- Kristen Stewart -
- 29 -
TRAGÉDIA
Em um dia
de uma semana bem depois do domingo na Fazenda, estava Francisco, por volta da
meia noite a acordar a sua mãe Isabel cujo sono não fazia acordar. O menino
sacudiu para um lado e para o outro e depois de alguns minutos a mulher abriu
os olhos e, assustada, indagou por tanto sacolejar:
Isabel:
--- Que
foi menino? Queres urinar? – indagou a mulher a se levantar da cama.
O garoto
apenas disse o que estava a falar.
Francisco:
--- Mãe!
Eu vi uma menina! – respondeu o garoto meio atrapalhado.
Isabel
procurou acordar de vez e indagou:
Isabel:
--- Vai
urinar? Que menina? Quando? Vamos fazer xixi! Ora! – reclamou a mulher cheia de
sono por ter passado o dia a trabalhar.
Francisco:
--- Foi!
Eu vi! Ela toda de branco! E me disse que vai ser minha irmã! – reclamou o
garoto.
Isabel:
--- Tá
certo! Vamos fazer xixi! Ai que sono! Tu me acordaste para dizer bobagens? Ora!
– rezingou a mulher puxando o garoto para ir até o banheiro.
Francisco:
--- Mas
eu não quero fazer xixi, mainha! – reclamou o garoto.
Isabel:
--- Ah
vai! Agora! Faz xixi aí! E logo! Ora se senhor! Sabe que horas são essas?
Moleque! – rosnou a mulher com sono interrompido.
Francisco:
---
Maínha! A senhora não sabe. Mas a menina vem por esses dias! – relatou o menino
a fazer xixi sem querer.
Isabel:
--- Faz
xixi de uma vez! Ou te puxo as orelhas! – disse de vez a mulher com olhos bem
abertos e se curvando sobre o garoto.
E
Francisco acabou por fazer xixi sem querer e voltou para o seu leito. Por sua
vez, Isabel foi ver se conciliava o sono. O marido roncava como um porco. A
mulher olhou bem a cara de Gonzaga e depois se deitou e enrolou com o lençol.
A mulher bem pensou em morar em uma casa
melhor, com mais espaço, fruteiras, jardins, terreno vazio pela frente. E nesse
pensamento ela conciliou o sono. Na manhã seguinte, Gonzaga acordou e procurou
a mulher, mas essa já estava de pé. Gonzaga saiu com pressa para o bairro
distante onde abria o bar no horário da manhã.
Ao chegar ao local encontrou as domesticas fazendo o asseio do balcão,
cadeiras e outras já coavam o café para os fregueses. Havia gente a conversar
na porta de entrada do Bar e lego a porta se abriu. As pessoas entraram e
tomaram assento à mesa. Isabel chegou meia hora após e foi para de dentro da
pensão arrastando o seu filho e indagou aos homens o que eles queriam. A
resposta foi a mesma para cada um.
Fregueses:
---
Cuscuz e café! – sorriram todos.
A mulher
não achou graça com a piada e voltou para dentro ordenando ser servido o café
normal com cuscuz. Nesse ponto Gonzaga já tomado banho e logo saiu da casa a
procura de frutas e outras coisas vendidas no Mercado Público. Isabel olhou
para o marido e sentiu vontade de mandar trazer algo, mas no mesmo instante esqueceu. O menino
Francisco surgiu ainda com a chupeta na mão e nada falou. Apenas ele se atracou
às pernas de sua mãe sem nada soletrar. A mulher notou a presença da chupeta e
logo disse:
Isabel:
--- Vai
guardar essa chupeta e lave a cara! – disse Isabel dando uma tapa no traseiro
do garoto.
O menino
olhou para Isabel e sorriu. Em seguida rumou para dentro da casa. Nesse momento
um consumidor entrou no bar e foi logo a dizer:
Consumidor:
---
Mataram dez. Dois carros se chocaram de frente. Foi vapite vupite! De uma
tacada só. Os corpos estão estendidos na estrada. – fez ver o homem limpando
sua testa molhada de suor.
Outro:
--- Foi
aqui? – indagou sem se assustar um dos outros.
Consumidor:
--- Foi
inda agora. Eu passei por lá. No entroncamento. – relatou o consumidor.
Outro:
--- Alí é
um perigo. De outra vez foi por causa de uma vaca. – disse mais o outro.
E a
conversa rolou por mais algum tempo com as garçonetes servindo as mesas aos chegaram
mais cedo e Isabel a ouvir a conversa dos consumidores. Nada dizia. Apenas ouvia. E ao mesmo tempo
recordou um acidente havido no interior. O caminhão saiu da feira com uma carga
por cima e gente metida até em jarras. Outros se apoiavam de qualquer jeito na
carroceria do caminha com uma perna do lado de fora e outra para dentro.
Próximo à boleia seguiam três rapazes, ajudantes do caminhão. Foi uma tragédia
anunciada. Na estrada de barro um menino correu para apanhar uma bola. Nesse
momento o motorista torceu a direção para o lado de dentro, mas o caminhão foi
por cima de um barranco levando tudo aos trambolhões emborcando em seguida.
Mulheres, crianças, moças, rapazes e gente de mais idade foram arremessados
fora. Desastre terrível. Mortos, estavam
oito. Outros saíram feridos com gravidade. Os moradores de perto socorreram os
feridos. O menino pegou a sua bola e saiu para a sua casa. A mãe do menino
clamou a Deus:
Mãe:
---
Ai meu Deus! Menino! Chega para fora! – gritava a mulher.
Por
sua vez um vizinho apenas disse:
Vizinho:
---
Vai virar! – e sacudiu o cachimbo de lado e cuspindo a gosma do fumo para um
lado.
Foi
uma verdadeira tragédia aquela no interior do sertão. O motorista morreu
esmagado pelas ferragens do caminhão.
Isabel:
---
Coisa triste! – resmungou Isabel ao relembrar a tragédia anunciada.
O
dia correu tranquilo como qualquer dia. Os beberrões já chegavam ao meio do
entardecer alheio da vida e caiam a dormir em algum carro ao abandono posto
pela oficina ao largo da casa onde apenas se ouvia o martelar das peças em
andamento para ser posta no veículo. Antes do final da tarde os mecânicos
corriam ao Bar de Isabel para entornar uma bicada de cachaça. No instante do
fim do dia um homem chegou e se escorou assim como pode no balcão do bar e olhou
para o salão antes de fazer a pergunta. Isabel estava a contar o apurado do dia
e nem sequer notou o homem. Ela ouviu quando uma garçonete apenas respondeu:
Garçonete:
---
Está sim. É essa! – respondeu a garçonete.
Isabel
se voltou para saber do que se tratava. E o homem respondeu:
Homem:
---
Dona Isabel. Eu estou aqui a mando de sua mãe. Ela está adoentada. O seu
padrasto faleceu há alguns meses. Depois a mulher ficou acabrunhada. E agora
adoeceu de vez. E mandou saber se a senhora podia ir até ao município para ver
como está na verdade. – disse o homem um pouco sem saber se era a mesma mulher.
Isabel:
---
Quem é o senhor? – indagou a mulher ao portador da má sorte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário