- Alinne Moraes -
- 20 -
CARAVANA
Eram cinco horas da tarde quando
Otto resolveu para a caravana para pernoitar em um canto coberto de arvores
frondoso no pé da serra. Um dia foi extenuante para os caravaneiros. O velho
Homero reclamava a todo tempo e apenas a filha sabia o que era, pois a voz do
homem era confusa. E assim, o velho, em cima da carroça, procurou urinar um
pouco e pediu para descer da carroça. Otto foi saber do que se passava, e ficou
sabendo. Com apoio da irmã, fez o velho descer da carroça. Logo após, ele
voltou e desatrelou o jegue para o animal poder comer das ervas existentes nas
cercanias. Vanesca veio do mato onde fora cumprir suas necessidades normais.
Luiza preparava um fogão de improviso para cuidar da ceia. Uma égua foi
percebida por Otto há pouca distancia. Não havia casa no local. De vez, ele foi
e rebocou a égua até o local onde estava a carroça. O jegue olhou para a égua e
levantou as orelhas. Otto se dirigiu ao jegue e o repreendeu.
Otto:
--- Nem vem! Nem vem que não tem!
– falou de forma atrevida o rapaz.
E de repente, surpresa e com a
cara meio amuada Vanesca indagou a Otto.
Vanesca:
--- De quem é esse burro? –
indagou alarmada.
Otto:
--- É égua. Estava solta na
campina. – respondeu o rapaz.
Vanesca:
--- Ah bom! Basta! Égua, burro!
Tudo é a mesma coisa. – e arrebitou a cara saindo do local.
Luiza:
--- Que foi? – indagou a mãe de
Otto.
Vanesca:
--- Burro! Agora é a moda! –
respondeu a moça a sua sogra.
Luiza:
--- Burro? Que burro? – voltou
a indagar a mulher.
Otto:
--- Burro não. É égua. Ora! –
respondeu o homem abusado pondo os estribos na égua quase depressa.
Luiza sorriu e balançou a cabeça.
Após uns instantes ela perguntou a Vanesca onde Otto arranjara aquele animal. A
moça respondeu com certo mau humor.
Vanesca;
--- Nas brenhas! – falou de modo
repreensivo a moça.
Luiza voltou a sorrir e indagou
por certo da sua nora um tanto atrapalhada.
Luiza:
--- Que bicho te mordeu? –
indagou a mulher a jovem nora.
Vanesca;
--- Nada não. Desculpe. Foi Otto.
A gente pergunta uma coisa e ele sai com quatro pedras na mão. Ah lá! –
reclamou Vanesca um tanto abusada.
Luiza:
--- Isso é coisa dele mesmo. –
repreendeu a mulher.
A noite não tardou e logo o rapaz
fez uma fogueira para espantar mosquitos, cobras e outros animais. O velho
Homero dormiu em uma cadeira preguiçosa e as mulheres no chão forrado por
cobertores. Otto ficou de vigia para se defender de alguém. A sua noiva pouco
dormiu. A moça Eleanor cuidava do pai e, de quando em quando acordava para
sentir se o velho estava dormindo. Enfim, foi uma noite intranquila com o
trovejar da terra. De vez por outra Otto adormecia para despertar minutos
depois. A égua achava-se amarrada em local aproximado das pessoas. Por aquele
local não se via ninguém passar, vez ser bastante distante da rodovia, por
certo, destruída em grande parte. O rapaz aventou ter de chegar à casa do pai
de Vanesca com três dias de viagem. O velho Coronel era conhecido por Tomaz de
Araújo. A filhar o chamava por Coronel Araújo, nome de guerra quando o homem
prestava serviço no Quartel do Exercito. Já estando na Reserva, ele vivia com a
mulher Matilde no sitio de Cajupiranga há boa distancia da capital. Na fazenda
do coronel Araújo tinha fruteira e plantações cuidadas por seus empregados.
Além disso, o velho estava a cuidar de umas vacas e certa quantia de cabras.
Ele enfim, pouco dava importância em viajar para a cidade, a não ser para
receber o seu ordenado ou soldo. O Coronel da reserva tem um soldo com as
gratificações de pouco mais de 13 mil reais. O soldo é da quantia de 4.500,00
reais. O restante é de gratificações por tempo de serviço. Notadamente essa
quantia é insignificante. Em caso de guerra, um Coronel é readmitido na
fileira. Mas o velho Coronel já estava bastante idoso para ser readmitido na
farda. Mesmo no caso de um tumulto a ser provocado pela própria Terra.
