quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 24 -

- TÔNIA CARRERO -
- 24 -
ANDANÇAS
Já era quase fim de tarde quando o casal chegou a um baixio onde não havia água. Era somente areia e nada mais. Otto apeou de sua montaria e foi pegar um pouco da areia para ter certeza ser aquele o rio Seco como ele ficou sabendo. E esfregou na mão um pouco da areia olhando para a sua noiva. A moça, na água foi quem respondeu:
Vanesca:
--- Rio Seco. Nós estamos no cercado da fazenda do meu pai. – comentou a moça sem graça.
O rapaz olhou bem para as suas mãos e soltou aquele resto de areia e passou a limpar seus dedos nas calças um tanto gastas. Ele olhou para a sua esquerda e nada observou. A moça foi quem disse ter visto uma porção de gente como se fizesse procissão.
Vanesca:
--- Lá em cima vai um monte de gente. Até parece uma procissão. – comentou a moça.
O rapaz olhou para a outra direção e viu as pessoas todas em fileiras. Porém não viu nenhum padre. E por isso indagou:
Otto:
--- Procissão? Por quê? – indagou o rapaz com o rosto meio  intranquilo.
Vanesca:
--- Não sei. Aqui se faz procissão sem motivo algum. – refletiu a moça.
Otto;
--- Pode ser. Parece cobra se arrastando. – comentou Otto e sorriu.
Vanesca se virou para o outro lado e comentou:
Vanesca:
--- Nessa terra, um homem “ofendeu” a uma menina. – disse a moça a refletir.
Otto:
--- Onde? – indagou o rapaz se voltando para o seu lado esquerdo.
Vanesca:
--- Não sei o local. Mas foi nessa terra. A menina tinha seus trezes anos. Ele “ofendeu”. – ressaltou a moça.
Otto:
--- Treze anos? E ela consentiu? – indagou o rapaz com a cara azeda.
Vanesca:
--- Nada. Ele agarrou na marra. Depois fez o que quis. Bruto! E depois foi embora. – relatou a moça.
Otto:
--- E a menina? Ela contou que tinha sido desonrada?! – perguntou admirado o rapaz.
Vanesca:
--- Quem contou foi minha avó. Ela criava a menina desde quando nasceu. A mãe morreu ao tê-la. Pra não ficar sem mãe, a minha avó adotou. E o desgraçado arruinou a menina. – fomentou a moça.
Otto:
--- E ninguém faz nada? – indagou o rapaz com a cara azeda.
Vanesca;
--- Minha avó mandou castrar o animal. Disse que era para não matar. Queria o homem vivo. Mas sem os testículos. E assim foi feito. – cuspiu a moça para um lado.
Otto:
--- Nossa! E ele ainda é vivo? – indagou o rapaz com gesto nervoso.
Vanesca:
--- Eu não o vi mais. Mas era um moleque gordo. Ficou sem a sua macheza. – reportou a moça com rosto sério e sem mágoas.
Otto:
--- É um bruto! Canalha! E a menina? – indagou o rapaz.
Vanesca:
--- Ela cresceu. Mas não quis casar nunca mais. Foi a minha ama. Ela cuidou de mim enquanto eu ainda era pequena. Até mocinha. Hoje, ainda mora na casa do meu pai. Quer dizer: a casa é do meu avô. O meu pai é herdeiro. – reportou a moça sempre tranquila, mas com muita mágoa a se notar.
Otto:
--- Ninguém toca no assunto em sua casa? – perguntou meio confuso o rapaz.
Vanesca:
--- Não! Não tem pra quê! Eu contei agora a você. Não falo do caso com mais ninguém! – fez ver a moça olhando séria para o noivo.
Otto:
--- Faz bem. É segredo de família. Ninguém precisa saber! E ela como se chama? – indagou sem querer o homem.
Vanesca:
--- O povo quer só um toque para espalhar conversa! Seu nome é Corina! – reportou a moça pouco enfadonha.
Otto:
--- E o seu pai foi mesmo para a reserva? – indagou sem querer o rapaz.
Vanesca:
--- Ele é coronel. Foi pra reserva por um desacerto com um General. Ele ainda é moço. Mas tinha tempo de farda. Certa vez, ele deu uma ordem aos seus subordinados e o General deu contra. Isso provocou uma briga entre os dois e meu pai pediu para sair para a reserva. Se algum dia ele voltar a ser chamado, ele volta como General. Se não, fica no mato. – refletiu a moça ao falar.
Otto quis sorrir, mas se conteve. Nada fez para não mais contrariar a moça. Antes do anoitecer os dois caminhava ladeira acima para chegar à casa grande. Tudo era escuro por onde percorriam. A falta da luz da lua era mais traiçoeira do que uma cobra cascavel. Nada havia de luz pelo caminho. Eles percorriam um campo onde toda a presença era notada. Foi então que, de repente, uma voz ecoou nas trevas:
Voz:
--- Alto! Quem vem lá? – perguntou com severidade a voz.
Otto:
--- É de paz! – respondeu temeroso o rapaz.
Vanesca:
--- Deixa que eu indague. Você que ai, tem nome? – perguntou a moça.
Não houve resposta. Apenas um matraquear de uma arma de fogo se fez notar. Vanesca então decidiu falar com o homem.
Vanesca:
--- Ernesto é você? – indagou a moça àquela voz.
O silencio se fez por alguns instantes. E a voz respondeu.
Voz.
--- Dona Vanesca é a senhora? – indagou a voz dentro do mato.
