- Kate Instyle -
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Na manhã do dia seguinte, uma terça-feira, Armando Viana estava logo cedo da manhã no Mercado da Cidade onde tomava seu café diário com mungunzá e cuscuz em meio a conversas com outros freqüentadores e o amigo Canindé fotógrafo. Armando mais ouvia do que falava, pois era essa a sua missão. Por seu lado, Canindé, sempre de pé, com uma cara de quem não gostava do assunto, também ouvia o falatório dos freqüentadores do lugar. Uma vez ou outra Canindé ajeitava a sua câmera para notar se tudo estava certo. E por isso, Armando olhava para Canindé e dizia:
--- Senta. pô! – comentava o rapaz secretario do Governo
--- Não. Estou bem. Eu só quero ouvir. – reclamava Canindé.
E Armando olhava Canindé enfim preocupado por ter mandado e não obedecido. Em certa ocasião, Canindé falou baixo com o seu amigo de luta.
--- Como é? Vai falar? – disse Canindé relembrando o fato de Armando pedir demissão.
--- Talvez. Depende de como aceitou a matéria. – reclamou Armando.
--- Bom. Isso é mau. Se você sair eu saiu também. – relatou Canindé com a cara tensa.
--- Isso não é problema teu. Eu sei. ... – relatou Armando.
Após e café da manhã os dois amigos saíram pelo batente de trás do Mercado. Canindé falou a Armando ter dito a verdade. Tinha ainda na praça o Jornal “O POVO”, onde ele bem podia estar. O emprego do Governo:
--- Que se lasque. Eu não estou nem ai. – comentou emburrado Canindé.
--- Eu sei. Eu sei. Mas vamos esperar. Não é preciso correr. – relatou Armando.
--- Eu fiz o melhor. E ninguém faz melhor que eu. - articulou Canindé emburrado ainda mais.
Quando foi mais tarde o Governador já estava reunido com o Secretário Armando Viana. A olhar o jornal A IMPRENSA o Governador comentou por fim:
--- Muito boa. Quem fez a matéria? – indagou o Governador.
--- Bem. Eu despachei uma estudante e fiz a revisão no seu final. – alertou Armando.
--- Muito bom mesmo. Agora: de quem é a culpa! – fez o Governado com olhar tenso.
--- A culpa? Penso que a Polícia tinha que fazer o que fez. Havia um tumulto. Eles quebraram as vidraças com paus. ... – dizia Armando.
--- Eles quem? – perguntou o Governador.
--- Os bagunceiros. Tinha muita gente só para fazer bagunça. E essa turma nada sofreu. Quem morreu foi quem não tinha nada a haver com o distúrbio alcançado. Foi isso. A Polícia estava de prontidão. E só abriu fogo quando viu ser necessário para se defender. – relatou Armando ao Governador.
O Governador de vez se levantou e foi a um lado da sala onde tinha os retratos de antigos Governadores. Ele olhou os retratos com as mãos nas costas a bater com uma mão na outra. E, por fim se voltou para o Secretario Armando Viana e declarou:
--- É o seguinte: hoje eu vou baixar um decreto criando uma nova Secretaria. – comentou o Governador atento a vez de Armando.
Esse ouviu e não disse nada. Apenas ouviu. E o Governador voltou a sua poltrona onde há um longo tempo se sentaram os velhos Governadores e olhou bem para Armando. Depois de uma longa pausa voltou a falar:
--- Secretaria para Assuntos Especiais. Quem for ocupá-la nada fará. Ele pode empregar um pessoal de sua confiança. Mas não fará nada. O que você acha? – indagou o Governador.
--- Excelência. Quem vai ocupar essa nova secretaria? – perguntou o Secretario Armando Viana
O Governador sorriu e disse após certo tempo de pausa.
--- Quem vai ocupar? O líder da oposição na Assembléia. Que achas? – perguntou o homem.
--- Pode ser. Pode ser. E Vossa Excelência Poe uma mordaça na oposição. – relatou o Secretario
--- Mas é claro. Mas é claro! – respondeu o Governador a sorrir largamente.
--- Boa medida a de Vossa Excelência. – comentou o Secretário das Comunicações.
--- Pois é. Eu só dou na mosca! Já mandei chamá-lo aqui! Espere! Só terá você e ele aqui! Vamos ver se ele não aceita! – sorriu o Governador de pança avantajada contente com a decisão tomada.