Quando os primeiros raios de sol
surgiram no horizonte a despeito de ser tão fugidio por conta da fumaça ainda
reinante, o pessoal de Otto já estava acordado e pronto para a luta. Logo cedo
da manhã Otto procurou se abastecer de frutas silvestres e, logo a turma partiu
em debandada do sul do Estado. A viagem era longa e, provavelmente, os viajantes
levariam mais dois dias para ter a certeza de chegar à antiga fazenda
Cajupiranga do coronel Araújo. O dia
apareceu para ser de muita quentura com as tormentas dos tremores e o
desassossego dos marimbondos no caminhar. Uma surpresa de reponte. Quando Vanesca saiu um pouco mais do passagem algo
lhe postou um tremendo susto. A moça, alarmada, voltou a correr temendo ter
sido um bicho grande capaz de devora-la.
Vanesca:
--- Um bicho! – gritou a moça
plenamente desnorteada.
Nesse instante, Otto gargalhou de
veras, pois a moça havia espantado um nambu do seu ninho de postura. E ele,
inquieto por ter medo a sua noiva apenas respondeu.
Otto:
--- É nambu. Faz um medo
assustador. Você pisou no ninho da ave. Ela bateu asa e voo às pressas. –
falou explicar o rapaz sem deixar de
gargalhar.
Dona Luiza de Eleanor também
sorriram com o temor sentido pela moça. O velho Homero sorriu da forma como
pode e tentou explicar à sua filha ter no mato muita surpresa. E isso dito, a
paz continuou apesar do forte calor do sertão. Na proximidade de um córrego,
Otto ficou cheio de vida, pois era o local mais confortável do interior. Em
meio a tudo o mais ele correu mais que depressa para ver de perto a água a sair
do cume da serra e desabrochar em plena caatinga agreste daquele fim de mundo.
E voltou logo com seus animais. E chamou os demais a seguir com ele para ver a
tranquilidade desabrochar diante dos olhos de cada qual. Após se locomover com
toda a pressa, ele aguentou suas montarias para não deixa-las ao remanso. As
mulheres foram as primeiras a correr para o banho. Otto e Homero se
distanciaram um pouco para toar seus banhos. Ajudando o seu pai a se locomover,
Otto caiu na água fria como o velho. Os animais ficaram um pouco mais distantes
para beber. Ouviam-se apenas os gritos de alegria das mulheres. Os dois homens
ficaram com certeza a sorrir. Um mais do que outro, pois Homero por causa da
doença não podia nem mesmo sorrir. Ele fazia um grunhido e quem soubesse já
sabia que era sorriso. Com todo tempo da
vida a família se refez do desgaste da viagem.
Otto:
--- Quem diria que tomar banho
era tão bom assim! – falou o rapaz para o seu pai.
O homem nada falava, mas sentia-se
satisfeito com aquele refrescante banho em pleno pé de serra. Dona Luiza, sua
filha Eleanor e a sua nora Vanesca todas estavam a um só tempo se deleitando
com as águas correntes e faziam cangapé de um jeito ou de outro. Mas distante,
estavam Otto e Homero. Otto relatava:
Otto:
--- As mulheres estão traquinas.
– falava o rapaz a sorrir.
Por seu lado, o homem sem nada
poder falar, emitia um ruído demostrado ter achado graça por demais. O defeito
de Homero se prendia ao lado direito onde o homem não podia se locomover com
facilidade. Apenas a parte esquerda lhe permitia andar. Para ter acesso ao rio
ele teve de se apoias no braço do filho. E assim para Homero era mais fácil de
transitar. Na água Homero não entrava. Com isso, o seu banho era apenas na
margem do riacho. Apesar de ser incentivado pelo filho, Homero sabia do que ele
podia ou não fazer. Por isso, temeroso, Homero ficou a se banhar na margem do
riacho.
Em certa ocasião, Otto vislumbrou
uma casa humilde situada ao longe na outra margem do riacho. E foi então que
Otto falou:
Otto:
--- Uma casa! Estou vendo! Lá
fora! Bem ao longe! – disse o rapaz de surpresa.
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