Vanesca:
--- Claro que sou eu. Não está me reconhecendo? Vamos brincar de esconde-esconde? – indagou a moça esboçado sorriso.
Ernesto:
--- Ora! Mas é a senhora mesmo! Se não falasse assim, a senhora teria sido morta. Tem capangas que de lugar. Venha! Venha! Quem é o moço? – indagou Ernesto a sorrir.
Vanesca:
--- Otto! Não reconhece? – respondeu a moça com sorriso largo na face.
Ernesto:
--- Mas eu estou ceguinho. Venha. Agora, com esse lampião à vista eu posso enxergar. Ora mais! Venha! O que a senhora está fazendo pelo meio do mato? E essa égua prenha? – falou Ernesto para os dois perdidos na capoeira.
Otto:
--- Essa égua foi quem nos trouxe! Prenha? Como o senhor sabe? – indagou perplexo o rapaz.
Ernesto:
--- Ela só pode está prenha. Olhe as tetas dela? Vamos cambada. Se acerquem da patroa. – recitou o vaqueiro para o resto da turma
E com muito vagar, conversando causos ocorridos, Ernesto caminhou até chegar a sede da fazenda onde a ama Corina foi a primeira a avistar a jovem Vanesca. De inicio Corina não a reconheceu. Porem, com estava em companhia de Ernesto, a mulher logo falou:
Corina:
--- Vanesca? É você minha filha? Mas é Vanesca sim! – disse a mulher muito agradável por ver a moça em casa àquela hora da noite.
E nesse ponto não teve tristeza ou alegria que desse jeito. Vanesca correu para cima de sua antiga ama, senhora Corina e se abraçou fortemente a chorar.
Vanesca:
--- Sou sim, Corina! Sou eu! – respondia a moça a chorar.
E Corina gritou para dentro da casa:
Corina:
--- Gente! Venha ver quem chegou! – gritava a mulher com certeza a soluçar.
Então vieram o pai, a mãe, e todos os que estavam por dentro do casarão. Aquele era uma alegria total. Vanesca se abraçou com seu pai e sua mãe e não parou de chorar. O velho coronel igualmente vertia lágrimas junto com a mãe de Vanesca, sua mulher Matilde. Gritos e abraços foram à tônica da ocasião. Otto foi apresentado por Vanesca, não por ser bem conhecido. Porque era a vez de se fazer as modéstias amizades como já não cabia mais de chorar. O velho Coronel mandou buscar um porco e falou ser para festejar o noivado da filha, coisa que ele por muito tempo sabia. E todos acolheram os dois com bastante festa e alegria.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 23 -

- Isabelle Adjani -
- 23 -
VAQUEIRO
 
O homem cuspiu fumo para um lado, olhou o sol quase a pino, procurou uma estaca. Não a encontrou por perto. E se apoiou na sela de sua montaria. Olhou ele muito bem para a moça e voltou à vista para o rapaz. Enfim, o vaqueiro retirou o chapéu de couro da cabeça e olhou novamente para Vanesca. Ele fez um sorriso como quem não queria fazer, se aprumou na sela e então falou olhando para a sela da montaria de Otto.
Vaqueiro;
--- Meu nome é Chagas. Eu não creio da senhora se lembrar. Eu trabalhei de vaqueiro mais o velho Coronel e depois sai. Coronel Araújo. Homem forte. É isso! – sorriu sem querer o homem e voltou a por seu chapéu na cabeça.
Vanesca:
--- É verdade. Nem faço ideia. Tem muito vaqueiro trabalhando na fazenda. – respondeu sem entusiasmo a jovem moça.
Chagas:
--- Essa égua é vossa, meu senhor? – voltou o vaqueiro a indagar a Otto de sua montaria.
Otto:
--- É sim. A égua. – disse o rapaz de dizer a verdade.
Chagas:
--- Ah bom. E a sela? – indagou sem pressa o vaqueiro cuspindo de lado uma gosma de fumo.
Otto quis olhar para Vanesca, mas não pode porque a moça estava logo atrás do homem. Mesmo assim, ele respondeu:
Otto:
--- Não. A sela não. Eu a pedi por empréstimo a uma mulher. – respondeu o rapaz com precaução.
Chagas:
--- Dona Nina? Eu pergunto por ver a marca na sela abaixo de sua perna. – falou o homem com a suma certeza do que estava a falar.
Otto temeroso de algo errado no seu falar, respondeu o certo.
Otto:
--- Sim. Dona Nina. Eu estava em viagem pelo lugar. A égua servia para puxar carroça. Eu tenho um burro. Um jegue. Esse eu deixei por garantia. Mas a minha família está passando um tempo na casa de dona Nina. Eu me arranjei logo cedo a procura da fazenda do Coronel. – falou sem pressa o rapaz.
Chagas:
--- Ah bom. Tá explicado. Sua família está na casa de dona Nina? – voltou a querer saber o vaqueiro.
Otto:
--- Está. Está. O meu pai, velho doente, minha mãe. E tem também a minha irmã. Tudo lá. – explicou  sem temor Otto ao vaqueiro.
Chagas:
--- Ah bom. Essa sela é caprichosa. Ela é minha. Dona Nina é minha mulher. – falou o vaqueiro a retirar novamente o chapéu talvez para falar o nome da mulher.
Otto:
--- Ah bom. Ela me falou no senhor. Ela falou que o senhor estava tocando umas vacas. E não sabia quando o senhor voltava. Talvez um. Talvez dois dias. Foi isso sim. – falou sem temor o rapaz.