E a espera demorou um pouco. A reunião em as duas autoridades demorou até as três horas da tarde quando Sua Excelência, o deputado estadual, líder da bancada da oposição, senhor Gilgamés Soares de Morais findou por aceitar o novo cargo no Governo ponto fim a bancada oposicionista. Do lado de Gilgamés não havia ninguém. E do lado do Governador só estava o Secretario de Comunicação Social, Armando Viana. Alguns assessores de Gilgamés ficaram no salão ao lado sem saber dizer o assunto tratado pelo Governador. Apenas a Secretaria de Assuntos Especiais entrou e saiu durante três vezes. A moça nada falou para os senhores ao lado. O documento criando a Secretaria para Assuntos Especiais já estava feito, nas mãos do Governador e esperando somente a ocasião do Deputado Gilgamés Soares assinar o papel para mandá-lo para o Diário Oficial do Estado. Quando findou a reunião os dois senhores se abraçaram como amigos e desse instante em diante não haveria mais oposição ao Governo. Brindes foram feitos quando o Governador abriu a porta e todos os ex-opositores puderam entrar sorridentes. Apenas, o almoço teve a vez de se poder entrar com a comida feita no restaurante do Palácio, e nada mais.
Quando a reunião a portas fechadas terminou o fotógrafo do Palácio, José Canindé entrou para fazer as novas fotos de Sua Excelência o Governado do Estado e o novo Secretário de Assuntos Especiais Gilgamés Soares concluiu abraçado e a sorrir para a câmera. Estava concluída a reunião. Repórter de vários Jornais e Rádios penetraram de uma única vez para ouvir as palavras do Governado. E em seguida, os repórteres entrevistaram o recém-empossado Secretario, homem apenas a sorrir para todos os de fora. Perguntas e respostas nem valiam apenas dizer. Depois de certo tempo, quando todos já haviam saído do Gabinete do Governador, ficou apenas Armando Viana e o próprio Governador. Eles conversaram por certo tempo e logo depois o Secretario Armando Viana saiu e foi até a sua Secretaria. Por lá encontrou o repórter de plantão e nada mais.
No final da tarde Armando já estava no escritório da redação de A IMPRENSA para fazer as matérias sobre a negociação entre Governo de Oposição terminado por fim com os desacordos entre os dois setores de Governo de Oposição. Daquele ponto em diante havia apenas a Situação e as greves estavam suspensas por ordem do Secretário Gilgamés Soares de Morais, pois o mesmo não daria mais apoio das manifestações. Na verdade, Fo i um cala-a-boca geral do pessoal de oposição. Com a escolha de Gilgamés Soares para o cargo de Secretario de Assuntos Especiais, tudo acabava em pizza. Apenas um grupinho de deputados ainda teimava fazer a oposição ao Governo do Estado. Essa turma não tinha nem sequer representatividade na Assembléia Legislativa. As demais matérias eram apenas de menos importância a não ser o sepultamento das vítimas do tiroteio do dia anterior.
A jovem repórter Marta cobriu o sepultamento das três vítimas onde se ouvia apenas as reclamações das viúvas e filhos das vitimas alertando ser o Sindicato o principal acusado nas manifestações, uma vez ser as pobres vítimas pessoas alheias ao acontecimento, pois nem empregados eles eram do Departamento de Águas e Esgotos do Estado. Com isso o pranto foi a única alternativa. Alguns manifestantes um pouco desatualizado com as negociações em Palácio ainda insistiam e levar faixa em sinal de protesto contra as mortes dos três homens.
No dia seguinte, o jornal somente estampou a posse do novo Secretário Gilgamés Soares uma vez se estar no ano de eleições para o Governo do Estado e, com certeza, o homem queria ser um para a disputa das vagas ao poder. E poucos minutos depois Canindé chegou ao Café do Mercado, na manhã do dia seguinte, com uma história um pouco inquietante. Ele soube por intermédio de Garcia, rádio-amador do Palácio do Governo, de um acidente às primeiras horas do dia de um avião. Era um avião de carga. O aparelho vinha para fazer pouso no Campo da Base Aérea. Quando vinha a voar em tono da praia, do lado esquerdo do rio o aparelho caiu por sobre uma tapera de pescador onde estava um casal de velhos. Canindé não sabia maiores detalhes do acidente. E fez notar a Armando ser possível se chegar via transporte terrestre até a praia onde o avião se acidentou.
--- Ora vai chamar a repórter para se fazer a cobertura!!! – disse atento o jornalista Armando.
--- Eu vou já! Vim aqui somente para ti avisar!!! – falou com pressa Canindé fotógrafo.
--- Vai embora. Rapaz!!! – respondeu o jornalista alarmado.
--- Já tô indo!!! Já tô indo!!! – respondeu Canindé descendo os batentes do Mercado.
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