- Leslie Bibb -
- 22 -
A NOITE
O pessoal foi convidado para
tomar café e então a conversa se prolongou por mais algum tempo. Era noite e na
casa tinha luz de lamparina e candeeiro. Não havia iluminação elétrica porque o
casebre ficava fora do alcance da companhia de energia. Por isso, Otto não teve
como saber se havia falta de luz elétrica naquele ponto do Estado tal mesmo
ocorria com a capital devido ao sismo dos últimos dias. Após alguém tempo
Luiza, Homero e as duas moças foram conciliar o sono em redes (para as moças),
em uma espreguiçadeira (para Homero) e em um catre mal arrumado para Luiza. Por
seu lado, Otto foi dormir em baixo da carroça do lado de fora do humilde
casebre. Naquele local o rapaz podia vislumbrar com máxima certeza o piscar das
estrelas no céu. Então Otto ficava abismado com tanta beleza a alumiar a Terra
com sincero destemor. Deitado de costas, mãos na cabeça o rapaz sonhava em
algum dia poder tocar em alguma das estrelas inquietas com as suas próprias
mãos. A lua estava em minguante e na certa ele poderia ver melhor e com mais
ardor as lindas e maviosas estrelas do firmamento distante. Não raro as
estrelas anãs podem ser muito mais comuns do que se pensa, deduzia Otto. Isso
pode triplicar o número de estrelas no Universo, estimou o rapaz. E ainda
pensou o homem existir estrelas a 300 milhões de anos-luz distante da Terra. E
com esse seu pensar ele adormeceu. E sonhou com pequenas estrelas a brincar da
Terra a trajar vestes brancas como as vestais usavam. Vestais eram sacerdotisas
da Roma Antiga que cultuavam a deusa romana Vesta. Era um sacerdócio
exclusivamente feminino, restrito a seis mulheres que seriam escolhidas entre a
idade de 6 a 10 anos. Durante o período de trinta anos as virgens vestais eram
obrigadas a preservar a sua virgindade.
A noite corria serena sem a luz
do luar quando algo bateu na carroçaria da velha diligência. Otto se estremeceu
e não chegou a divisar a figura da esbelta mulher ao seu lado. Com o pequeno
passar do tempo, Otto esfregou os olhos e enxergou o vulto da senhora a seu
lado. Um corpo esguio e pele morena era uma deusa a atormentar o sono do rapaz.
Do ponto onde estava o homem, apenas sentia a presença da senhora com certeza a
sorrir. Ela era uma mulher atraente apesar de maltratada pelo destino e a
sorte. O seu corpo esguiou denotava das suaves deusas ninfas da Grécia em pleno
sertão do interior do Estado. De vez, Otto observou bem a mulher e em seguida
perguntou assustado:
Otto:
--- Que houve? – indagou espantado o rapaz.
A mulher sorriu antes de responder com bastante calma.
Nina:
--- Nada. Vim saber se estava dormindo. Aqui é uma secura.
Não dá para dormir ao relento. – respondeu a mulher a olhar de um lado para
outro.
Otto:
--- Não. Estou bem aqui. Não se incomode. – replicou o
rapaz sem tirar os olhos das pernas desnudas da dama.
Nina;
--- Porque tem uma cabana lá por trás, bem no fim do
cercado. Se quiser dormir lá dentro é bem melhor. – respondeu Nina.
Otto:
--- Cabana? Onde? Não vi cabana! – disse o rapaz com sua
modéstia.
Nina:
--- Venha que eu te mostro. É melhor do que aqui fora.
Venha. – soletrou Nina de modo agradável.