Chagas:
--- É verdade. Ela disse a verdade. Pois bem. O senhor siga pela vereda e logo, logo estará nas terras do Coronel. – relatou o vaqueiro olhando bem a sela para ter certeza do seu falar.
Otto:
--- Pode deixar. A sela eu trago de volta quando vier busca a família. Talvez amanhã. – respondeu sem medo o rapaz.
Chagas:
--- Não quer trocar essa égua? – indagou o vaqueiro com um sorriso malicioso.
Otto:
--- É possível. A gente se acerta. - sorriu o rapaz ao dar partida em sua montaria.
O vaqueiro olhou bem para a égua e disse consigo mesmo sem despertar a curiosidade do seu dono.
Chagas:
--- “Tá amojada”. – refletiu o home com a cara de quem sabia o dito.
E Otto enveredou pela touceira de mata se aguentando como podia e reparando na sua noiva. A moça estava calada por longo tempo. À sombra de um frondoso pé de Turco o rapaz apeou sua água para dar repouso a montaria e mesmo a ele e Vanesca tomarem um pouco de fôlego.  O rapaz teve de olhar como sempre vazia na viagem a bússola para saber do canto certo. Após conferir o instrumento guardou o mesmo na sacola de veludo vermelho e indagou a Vanesca se a moça estaria cansada, pois notou por alguns instantes a jovem se esticar com exemplo de dores lombares.
Otto:
--- Cansada? – indagou o rapaz.
Vanesca:
--- Um pouco. – respondeu a moça se apoiando no Turco.
Otto:
--- Viagem longa. – disse o rapaz a torcer o pescoço.
Vanesca:
--- Sabe aquele homem? Eu o reconheci. Ele matou a mulher. Deu tantas facadas que não se podia contar. Foi uma coisa horrenda. Ele, certa vez, chegou a sua casa e pegou a mulher com outro homem. Disse ele não ter suportado tanto desespero. Partiu para cima e golpeou a mulher por 90 vezes ou bem mais. – falou sem emoção a moça.
Otto:
--- NOSSA! E o homem? – perguntou alarmado o rapaz.
Vanesca:
--- Esse fugiu completamente despido. Nu. Sem um pingo de roupa. E desapareceu no mundo. Não se ouviu mais falar do seu paradeiro. Creio que os amigos de Chagas mataram o coitado. – relatou sem sentimento a moça.
Otto:
--- É provável. Mas e o vaqueiro anda solto? – indagou perplexo o rapaz
Vanesca:
--- Faz tempo isso. Ele foi preso, pegou alguns anos de cadeia. Mas depois, por influencia de políticos, ele foi posto em liberdade. Tudo na vida é assim. A mulher foi quem perdeu a vida. Também. .... – reportou a moça sem medir a culpa de homem.
Otto:
--- E ela tinha filhos? – perguntou assustado o homem.
Vanesca:
--- O povo diz ter ela deixado um filho. Eu mesma não sei. – reportou a moça se espreguiçando.
Otto:
--- Ora que coisa. Esse filho deve estar adulto. Só pode. – refletiu o homem.
Vanesca:
--- Eu não sei. E nem vou saber! – respondeu com certa raiva a moça.
 



domingo, 25 de novembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 22 -

- Leslie Bibb -
- 22 -
A NOITE
O pessoal foi convidado para tomar café e então a conversa se prolongou por mais algum tempo. Era noite e na casa tinha luz de lamparina e candeeiro. Não havia iluminação elétrica porque o casebre ficava fora do alcance da companhia de energia. Por isso, Otto não teve como saber se havia falta de luz elétrica naquele ponto do Estado tal mesmo ocorria com a capital devido ao sismo dos últimos dias. Após alguém tempo Luiza, Homero e as duas moças foram conciliar o sono em redes (para as moças), em uma espreguiçadeira (para Homero) e em um catre mal arrumado para Luiza. Por seu lado, Otto foi dormir em baixo da carroça do lado de fora do humilde casebre. Naquele local o rapaz podia vislumbrar com máxima certeza o piscar das estrelas no céu. Então Otto ficava abismado com tanta beleza a alumiar a Terra com sincero destemor. Deitado de costas, mãos na cabeça o rapaz sonhava em algum dia poder tocar em alguma das estrelas inquietas com as suas próprias mãos. A lua estava em minguante e na certa ele poderia ver melhor e com mais ardor as lindas e maviosas estrelas do firmamento distante. Não raro as estrelas anãs podem ser muito mais comuns do que se pensa, deduzia Otto. Isso pode triplicar o número de estrelas no Universo, estimou o rapaz. E ainda pensou o homem existir estrelas a 300 milhões de anos-luz distante da Terra. E com esse seu pensar ele adormeceu. E sonhou com pequenas estrelas a brincar da Terra a trajar vestes brancas como as vestais usavam. Vestais eram sacerdotisas da Roma Antiga que cultuavam a deusa romana Vesta. Era um sacerdócio exclusivamente feminino, restrito a seis mulheres que seriam escolhidas entre a idade de 6 a 10 anos. Durante o período de trinta anos as virgens vestais eram obrigadas a preservar a sua virgindade.
