- Rita Hayworth -
- 26 -
CASARÃO
Alguns
dias depois Gonzaga chegou ao Bar em companhia do advogado dando tudo como
certo, pois concluíra todo o processo e
posse da fazenda. Ele estava exaustos por conta da luta desses últimos dias. A
fazenda era imensa e tinha um casarão desabitado. Gonzaga olhou o casarão e
depois fez um sorriso. Aquele foi um tempo de estio e nada havia plantado.
Apenas o mato crescia. Além disso, havia árvores frondosas ao longo do terreno.
Ele não sabia ao certo como cuidar de tudo o que herdara. Quando ele esteve na
fazenda, para conhecer o patrimônio herdado, ele não chegou a observar como o
chão estava limpo. Gonzaga entrou em companhia do advogado e apenas avistou uma
mulher de meia idade, talvez tivesse tempo de vida igual a dele. A mulher vinha
logo atrás do dono da fazenda e nada falou. Gonzaga pensou ser alguém ou alguma
moradora da fazenda. Ou nada pensou. Apenas notou a mulher a o acompanhar. No
entanto foi a mulher a lhe abrir a porta do casarão. Ele agradeceu e logo
entrou no casarão. O visto lhe causou
espanto. Uma sala mobiliada por completo e, nas paredes da sala uma porção de
fotos de quem fora antigo dono. No meio, a foto de um homem barbudo e ao seu
lado a foto de uma mulher. Além dessas fotos, outras mais. Todas corriam as
quatro paredes da sala. Gonzaga sentiu um arrepio de temor. A mulher abriu a
janela da sala e tudo ficou mais claro. E desse local a mulher saiu para outros
compartimentos abrindo as portas até chegar ao final do casarão. E então voltou
a ouvir a conversa do homem com o seu advogado.
Nada lhe interessava em saber. Gonzaga nem mesmo pensou na mulher até o
ponto quando indagou:
Gonzaga:
--- A
senhora é alguém do Juiz? – perguntou inquieto.
Mulher:
--- Não
senhor. Eu vim apenas para abrir a casa. – respondeu a mulher.
Gonzaga
ficou pensativo, mas nada indagou. Apenas fez com a conversa que estava bem.
Mesmo assim, algum tempo, quando Gonzaga já estava na cozinha, ele voltou a
querer saber como a mulher estava naquele local. E a mulher respondeu.
Mulher:
--- Sou a
filha de sua mãe de criação. Eu era bem miúda quando o senhor foi embora. –
respondeu a mulher.
Gonzaga:
--- Ah
bom. Não me lembro de tais assuntos. – respondeu.
Mulher:
--- Dá
pra ver. Meu nome é Maria da Penha. Eu sou a caçula dos cinco irmãs. Meus pais
se foram. Só restamos eu e os quatro. E o senhor também. – falou acanhada.
Gonzaga:
---
Penha? Você é Penha? Como mudou! Penha! Eu te carreguei no colo! Penha! Meu
Deus! Você era a pivete de todas. Mas como sou burro. Penha! Dá-me um abraço! –
disse o homem alarmado em poder reconhecer a mulher do seu tempo de menina.
A mulher
se acercou com um ligeiro sorriso para abraçar o homem. Sua pequenez mostrava ser a mulher parecendo gorda diante
de Gonzaga. Esse temia abraça-la com toda a força a temer magoar a mulher.
Mesmo assim, ele lhe abraçou com firmeza a deitar a sua fronte no ombro da
mulher. Lágrimas jorraram como um pranto esquecido da parte do homem. Foi uma
ternura antiga a se desfazer em apenas um segundo de afeto. A mulher se deixou
abraçar, porem não verteu lágrimas sentidas. Aquele foi um aperto a durar uma
centena de séculos.
Ao passo
de algum tempo quando os abraços se desfizeram, Gonzaga indagou pelos seus
irmãos ate recentemente tido como da mesma família. E a mulher respondeu:
Penha:
--- Andam
por aí. No meio do mundo. Aqui só tem Chica. Os outros caíram fora. Eram oito.
Mas morreram três. E assim ficaram apenas cinco e o senhor. – falou a mulher a
sorrir de vagar.
Gonzaga:
---
Senhor, não. Pode me chamar de você. – sorriu a lacrimejar o homem.
Penha:
--- É o
costume. – sorriu a mulher espanando os braços.
Gonzaga:
--- Eu
sei. Eu sei. A gente se acostuma com essa forma de falar. Mas me chame de você.
– disse por vez o homem
A mulher
sorriu olhando para outro lado e voltou a falar.
Penha:
--- Sabe!
Eu conheci o senhor. Por várias vezes eu fui à cidade. E dona Francisca me
mostrou o senhor naquele prédio. Foi mais de uma vez. Sei não. Deixa pra lá. –
fez ver a mulher.
Gonzaga:
--- Não
senhora! Isso é importante. Faz ver da gente se conhecer a mais tempo. – disse
o homem com muita atenção.
Penha:
--- Eu
sei. Mas sei lá. O senhor era todo fardado. Eu tive até medo. – sorriu a
mulher.
Gonzaga:
--- Que
fardado mulher? Aquilo é a farda, mas da gente que recebe ingresso. – sorriu o
homem.
E a
conversa prosseguiu com Maria da Penha falando sobre idas e vidas à cidade. E
chegou a dizer ter sido companhia da anciã no período da queda sofrida por dona
Francisca quando esteve por um período de seis meses. A anciã esteve
hospitalizada e desde esse tempo ficou encurvada. E com o tempo ficou mais
encurvada ainda. Mesmo assim, apesar da morte dos pais de Maria da Penha, a
anciã sempre doou certa importância para os cuidados com a família, mesmo já
estando Gonzaga em posição de homem adulto.
Penha:
--- Eu
não sei bem. Mas havia certo namoro com um rapaz que carregava água do rio.
Para mim foi esse rapaz que teve algo com dona Francisca. Isso eu soube muito
depois do senhor vir para a cidade. O rapaz morreu afogado no rio. Isso é o que
se diz pelos mais antigos. E dona Francisca não podia ter o filho em sua casa.
Por isso a mulher inda mocinha, doou a criança para a minha mãe criar. Isso,
ela fez. E sobre o pagamento, ela sempre fez. Mas é conversar que se conta.
Quando o senhor escapuliu da nossa casa, eu ainda era pequena. – respondeu a
mulher.
Gonzaga:
--- Eu
nem porque sai de casa. Sei bem que sofri o diabo. Trabalhei como balaieiro
durante muito tempo. Depois fui engraxate. E um monte de coisa. Hoje estou no
Teatro. Mesmo assim, tive um casamento. A primeira mulher morreu logo cedo.
Passei tempo sem ninguém. E, certa vez, encontrei uma moça. Nós nos damos
certo. Enfim, agora estou passando por nova vida. – disse o homem.
Após
tecer tantos diálogos ele terminou olhando o campo, vendo o existente em toda
parte, como a Serra do Monte, algo que ele jamais esquecera. Nessa serra caiu
um rapaz e veio terminar no solo. O rapaz ficou todo quebrado. Porém
sobreviveu. Olhando a serra ele
relembrou o passado.
Gonzaga:
--- A
Serra. E o rapaz escapou. – comentou o homem.
Nesse ponto
das lembranças o advogado chamou por Gonzaga lhe tirando do seu sonho para
mostrar os documentos. No Bar, ele foi recebido por sua mulher, Isabel, e disse
algo de bom grado à jovem senhora.
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