A manhã chegara e os primeiros
raios de sol surgiram. Otto já estava de pé acertando os preparos da égua, pois
de noite ele conversou com Nina ser melhor ele partir pela manhã a procura do
sítio Cajupiranga do coronel Araújo. Nina arrumou uma manta, arreios e sela
guardados no galpão existente fora de casa. Otto decidiu fazer viagem tendo
companhia de sua noiva Vanesca, pois assim saberia, por fim, onde ficava a casa
grande e o tempo restante para ele chegar ao destino. A noiva Vanesca estava
pronta para seguir viagem. Para comida do pessoal ele deixou mangas colhidas no
pé às primeiras horas da manhã. Conseguiu com Nina, por empréstimo, alforje e
um cantil. No alforje levaria alimentos. No cantil, levaria água. Logo após o
desjejum, ambos partiram pela estrada vicinal com a promessa de retornar tão
logo fosse possível. De sorte, ele apanhou uma bússola do seu pai. Com esse
instrumento Otto poderia saber onde se encontrava. Toda feliz, Vanesca não
parava para ver seu pai tão logo chegasse à fazenda. De momento a jovem nem
mais se lembrava do episódio passado no sismo da capital do Estado. E logo
Vanesca subiu na garupa da água abrindo um largo sorriso para dona Luiza, a
filha e o marido de Luiza. Adeus ela apenas fez para Nina e seus três filhos,
inclusive uma mocinha dos seus 11 anos. Já pronto para largar Otto indagou a
moça se não tinha esquecido coisa alguma. Feliz da vida disse a moça não ter
esquecido. Então, o rapaz acuou nos pés e fez a água avançar com toda pressa.
Eram sete horas da manhã quando os dois deixaram o casebre. De longe ainda se
fazia crer no adeus dos que ficaram a espera da volta. No caminho Vanesca
reclamou de uma coisa:
Vanesca:
--- Catinga de jaca! – falou a moça sem pensar em algo.
Otto:
--- Eu estava tratando de jaca. – relatou o rapaz sem
dizer mais nada.
Vanesca:
--- E se banhou? – indagou a moça.
Otto;
--- Tinha pouca água. Os garotos apanham água no
riacho. Sacrifício! – fez ver o rapaz.
A moça olhou bem para o rapaz e
não disse mais coisa alguma. Após algumas horas, Otto avistou de longe as
casinhas de uma cidade do interior. Ele apontou para Vanesca ser aquela talvez
uma vila ou coisa assim. A moça olhou
bem e notou ser vila, pois passara por alguns casebres ao longo do caminho e ela
notou homens, mulheres e crianças a capinar ao longe. E respondeu enfim:
Vanesca:
--- É bem provável ser vila! – respondeu a moça observando
bem.
Após galopar algum instante
Otto notou vindo em sentido contrario um cavaleiro. Esse homem acercava-se
devagar a notar Otto, mas fazendo de conta ter nada observado. Ao chegar
próximo, Otto cumprimentou o cavaleiro e lhe dirigiu a pergunta.
Otto:
--- Bom dia. – disse Otto com leve sorriso.
Cavaleiro:
--- Bom dia – fez vez o cavaleiro.
Otto:
--- Por favor, o senhor conhece a fazenda Cajupiranga? –
indagou o rapaz.
Cavaleiro:
--- Por que a pergunta? – disse o cavaleiro.
Otto:
--- Eu levo essa moça para a fazenda. Eu não conheço o
caminho. Estou às tontas. E procuro saber qual o caminho certo. – relatou Otto
todo molhado de suor.
Cavaleiro:
--- Bem. O caminho mais curto é dobrar na vereda logo à
frente, e seguir até o rio Seco e depois é só chegar à fazenda. Demora meio
dia. Mas vai dar certo. – comentou o cavaleiro palitando os dentes.
Otto:
--- Tá bom. O senhor ajudou bastante. Agora eu sei onde
estou. – sorriu o rapaz.
Cavaleiro:
--- Boa viagem. E a senhora é a dona Vanesca? – indagou o
cavaleiro a moça.
Vanesca:
--- Sim. Sou eu mesma! – sorriu a moça.
Cavaleiro:
--- Ah bom. Eu conheci a senhora quando era menina! – fez
ver o cavaleiro.
Vanesca:
--- Foi? E com quem eu falo? – indagou Vanesca totalmente
estonteada.
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