- Adianna Birolli -
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BOI SELADO
Quando
era a tarde logo após o almoço, Gonzaga puxou um assunto com Isabel, pois
estava confuso com a pendência da questão. Era o nome verdadeiro do seu
primeiro marido, negócio ter ela não falado até aquele ponto da situação. O
homem, um pouco encabulado pesquisou o assunto e depois de tanto pensar foi à
pergunta decisiva:
Gonzaga:
---
Ô querida! Como se chamava o teu primeiro esposo? – indagou o homem esperando
qualquer resposta.
Isabel
estava na tina a lavar os pratos servidos e Gonzaga estava sentado da cadeira
de palha da sala da cozinha com a mão no queixo. A moça estranhou a pergunta e
olhou em direção de Gonzaga respondendo, pois:
Isabel:
---
Hum? Argemiro! Por quê? – e voltou à cara para a tina.
O
homem ficou quieto para depois de alguns segundos ele responder:
Gonzaga:
---
Por nada. É que ouvi a moça chamar o rapaz de “Boi Selado”. Estranho! –
respondeu o homem meio desconfiado.
Isabel
não teve mais espaço para coisa alguma. De imediato soltou uma bela gargalhada
sem ter mais tamanho. E sorriu o quanto pode até mesmo se urinar com a conversa
de Gonzaga. E sorriu e sorriu. E gargalhou até demais, correndo para o
sanitário, largando tudo o que estava a fazer e assim, arranjando as plenas
necessidades, gargalhou até demais não podendo nem ouvir a fala do seu marido.
E o homem, abestado, perguntou:
Gonzaga:
---
Que foi que eu disse de mais? – indagou o homem querendo desfazer o dito.
Então
foi que a mulher gargalhou, ficando presa no banheiro, se escorando logo depois
na parede, mal pedindo uma saia a Ludmila, pois a que estava não prestava mais
para coisa alguma, pois encontrar-se toda molhada de urina. E gargalhou,
gargalhou o quanto pode saindo depressa da casinha indo se espojar no quintal,
debaixo de uma mangueira frondosa sem ao menos querer ouvir a fala do marido,
pois de onde estava apenas podia sorrir
abertamente. Nesse instante, Ludmila
chegou apressada ao ponto onde estava deitada e sentada com a cabeça encoberta
entre as pernas a gargalhar desregradamente. E Ludmila um tanto aturdida ainda
perguntou:
Ludmila:
---
Que bicho te mordeu mulher? – indagou perplexa a moça.
E
Isabel só fazia abanar o vento pedindo depressa que ela trouxesse um vestido,
tudo isso sem falar. Apenas a apontar a sua saia e mandar trazer um agasalho
enquanto gargalhava. E cuidava de por a cabeça entre as pernas. E da outra vez
levantada para traz sempre a gargalhar sem sossego.
Isabel:
---
A roupa! A roupa! Depressa! A roupa! – dizia entre as gargalhadas que soltava.
O
homem ficou desnorteado com a situação e procurou saber a mulher Ludmila o que
havia ele dito a fazer tão mal assim a Isabel. E Ludmila respondeu:
Ludmila:
---
Boi Selado! Ela não pode ouvir esse nome que se urina toda! – sorriu a mulher a
correr em busca do vestido para socorrer a Isabel.
Gonzaga:
---
Oxente! Eu não sabia de nada! Puxa! – respondeu o homem um tanto desconfiado.
Por
isso mesmo Gonzaga olhou para onde estava deitada Isabel e cuidou de ir até o
local pedir-lhe desculpas pelo atropelo. A mulher não se deu por vencida.
Olhado depressa para trás se levantou e se pôs a correr para trás de uns pés de
laranja advertindo ao marido para ele ir embora, pois a mulher não aguentava mais de tanto
sorrir. O marido ouviu a explanação e
disse ter naquela hora ir para o Saco, porquanto já era tarde para trazer a
moça Soraia. E então, saiu levemente acabrunhado. Na metade do caminho até a
casa de Ambrósio, o homem continuava a dizer:
Gonzaga:
---
Boi Selado! Ora que coisa! Pudera! – reclamava o homem a pensar no destino do
rapaz.
E
esse foi o tema da conversa mantida ao longo do caminho com Ambrósio, o homem a
comentar ter a mulher toda se urinado quando ele perguntou pelo nome do rapaz.
E Ambrósio sorriu afirmando ser, na verdade, o apelido dado a Argemiro, há
tempos passado. E Gonzaga não se espantasse com isso, uma vez ter muita gente
onde ele morava com nomes estranhos como o sapateiro “Né”.
Ambrósio:
---
Esse homem, os matutos o chamam de seu “Su”. Ele fica uma fera! – gargalhou o
homem.
Gonzaga:
---
Seu Su? E o que há demais nisso? – indagou o homem a dirigir seu carro.
Ambrósio:
---
Junte os nomes para ver no que dá! – sorriu Ambrósio a comentar.
Com
um pouco mais o carro avançou pela estrada devoluta, bem mal conservada, como
uns pontos de péssimos trajetos até chegar ao local do Saco das Imburanas. Os
ocupantes do veículo amargaram tudo o que o diabo enjeitou até chegar a casa
bem mal conservada da moça Maria José, conhecida também por Maria de Cícero. Ao
chegar à porta da casa seu Ambrósio bateu palmas e atendeu a mulher do
sargento. Nesse ponto, ele ouviu uma voz dizer do interior do quarto.
Maria
José:
---
Chego já! Já vou! – e a voz de Maria José calou.
A
mulher do sargento pediu licença e caminhou de volta ao interior da casa. O
homem saiu da porta e voltou ao carro, onde também o motorista havia saltado e
se espreguiçava todo por conta da viagem feita ainda no dia passado. E
reclamou:
Gonzaga:
---
É uma viagem longa. E nem pensava que fosse tão longa a casa de Isabel. – falou
o homem
Ambrósio:
---
Fica depois de Aroeiras. É a sede do município. Aqui estamos nas brenhas do
município. O Saco das Imburanas. E tem
mais outros Secos. Lá pra diante. – falou o homem a comentar os novos Sacos
existentes com os braços estirados para
adiante.
Gonzaga.
---
Imagino. Tem serra que só “beia” nesse
mundo de meu Deus. – comentou o motorista.
Ambrósio:
---
Ora se tem. Tem a Serra dos Dois. Fica para lá do Remanso. – falou o homem.
Gonzaga:
---
Por certo. – remendou o homem a se esticar todo.
Nesse
ponto chegava à porta e então ao carro a moça Maria José, com seu menino nos
braços. De um lado, a trouxa de, por certo, vestimentas da criança. Mas o
pacote era tão grande e assim o homem notou ser mais de uma veste simples.
Mesmo assim, não disse nada. Apenas perguntou pela moça:
Gonzaga:
---
E a moça? – indagou por seu lado.
A
mulher se aquietava no banco de trás e após
esse desconforme respondeu a miúdo.
Maria:
---
Ela não vai mais. O pai não deixou. Eu vou em seu lugar. Vumbora! – respondeu a
mulher.
Ambrósio:
---
Oxente! Mas não deixou mesmo? – indagou espantado o homem.
Maria:
---
Não. Eu vou e3m seu lugar. Até por que já estava cheia dessa vida molestada. Só
tem amargura. Eu nem sei o que vai dar. – recitou a moça atormentada.
Gonzaga:
---
E a moça? – indagou perplexo à mulher.
Maria:
---
Deixa prá lá. Eu? – comentou a discordar da posição da moça.
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