- Louise Brooks -
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O PARTO
Naquele
domingo, às cinco horas da manhã, Isabel acordou o seu marido ao dizer estar
sentindo dores e era chegada a hora. O homem acordou assustado e pergunto
alarmado se a mulher queria ir para o Hospital. E ela respondeu já está toda
arrumada a espera do seu marido. Dizendo isso ela sorriu com um gesto amargo do
seu rosto. O homem se levantou às pressas a vestir a sua roupa de saída e
calçar os seus sapatos. No vexame cruel ele nem viu estar abotoado a camisa
posta pelo avesso. Isabel alertou para o fato. Ele quis sorrir mas o vexame era
tamanho e não deu nem para ver se estava pelo avesso. Apenas tirou a camisa e
colocou do jeito certo. Era uma corrida de louco a perguntar a mulher pelas
chaves do veículo como se não soubesse estar com elas nas suas próprias mãos. A
mulher sorriu de novo aguentando as dores sentidas a todo custo. Apesar de tudo
ela era calada a olhar Gonzaga a correr para um lado e para o outro como se o
homem fosse ter a criança. E de qualquer jeito o homem arranjou o pacote de roupa
da mulher e se largou para o seu automóvel. Ele abriu a porta do veículo para
poder a mulher entrar e foi, no desespero, para o seu lugar, procurando enfiar
a chave da porta na ignição do carro. A mulher olhou e sorriu a dizer ser a
chave a outra. Então Gonzaga se deu por notar e viu a porta do bar toda aberta
e voltou para fechar.
Gonzaga:
--- Onde
coloquei a chave? Onde coloquei a chave? – dizia o homem completamente
desnorteado. Era o seu primeiro filho, sem dúvidas.
Finalmente,
definida as dúvidas das chaves, Gonzaga, todo pálido ligou o carro e deu
partida a toda velocidade, se espremendo de dor na barriga, como se ele fosse
ser a verdadeira mãe. E não parava de olhar para Isabel e a perguntar:
Gonzaga:
--- Está
bem? – perguntava o homem.
A mulher
apenas dizia que sim. E se aguentava como podia das dores de parto. O transito
não existia àquela altura da manhã. Alguns carros passavam para um lado e para
o outro como seus ocupantes a conversar. Quando menos se esperava, eis o menino
nascido no próprio carro de Gonzaga. E a mulher ainda teve a coragem de dizer:
Isabel:
---
Nasceu o garoto! – enxugando o rosto com uma frauda.
O homem
se espantou desvairadamente. E disse alto sem soltar a direção do carro.
Gonzaga:
---
Nasceu? Nasceu? Nasceu? – disse espantado o homem.
Isabel
fez um gesto ofegante de quem estava a ter o menino e Gonzaga empurrou o pé no
acelerador chegado mais depressa possível em uma casa de saúde, ele totalmente
exausto e empalidecido. O seu carro parou inesperadamente e o homem saiu a
correr gritando para os maqueiros e enfermeiras de forma delirante.
Gonzaga:
----
Socorro! Socorro! Tem uma mulher parindo em meu carro! Socorro! Acudam-me! É
minha mulher! – gritava o homem ao desespero.
Em meio
do tumulto formado, com gente de fora a correr para prestar socorro e o homem
quase a desmaiar, ele nem sequer notou quando a mulher deitada em uma maca
passou por ele, com os maqueiros correndo por demais e duas enfermeira
segurando a parturiente ao tempo em que elas faziam o soro do braço de Isabel.
A mulher disse ao seu marido, contente por demais ter ela feito o parto sem nem
ajuda de alguém. Ele não ouviu. Apenas gritava por socorro. Nesse ponto, vinha
saindo do centro médico o seu amigo Toré
muito alegre porque a sua esposa também tivera o filho, uma menina, ao
mesmo tempo em que Isabel tinha o seu.
Toré:
---
Amigo?! Amigo?! Eu sou pai! – dizia Toré se abraçando a todo custo com Gonzaga.
