terça-feira, 18 de outubro de 2011

ANA LUNA - 19 -

- Jennifer Connelly -
- 19 -
Passaram-se os meses e o Juiz de Direito Mardoqueu Ramos tinha seguido para a Capital da Província como havia dito ao próprio Coronel Ezequiel Torres. A vila Riacho das Pedras tinha como autoridade o Delegado Euclides Castanheira, um promotor que aparecia vez por outra e o próprio Coronel Torres. Nos últimos tempos o homem de passou a ser pelo nome de Doutor Sebastião Sabugo estava sendo quase o Intendente da Vila. Foi o Monsenhor Bento quem deu a alcunha de doutor a Sebastião quando da celebração da Missa na Igreja do lugar. Certa vez, ao rezar missa na presença do Coronel Ezequiel e das demais autoridades da Vila, o sacerdote tratou por doutor o homem que matava com um punhal, Sebastião Sabugo. Nesse tempo ele já estava casado com Guacira, último ato que o Juiz Mardoqueu assinou enquanto estava na casa grande do Coronel, se tratando dos ferimentos recebidos no peito por ocasião de um tiroteio severo que travou com o bandoleiro Joca de Mundica, rapaz que havia sido contratado para matá-lo e não conseguiu o intento. Ao fugir desesperado da casa do Juiz Mardoqueu, baleado, o bandoleiro encontrou a morte feita por outros jagunços. Era o fim do bandoleiro naquele intento.
Depois de todo esse alvoroço, o Coronel Ezequiel findou por casar com Maria Rosa, mãe de Ana Luna, melhor com quem tivera relacionamento nos últimos catorze anos. Certa vez, em conversa com o seu feitor Rafael Zenon, ele havia dito que precisava de Luna em sua casa definitivamente e foi quando Zenon aconselhou o coronel a casar com a mãe de Luna, até porque eles já eram pais de dois filhos: Ana Luna o menino Euclides que se registrara na pia batismal também como Luna. Nesse ponto o coronel ficou a cismar pensativo até que se decidiu a casar com a mulher Maria Rosa, até porque ele era viúvo e os dois sempre falaram nesse ponto. De forma que, o coronel Ezequiel toma a decisão de casar de vez.
--- Pois eu caso mesmo. Resolvo essa questão pendente há vários anos. Pronto! – ressaltou o coronel com sua voz e olhar firmes.
--- Ora viva coronel. Assim é que se fala! – respondeu Zenon com voz alegre.
O casamento foi sem festa. Apenas a cerimônia na Igreja e um café em sua própria casa com a presença das filhas de Ezequiel, inclusive Ana Luna e o garoto Euclides, de apenas oito anos, o feitor Zenon, os dois convidados da ocasião, Sebastião Sabugo e sua digna esposa Guacira entre outros convivas. Foi nesse momento em que o coronel Ezequiel Torres indagou de Sebastião Sabugo o que ele achava de ser Intendente da Vila Riacho das Pedras. O rapaz pensou por um bom tempo, ouviu nos olhos da mulher Guacira o seu consentimento e relatou em ser o Intendente. Já era sabido que o Major Pontes e o capitão Zenóbio não faziam interesse em tal posto. Seguramente os dois indicariam seus filhos para cargos de secretários. O coronel ficaria como uma espécie de secretario adjunto do Intendente e a esposa de Sabugo seria igualmente uma assessora especial do marido. Tais funções pouco ou nada valiam como despesa para os encargos da vila. De uma coisa o intendente tinha certeza: não haveria oposição entre os vereadores, até porque não haveria eleição e todos os participantes eram então pessoas bastante conhecidas. De oposição restava o Barão de Itabira, que não entraria na vila e Nicácio Pereira, que só fazia lambanças com os seus arruaceiros jagunços pistoleiros de aluguel. De inicio era apenas Intendente da vila, o que Sabugo teria que ser. Com o decorrer do tempo haveria o trabalho de transforma a Vila em um município da Província.
Por esses tempos o coronel Ezequiel falou com sua fila Ana Luna de ela aprender a atirar com certeza. A moça ficou cismada com o convite do seu pai e ele lhe deu uma arma para ela começar a treinar. De inicio, Luna foi tomada de pavor. Porém, Ezequiel lhe disse que aquilo era uma defesa da pessoa até mesmo contra cobras cascavéis. Não foi sem luta que Luna aceitou pegar em uma arma. Porém, com o decorrer dos dias e a conselho do seu pai, ela foi treinar junto com o feitor Zenon e seu próprio pai em um recanto afastado da Casa Grande, onde se podia treinar a vontade. Nos primeiros dias foi um sacrifício terrível com a moça sem nem pegar na arma de fogo como devia. Porém, os dias e meses se passaram e Luna foi aprendendo a usar armas como revolver e fuzil, galopando feito louco, atirando contra as garrafas de vidro, acertando e errando, atirando por cima e por baixo do pescoço do cavalo que já era acortumado com as matreirices dos seus montadores galopeiros. Era franco ela dizer ao alvejar uma garrafa.