A noite corria serena sem a luz do luar quando algo bateu na carroçaria da velha diligência. Otto se estremeceu e não chegou a divisar a figura da esbelta mulher ao seu lado. Com o pequeno passar do tempo, Otto esfregou os olhos e enxergou o vulto da senhora a seu lado. Um corpo esguio e pele morena era uma deusa a atormentar o sono do rapaz. Do ponto onde estava o homem, apenas sentia a presença da senhora com certeza a sorrir. Ela era uma mulher atraente apesar de maltratada pelo destino e a sorte. O seu corpo esguiou denotava das suaves deusas ninfas da Grécia em pleno sertão do interior do Estado. De vez, Otto observou bem a mulher e em seguida perguntou assustado:
Otto:
--- Que houve? – indagou espantado o rapaz.
A mulher sorriu antes de responder com bastante calma.
Nina:
--- Nada. Vim saber se estava dormindo. Aqui é uma secura. Não dá para dormir ao relento. – respondeu a mulher a olhar de um lado para outro.
Otto:
--- Não. Estou bem aqui. Não se incomode. – replicou o rapaz sem tirar os olhos das pernas desnudas da dama.
Nina;
--- Porque tem uma cabana lá por trás, bem no fim do cercado. Se quiser dormir lá dentro é bem melhor. – respondeu Nina.
Otto:
--- Cabana? Onde? Não vi cabana! – disse o rapaz com sua modéstia.
Nina:
--- Venha que eu te mostro. É melhor do que aqui fora. Venha. – soletrou Nina de modo agradável.
A manhã chegara e os primeiros raios de sol surgiram. Otto já estava de pé acertando os preparos da égua, pois de noite ele conversou com Nina ser melhor ele partir pela manhã a procura do sítio Cajupiranga do coronel Araújo. Nina arrumou uma manta, arreios e sela guardados no galpão existente fora de casa. Otto decidiu fazer viagem tendo companhia de sua noiva Vanesca, pois assim saberia, por fim, onde ficava a casa grande e o tempo restante para ele chegar ao destino. A noiva Vanesca estava pronta para seguir viagem. Para comida do pessoal ele deixou mangas colhidas no pé às primeiras horas da manhã. Conseguiu com Nina, por empréstimo, alforje e um cantil. No alforje levaria alimentos. No cantil, levaria água. Logo após o desjejum, ambos partiram pela estrada vicinal com a promessa de retornar tão logo fosse possível. De sorte, ele apanhou uma bússola do seu pai. Com esse instrumento Otto poderia saber onde se encontrava. Toda feliz, Vanesca não parava para ver seu pai tão logo chegasse à fazenda. De momento a jovem nem mais se lembrava do episódio passado no sismo da capital do Estado.   E logo Vanesca subiu na garupa da água abrindo um largo sorriso para dona Luiza, a filha e o marido de Luiza. Adeus ela apenas fez para Nina e seus três filhos, inclusive uma mocinha dos seus 11 anos. Já pronto para largar Otto indagou a moça se não tinha esquecido coisa alguma. Feliz da vida disse a moça não ter esquecido. Então, o rapaz acuou nos pés e fez a água avançar com toda pressa. Eram sete horas da manhã quando os dois deixaram o casebre. De longe ainda se fazia crer no adeus dos que ficaram a espera da volta. No caminho Vanesca reclamou de uma coisa:
Vanesca:
--- Catinga de jaca! – falou a moça sem pensar em algo.
Otto:
--- Eu estava tratando de jaca. – relatou o rapaz sem dizer mais nada.
Vanesca:
--- E se banhou? – indagou a moça.
Otto;
--- Tinha pouca água. Os garotos apanham água no riacho. Sacrifício! – fez ver o rapaz.
A moça olhou bem para o rapaz e não disse mais coisa alguma. Após algumas horas, Otto avistou de longe as casinhas de uma cidade do interior. Ele apontou para Vanesca ser aquela talvez uma vila ou coisa assim.  A moça olhou bem e notou ser vila, pois passara por alguns casebres ao longo do caminho e ela notou homens, mulheres e crianças a capinar ao longe. E respondeu enfim:
Vanesca:
--- É bem provável ser vila! – respondeu a moça observando bem.
Após galopar algum instante Otto notou vindo em sentido contrario um cavaleiro. Esse homem acercava-se devagar a notar Otto, mas fazendo de conta ter nada observado. Ao chegar próximo, Otto cumprimentou o cavaleiro e lhe dirigiu a pergunta.
Otto:
--- Bom dia. – disse Otto com leve sorriso.
Cavaleiro:
--- Bom dia – fez vez o cavaleiro.
Otto:
--- Por favor, o senhor conhece a fazenda Cajupiranga? – indagou o rapaz.
Cavaleiro:
--- Por que a pergunta? – disse o cavaleiro.
Otto:
--- Eu levo essa moça para a fazenda. Eu não conheço o caminho. Estou às tontas. E procuro saber qual o caminho certo. – relatou Otto todo molhado de suor.
Cavaleiro:
--- Bem. O caminho mais curto é dobrar na vereda logo à frente, e seguir até o rio Seco e depois é só chegar à fazenda. Demora meio dia. Mas vai dar certo. – comentou o cavaleiro palitando os dentes.
Otto:
--- Tá bom. O senhor ajudou bastante. Agora eu sei onde estou. – sorriu o rapaz.
Cavaleiro:
--- Boa viagem. E a senhora é a dona Vanesca? – indagou o cavaleiro a moça.
Vanesca:
--- Sim. Sou eu mesma! – sorriu a moça.
Cavaleiro:
--- Ah bom. Eu conheci a senhora quando era menina! – fez ver o cavaleiro.
