- Julia Roberts -
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Nesse ponto Martinez aproveitou para ver a agilidade com que sacava o revólver o seu algoz embora fizesse com um sorriso amargo um leve assobio com quem notara pela primeira vez alguém sacar uma arma com tamanha precisão e acertar em uma moeda em pleno ar. Para Martinez aquela foi uma demonstração de quem sabia sacar e atirar. E ele faria de tudo para não acertar em uma moeda atirada em pleno vôo. Por isso não se decidiu em atirar em um centavo. Martinez pediu ao bodegueiro mais uma rodada de cachaça para todos os presentes. O seu rival não quis tomar a cachaça que Martinez servia a todos. Apenas ouviu o seu chamado para disparar a sua arma e mostrar a sua agilidade com o revólver. Martinez não se mostrou interessado porque não haveria de servir para coisa alguma, assim desse ele.
--- Meu nome é Diabo Louro. Você está à procura de mim? – perguntou o homem sorridente e amigável.
--- Quem? Eu? Nem sabia seu nome. Para mim é um novo grande amigo, amigo. –respondeu Martinez com seu sorriso amargo.
--- Pois me mostre a sua destreza! – falou Diabo Louro sorrindo e se ajeitando de modo no balcão.
--- Mas eu já disse que uso revólver só pra matar cobra. – sorriu Martinez.
--- E esses amigos que lhe cercam? – perguntou Diabo Louro apontando para o amigo Satanás que estava a seu lado direito. E se virou para Satanás.
Nesse ponto, Martinez sacou sua arma e encostou-se ao peito de Diabo Loiro com intenção de atirar para matar. Nesse ponto, o homem loiro notou sua fragilidade e se mostrou incapaz de reagir. Olhou para os seus sequazes e disse algo com o olhar. Nesse instante um dos sequazes se armou de uma arma para fazer mira em Martinez. Foi à vez de Satanás atirar bem na testa do bandido que o derrubou por sobre sacos de cereais. Nesse instante, o dono do bar quis pegar em uma arma por baixo do balcão e foi quando Martinez fez a vez de quem manda:
--- Cão!!! – o cão saltou no balcão e agarrou o bodegueiro pela garganta ficando rosnando em cima do homem esperando a segunda ordem.
Martinez arrastou a arma do bodegueiro, uma carabina, que ele próprio espatifou por sobre a banca. Quanto ao cão ele conservou em cima do bodegueiro.
--- Agora estamos nós. Uma já se foi. – disse Martinez sorrindo.
--- Você vai me matar? – perguntou Diabo Loiro ao seu rival.
Nesse mesmo ponto os homens de Martinez foram de imediato até o ponto onde se encontravam os pistoleiros de Diabo Loiro desarmando a todos, chutando as suas armas então descarregadas para fora da bodega. Um menino estava a ver tudo do lado de fora encostado à soleira da porta.
--- Vai depender de você. – respondeu Martinez sorrindo amargo.
--- Tente! – disse Diabo Loiro olhando fixo e sorridente para Martinez enquanto fazia um gesto de desarmar o executor com uma tapa com ambas as mãos que estavam levantadas.
Em um instante Martinez disparou o seu revolver no peito de Diabo Loiro que pode ainda dizer.
--- Você me matou, heim? – falou Diabo Louro a olhar o seu sangue a molhar a casa.
--- Foi o que eu disse. Depende de você. – sorriu Martinez.
O homem foi caindo devagar até encostar-se ao chão. A sua mão ainda estava no cabo do revólver esperando qualquer ação de Martinez. Esse disse apenas isso.
--- Belos revólveres. Niquelado. Cano longo. Cabo de madrepérola. Dignos de um homem como você. É uma pena. Quando você morrer eu vou ficar com eles. – disse Martinez.
--- Pode ficar. São seus. Mas era a mim que você procurava? – perguntou Diabo Louro.
--- Claro que sim. – respondeu Martinez sorridente.
O homem então fez o último gesto de sacar o revólver e então Martinez fez o ultimo disparo do peito do bandoleiro. Com isso, ele acabou de vez com a vida do facínora. De imediato ele pegou as armas do facínora morto, mandou que seus homens o levassem para a montaria que estava fora da bodega, chamou o seu cão e saiu de frente para dentro da bodega como fazia quase sempre e ao alcançar a porta ouviu de um garoto.
--- Cuidado!!! – gritou o menino.
