quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 20 -

- Alinne Moraes -
- 20 -
CARAVANA
Eram cinco horas da tarde quando Otto resolveu para a caravana para pernoitar em um canto coberto de arvores frondoso no pé da serra. Um dia foi extenuante para os caravaneiros. O velho Homero reclamava a todo tempo e apenas a filha sabia o que era, pois a voz do homem era confusa. E assim, o velho, em cima da carroça, procurou urinar um pouco e pediu para descer da carroça. Otto foi saber do que se passava, e ficou sabendo. Com apoio da irmã, fez o velho descer da carroça. Logo após, ele voltou e desatrelou o jegue para o animal poder comer das ervas existentes nas cercanias. Vanesca veio do mato onde fora cumprir suas necessidades normais. Luiza preparava um fogão de improviso para cuidar da ceia. Uma égua foi percebida por Otto há pouca distancia. Não havia casa no local. De vez, ele foi e rebocou a égua até o local onde estava a carroça. O jegue olhou para a égua e levantou as orelhas. Otto se dirigiu ao jegue e o repreendeu.
Otto:
--- Nem vem! Nem vem que não tem! – falou de forma atrevida o rapaz.
E de repente, surpresa e com a cara meio amuada Vanesca indagou a Otto.
Vanesca:
--- De quem é esse burro? – indagou alarmada.
Otto:
--- É égua. Estava solta na campina. – respondeu o rapaz.
Vanesca:
--- Ah bom! Basta! Égua, burro! Tudo é a mesma coisa. – e arrebitou a cara saindo do local.
Luiza:
--- Que foi? – indagou a mãe de Otto.
Vanesca:
--- Burro! Agora é a moda! – respondeu a moça a sua sogra.
Luiza:
--- Burro? Que burro? – voltou a  indagar a mulher.
Otto:
--- Burro não. É égua. Ora! – respondeu o homem abusado pondo os estribos na égua quase depressa.
Luiza sorriu e balançou a cabeça. Após uns instantes ela perguntou a Vanesca onde Otto arranjara aquele animal. A moça respondeu com certo mau humor.
Vanesca;
--- Nas brenhas! – falou de modo repreensivo a moça.
Luiza voltou a sorrir e indagou por certo da sua nora um tanto atrapalhada.
Luiza:
--- Que bicho te mordeu? – indagou a mulher a jovem nora.
Vanesca;
--- Nada não. Desculpe. Foi Otto. A gente pergunta uma coisa e ele sai com quatro pedras na mão. Ah lá! – reclamou Vanesca um tanto abusada.
Luiza:
--- Isso é coisa dele mesmo. – repreendeu a mulher.
A noite não tardou e logo o rapaz fez uma fogueira para espantar mosquitos, cobras e outros animais. O velho Homero dormiu em uma cadeira preguiçosa e as mulheres no chão forrado por cobertores. Otto ficou de vigia para se defender de alguém. A sua noiva pouco dormiu. A moça Eleanor cuidava do pai e, de quando em quando acordava para sentir se o velho estava dormindo. Enfim, foi uma noite intranquila com o trovejar da terra. De vez por outra Otto adormecia para despertar minutos depois. A égua achava-se amarrada em local aproximado das pessoas. Por aquele local não se via ninguém passar, vez ser bastante distante da rodovia, por certo, destruída em grande parte. O rapaz aventou ter de chegar à casa do pai de Vanesca com três dias de viagem. O velho Coronel era conhecido por Tomaz de Araújo. A filhar o chamava por Coronel Araújo, nome de guerra quando o homem prestava serviço no Quartel do Exercito. Já estando na Reserva, ele vivia com a mulher Matilde no sitio de Cajupiranga há boa distancia da capital. Na fazenda do coronel Araújo tinha fruteira e plantações cuidadas por seus empregados. Além disso, o velho estava a cuidar de umas vacas e certa quantia de cabras. Ele enfim, pouco dava importância em viajar para a cidade, a não ser para receber o seu ordenado ou soldo. O Coronel da reserva tem um soldo com as gratificações de pouco mais de 13 mil reais. O soldo é da quantia de 4.500,00 reais. O restante é de gratificações por tempo de serviço. Notadamente essa quantia é insignificante. Em caso de guerra, um Coronel é readmitido na fileira. Mas o velho Coronel já estava bastante idoso para ser readmitido na farda. Mesmo no caso de um tumulto a ser provocado pela própria Terra.
