- Jannifer Morrison -
- 17 -
O BANHO
Após se desvencilhar dos espinhos
da capoeira onde a todo instante Vanesca reclama, enfim ambos chegaram a cabana
feita de palha de coqueiro e de barro nas paredes da frente e parte do lado.
Logo Otto bateu palmas na esperança de encontrar alguém em casa. Não era muito
grande a choupana. Uma sala – se é que pudesse se chamar – chão batido – só
tinha barro – paredes velhas, um quarto de dormir todo feito de barro, outra
sala – a de jantar – e fim. Nada mais havia a oferecer. Na sala de entrada
havia três tamboretes de três pernas, uma cadeira feita com uma colcha por
cima, uma quatro de Jesus e Maria e alguns retratos já bastante envelhecidos.
Era tudo e nada mais. Apesar de bater forte e esperar resposta, nada Otto ouviu
de alguém de dentro. De qualquer modo ele se aprumou e apesar da roupa suja e
rota, Otto dava a aparência de gente fina. Sem mais conversa Otto puxou a sua
noiva e resolveu entrar de qualquer forma. Seus pés não faziam zoada e como se quisesse ou não o homem penetro no
casebre indo devagar junto com a sua noiva até a entrada do arremedo de quarto.
Ele olhou e nada viu, a não ser um catre vazio. Coberta não tinha. Apenas um
colchão feito de palha com uma coberta
feita com rede de dormir. A rede era velha e já não tinha punhos e nem franjas.
Otto olhou bem a cama e sorriu para a sua noiva como quem diz e não diz coisa
alguma. A moça fez o mesmo. Dali em diante os dois caminharam até a sala de
jantar onde nem o fogão estava aceso. Uma jarra grande, um pote, panelas de
barro, pratos postos de qualquer forma na mesa, três cadeiras velhas, uma foice
e algo mais a encostar-se à parede de barro. O fogão também era feito de barro
com duas bocas e madeira cortada para pôr para tocar fogo a qualquer hora. Um
gato a dormir solitário era o mais visível de tudo. Na parte de trás da cabana
um alpendre se bem que fosse e um machado. Otto impaciente voltou a chamar por
alguém e não ouviu nenhuma resposta. Sua noiva olhando a esmo notou a
existência de um cacimbão. Com isso, Vanesca se alegrou e soltou da mão do
noivo gritando:
Vanesca:
--- Um cacimbão! – gritou a moça
correndo para ver o interior do buraco cavado na terra.
Otto:
--- Cuidado! – disse o rapaz
temendo existir por alí alguma serpente.
E de imediato caminhou atrás da
noiva. A moça já estava na ponta da borda do cacimbão a puxar a corda com uma
lata cheia de água. Vanesca nada temia muito menos de serpentes. Estava naquele
lugar para tomar banho com uma lata d’água e nada mais. O sol que despontara
ainda estava encoberto por uma camada expeça de nuvens de poeira. A mata era
tudo o haver de muito novo naquele espinhoso caminho de areia e mato. Ela não
fez por menos e emborcou a água sobre o seu corpo com a roupa suja de fuligem e
resto do mato da cerra caso que há tanto
tempo não estava para ver. O rapaz se aproximou e foi logo a perguntar da
condição da água. A moça nem respondia. Queria era tomar banho por conta da
sujeira da sua roupa. De imediato ela notou a presença de Otto e, de uma só
vez, sacudiu a lata com água em cima do rapaz. De repente, todo molhado da
cabeça aos pés, Otto se espantou com o fato. De braços abertos ele olhava as
suas vestes e reclamava:
Otto:
--- Hei! O que é isso! – reclamou
assustado o noivo.
Não foi por menos. Vanesca se
enroscou numa tremenda gargalhada e, também, já inteira molhava com as suas
vestes um tanto enegrecida pela fuligem do tempo, respondeu:
Vanesca:
--- Banho! – fez ver a moça a
gargalhar.
Otto, meio abismado com a ação da
noiva apenas sacudiu as mãos para ver se tiravam a sujeira do corpo até então
longe do banho. Quando Otto estava no Hospital só fazia dormir. E quando
acordou já foi para fugir do local em debandada para seguir por novos caminhos.
