domingo, 2 de outubro de 2011

ANA LUNA - 03 -

- June Allyson -
- 03 -
Eram passados vários dias da última reunião do Conclave na Casa Grande do Coronel Ezequiel Torres. Na tarde de um mês quente ele estava no solar do alpendre olhando o seu gado que era tangido pelos vaqueiros da fazenda. O Coronel estava de pé, ereto com seu um metro e noventa centímetros de altura, um belo corpanzil de um homem forte e musculoso como poucos existentes na região. Ele fumava seu cachimbo inseparável quando não estava a mascar fumo de corda. De cor alva, pele queimada pelo sol, roupas comuns para um fazendeiro era ele todo elegante e soberbo. Nesse momento surgiu um vaqueiro em vertiginosa disparada com o seu ligeiro cavalo alazão gritando pelo seu nome de forma assustadora e inquieta. Ele vinha de fora da fazenda querendo a todo custo chegar até onde o coronel estava.
--- Coronel ! Coronel ! Mataram o Juiz da vila. – dizia o vaqueiro de forma assombrada.
--- Que está me dizendo, cabra? – perguntou o Coronel de forma assustadora.
--- Foi sim. Deram três tiros nele. O farmacêutico está com ele. – disse o vaqueiro de modo mais assustado ainda.
--- Isso é uma merda!. Chame o meu capataz!. Logo!. Depressa!. – resolveu o coronel a peleja.
--- Estou aqui meu coronel. – respondeu o capataz de forma segura e pronta de quem não estava tão longe.
--- Ah sim! Vá chamar o Major e o Capitão. Depressa! Logo! – conclamou o coronel mais inquieto que nunca.
--- É pra já meu Coronel. É pra já. O senhor quer que eu vá ou mande alguém chamar os dois, coronel? – perguntou o capataz Rafael Zenon.
--- Faça como quiser. Mas traga os dois aqui. E já! – respondeu o coronel.
--- Pois não, coronel. Pois não! – respondeu Zenon.
--- Espere! Chame o delegado também!. Vê se faz isso de uma vez!. – reclamou o coronel todo assombrado.
O Capataz Zenon fez o que pode fazer, seguindo na direção da fazenda Lavrador, do major Pontes de Mesquita e mandando dois outros vaqueiros irem à fazenda Arroio do Boi, do capitão Zenóbio Manso e de lá pegarem o caminho e também chamar o Delegado Euclides Castanheira para a tal reunião de emergência na Casa Grande. Era um caminho grande de uma fazenda a outra e depois ainda chegar a Vila Riacho das Pedras, tudo ao mesmo tempo. É tanto que o Capataz Zenon levou pouco mais de meia hora para seguir até a fazenda do Major Pontes enquanto que os outros dois vaqueiros deviam fazer igual percurso nesse mesmo espaço de tempo. O certo é que, na volta, os três homens com seus dois convidados, o Major e o Capitão, quase chegaram à mesma hora. O Delegado já havia saído na perseguição do assassino e não se tinha noticia de quando ele voltaria. Na vila, o farmacêutico cuidava do ferido, pois na verdade, o homem se defendeu dos tiros que levou e apenas saiu ferido no braço e no peito, sendo que o tiro do peito transfixou o corpo saído à bala por traz das costas a altura da omoplata. O Farmacêutico Epaminondas Levi era quem fazia a vez de médico da vila Riacho das Pedras. De médico, Levi entendia tudo ou quase tudo, até mesmo fazer um obituário passando o atestado de óbito quando se fazia necessário. Sajar, arrancar tumores, extrair dentes, fazer partos, receitar remédios, isso era tudo com ele para não dizer que também tratava de febres e defluxo. Qualquer coisa que se precisasse era com Doutor Levi. Na sua farmácia tinha de tudo para qualquer das enfermidades que surgissem, até um panarício. Por isso mesmo ele era o médico de todos para qualquer urgência ou emergência. Sua farmácia era uma casa de três portas bem mais alta que as outras até mesmo a do homem que se tinha como prefeito e se chamava de doutor, o velho ranzinza Eurípedes Barros que de prefeito não tinha nada.