--- Tome seu merda. Bruto! Covarde! Canalha! – dizia Luna a alvejar uma garrafa.
Todo aquele ódio contido era por conta de Manoel Jacó, o homem que a ofendeu em sua própria casa há tempos atrás. Ele era representado por aquelas garrafas que faziam a mira de Ana Luna. Para a moça não tinha tempo ruim, quer fizesse sol ou não.
E desse modo a filha do Coronel Ezequiel Luna Torres foi se moldando em uma verdadeira amazona para todos os lugares em que fosse. Ela era o temor dos vaqueiros da fazenda e o orgulho do majestoso Coronel Ezequiel. Zenon também era igual em contentamento. Certamente, com mais alguns galopes a jovem moça estaria pronta para atirar com a precisão de um raio. Por algumas vezes esteve presente a outra moça, Guacira, observando os ensinos do coronel. Teve por vez que Guacira do seu modo demonstrou como a jovem moça devia fazer para se proteger contra algum algoz que por certo a desafiaria a um duelo.
--- Tem gente que não vira as costas para o inimigo. E tem gente, para se desfazer do atrevimento de seu algoz, lhe vira as costas. Nesse caso, a pessoa conta até três e se vira e atira sempre certeiro. Você não pense nunca em erro. Você só pense em acertar no seu algoz. É assim que se faz. – disse Guacira orientando à moça.
Luna observou com sisudez tudo que a companheira lhe ensinara e compreendeu a lição. E declarou em seguida.
--- Não erro. – disse Ana Luna.
Nesse instante um vaqueiro a cavalo chegou em toda disparada chamando aos berros pelo coronel Ezequiel como se o mundo fosse se acabar. Tomado de surpresa, o coronel virou-se para o vaqueiro e perguntou o que estava sucedendo. E o vaqueiro, suado que só fazia dó disse-lhe que o delegado Euclides Castanheira estava passando por sérias dificuldades na cadeia publica da vila. Sem entender muito bem pelo cansaço do vaqueiro empapado de suou e amarelo de medo disse que tudo começou por causa da prisão de um jagunço da fazenda dos Pereira que estava embriagado e fazendo bagunça atirando com seu revolver no meio da rua chegando a atingir uma parede de frente da cadeia. Já um pouco refeito da sua corrida o homem pedia que o coronel enviasse reforço para a cadeia antes que o delegado sucumbisse diante da ameaça de jagunços que chegaram aos montes na delegacia tentando soltar o preso que se chama “Oito”. Foi assim que o coronel Ezequiel ordenou se formar uma patrulha de cerca de quinze homens. À frente do bando Guacira pediu a preferência. Houve malquerença. No final todos aceitou Guacira como a líder do grupo. Então a turma saiu a galope tendo chegado de imediato a vila. Guacira foi ao Distrito procurar saber de maiores informações e por lá encontrou o seu marido Doutor Sabugo procurando fazer frente à turba enfurecida que queria de qualquer jeito a liberdade de Oito, o malfeitor embriagado. Daí então Guacira procurou saber quem era o chefe do bando e ficou ciente de que era José de Laura. A mulher dispersou os seus homens para pontos principais e foi até a bodega onde estava se organizando a turba para soltar o jagunço Oito. Foi sem armas para mostrar seu destemor em negociar com José de Laura. Após certo tempo, a mulher fez um trato com o chefe dos jagunços. Caso esse entendesse que seria melhor para Oito passara ressaca na prisão, ele deixaria o rapaz quieto.
--- Qual é o trato que a senhora quer? – perguntou José de Laura esfogueado.
--- Uma aposta! – respondeu Guacira de forma alegre.
--- Que aposta? – perguntou José de Laura um tanto inquieto.
--- Par ou impar. – respondeu Guacira, sorrido.
--- Por ou impar? Oxente! Mas como se faz isso? – gaguejou José de Laura.
--- Simples. Você o dedo para frente e eu ponho o meu. Se der par ou impar ganha quem escolher melhor. Entende agora? – perguntou Guacira sorridente.
--- Se eu escolher par e der par quer dizer que eu ganho e você solta Oito? – perguntou o homem um tanto inquieto.
--- Exatamente. Você ganha. Vamos? – perguntou a mulher em sorrisos.
--- Sei não. Eu vou. Quero par. E a senhora impar! – disse José de Laura.
--- Pois vai. Um, dois, três e JÁ! – disse Guacira apontando zero dedo e José de Laura apontando um dedo.
--- Diacho. Você ganhou. É certo. Estamos conversados. Vamos negrada. A mulher ganhou de modo justo. Diacho. – proferiu José de Laura desencantado.
E em seguida partiram eles que formavam um grupo de quinze cavaleiros esperando que tudo se saísse bem até o dia seguinte.

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