E os dois
homens rodaram abraçados a dançar por causa do nascimento dos seus filhos. E
nem se explicavam. Apenas dançavam rodado ante as pessoas admiradas ao passarem
pelos dois. Alguém sorria pelo
entusiasmo havido. Outro ficava de boca aberta. Um enfermo era levado em uma
maca e mesmo assim ele gritava de entusiasmo para os dois companheiros:
Enfermo:
--- Vamos
à luta! – gritou o enfermo de sua maca.
Uma
senhorita a anotar a entrada e saída de pessoas pedia aos berros o nome da
parturiente:
Moça:
---- Os
documentos! Os documentos! – gritava a moça do seu lugar e soerguendo a mostrar
a caneta e a folha de papel a preencher.
Outros
maqueiros voltavam para pegar novo paciente e diziam com alegria:
Maqueiros-2
--- É a
vida! – diziam os maqueiros com alegria.
E na sala
de parto dava entrada Isabel com o seu bebê no colo já salvo com o cordão umbilical
já devidamente cortado e pregado com gazes e esparadrapo. A mulher olhou por uma brecha da porta e
sorriu como que entrando afinal no hospital. E diante de todo o atropelo com os
dois pais ambos a dançar um médico
residente passava com a testa molhada de suor e a dizer:
Médico
Residente:
--- Que
coisa? E eles nem sabem o sufoco que deu! – falou o médico residente.
E depois
de algum tempo Gonzaga abraçado com Toré foi então atender ao chamado da moça
para preencher a ficha de entrada da paciente. Os dois conversavam e choravam
alegremente pelo nascimento de seus filhos.
Após
alguns dias os pais levaram seus filhos para serem batizados pelo sacerdote.
Era um dia de sábado pela manhã e a família estava toda reunida com padrinhos e
convidados a espera do sacerdote. Otilia foi mãe de uma menina. Isabel, de um
menino. Todos estavam alegres e felizes com o nascimento de seus novos
rebentos. Otilia escolheu o nome de uma filha de Sílvia. Essa menina, de 12
anos, morrera com essa idade. Isabel escolheu o nome de Francisco em reverencia
a mãe de Gonzaga chamada Francisca. Após a cerimonia houve festa no Bar de
Isabel e entre outros assuntos Dulce Pontes, mãe de Toré disse algo de pouco
significado:
Dulce:
--- Certa
noite eu tive um sonho. A minha filha Silvia vinha e me dizia ser ela a futura
filha de Toré. – relatou Dulce com pensamento distante.
Todos
bebiam e comiam no Bar de Isabel e por isso ninguém deu a menor importância ao
dito feito pela mulher. Foi um copo de água no mar. Após alguns dias Toré, ao examinar o corpo da
inocente criança notou uma marca igual ao de Sílvia, a sua irmã. Mesmo assim
não deu a menor importância, pois uma marca poderia ser uma questão de tradição
onde cada pessoa tem algo ou algum sinal muitas vezes encoberto. Pode ser apenas
a identificação de origem da pessoa e nada mais. E assim foi deixando passar a vida com a
menina crescendo por cada mês de vida a passar. Em certa época dona Dulce
olhava muito a miúde para a garota e apenas relatou:
Dulce:
--- Essa
menina tem os traços da sua tia. - fez ver a mulher.
Toré:
--- Que
tia? A menor que morreu? – indagou o rapaz.
Dulce:
--- Ela
tem os olhos vivos como a garota Sílvia, minha filha. – citou a mulher.
O pai
pegou a garota e fez cócegas na menina. Essa sorriu e quis falar algo. Apontou
a cômoda onde estavam guardados objetos antigos. O seu pai nem percebeu. Disse
apenas ser uma garota muito viva.
Toré:
--- Ela
está com menos de um ano. – e balançou a menina aos olhos de Otilia, a sua mãe.
Dulce:
--- Ela
apontou para a cômoda. Na certa tem dentro alguns documentos. O nascimento da
primeira Sílvia, se é o caso. – falou com voz miúda a mulher.
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