Quando os três homens estavam todos reunidos na Casa Grande, o Coronel Ezequiel argumentou que aquele crime tinha aspecto do Barão de Itabira, para por a culpa no Conclave que ele fizera dias antes. Matando-se o Juiz, tinha-se como culpado então o coronel, pois o Barão já sabia de tudo o que se passara no Conclave, apesar de não se saber quem dissera. Ou se o próprio Juiz ou se outra pessoa que esteve no Conclave. A conversa continuou nesse clima quando Zenon, o capataz, bateu a porta naquela hora pedindo licença para entrar. O coronel atendeu de pronto.
---É para dizer que o Juiz Mardoqueu não morreu. O Doutor Levi esteve com ele e o homem só saiu ferido. – falou Zenon de forma prudente.
--- Quem disse isso? – perguntou o coronel embravecido.
--- Um dos vaqueiros que chegou agorinha, Coronel. – respondeu Zenon atencioso.
--- E que atirou no Juiz? – perguntou o Coronel ainda brabo.
--- O Juiz não viu a cara. Ele estava com a cara coberta, coronel. – respondeu Zenon.
--- E o delegado? - - perguntou o coronel mais embravecido.
--- Ele não veio ainda, coronel. Está na perseguição do bandido. – respondeu Zenon.
--- Mais alguma coisa? – perguntou o coronel pouco mais tranqüilo.
--- Não senhor. Só isso mesmo. – pontuou Zenon de forma lenta.
--- É o que eu disse! É o que eu disse! É o que eu disse! Só pode ser o Barão. Só pode ser ele. – falou cheio de raiva o Coronel Ezequiel.
--- Ou dos Pereira. Eles têm tudo para fazer isso. – retrucou o Major Pontes de Mesquita de forma a apaziguar os ânimos do Coronel Ezequiel.
--- É. Não confio neles também. Mas então essa reunião de meio de mês está uma bagunça! – contrapôs o Coronel.
--- Também acho. Tem espião de todo lado. – respondeu o capitão Zenóbio Manso.
E os relatos continuaram a seguir com cada um dizendo o que pensava a respeito do atentado feito contra o Juiz Mardoqueu Ramos. Já estavam quase às sete horas da noite quando o capataz bateu na porta novamente. Ele entrou m seguida.
--- O Delegado, coronel! - falou Zenon.
--- Mande entrar. – proferiu o coronel.
--- Entre, por favor. - disse Zenon ao delegado Castanheira.
O delegado Euclides Castanheira teve acesso e logo lhe foi perguntado pelo coronel Ezequiel Torres o que ele havia feito de progresso.
--- Bem. Boa Noite senhores. Eu encontrei o pistoleiro. – respondeu o delegado.
--- Ora viva! Até que enfim uma noticia boa! – respondeu o Coronel alegre.
--- Agora, Coronel. O homem está morto. Levou dez tiros nos peitos. Vi a cara do homem e não o conheço. – descreveu o Delegado.
--- Puta merda. Morto? E como? – perguntou o coronel esbravejado.
--- Foi pego de emboscada. Três elementos atiraram nele. Pelo menos três. Um de frente, os outros dois de cada lado. Fugiram em seguida. Os rastros dos cavalos que usaram apontam para o lado norte. Estava escuro e não deu enfim para continuar a perseguição. Afinal eu só tinha dois soldados. E eles eram pelos menos três. Bons atiradores. Eles não negaram um tiro. Para o senhor ver. - respondeu o delegado. Completamente suado.
--- Zona norte não é a direção da casa do Barão. Mas isso não releva. E o corpo onde está? – perguntou o coronel ao delegado.
--- No necrotério. Os senhores podem ver, se quiser. Hoje ou amanhã. – respondeu Castanheira.
--- Está bom. Eu vou ver amanhã logo cedo. – respondeu o Coronel.
--- E eu também. – responderam o Major Pontes e o capitão Zenóbio.
--- Agora vamos tomar um cálice de xerez que é o melhor que se faz. – replicou o Coronel Ezequiel Torres.

Um comentário:

  1. Essa narrativa parece cena da cidade de meu esposo! Algo que lá já acontece de fato...isso é bom, porque o escritor conseguiu fisgar o leitor...parabéns!

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