- Sarita Montiel -
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O Circo Garcia estava repleto de gente naquela noite de estréia. Palhaços, trapezistas, globo da morte, motociclistas, domadores de leões e tigres, elefantes, cavalos amestrados, ilusionistas, acrobatas, contorcionistas. Uma enormidade de figuras estranha para o seleto grande público. Aplausos e assobios eram a constante de todo aquele número de espetáculo a se apresentar. Entre as artistas, cada qual mais encantadora. E tinham meninas trapezistas fazendo números excepcionais com maestria e desenvoltura. Essas infantes foram a que mais aplausos receberam do publico delirante. O espetáculo de estréia foi o inicio da breve temporada na Capital do magistral Circo. Do lado de fora do circo havia a venda de pipocas, chocolates, roletes de cana, açucares enfeitados e grande parte de outros produtos. No circo havia quatro mastros demonstrados a graciosidade de seu magnífico esplendor. Sua extensão era de mais de trinta metros. Além do mais havia orquestras de músicos e para completar o cenário, um picadeiro circular onde se armavam redes, passeavam acrobatas e se divertiam palhaços. Na verdade, o circo era um mundo ao sabor das lonas azuis e multicoloridas. A orquestra marcava o inicio do espetáculo. E a cada passo do show, quando os maravilhosos artistas circenses se apresentavam, a orquestras tocavam o inicio e o fim dando especo para os palhaços a entrar em cena em seus calhambeques pequenos e cheios de fuligem. Para Norma e Armando aquela foi uma noite inesquecível. Ao voltarem para a casa, o homem resolveu dizer. No dia seguinte, ao cair da tarde, ele estava pronto para pedir a mão de sua namorada em casamento.
--- Amor!!! Você é louco? Tão cedo ainda!!! – declarou Norma ao cair no seu ombro.
--- É verdade. Tão cedo. E vai dar tempo para você se vestir a decoro para o nosso casamento. – retornou Armando a sorrir.
No dia seguinte, um sábado, Armando chegou à casa de Norma Vidigal, por volta das quatro horas da tarde. As conversas eram as mais triviais e amenas entre o rapaz e o pai da moça. O senhor Teodomiro Vidigal não se fazia plenamente de contente. E às cinco horas, Norma surgiu na sala com suas vestes esplendorosas. Um cetim de seda bordado elevando todo o seu corpo de mulher, levas brancas a metade do braço e o colar de brilhantes, tendo na mão esquerda um cacho de rosas vermelhas. A sua mãe, dona Maria Helena não se conteve a chorar. As duas outras irmãs e seus esposos estavam irradiantes. O noivo, mais acadêmico, não se conteve em poder olhar aquela deusa emplumada. De imediato, o fotógrafo Canindé, fez a s fotos da moça a adentrar a sala e a repórter Marta Rocha a anotar todos os segmentos do noivado. Quando o rapaz pediu a mão da noiva em casamento, até Marta ali chorou de emoção. Foi um momento comovente. Logo após, serviu-se canapés, bebidas e champanhe ao dizer do senhor da casa:
--- Bebam todos! Não que digam depois que não beberam nada. – declamou Teodomiro.
Rosas em profusão marcavam o inicio de um noivado cujo tempo diria o seu final. A festa durou até altas horas da noite com alegria e graça. Na casa de Norma deviam estar cerca de trinta pessoas. Apenas familiares e pessoas mais intimas. Nada houve do formal. O bolo, feito em uma confeitaria de Dona Laura era o mais nobre possível. Com suas alianças nos dedos, os noivos aceitaram os cumprimentos que todos os convivas lhes apresentavam. Após o jantar, os noivos cortaram o bolo ao som de:
--- Viva os noivos!!! – gritavam todos a uma só voz.
--- VIVA! – voltavam a dizer os que gritaram na primeira vez.
Desobedecendo a norma oficial do noivado, Norma Vidigal vestia branco. Ao passo que o noivo trajava um estilo esporte. Na lauta mesa, além do bolo de noiva, havia também uma mesa de frios e sanduiches, crepes salgados e doces, pizzas, churrasco, queijo e vinhos. As fotos tiradas seriam para ser feito um álbum do noivado. Algumas das fotos Canindé tirou para o Jornal A IMPRENSA, onde publicaria na coluna social da cidade.
Na segunda feira, Marta Rocha cuidou de fazer a coluna social da cidade. E isso foi o seu principio de colunista social, pois dessa vez todo o evento social ele estaria colocando na sua coluna. E, por fim, a moça passou a ser conhecida como a colunista do Jornal. Criava-se então a Coluna da Marta. Eventos, festas, casamentos, teatro, cinema, noivados, pessoas partindo ou chegando eram tudo na Coluna da Marta. Moça simples, Marta continuou os seus estudos na Faculdade como profissional de Jornalismo. E para Armando Viana ela era uma “foca” de muito futuro na imprensa. Logo enfim se arranjou uma mesa para Marta, pois teria ela de guardar os avisos, convites, fotos e tudo mais no seu birô. Ao mesmo tempo, Armando Viana conseguia o contrato do Jovem Ênio Garcia, um concluinte de jornalismo para ser uma espécie de repórter policial.
