- Yúlia Tymoshenko -
(ex-Primeira Ministra da Ucrânia)
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Após estar com o juiz Mardoqueu por meia hora, o coronel Ezequiel Torres resolveu se confessar no seu próprio escritório, onde não havia viva alma com o Monsenhor Bento pároco da Vila Riacho das Pedras. Ele queria despejar seus sentimentos pela morte que ele ordenara do vaqueiro Manoel Jacó na manhã daquele mesmo dia. O vaqueiro era branco, diferente dos escravos os quais os mantinham na senzala, alguns até mesmo sobre chicote dado pelo feitor Rafael Zenon. Mas esses eram “escravos”, portanto não podia ser gente como o vaqueiro Jacó e outros vaqueiros da fazenda Maxixe. Era por isso que pedia arrependimento por tê-lo morto. Apesar de dois meses atrás o vaqueiro ter ofendido a sua filha extraconjugal, Ana Luna, menina-moça bem vistosa e muito ingênua como demonstrou ser. Nem mesmo a sua mãe legitima que a criava sabia do acontecido. Só veio saber naquele dia. Porém, o vaqueiro Jacó viveu vários anos em sua fazenda e era muito respeitado pelo seu patrão. Certa vez, Jacó pediu a Zenon que fosse padrinho de sua filha Judite o que de fato foi aceito. E quando o coronel deu a ordem para que Zenon matasse a todos incluía ai também a afilhada do feitor. Por esses pecados o coronel então pediu perdão ao sacerdote acreditando que Nosso Senhor o perdoaria também. O Padre ouviu toda a confissão do coronel, do martírio por ele imposto ao vaqueiro, apesar do mesmo ter ofendido a sua filha e disse enfim que o homem estava perdoado pela Santa Madre Igreja que entenderia com respeito e Deus do Céu que estava ouvindo, Este perdoaria com certeza. E como penitencia o Monsenhor Bento mandou que o coronel rezasse um Pai Nosso e três Ave Maria para contrição dos seus pecados. Daí por diante o Coronel Torres estaria livre de qualquer punição da Providencia Divina.
O coronel rezou contrita a penitência passada com muita comoção e logo após ouviu por parte do reverendo sacerdote a preocupação que estava com a Igreja de Nossa Senhora, pois a qualquer momento poderia haver um desabamento do telhado sobre os devotos.
--- Por que não me disse isso antes. Monsenhor? – perguntou aflito o coronel.
--- Porque, o senhor sabe. O senhor tem tanta preocupação com todos nós da paróquia e eu não tive meios de falar com o senhor. Juro por Deus que foi só por isso. Mas, com certeza, com a ajuda de todos, podemos fazer o conserto. – proclamou o Padre Bento.
--- Não senhor. Eu pago tudo que for preciso. Até mesmo a pintura dos Santos tão milagrosos que são. – retrucou o coronel.
--- Não precisa. Não precisa. É só o telhado. Enquanto isso eu celebro Missa do lado de fora mesmo. – disse a padre querendo puxar mais um pouco do pecador coronel.
--- Que é isso, Padre. Expor o senhor as intempéries? Nunca. O senhor pode celebrar missa na minha Igreja que tenho aqui. – disse o coronel empanturrando-se de gloria.
--- Está bem coronel. Está bem. Garanto que Deus vai se lembrar desse sacrifício que o senhor promete. – relatou o Monsenhor, voltando os olhos para o Céu.
Após passar este momento o Coronel Torres disse ao vigário uma intenção que lhe estava em aflição. Ele pretendia fazer eleições para Prefeito da Vila e bem queria que o sacerdote sondasse os dois outros companheiros amigos do coronel, o Major Pontes e o Capitão Zenóbio. O Sacerdote disse:
--- Pode deixar que eu irei perguntar a eles. Não se preocupe. Eu pergunto. – expos o Pároco daquela missão.
--- Muito bem. Estamos acertados. – proclamou o coronel Torres já confiante no pleito.
