- A SECA -
- 02 -
DESTINO
O homem Euclides já estava
decidido e os argumentos apresentados por Palhano não o convenceram de forma
alguma. Ele havia se esforçado em ir para o Goiás ou Mato Grosso, ainda mais
distante de sua habitação. Essa era a sua sina. Morar distante onde pudesse
plantar e colher sem maiores sacrifícios. O homem que ateou fogo em sua casa,
Ernesto Malveira era um indivíduo bruto e astucioso sendo capaz de matar a
todos os agricultores de perto para cuidar do seu gado o todo de mais precioso
a existir.
Euclides:
--- O gado morre com a seca.
Quando chega a seca, mata tudo. Eu vou embora para o Goiás ou Mato Grosso. Se
essa é a minha sina, Deus que me forneça melhor lugar. – falou sentido de raiva
e comoção.
Palhano:
--- Quem sabe mais de tua
partida? – indagou preocupado.
Euclides:
--- Eu falei apenas com vossa
senhoria. E mais ninguém. – relatou de vez.
Palhano:
--- Hoje nós temos uma reunião na
minha casa. Eu direi a todos que o senhor teve que ir. Mas, se o senhor puder,
peço que espere para logo mais. – falou com amargura.
Euclides:
--- Não. Não. Eu vou seguir o
rumo por essa estrada da vida. – resolveu de uma vez o homem.
E a carroça partiu rumo ao
desconhecido. Via-se nos olhos de Euclides as lágrimas a descer pela face
angustiada. Ele não suportaria mais um revés da sorte. No terreiro de Miguel
Palhano se ouvia o cantar do galo como se fosse o adeus para sempre ao abatido
agricultor. Enquanto a carroça partia, em seu lugar, Miguel Palhano tecia
conversa com seu novo amigo Joel Caçador a ditar ser aquela mais uma vitória do
injusto homem do gado pelos lados do sertão do Rio Grande.
Palhano:
--- É isso que o infeliz quer!
Mas a mim ele não abate! – relatou com raiva.
Joel:
--- Quem é esse homem? – indagou
por sua vez.
Palhano:
--- Ele se diz um “ricaço” por
essas terras. Criador de gado. É só o que ele sabe fazer. – declarou
embrutecido.
Joel:
--- E o pessoal que trabalha com
ele? – quis saber.
Palhano:
--- Tem de toda a sorte! Até
mesmo bandidos sanguinários! Gente bruta igual ao extremado! – relatou com ira.
Joel:
--- Eu posso dar uma espiada nos
homens dele? – indagou o homem caçador.
Palhano:
--- Claro que pode. Amanhã tem
feira no povoado. Os asseclas estão todos pela cidade. Principalmente no bar da
bodega. Essa fica na esquina da rua principal. E o senhor pode ir até a bodega.
– falou com cautela o homem da terra.
Durante a reunião da noite na casa de taipa de
Palhano, os demais fazendeiros alegaram que se tem de viver ao Deus dará, era
um caso perdido. Outro fazendeiro também
havia decidido partir do lugar naquelas eras de vidas estranhas. Esse episódio
balançou de forma cruel o fazendeiro Palhano. Ele não aceitava desistência de
mais nenhum posseiro.
Aquino:
--- A vida é minha! E eu não vou
sacudir a minha vida em vão! Eu vim para essas terras quando o Governo garantiu
melhores dias para todos! – falou alto o pequenino Aquino.
Calorosa discussão se seguiu a
todo instante. Nesse momento, Joel Caçador teve a entrada permitida pelo senhor
Palhano. Um deles indagou a estranhar pela presença de um forasteiro aquela
altura dos acontecimentos.
Palhano:
--- Ele é meu amigo. Não fala,
mas pode ouvir os que os senhores disserem. Joel Caçador é o seu nome. – e
apresentou.
Aquino:
--- O senhor conhece o bastardo
Ernesto Malveira? – indagou em suspeita.
O caçador olhou para Palhano e
recebeu a ordem de responder.
Joel:
--- Não. – disse apenas o
demostrado.
Palhano respondeu falar em lugar
de Joel Caçador.
Palhano:
--- Ele trabalha comigo! Mais
questão? – perguntou com as mãos nas ancas.
Um –
--- Ele parece ser de longe. –
replicou outro agricultor.
Aquino:
--- O senhor veio de onde? –
indagou cismado.
Joel.
--- Pernambuco. Atravessei todo o
território da Paraíba. E agora estou a trabalhar com o senhor Palhano. - lembrou o caçador.
Dois –
--- O senhor conhece Jeremoabo? –
indagou outro fazendeiro.
Joel:
--- Sim. A terra do Jerimum.
Difícil de viver. – declarou o caçador.
Um. –
--- Por que difícil? – indagou
cismado.
Joel:
--- O senhor conhece a região? –
quis saber.
Um. –
--- Claro que não. Por isso eu
quero saber. – relatou com modos.
Joel:
--- Além da seca tem o fogo.
Antigas aldeias indígenas. A terra do Monte Santo. – respondeu.
Aquino:
--- Monte Santo é onde houve a
Guerra de Canudos há pouco tempo. – declarou o agricultor.
Um. –
--- O senhor é de lá? – perguntou
um agricultor.
Joel:
--- De mais longe. – falou o
caçador
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