Caminhos esses a percorrer a mata cerrada entre mosquitos e onças. Foi uma
tremenda fugida por causa do abalo sísmico a sacudir a capital e mais além,
provavelmente. Na corrida ele se lembrava de alguém a gritar ser aquele “o fim do mundo”. Ele não
pensava muito bem ser algo como o derradeiro dia da Terra. O certo era ele não
pensava em nada a não ser a fuga. E naquele momento, atordoado pela fuligem
vinda do espaço, sua roupa suja e a falta de comida e, por fim o banho a
encharcar a sua roupa suja e rasgada. E desprovido de alguma vantagem Otto
olhou para Vanesca e sorriu:
Otto:
--- Se é assim, então vamos nos
molhar de cabo a rabo! – disse o homem a sua noiva.
Vanesca já havia posto a lata
para trazer mais água e assim, molhada, a roupa ligada ao seu corpo, ele não
pensava em outra coisa a não ser tomar banho de “bica” para não falar em
“lata”. Do jeito que estavam os dois se
refrescaram em plena manhã bem cedo, mesmo assim sem sol. Foi uma fuzarca
desastrada a dos noivos. Vanesca jogando água em cima de Otto e esse, já não a
temer mais se molhar, pois molhado já estava, corria para tentar encontrar
outra lata por certo perdia em algum canto do alpendre da choupana. E assim se
fez a vontade do casal de jovem a se encharcar a roupa até a pele e olhando por
cima nem ter o sujo caído o tico de coisa alguma. Eles sorriam a bel prazer,
ambos molhados e ainda cheios de sujeira. Ao passo de alguns minutos os dois se
retiraram do local com a moça a indagar;
Vanesca:
--- E agora? – sorriu a moça
tremendo de frio, toda encolhida como um gato molhado.
Otto;
--- É esperar enxugar. E tive
outra ideia. No mato têm fruteiras. E vou buscar uns cajus. – sorriu o homem.
E Vanesca respondeu.
Vanesca;
--- Vai lá que eu vou aqui ao
mato ver se tem ovos de galinha. – disse a moça a sorrir também.
Otto
--- Galinhas? – indagou de
sobressalto o rapaz.
E então ele ouviu o canto de um
galo perdido na capoeira. Otto nem adivinhava onde. Mesmo assim, o galo cantava
mais de uma vez como se quisesse alertar às galinhas ter gente de fora no
terreiro ou coisa que o valha. Por isso mesmo o rapaz sorriu e comentou:
Otto:
--- Nem os tremores de terra
assusta o galo! – sorriu o rapaz sem maiores preocupações.
E Vanesca procurou descobrir onde
as galinhas estavam pondo para ver se achava algum ovo para fazer a sua refeição
e a de Otto. Depois de muito escacavar pelo vasto terreno ao sopé da serra,
passando por meios de carrapichos e beldroegas, às vezes entre espinhos, a moça
se topou com um cerco onde estava a chocar uma velha ou nova galinha. Ela não
soube precisar a data de vida da galinha. Mesmo assim teve um assombro ao ouvir
o chiado da ave acolhida em seu chocadoro em baixo de umas matas por ali existentes
o qual logo causou tremendo susto. A galinha não contava conversa e ficava com
o seu chiado demostrado ter perto uma senhora galinha a esquentar seus ovos.
Galinha:
--- Chiac, chiac, chiac, chiac. Tho,
tho, tho. – fez a ave toda inquieta postando as asas por todo o cerco.
Com seu tremendo susto a moça
pulou fora para não espantar nem mais a galinha. E disse então:
Vanesca:
--- Ai que susto! Sai pra lá ave
doida! – relatou a moça levando a mão ao coração.
E por o meio das beldroegas
Vanesca passou a examinar os locais prováveis de onde estivesse alguma ave a
por os seus ovos. Foi então que de repente, Vanesca se assustou outra vez quando
uma ave iguala outra saltou para cima da moça num tremendo barulho cacarejando
a todo custo numa altura de dar assombro em qualquer um vivente. A moça
procurou por todos os meios de livrar do salto da ave em cima de sua cara e a
ave continuou a gritar de raiva ou de temor pela presença de Vanesca em seu
ninho de postura. E gritou Vanesca atabalhoada:
Vanesca:
--- Sai pra lá bicho infeliz. –
se enroscando com a mão no rosto a procura de se desvencilhar da ave.
E a galinha não teve escolha! De
um modo ou de outro a ave saiu terrivelmente a cacarejar por todo o seu caminho
assustada pela presença de Vanesca em seu ninho de postura. Otto, ao longe só
ouviu o gritar de Vanesca por entre os alarmes da ave. E então quis saber:
Otto:
--- Que houve?! – indagou o rapaz
a sorrir.
A moça tirando as penas da ave
postas em seu rosto teve tempo apenas de falar.
Vanesca:
--- Galinhas! – disse a moça a e
limpar das penas da ave..
E Otto gargalhou como quis.
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