Logo após o dialogo com o Monsenhor Bento, o coronel Ezequiel Luna Torres foi até a varanda para ver o seu gado a pastar no curral. Nesse momento, chegou a sua fazenda o delegado Castanheira completamente suado da caminhada que fez até o Maxixe e de outros labores tomados onde na Vila Riacho das Pedras teve por fim com a ajuda do farmacêutico Epaminondas Levi constatar a morte do homem sem identificação. Nesse ponto, o Juiz Mardoqueu saiu da Vila em companhia do Pároco caminhando também para a fazenda do coronel. Sem identificar o cadáver, ele pode confirmar apenas que o homem fora morto por uma cutilada de faca ou punhal, mais provável punhal. Desse modo, mandou levar por quatro soldados do distrito o corpo inanimado da vítima para o necrotério que ficava por trás da delegacia de polícia. Quando o coronel lhe perguntou o que havia de novo, foi isso o que ele disse.
--- Não sei quem era o homem. O moreno Sabugo foi quem topou com o corpo estirando no meio do corredor. – falou o delegado um tanto fatigado.
--- Está bom. Enfim o caso está resolvido. Mande enterrar o morto. – disse o coronel.
--- Já foi providenciado. Agora: e o Juiz? – perguntou o delegado Euclides.
--- Está bem guardado. O Monsenhor sabe bem melhor que eu. Não é Monsenhor? – perguntou o coronel se dirigindo ao padre.
--- Quem? Eu? Ah sim. Bem guardado e protegido. Que Deus tenha piedade da alma do homem que morreu. – recitou o padre, com sua larga barriga, as mãos postas e os olhos para o Céu.
Assim terminou os inquéritos daquele dia para o Coronel Ezequiel Luna Torres.
No dia seguinte após o enterro do homem desconhecido, uma pedra voou pela entrada da porta do distrito. Na pedra, um bilhete. No bilhete escrito apenas isso: “Cuidado! O Juiz está morto!”. Quando apanhou a pedra com o tal bilhete o delegado correu para ver quem havia jogado. Porém não havia mais ninguém. O delegado Euclides chamou o soldado e mandou que todos os outros soldados ficassem de prontidão e qualquer sinal de perigo eles prendessem seja lá quem fosse. Os soldados obedeceram a ordem dada. O delegado Euclides pegou o cavalo e rumou para a fazenda Maxixe, sede do verdadeiro quartel do coronel Ezequiel Torres. O homem chegou num amplo desespero e alcançou o alpendre da fazenda em três pulos de tanto andar na montaria. Ele chegou desesperado perguntado pelo coronel.
--- Está no curral. – respondeu um vaqueiro.
--- E como está o Juiz? – perguntou o delegado de forma ofegante.
--- Está bem. – respondeu Sabugo.
--- Nada aconteceu? – voltou a perguntar o delegado.
--- Até agora, não. E se acontecer vai morrer muita gente. – relatou Sabugo risonho.
--- Que bom. Mas o coronel? – perguntou novamente o delegado.
--- Estou aqui! – respondeu com voz altiva o coronel.
--- Ah,. Não tinha visto. Veja o que recebi! – e entregou o bilhete ao coronel Torres.
--- E quem fez esse bilhete? – perguntou o coronel de modo inquieto.
O coronel observou o delegado que chegava de forma assombrada e deixou o curral para saber o que o homem trazia de tão importante. Ao ver e ler o bilhete deu ordens para que ninguém saísse sem permissão e mandou reforçar de forma sumaria a guarda em torno do quarto onde estava trancado o Juiz Mardoqueu Ramos. Ninguém saia ou entrava no recinto. Até mesmo os que já haviam entrado ou saído. Era um verdadeiro estado de sítio imposto para a proteção do magistrado. Era apenas um bilhete. Porém podia sugerir vingança. O coronel foi até os aposentos do Juiz e perguntou que poderia querer a sua morte. Ele respondeu de forma lenta.
--- Abel Viana. – falou de voz fraca o Juiz Mardoqueu.
--- Agora sei com luto. Mas um patife na minha lista. – disse o coronel.
--- Tem gente dele aqui dentro. Eu vi. – falou baixo o Juiz.
--- Aqui? Mas não é possível! Aqui dentro? Agora como vou saber? – reclamou coronel---
--- Pois tem. Talvez mais de um. - falou o Juiz Mardoqueu.
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