Vanesca:
--- Foi? E com quem eu falo? – indagou Vanesca totalmente estonteada.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 21 -

- Sasha Grey -
- 21 -
CAMINHO
Otto procurou levar o seu pai até a carroça e em seguida caminhou para o riacho atravessando a água pelo meio da canela e, assim, espantando as garças e os patos. Essas aves costumavam frequentar as águas da ribeira onde saciavam a sua fome a catar peixes miúdos por ali existentes. Do outro lado do riacho ele procurou divisar a casinha pequenina, distante por sinal, talvez a um quilômetro de percurso, ou mais ou menos. Entre a casinha havia uma capoeira e, ao largo, mata virgem a subir a serra, por assim dizer. Na casinha deviam morar os últimos dos escravos ou lance parecido do dono da terra por onde Otto trafegava. O rapaz divisou muito bem a casa da família e correu para o pequeno lago a chamar com insistência por sua mãe e as duas jovens moças a acompanhá-lo até o casebre de duas águas avistado ao longo do caminho. As jovens moças se atrapalharam por completo, pois estavam a lavar a roupa e assim foram pegas de surpresa sem nem poder se encobrir. Na ocasião, Vanesca gritou para o noivo:
Vanesca:
--- Não está vendo que estamos apenas sem roupa? – falou gritando a moça.
Otto então observou a situação das duas moças e em seguida foi dizendo:
Otto:
--- Ora que merda! Eu estou acostumado a ver você de modo sumário! – alardeou com raiva o rapaz.
Vanesca se protegeu mergulhando na água morna do lago. Eleanor também fez o mesmo. Apenas a mãe de Otto foi quem perguntou.
Luiza:
--- Aonde, filho! – indagou perplexa a mulher.
Otto se voltou para a sua mãe e nem reparou na desnudez da mulher e respondeu.
Otto:
--- Bem à frente. Se dermos marcha chegaremos a pouco tempo. – falou exaltado o rapaz
E não foi necessário o rapaz afirmar tudo o que sabia ou não. A caravana partiu ribanceira acima, arriscando tudo e a todos e caminho sem demora. Na metade do caminho Otto aproveitou para apanhar pinhas, graviolas, umbu e jaca quase madura. Ele, Vanesca e sua irmã Eleanor tiveram o trabalho de colocar tudo da carroça. O sol era de quatro horas e não fazia mais o nevoeiro da cidade e arredores. O rapaz puxou a égua para dar mais força ao trabalho de reboque até alcançar o casebre de taipa. A porta de frente estava meio aberta, pois naquele local se serrava a porta pela metade deixada à parte de baixo fechada. Com precaução, Otto bateu palmas. De um lado da cerca surgiu uma mulher e seus três filhos, sendo uma mocinha de pouco mais de onze anos. Os dois meninos eram uma verdadeira escada. A mulher se postou encostada a parede de taipa do casebre e logo respondeu:
Mulher:
--- Pois não moço! – falou desconfiada a mulher.
Otto teve um susto, porém a sua irmã cutucou as costelas do rapaz como querendo informar ter ele um pouco mais de modo. Eleanor sorriu para a mulher e falou.
Eleanor:
--- Nós estamos a procura do sitio Cajupiranga, do coronel Araújo. – falou tranquila a jovem.
A mulher olhou cruzado para a senhorita e o rapaz antes de responder. E foi com gesto modesto que a mulher perguntou:
Mulher:
--- De onde são vocês? – indagou com paciência a mulher.
Otto então se prontificou em responder com franqueza.
Otto:
--- Da capital. É porque nós nos atrapalhamos e perdemos a estrada. – sorriu sem querer o rapaz.
A mulher, um tanto desconfiada atentou em responder.
Mulher:
--- Pra mim vocês estão bem distantes de Cajupiranga. Talvez dois dias ou mais. – falou a mulher com tranquilidade.
Otto postou a mão na cabeça e relatou alarmado com o anuncio dado pela mulher de saco (uma forma de se chamar o local distante de qualquer outro).
Otto:
--- NOSSA! Mas fica longe assim? Essa moça é filha do Coronel. – disse Otto para a mulher (do saco).
Vanesca:
--- Mais três dias? Isso é impossível? – fez ver a moça alarmada com a história contada pela mulher.
Mulher:
--- É o que sei. Vocês andando com muita pressa chegam à fazenda em dois dias. Mas do jeito que estão no mínimo três dias. Eu digo por que já trabalhei na fazenda. – relatou a mulher agarrada ao seu filho menor.
Vanesca:
--- Nossa Senhora! E como eu chego lá com uma hora de viagem? – perguntou a moça com a mão no rosto.
Mulher:
--- A pé? – indagou a mulher com altivez.
Vanesca:
--- Não! De carro! – respondeu com certo medo a moça.
Mulher:
--- Ah bom. Assim, até eu chego. Mas vá andar? Vá? – resmungou a mulher com breve sorriso.
Otto sorriu e logo após continuou com a sua conversa. Ele olhava o sol e perguntou a mulher se era possível acampar por aquela noite no terreiro da casa. A mulher deu resposta positiva.
Mulher:
--- Até por que eu estou só e não sei quando Chagas volta. Ele deve estar cuidando de animais. Pode levar um dia ou dois. Quanto a vocês podem se abancar. Não faço questão. As mulheres podem dormir na casa. Apesar de pequena, cabe muito bem. – contou a mulher de uma só vez.
Eleanor:
--- A gente fica no terreiro. Porque o meu pai é enfermo e não pode ficar pra cima e pra baixo. Vamos ficar no oitão da casa. – falou sem descuido a irmã de Otto.
