sexta-feira, 6 de maio de 2011

DESEJO - 37 -


- Rita Hayworth -
- 37 -

O avião de cargas vinha pelo Oceano Atlântico em direção a terra. Os pescadores viram o aparelho a perder vertiginosa altura como se estivesse em um vôo rasante ou coisa assim. Todos os pescadores que ainda estava no mar e habitantes de terra viram o avião descendo para cair sobre um casebre de pescadores ou algo parecido. O temor e o terror tomaram conta dos praieiros ao ver o vou chegar sobre as suas casas de um modo vertiginoso. Ao entrar na parte de terra onde havia varias casas de palha o avião perdeu a altura de vez caindo sobre um casebre de um casal de velhos. O homem tinha sido pescador e na época vivia de doação de peixes de parte dos homens do mar. Ele e a sua mulher nem deixaram a tapera onde dormiam para vez o avião de espatifar sobre a sua tapera. Foi um baque só. O casal de velhos morreu no acidente com o avião. Os tripulantes se salvaram apesar do fogo ter destruído a aeronave.  
Todo esse apanhado foi feito pela equipe de reportagem do Jornal A IMPRENSA. A FAB não deixava ninguém se aproximar dos destroços do avião por medida de segurança ou para salvaguardar a inspeção in loco por parte dos médicos e peritos da Força Aérea e do Governo do Estado, vez ter sido o acidente sobre de uma tapera da praia de um casal de idosos.  O fogo tomou conta do aparelho deixando apenas os esqueletos de avião ao sol e os volumes de cargas também caídos ao leu. O fogo também afetou as cargas trazidas pelo avião. Apenas alguns volumes não tiveram total destruição. Nos casebres de palha a margem da praia, alguns sofreram destruição parcial. Mesmo assim não houve outra vitimas fatais. A reportagem esteve vasculhando todo o ambiente onde se podia ter acesso. Canindé orientou a repórter Marta Rocha para ouvir depoimentos de pessoas na região. O pessoal, assombrado, temia dizer mais algum evento sobre a queda da aeronave.
--- Foi só o que vi! – declarou alguém em prantos.
--- É para o jornal, é? – perguntava outro um tanto assustado.
--- Por que a senhora não pergunta ao delegado? Ele está ali! – comentou acanhado um terceiro a respeito da tragédia aérea.
As labaredas tomavam conta do aparelho enquanto os bombeiros tentavam sufocar de vez as chamas.  A mata rasteira atrás da choupana onde o avião caiu também ardia em chamas por causa da gasolina de aviação derramada do aparelho aéreo com a surpreendente queda da aeronave. Os três ocupantes do avião de carga da FAB conseguiram escapar, fugindo para um descampado próximo. E o mecânico de vôo alertou para a choupana devastada pelo fogo onde não podia se debelar mais as chamas cruéis. Gente havia de vários pontos da capital para dar socorro ou ao menos presenciar as labaredas do aparelho. Houve um caso de um rapaz. Ele tentava afanar objetos do avião  quando foi preso pela Guarda da FAB. A reportagem do Jornal ainda viu o rapaz sendo levado em um camburão para destino ignorado. A repórter procurou saber do delegado de polícia mais detalhe sobre a prisão e esse disse:
--- Isso é com a polícia da FAB!!! – respondeu de forma truculenta o delegado de policia.
Porém, um pescador disse mais algo a respeito do avião. O pescador estava ainda em alto mar quando viu aquele avião descendo bem baixo e ele disse ao outro pescador ao seu lado:
--- Esse avião vai cair. – disse o pescador cujo nome manteve em segredo.
O segundo pescador comentou para o primeiro:
--- E vai cair em terra. Olhe o piloto! – disse o outro pescador.
Esse foi mais um depoimento ter Marta Rocha obtido de vários pescadores. Eles estavam em alto mar quando o avião passou “raspando” suas cabeças, como disseram alguns, a toda velocidade e procurando um local para pouso, mesmo um aeroporto próximo as cabanas de palha existente para os aparelhos tipo teco-teco. Era o terror em toda praia com a queda do avião. Houve quem atravesse o rio a nado para ver de perto a tragédia. A praia era apenas de algumas casas nobres e o restante era palhoça de pescador. A tragédia veio inesperadamente quando um Hércules da FAB perdeu a altura e despencou sobre uma cabana de moradores. O aparelho C-130 era um avião da melhor marca e utilizados em campanhas dos Estados Unidos. Seu tamanho era descomunal para cair na beira da praia. Entre outras missões o C-130, chamado pelos aviadores de O Gordo, por sua estrutura imponente, dessa vez vinha em missão de cargas e, por algum defeito o aparelho perdeu altura o que levou até a praia, quando o seu piloto tentava se dirigir a um campo de poso de aparelhos menores. Porém o avião não teve tempo de voar até mais um pouco além. A tragédia veio com estardalhaço pela imprensa falada como se o mundo estivesse desabando. Por seu tamanho descomunal, o avião tomou grande parte de terreno impedindo mesmo o tráfego de veículos pelas imediações. E por vários dias o Hércules esteve no local onde caiu até a perícia liberar o terreno. O casal de ancião foi retirado logo na parte do dia em que houve o incêndio em sua cabana para sepultar no cemitério da praia. O assunto durou dias para as pessoas da cidade.