Quando os primeiros raios de sol surgiram no horizonte a despeito de ser tão fugidio por conta da fumaça ainda reinante, o pessoal de Otto já estava acordado e pronto para a luta. Logo cedo da manhã Otto procurou se abastecer de frutas silvestres e, logo a turma partiu em debandada do sul do Estado. A viagem era longa e, provavelmente, os viajantes levariam mais dois dias para ter a certeza de chegar à antiga fazenda Cajupiranga do coronel Araújo.  O dia apareceu para ser de muita quentura com as tormentas dos tremores e o desassossego dos marimbondos no caminhar. Uma surpresa de reponte. Quando  Vanesca saiu um pouco mais do passagem algo lhe postou um tremendo susto. A moça, alarmada, voltou a correr temendo ter sido um bicho grande capaz de devora-la.
Vanesca:
--- Um bicho! – gritou a moça plenamente desnorteada.
Nesse instante, Otto gargalhou de veras, pois a moça havia espantado um nambu do seu ninho de postura. E ele, inquieto por ter medo a sua noiva apenas respondeu.
Otto:
--- É nambu. Faz um medo assustador. Você pisou no ninho da ave. Ela bateu asa e voo às pressas. – falou  explicar o rapaz sem deixar de gargalhar.
Dona Luiza de Eleanor também sorriram com o temor sentido pela moça. O velho Homero sorriu da forma como pode e tentou explicar à sua filha ter no mato muita surpresa. E isso dito, a paz continuou apesar do forte calor do sertão. Na proximidade de um córrego, Otto ficou cheio de vida, pois era o local mais confortável do interior. Em meio a tudo o mais ele correu mais que depressa para ver de perto a água a sair do cume da serra e desabrochar em plena caatinga agreste daquele fim de mundo. E voltou logo com seus animais. E chamou os demais a seguir com ele para ver a tranquilidade desabrochar diante dos olhos de cada qual. Após se locomover com toda a pressa, ele aguentou suas montarias para não deixa-las ao remanso. As mulheres foram as primeiras a correr para o banho. Otto e Homero se distanciaram um pouco para toar seus banhos. Ajudando o seu pai a se locomover, Otto caiu na água fria como o velho. Os animais ficaram um pouco mais distantes para beber. Ouviam-se apenas os gritos de alegria das mulheres. Os dois homens ficaram com certeza a sorrir. Um mais do que outro, pois Homero por causa da doença não podia nem mesmo sorrir. Ele fazia um grunhido e quem soubesse já sabia que era sorriso.  Com todo tempo da vida a família se refez do desgaste da viagem.
Otto:
--- Quem diria que tomar banho era tão bom assim! – falou o rapaz para o seu pai.
O homem nada falava, mas sentia-se satisfeito com aquele refrescante banho em pleno pé de serra. Dona Luiza, sua filha Eleanor e a sua nora Vanesca todas estavam a um só tempo se deleitando com as águas correntes e faziam cangapé de um jeito ou de outro. Mas distante, estavam Otto e Homero. Otto relatava:
Otto:
--- As mulheres estão traquinas. – falava o rapaz a sorrir.
Por seu lado, o homem sem nada poder falar, emitia um ruído demostrado ter achado graça por demais. O defeito de Homero se prendia ao lado direito onde o homem não podia se locomover com facilidade. Apenas a parte esquerda lhe permitia andar. Para ter acesso ao rio ele teve de se apoias no braço do filho. E assim para Homero era mais fácil de transitar. Na água Homero não entrava. Com isso, o seu banho era apenas na margem do riacho. Apesar de ser incentivado pelo filho, Homero sabia do que ele podia ou não fazer. Por isso, temeroso, Homero ficou a se banhar na margem do riacho.
Em certa ocasião, Otto vislumbrou uma casa humilde situada ao longe na outra margem do riacho. E foi então que Otto falou:
Otto:
--- Uma casa! Estou vendo! Lá fora! Bem ao longe! – disse o rapaz de surpresa.

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