Mulher:
--- Por isso não. Ele pode entrar. É gente pobre como eu. – respondeu a mulher sem sorrir.
Otto;
--- Assim está bom. Eu fico cuidando da égua. Vocês podem entrar. – respondeu o rapaz.
Mulher:
--- Quanto aos bichos, tem canto pra deixar. Lá atrás. – respondeu a mulher sem forçar a nada.
Otto:
--- Assim é melhor. Nós ficamos felizes com o que a senhora prometeu. – disse o rapaz.
A mulher tocou a conversar com dona Luiza e disse ser da cidade. Há um bom tempo se juntou ao homem (Chagas) e veio morar no pé da serra. Com isso, a conversa prosseguiu por um bom tempo. O velho Homero foi posto numa cadeira preguiçosa em um lado da sala e a mocinha fez companhia a Vanesca a cuidar do café com broa, pois era tudo o estava a ver. Otto arrastou os animais até o curral e logo depois se acercou de sua mãe ouvindo a conversa da mulher. A certo tempo Otto indagou:
Otto:
--- O seu nome como é? – indagou o rapaz.
Mulher.
--- Nina seu moço. Eu me chamo Nina. – respondeu a mulher.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 20 -

- Alinne Moraes -
- 20 -
CARAVANA
Eram cinco horas da tarde quando Otto resolveu para a caravana para pernoitar em um canto coberto de arvores frondoso no pé da serra. Um dia foi extenuante para os caravaneiros. O velho Homero reclamava a todo tempo e apenas a filha sabia o que era, pois a voz do homem era confusa. E assim, o velho, em cima da carroça, procurou urinar um pouco e pediu para descer da carroça. Otto foi saber do que se passava, e ficou sabendo. Com apoio da irmã, fez o velho descer da carroça. Logo após, ele voltou e desatrelou o jegue para o animal poder comer das ervas existentes nas cercanias. Vanesca veio do mato onde fora cumprir suas necessidades normais. Luiza preparava um fogão de improviso para cuidar da ceia. Uma égua foi percebida por Otto há pouca distancia. Não havia casa no local. De vez, ele foi e rebocou a égua até o local onde estava a carroça. O jegue olhou para a égua e levantou as orelhas. Otto se dirigiu ao jegue e o repreendeu.
Otto:
--- Nem vem! Nem vem que não tem! – falou de forma atrevida o rapaz.
E de repente, surpresa e com a cara meio amuada Vanesca indagou a Otto.
Vanesca:
--- De quem é esse burro? – indagou alarmada.
Otto:
--- É égua. Estava solta na campina. – respondeu o rapaz.
Vanesca:
--- Ah bom! Basta! Égua, burro! Tudo é a mesma coisa. – e arrebitou a cara saindo do local.
Luiza:
--- Que foi? – indagou a mãe de Otto.
Vanesca:
--- Burro! Agora é a moda! – respondeu a moça a sua sogra.
Luiza:
--- Burro? Que burro? – voltou a  indagar a mulher.
Otto:
--- Burro não. É égua. Ora! – respondeu o homem abusado pondo os estribos na égua quase depressa.
Luiza sorriu e balançou a cabeça. Após uns instantes ela perguntou a Vanesca onde Otto arranjara aquele animal. A moça respondeu com certo mau humor.
Vanesca;
--- Nas brenhas! – falou de modo repreensivo a moça.
Luiza voltou a sorrir e indagou por certo da sua nora um tanto atrapalhada.
Luiza:
--- Que bicho te mordeu? – indagou a mulher a jovem nora.
Vanesca;
--- Nada não. Desculpe. Foi Otto. A gente pergunta uma coisa e ele sai com quatro pedras na mão. Ah lá! – reclamou Vanesca um tanto abusada.
Luiza:
--- Isso é coisa dele mesmo. – repreendeu a mulher.
A noite não tardou e logo o rapaz fez uma fogueira para espantar mosquitos, cobras e outros animais. O velho Homero dormiu em uma cadeira preguiçosa e as mulheres no chão forrado por cobertores. Otto ficou de vigia para se defender de alguém. A sua noiva pouco dormiu. A moça Eleanor cuidava do pai e, de quando em quando acordava para sentir se o velho estava dormindo. Enfim, foi uma noite intranquila com o trovejar da terra. De vez por outra Otto adormecia para despertar minutos depois. A égua achava-se amarrada em local aproximado das pessoas. Por aquele local não se via ninguém passar, vez ser bastante distante da rodovia, por certo, destruída em grande parte. O rapaz aventou ter de chegar à casa do pai de Vanesca com três dias de viagem. O velho Coronel era conhecido por Tomaz de Araújo. A filhar o chamava por Coronel Araújo, nome de guerra quando o homem prestava serviço no Quartel do Exercito. Já estando na Reserva, ele vivia com a mulher Matilde no sitio de Cajupiranga há boa distancia da capital. Na fazenda do coronel Araújo tinha fruteira e plantações cuidadas por seus empregados. Além disso, o velho estava a cuidar de umas vacas e certa quantia de cabras. Ele enfim, pouco dava importância em viajar para a cidade, a não ser para receber o seu ordenado ou soldo. O Coronel da reserva tem um soldo com as gratificações de pouco mais de 13 mil reais. O soldo é da quantia de 4.500,00 reais. O restante é de gratificações por tempo de serviço. Notadamente essa quantia é insignificante. Em caso de guerra, um Coronel é readmitido na fileira. Mas o velho Coronel já estava bastante idoso para ser readmitido na farda. Mesmo no caso de um tumulto a ser provocado pela própria Terra.
