quarta-feira, 18 de julho de 2012

ISABEL - 26 -

- Rita Hayworth -
- 26 -
CASARÃO
Alguns dias depois Gonzaga chegou ao Bar em companhia do advogado dando tudo como certo,  pois concluíra todo o processo e posse da fazenda. Ele estava exaustos por conta da luta desses últimos dias. A fazenda era imensa e tinha um casarão desabitado. Gonzaga olhou o casarão e depois fez um sorriso. Aquele foi um tempo de estio e nada havia plantado. Apenas o mato crescia. Além disso, havia árvores frondosas ao longo do terreno. Ele não sabia ao certo como cuidar de tudo o que herdara. Quando ele esteve na fazenda, para conhecer o patrimônio herdado, ele não chegou a observar como o chão estava limpo. Gonzaga entrou em companhia do advogado e apenas avistou uma mulher de meia idade, talvez tivesse tempo de vida igual a dele. A mulher vinha logo atrás do dono da fazenda e nada falou. Gonzaga pensou ser alguém ou alguma moradora da fazenda. Ou nada pensou. Apenas notou a mulher a o acompanhar. No entanto foi a mulher a lhe abrir a porta do casarão. Ele agradeceu e logo entrou no casarão.  O visto lhe causou espanto. Uma sala mobiliada por completo e, nas paredes da sala uma porção de fotos de quem fora antigo dono. No meio, a foto de um homem barbudo e ao seu lado a foto de uma mulher. Além dessas fotos, outras mais. Todas corriam as quatro paredes da sala. Gonzaga sentiu um arrepio de temor. A mulher abriu a janela da sala e tudo ficou mais claro. E desse local a mulher saiu para outros compartimentos abrindo as portas até chegar ao final do casarão. E então voltou a ouvir a conversa do homem com o seu advogado.  Nada lhe interessava em saber. Gonzaga nem mesmo pensou na mulher até o ponto quando indagou:
Gonzaga:
--- A senhora é alguém do Juiz? – perguntou inquieto.
Mulher:
--- Não senhor. Eu vim apenas para abrir a casa. – respondeu a mulher.
Gonzaga ficou pensativo, mas nada indagou. Apenas fez com a conversa que estava bem. Mesmo assim, algum tempo, quando Gonzaga já estava na cozinha, ele voltou a querer saber como a mulher estava naquele local. E a mulher respondeu.
Mulher:
--- Sou a filha de sua mãe de criação. Eu era bem miúda quando o senhor foi embora. – respondeu a mulher.
Gonzaga:
--- Ah bom. Não me lembro de tais assuntos. – respondeu.
Mulher:
--- Dá pra ver. Meu nome é Maria da Penha. Eu sou a caçula dos cinco irmãs. Meus pais se foram. Só restamos eu e os quatro. E o senhor  também. – falou acanhada.
Gonzaga:
--- Penha? Você é Penha? Como mudou! Penha! Eu te carreguei no colo! Penha! Meu Deus! Você era a pivete de todas. Mas como sou burro. Penha! Dá-me um abraço! – disse o homem alarmado em poder reconhecer a mulher do seu tempo de menina.
A mulher se acercou com um ligeiro sorriso para abraçar o homem. Sua pequenez  mostrava ser a mulher parecendo gorda diante de Gonzaga. Esse temia abraça-la com toda a força a temer magoar a mulher. Mesmo assim, ele lhe abraçou com firmeza a deitar a sua fronte no ombro da mulher. Lágrimas jorraram como um pranto esquecido da parte do homem. Foi uma ternura antiga a se desfazer em apenas um segundo de afeto. A mulher se deixou abraçar, porem não verteu lágrimas sentidas. Aquele foi um aperto a durar uma centena de séculos.
Ao passo de algum tempo quando os abraços se desfizeram, Gonzaga indagou pelos seus irmãos ate recentemente tido como da mesma família. E a mulher respondeu:
Penha:
--- Andam por aí. No meio do mundo. Aqui só tem Chica. Os outros caíram fora. Eram oito. Mas morreram três. E assim ficaram apenas cinco e o senhor. – falou a mulher a sorrir de vagar.
Gonzaga:
--- Senhor, não. Pode me chamar de você. – sorriu a lacrimejar o homem.
Penha:
--- É o costume. – sorriu a mulher espanando os braços.
Gonzaga:
--- Eu sei. Eu sei. A gente se acostuma com essa forma de falar. Mas me chame de você. – disse por vez o homem
A mulher sorriu olhando para outro lado e voltou a falar.
Penha:
--- Sabe! Eu conheci o senhor. Por várias vezes eu fui à cidade. E dona Francisca me mostrou o senhor naquele prédio. Foi mais de uma vez. Sei não. Deixa pra lá. – fez ver a mulher.
Gonzaga:
--- Não senhora! Isso é importante. Faz ver da gente se conhecer a mais tempo. – disse o homem com muita atenção.
Penha:
--- Eu sei. Mas sei lá. O senhor era todo fardado. Eu tive até medo. – sorriu a mulher.
Gonzaga:
--- Que fardado mulher? Aquilo é a farda, mas da gente que recebe ingresso. – sorriu o homem.
E a conversa prosseguiu com Maria da Penha falando sobre idas e vidas à cidade. E chegou a dizer ter sido companhia da anciã no período da queda sofrida por dona Francisca quando esteve por um período de seis meses. A anciã esteve hospitalizada e desde esse tempo ficou encurvada. E com o tempo ficou mais encurvada ainda. Mesmo assim, apesar da morte dos pais de Maria da Penha, a anciã sempre doou certa importância para os cuidados com a família, mesmo já estando Gonzaga em posição de homem adulto.
Penha:
--- Eu não sei bem. Mas havia certo namoro com um rapaz que carregava água do rio. Para mim foi esse rapaz que teve algo com dona Francisca. Isso eu soube muito depois do senhor vir para a cidade. O rapaz morreu afogado no rio. Isso é o que se diz pelos mais antigos. E dona Francisca não podia ter o filho em sua casa. Por isso a mulher inda mocinha, doou a criança para a minha mãe criar. Isso, ela fez. E sobre o pagamento, ela sempre fez. Mas é conversar que se conta. Quando o senhor escapuliu da nossa casa, eu ainda era pequena. – respondeu a mulher.
Gonzaga:
--- Eu nem porque sai de casa. Sei bem que sofri o diabo. Trabalhei como balaieiro durante muito tempo. Depois fui engraxate. E um monte de coisa. Hoje estou no Teatro. Mesmo assim, tive um casamento. A primeira mulher morreu logo cedo. Passei tempo sem ninguém. E, certa vez, encontrei uma moça. Nós nos damos certo. Enfim, agora estou passando por nova vida. – disse o homem.
Após tecer tantos diálogos ele terminou olhando o campo, vendo o existente em toda parte, como a Serra do Monte, algo que ele jamais esquecera. Nessa serra caiu um rapaz e veio terminar no solo. O rapaz ficou todo quebrado. Porém sobreviveu. Olhando  a serra ele relembrou o passado.
Gonzaga:
--- A Serra. E o rapaz escapou. – comentou o homem.
Nesse ponto das lembranças o advogado chamou por Gonzaga lhe tirando do seu sonho para mostrar os documentos. No Bar, ele foi recebido por sua mulher, Isabel, e disse algo de bom grado à jovem senhora.

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