O Jornal A IMPRENSA teve cuidado em divulgar a matéria pelo fato do avião ser propriedade da FAB. Por isso mesmo, Marta Rocha perdeu o encanto da matéria inusitada e viu o seu conteúdo diminuído ao Maximo. Ela não entendeu a razão do motivo. Porém Armando Viana disse apenas:
--- Tenha cuidado com o que vai dizer! – relatou o redator.
Então Marta se limitou a escrever o fato sem entrar em pormenores. A tragédia teve um caso inexpressivo para o jornal.
Na sexta feira, às cinco horas da tarde, o carro estacionou em frente à redação de A IMPRENSA levando sua motorista Norma Vidigal. Com pouco tempo a moça subiu as escadas do edifício de primeiro andar e foi esperar o seu noivo Armando Viana. Ele ainda estava a fechar o jornal e pediu a Norma um pouco de clama. Ela sorriu como quem dizia:
--- Eu espero. Não tenha pressa! – relataria a moça ao noivo.
Com o passar do tempo Armando voltou a dizer a Marta ter de sair e só voltar na segunda feira, pois teria uma matéria a ser feita no interior. A moça pouco ligou e disse apenas:
--- Está certo. – respondeu Marta.
E saíram Armando e a noiva Norma a procura da rodovia. Ele estava preocupado se não havia chuva no dia seguinte, pois da semana passada ele não fez a matéria por conta da chuva.
Norma Vidigal estava entusiasmada por ter de passar mais um fim de semana a sós com o seu namorado em um casarão herdado por seu pai, obra do seu bisavô, coronel Epaminondas. A viagem demorava cerca de duas horas. E era noite quando Norma chegasse ao casarão. Quando penetrou na estrada de barro direto para o casarão, Norma parou o veiculo e escutou  uma música no meio do mato. E por isso perguntou ao seu namorado:
--- Escute! Está ouvindo essa música? – indagou Norma a Armando.
Esse pouco ouvia o caso. Ele estava a pensar se, por acaso, teria chuva no dia seguinte e por conta de tal motivo respondeu apenas:
--- Não. Espere. Musica! Sim! Estou a escutar! – sorriu Armando ao dizer tal fato.
--- Vamos lá. Eu te mostro de onde vem. – sorriu a moça.
E, na seqüencia, aprumou o carro e entrou no matagal por uma estrada vicinal até encontrar uma verdadeira fortaleza de muros enormes, se bem não ser percebido por alguém de fora. Então, a moça estacionou o carro bem na frente do largo portão de ferro. Ela estava em frente ao Mosteiro das Freiras. O Convento das Madres Clarissas por ter Padroeira Santa Clara. Ouvia-se bem o canto de hinos sacros e solenes por um coro de vozes de freiras. Cantos Gregorianos por excelência entoados à luz de velas. O mosteiro era todo fechado e apenas se ouvia o cantar de músicas cristãs cantadas com devoção em louvor ao coração divino. O Canto Gregoriano era, na verdade, o canto do texto de quem entoa ora duas vezes. Esse canto tem de ser entendido com o texto, pois os cantores ao interpretá-lo devem ter entendido muito bem o sentido dele. As Antífonas do Ó são sete antífonas especiais, cantadas no Tempo do Advento antes e depois do Magnificat na hora canônica das Vésperas. Já a Anunciação da Virgem Maria, é a celebração de cristã do anuncio pelo Arcanjo Gabriel que ela será a mãe de Jesus Cristo. Jesus significa “ungido” e ele é o Filho de Deus.
Norma Vidigal deitou a cabeça no colo do seu amado e passou a ouvir prostrada. Era o canto de gloria das Irmãs a rezar a penitencia da noite. A moça lembrou o tempo quando era uma menina a entrar pelos corredores do Mosteiro, correndo por vezes, a trombar entre as vestes das freiras e essas a sorrir com as peraltices da menina. Certa vez, Norma se lembrou muito bem. Ela entrou em um local deserto e cheio de túmulos e cruzes. Era o cemitério das freiras mortas por conta da idade. A menina ficou surpresa com aquele monte de cruzes e túmulos. E depois, andou por mais um amplo terreno todo calçado, e viu entre as grades, outros túmulos de freiras.  Para a menina aquilo era um assombro. Túmulos guardando os corpos das Irmãs Clarissas.  Com essa visão da morte, a menina desceu as escadas a correr. Somente foi segura por uma das Irmãs Clarissas. A Freira estava a rezar o seu rosário quando a menina abalroou em cima de suas vestes. Assustada, a menina também nada quis dizer. E Norma então se lembrou de tais peripécias e sorriu:
--- Que foi? – indagou o namorado.
--- Nada não. – sorriu Norma deitada sobre o colo do seu namorado.
E o Canto Gregoriano a entoar solene pelas Irmãs Clarissas continuou por um largo tempo e os namorados a ouvir majestoso.

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