Quando os primeiros raios de sol surgiram no horizonte a despeito de ser tão fugidio por conta da fumaça ainda reinante, o pessoal de Otto já estava acordado e pronto para a luta. Logo cedo da manhã Otto procurou se abastecer de frutas silvestres e, logo a turma partiu em debandada do sul do Estado. A viagem era longa e, provavelmente, os viajantes levariam mais dois dias para ter a certeza de chegar à antiga fazenda Cajupiranga do coronel Araújo.  O dia apareceu para ser de muita quentura com as tormentas dos tremores e o desassossego dos marimbondos no caminhar. Uma surpresa de reponte. Quando  Vanesca saiu um pouco mais do passagem algo lhe postou um tremendo susto. A moça, alarmada, voltou a correr temendo ter sido um bicho grande capaz de devora-la.
Vanesca:
--- Um bicho! – gritou a moça plenamente desnorteada.
Nesse instante, Otto gargalhou de veras, pois a moça havia espantado um nambu do seu ninho de postura. E ele, inquieto por ter medo a sua noiva apenas respondeu.
Otto:
--- É nambu. Faz um medo assustador. Você pisou no ninho da ave. Ela bateu asa e voo às pressas. – falou  explicar o rapaz sem deixar de gargalhar.
Dona Luiza de Eleanor também sorriram com o temor sentido pela moça. O velho Homero sorriu da forma como pode e tentou explicar à sua filha ter no mato muita surpresa. E isso dito, a paz continuou apesar do forte calor do sertão. Na proximidade de um córrego, Otto ficou cheio de vida, pois era o local mais confortável do interior. Em meio a tudo o mais ele correu mais que depressa para ver de perto a água a sair do cume da serra e desabrochar em plena caatinga agreste daquele fim de mundo. E voltou logo com seus animais. E chamou os demais a seguir com ele para ver a tranquilidade desabrochar diante dos olhos de cada qual. Após se locomover com toda a pressa, ele aguentou suas montarias para não deixa-las ao remanso. As mulheres foram as primeiras a correr para o banho. Otto e Homero se distanciaram um pouco para toar seus banhos. Ajudando o seu pai a se locomover, Otto caiu na água fria como o velho. Os animais ficaram um pouco mais distantes para beber. Ouviam-se apenas os gritos de alegria das mulheres. Os dois homens ficaram com certeza a sorrir. Um mais do que outro, pois Homero por causa da doença não podia nem mesmo sorrir. Ele fazia um grunhido e quem soubesse já sabia que era sorriso.  Com todo tempo da vida a família se refez do desgaste da viagem.
Otto:
--- Quem diria que tomar banho era tão bom assim! – falou o rapaz para o seu pai.
O homem nada falava, mas sentia-se satisfeito com aquele refrescante banho em pleno pé de serra. Dona Luiza, sua filha Eleanor e a sua nora Vanesca todas estavam a um só tempo se deleitando com as águas correntes e faziam cangapé de um jeito ou de outro. Mas distante, estavam Otto e Homero. Otto relatava:
Otto:
--- As mulheres estão traquinas. – falava o rapaz a sorrir.
Por seu lado, o homem sem nada poder falar, emitia um ruído demostrado ter achado graça por demais. O defeito de Homero se prendia ao lado direito onde o homem não podia se locomover com facilidade. Apenas a parte esquerda lhe permitia andar. Para ter acesso ao rio ele teve de se apoias no braço do filho. E assim para Homero era mais fácil de transitar. Na água Homero não entrava. Com isso, o seu banho era apenas na margem do riacho. Apesar de ser incentivado pelo filho, Homero sabia do que ele podia ou não fazer. Por isso, temeroso, Homero ficou a se banhar na margem do riacho.
Em certa ocasião, Otto vislumbrou uma casa humilde situada ao longe na outra margem do riacho. E foi então que Otto falou:
Otto:
--- Uma casa! Estou vendo! Lá fora! Bem ao longe! – disse o rapaz de surpresa.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 19 -

- Jessica Alba -
- 19 -
A TERRA
Horas e horas se passaram com a família em volta reunida a fomentar o futuro de cada qual. Vanesca, entre  tais lamentações, tentava falar com a sua família no interior do Estado. Porém nada conseguia. E a moça chorava por tudo e por nada. A falta de comunicação já perdurava há bastante tempo sem previsão de se resolver o angustiante problema. Na conversa da família seu Horácio era o menos a falar em questão da sua deficiência de voz. Em certo tempo, o homem cochilava ante a conversa da família. Otto indagou para foram as pessoas da vizinhança. A irmã disse apenas ter algum fugido, outros moradores foram para casa de parentes ou mesmo a procura de um médico. Mesmo assim Eleanor não sabia muito bem, pois essas pessoas ainda nem voltaram.
Eleanor:
--- Eu acho que muita gente está jogada no chão por aí. – sugeriu a irmã um tanto desalenta.
Otto:
--- Eu acredito. Nós passamos por sérias dificuldades. Dormimos no mato. Comemos ovos de uma casinha onde não havia ninguém. Somente as galinhas. ... – havia dito o rapaz quando foi atalhado por Vanesca.
Vanesca:
--- E um bode. Não se esqueça do animal. – fomentou a moça com a cara trancada.
Otto:
--- Sim. Tinha um bode e tinham cabras também. – sorriu o rapaz tirando a vista da noiva.
