordou e foi feita a ligação. Pensava Silas ser mais um caso de polícia de última hora que estava a chegar. O rapaz pegou lápis de papel, como era costume e atendeu ao telefone. Mesmo assim, não era um telefonema da polícia. E sim de alguém de fora, sendo da mesma área de jornalismo ou mídia. A voz era de mulher. E Silas respondeu.
---- Sabe quem está falando? – indagou a voz a sorrir.
---- Não. Quem fala? – sorriu Silas a imaginar quem podia ser.
--- Nem advinha? Conto até dez! – sorriu a voz ao telefone.
--- Não faço a menor idéia. – sorriu Silas a imaginar alguém do curso de jornalismo.
--- Mas dos cajus você se lembra? – indagou um tanto maliciosa a voz ao telefone.
--- Cajus? Que cajus? – e a mente de Silas passou a percorrer outros rumos.
--- Já sei que não se lembra da cobra! – sorriu a voz do outro lado do fone.
--- Bati. É Vera!!! – sorriu Silas em verdadeira emoção de menino travesso a dizer o nome.
--- Ah. Agora se lembra, não é seu safado? – sorriu Vera contente da vida.
--- Ora. Mas você está aonde? Que saudade. Há quanto tempo! Imagine. – chorou de emoção o jovem Silas de alegria e contentamento.
E os dois “amantes” conversaram por um longo período. Ela recordando dos cajus e do sítio do velho Heráclito, e ele a se lembrar das cobras e do banho de mar que os dois infantes, certo dia foram tomar em uma praia distante. A cabeça do rapaz rodava em seu pensar como teria sido a vida de dois amantes como eles algum tempo da vida tinham sido. Questões de arengas e má querência, acertos e desacertos. Quantos acontecimentos a se lembrar no meio de um simples telefone. Mas o tempo passou rápido quando Vera chamou Silas para conversar mais a miúda no dia seguinte. Vera teria aula na parte da manha. À tarde, seria mais propicia. Caso ele tivesse interesse em um bom emprego, deveria ir a Agencia Pomar onde Vera estava a ocupar o lugar de vice-presidente da organização. Silas tremeu nas bases.
--- Mas logo eu? – exclamou Silas de modo muito surpreso.
--- Sim. É você. Eu estive consultando os jornais da cidade e vi o seu nome no que você está. Eu quero você comigo. Para sempre. – sorriu Vera ao lhe enviar um beijo pelo telefone.
--- É danado. Eu vou até você amanhã de duas horas. Certo? – indagou Silas a tremer.
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