Um tiro foi disparado de traz de uns sacos de cereais com a bala se alojando na porta. Martinez voltou a atirar em direção aos sacos e ouviu somente um berro de um quarto bandoleiro que estava pronto para matar o homem. Apontou a arma para dentro da sala, caminhou de costas enquanto os outros homens arrumavam o corpo de Diabo Louro em cima do seu cavalo, pegaram as armas dos outros bandoleiros e sacudiram longe para dar tempo deles fugirem. Nesse ponto, o local se encheu de gente com a presença do Delegado e de alguns soldados para montar guarda no local. E o Delegado ainda pronunciou.
--- Eu não disse que eram eles? – e prendeu os dois bandidos que ficaram no salão e o dono da bodega.
Nesse meio tempo, já ao anoitecer, Martinez chegou à fazenda do capitão Zenóbio Manso com o cadáver do Diabo Louro. Ele fez a entrega do corpo e ajustou as contas com o capitão dizendo que havia mais dois cadáveres que a Delegacia devia sepultar. Com isso aumentou um pouco a despesa. O capitão Zenóbio ordenou que os seus capangas sob as ordens do feitor Temístocles fossem sacudir o defunto de cima de um despenhadeiro, em queda de cinqüenta metros, no fim do cercado, pois assim havia certeza que o morto estaria bem morto. O senhor Martinez comemorou a vitória que teve naquele dia com os seus companheiros e depois foram dormir. No dia seguinte, a turma partiria para a fazenda do coronel Ezequiel Torres, pois o capitão havia dito que ele prestaria bons serviços para o coronel, o major e o capitão, certamente. Sabugo já havia saído logo depois da entrega do corpo de Diabo Louro cujo nome era Calvino Quaresma, pois se encontrou em seu alforje um papel com o seu nome verdadeiro. Contudo, para todo o pessoal o apelido era o que importava.
Passaram-se os dias, talvez um mês, quando Ana Luna já estava em casa do coronel Ezequiel a descansar do parto prematuro do qual fizera tendo ainda um semblante de total fraqueza. O bandoleiro Martinez estava ainda a repousar com seus capangas no alpendre da fazenda jogando pôquer. Foi nesse momento que um homem todo esmolambado chegou à porteira da fazenda querendo falar com o capitão Martinez. O homem que atendeu chegou a lhe dizer que ali não havia nenhum capitão Martinez. Só existia um Martinez, pois esse não era capitão. O homem insistiu que ele teria sido capitão em uma guerra onde o velho lutou ao seu lado. Depois de muita peleja, o esmolambado conseguiu entrar com a ajuda do feitor Rafael Zenon a quem o homem pediu, por favor, pois era caso de morte.
O velho homem de aparência raquítica, mostrando-se extremamente cansado, pois tivera que seguir um longo caminho e estava com aparência de quem tanto correra. Zenon levou o velho ao alpendre onde estava Martinez e logo que o viu, o velho rezou por ter chegado ainda cedo, pois o bandoleiro ainda estava plenamente vivo. Embora exausto e com muita sede, ele pediu um pouco de água a Zenon para poder falar com aquele homem a quem chamava de “capitão”. O bandoleiro atendeu ao velho a quem chamou de cabo Moisés há quem muito devotara amizade no tempo em que ele fora capitão de uma equipe de soldados e batedores em regiões do sul do país. O homem que se entendia como bandoleiro era, na verdade, um velho capitão. Porém com o fim do conflito em que se metera, ele deu baixa das fileiras seguindo com apenas três cavaleiros e agora aparecendo o cabo Moisés.
Após o descanso merecido de meia hora, cabo Moisés disse ao capitão Martinez ter algo para lhe falar em canto reservado. O capitão Martinez foi ouvir o coronel Ezequiel como podia ter conversa em um canto reservado com o seu cabo Moisés. O coronel disponibilizou o seu escritório para tal conversa e em seguida perguntou que historia era aquela de capitão.
--- Fui capitão senhor coronel. Fui capitão. Houve conflitos do sul e eu era capitão do efetivo. Porém, depois houve a paz e não me restou a não ser pedir baixa das fileiras. Com três companheiros segui outras trilhas e desde então venho a ganhar a vida matando bandoleiros de aluguel. E eu sou um deles também. – falou Martinez dando uma boa gargalhada.
--- Folgo em saber disse capitão. De agora em diante vou tratar o velho companheiro por capitão. Com relação ao segredo pode convidar o seu valoroso cabo Moisés para o meu escritório. – arrazoou o coronel Ezequiel de forma altaneira.
--- Vejamos o que o “doido” quer. Ele é meio mole dos miolos. Mas sempre serve, pois quando têm casos importantes ele sempre lembra. – falou o capitão Martinez.
--- Assim é bom. Assim é bom. Eu os deixo a sós. Pode trazer o cabo Moisés. – falou o coronel pondo seu chapéu na cabeça esse levantando para abrir a porta do escritório.
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