Vanesca:
--- E galinhas. Teve uma que caiu na minha cara! – respondeu a moça meio abusada.
Eleanor:
--- Como? Galinha? Caiu na tua cara? – indagou surpresa a irmã de Otto.
Foi só contar para ver. Todo mundo soltou uma bela gargalhada em plena noite, menos seu Horácio por não prestar atenção os desmantelo de Vanesca. E a moça, desiludida e com a cabeça um pouco descrente nem teve tempo de enxugar as lágrimas. Apenas respondeu:
Vanesca:
--- Foi. E nem era tão grande assim. – respondeu acabrunhada a moça.
Foram soluços de risos para se contar. Alguém fazia o tamanho da galinha muito pequena. Isso servia para alguém mais discorrer ter sido um susto terrível por conta da penosa. Foi tempo para não acabar mais. E nem a Terra tremeu de tanta azafama incontida. Otto se largou para dentro da casa fazendo a pequenez da galinha e sempre a dizer:
Otto:
--- E não era tão grande assim! – fomentou o rapaz fazendo o gesto da galinha.
Já estava amanhecendo quanto Otto saiu de casa a procura de uma carroça o algo que o satisfizesse para ele poder tomar por empréstimo vez não haver dinheiro para efetuar pagamento. Ao passar em um terreiro viu uma carroça e um jegue, esse desgarrado da carroça. Otto procurou quem estava em casa, porém não havia ninguém. Por certo todos estariam no hospital ou em casa de parentes. Os tremores ainda sacudiam a Terra, muito embora fosse um pouco mais distanciado. Já vestindo roupa em melhor condição, o homem arrodeou a casa humilde para ter certeza de não haver ninguém por aquelas bandas. O pessoal da vizinhança era morador distante e ele não carecia saber de mais nada. Amarrou o jegue à carroça e rebocou o animal até a sua casa. Com esse tempo já fazia pelo menos hora e meia. Quando chegou a sua casa – ou a casa de seus pais – chamou a todos para se prepararem para a viagem. Ao notar a carroça a frente da casa, dona Luiza pôs a mão na boca e apenas disse:
Luiza;
--- Essa é a carroça do finado! – falou intranquila a mulher.
Otto:
--- Finado? Quem diabo é esse? – indagou com certa inquietude o rapaz
Eleanor:
--- Finado Joca. Ele morreu de medo quando a Terra tremeu. A mulher dele foi embora depois de sacudir o corpo no quintal.  Não teve ninguém que acudisse a velha. Apenas um moço arrastou o corpo até o quintal do velho sítio. Depois, seguiram os dois não sei pra onde. – declarou a moça sem piedade.
Vanesca:
--- Nossa! Se ele voltar? – falou assombrada a moça.
Otto:
--- Quem voltar? O morto? Eu digo que é emprestado! – sorriu o rapaz.
Vanesca:
--- Não seu bruto! O rapaz que foi com a velha! – falou sisuda a moça.
Otto:
--- Ah. Ai eu compro a carroça ou tomo por empréstimo. – falou o rapaz amarrando o burro à carroça.
Luiza:
--- E que tu vai fazer com essa carroça? – falou cismada a mulher.
Otto:
--- Nós vamos embora. Aqui não dá para ficar. O estrondo continua. Talvez nós consigamos ir até a fazenda do pai de Vanesca. Ou mais para dentro. Só vendo! – falou com pressa o rapaz.
E a carroça foi preparada de modo a colocar o velho Homero sentado em uma cadeira em cima e com uma cobertura improvisada por cima de todos os quais deviam seguir à caravana de mendigos, por assim dizer. Otto seguiu por dentro evitando comboiar por onde muita gente estava sua família escoltando em meio de burros, porcos, cabras, gente miúda e graúda, em sua maior parte a pé. Ao lado do velho Homero seguia também a senhora Luiza. Esta fazia turno com a sua filha Eleanor a fazer companhia ao velho. Com os estrondos a repercutir de forma irregular Otto peregrinou por uma estrada distante da pista, atravessando por casas quase abandonadas. Ele teve o cuidado de levar bastante água e algumas comidas, de forma especial as frutas, pois carne e feijão não eram propicio para se levar em viagem cansativa e extenuante. Passava-se do meio dia e a nostalgia era vencida pelo cansaço de cada qual. O sol enevoado como dos dias mais recentes não era bem oferecido aos viandantes. O horizonte era imaginário para se puder notar a nem distante. Serras e montanhas se erguiam ao longo do caminhar entre pedras ao caminho. As árvores eram a verdadeira paz dos desesperados. Uma cobra deslizava entre os galhos do arvoredo quase doentio pela ausência de chuva em boa hora
Vanesca:
--- Cansada! – ratificou a moça ao seu noivo
Otto:
--- Vamos parar um pouco. – resolveu o guardião da tropa.
Eleanor:
--- Faz pouco tempo. Meu pai está em ânsia. – reportou a moça.
Otto:
--- Ele nunca fez viagem assim. – resolver dizer o rapaz.
Eleanor.
--- Só da cama para o banho. – fez ver a moça atordoada.
Otto:
--- Ele precisava era de um médico. – reportou o rapaz,
Eleanor:
--- E onde se encontra? – indagou a moça de modo acanhado.
Otto:
--- Não tem médico. Estão todos ocupados com a sua família. – fez ver o homem a caminhar.
Vanesca:
--- Isso é doidera. – reclamou a moça.