Na segunda-feira depois de ser noivo com Norma, o rapaz foi procurar o mecânico Mota para acertar com ele as aulas de direção em um automóvel. Ao ser indagado se ele já possuía um carro, Armando disse negativo. Com isso, o mecânico coçou a cabeça pois teria de arranjar um carro emprestado para dar as aulas.
--- Não faz mal. Eu arranjo um carro – declarou Mota.
--- Arranje! Arranje! – respondeu de forma branda o novo estudante de direção de carro.
--- Mas você sabe alguma coisa de direção? – perguntou Moto.
--- Alguma coisa eu sei. Mas, muito pouco. Muito pouco. Eu vi uma Caravan e fiquei abismado, pois é o carro que eu gosto.
--- É bom. O carro é bom. – falou o mecânico de roupa suja de óleo e graxa.
--- Quando vale um carro desses? – indagou Armando preocupado.
--- Depende! Depende muito! – disse o mecânico ao aluno.
--- Certo. Certo. Mas, nós podemos começar hoje? – perguntou Armando alegre.
--- Já? Espere! Amanhã! Eu falar com o dono do carro que vou te ensinar! – sorriu o mecânico.
Com essa conversa o negocio ficou acertado para o dia seguinte. E Armando levou um mês para saber de tudo na direção de um automóvel. Ou quase tudo, pois um carro se leva muito tempo para poder saber as manhas que ele tem. E enquanto isso, Armando conseguiu comprar uma Caravan cor laranja. Como Secretario do Governo, conseguiu tirar a Carta de Motorista sem nenhum atropelo. Com as aulas de Mota e um carro na porta, Armando logo começou a dirigir sem medo algum pela cidade. E quando passou um mês, já sabedor muito amplo do oficio de motorista, o Secretario pode ir à casa grande de Norma Vidigal, duas horas de estrada sem temor. Foi em uma dessas viagens que Armando pode ir até a casa da anciã Carmozina. Após os cumprimentos habituais, Armando foi logo ao assunto principal: a questão da visita ao campo da serra. E o aparecer de uma figura estranha de um homem parecendo uma aparição de um ser mortal ou de outro mundo. A anciã ouviu bem a estória e disse logo ao final.
--- Essa pessoa é tua amiga? – indagou a anciã querendo saber mais.
--- Sei lá. Foi o que a aparição disse. – reclamou o rapaz meio afobado.
--- É. Uma coisa eu digo. Ele não era o bisavô de Norma. – respondeu a anciã.
--- E quem era então? – perguntou alarmado o rapaz.
--- Deve ser um Homem das Estrelas. – fez ver a anciã Carmozina.
--- Virgem Maria!!! E eles estão aqui? – quis saber alarmado o rapaz.
--- Têm muitos. – sorriu a mulher dando baforada no seu cachimbo.
--- MUITOS??? Tô lascado! – relatou Armando a anciã.
E a anciã começou a sorrir de uma forma amena. Logo após os sorrisos ela voltou a dizer ter sido informada pelo Coronel Epaminondas ter sido seres extras terrenos. O coronel disse até ter visto o encontro do Homem das Estrelas com o rapaz Armando Viana naquela madrugada, porém não disse coisa alguma. Diante de tais circunstâncias o rapaz falou de repente.
--- E por que a senhora não me falou? - perguntou alarmado Armando.
--- Ele está aqui, agora. O senhor pode não vê-lo. Mas o Coronel está do meu lado. – sorriu a anciã ao relatar tal fato.
--- Ele está aqui? Como é que pode? E por que eu não estou vendo? – perguntou alarmado o rapaz Armando Viana.
--- Questão de vibrações. O senhor está em outra vibração. – relatou a anciã.
--- E como eu faço para entrar na mesma vibração? – indagou o rapaz.
--- O senhor não faz. Ela vem quando for o tempo. – disse a anciã a cachimbar.
O rapaz voltou a meditar sobre a aparição da madrugada de um mês passado e se lembrou também do Homem das Estrelas. Tudo era tão confuso. E ele não podia acreditar no assunto das vibrações, por certo, mediúnicas. Assim ficou a pensar de olhos fixos na anciã como queria saber o que eram aqueles Homens das Estrelas e o que estariam a fazer na serra onde havia uma noção para pouso de aeronaves ou discos voadores pelo que dissera a moça, neta da anciã chamada Ângela. Diante de tanta confusão mental, Armando se levantou da cadeira de vime e foi observar o ambiente da serra, mesmo de baixo, de muito longe onde estavam as pedras de inscrição.
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