terça-feira, 20 de novembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 18 -

- Kate Hudson -
- 18 -
PERIPÉCIAS
Logo após as peripécias de Vanesca, o casal foi fazer a sua refeição matinal com ovos e frutas. As frutas foram apanhadas no largo quintal da casa velha. Otto conseguiu colher de tudo um pouco. Cajus, Manga, Mangada e até mesmo umas frutas silvestres azedas de morrer. A moça sorria enquanto sugava os ovos por ela apanhados. Ovos fritos não foram possíveis fazer, pois o fogão a lenha estava apagado. Otto sugeriu sugar os ovos mesmo na casca e até mostrou como se fazia. Dai por diante tudo foi fácil. Entre mangas e cajus os noivos sorveram de tudo. Uma penca de bananas ainda de vez, Otto havia conseguido. Mesmo assim, como as bananas estavam de vez, ele guardou para outra oportunidade. E a terra de vez em quando estrebuchava mostrado ser ainda muito cedo para se parar de ter medo. A cada movimento sísmico, o casal se protegia como se podia temendo haver algo mais sério naquela hora.  E foi então ter a moça explicado a seu noivo como tudo aconteceu.
Vanesca:
--- Foi assim mesmo. Você estava cuidando do pessoal desprezado desde a enchente havida. A gente deixou o trabalho e se meteu na ajuda dos desprotegidos. Certa vez você veio ao desmaio. Eu gritei como uma louca. E veio um homem e cuidou de leva-lo ao Hospital. Foi assim. Pois, pois! – disse a moça a seu noivo.
Otto:
--- E havia médico no hospital? – indagou surpreso o noivo.
Vanesca:
--- Que nada! Eu segurei um pela gola da camisa. E era o diretor. – gargalhou a moça sem motivos.
O homem sorriu sem querer. Ele pensava a fuga. E na cabana onde estava. Otto olhou para o quintal da choupana e observou um bode e três cabras a circular por entre matos e rochas. As pedras eram parte da serra. Elas eram nascidas alí mesmo e em outros locais havia outras. Em alguns lugares nada havia de restos de serras. Vanesca se admirou com as cabras e quis saber de Otto se eram todas de uma só raça.
Vanesca:
--- Cabras? – indagou a moça de forma inquieta.
Otto:
--- E bode! – sorriu o rapaz para nutrir mais a curiosidade da moça.
Vanesca:
--- Besta! Pensa que eu não sei? – indagou com certa malcriação a moça.
O rapaz olhou para Vanesca e sorriu. A moça fez cara feia para seu noivo. Apesar da desavença corriqueira de ambos nada de mais ocorreu. Dai por diante, os dois ficaram a pensar no futuro incerto. Já era hora de tomar uma decisão. Os tremores abalavam com menor frequência àquela hora da manhã. Otto se lembrou do Hospital. Tanta gente doente a precisar de ajuda. Mesmo assim, ele resolveu sair em busca de seus familiares. A casa em que a mãe de Otto residia ficava a uma boa distância do ponto onde os dois estavam àquela hora da manhã. Casa por perto não havia. Otto foi até a porta da rua e olhou bem para ver se tinha certeza. O pessoal da tapera teria fugido ou saído a procura de algum médico. Ele pensava. Nada havia a indicar a presença de gente naquele mocambo. E após ter posto e reposto a sua inquieta paciência Otto resolveu partir. Ele um saco com um pano que estava postado na cabeceira da cama e resolveu seguir viagem com bastante pressa. E chamou a sua noiva para acompanha-lo. Saíram os dois de mato afora sentindo os abalos da terra oca. Não raro a moça corria com temor e após a viagem voltava como se nada encontrasse. Com uma penca de bananas nas costas e frutas em um saco levado por Vanesca, os noivos já cansados chegaram a um local onde havia uma bodega e algumas casas de taipa. Otto resolveu perguntar ao dono da bodega onde ficava a rua onde ele estava morando, pois daquele ponto Otto não sabia de nada. A bodega estava rachada em vários pontos. O homem notou a presença de Otto, todo sujo apesar de ter tomado banho de lata. Um tanto desconfiado o homem indagou de onde ele estava a caminhar. Otto responde ter estado na serra. Isso foi quando ocorreu o estrondo. Ele e a sua noiva ficaram abraçados a pensar ser aquele o fim do mundo. Contudo, nada ocorreu e os dois findaram a caminha de um lado para outro até achar aquele local. Nem tão tranquilo, o bodegueiro respondeu:
Bodegueiro:
--- Aqui nós estamos em Taborda. A cidade fica mais para adiante. – respondeu o bodegueiro um tanto desconfiado com aquele casal. E fez gesto com o braço direito.
Otto:
--- Ah. Bom. Já sei onde estou. Agora acerto a casa. Fica longe, mas acerto. – fez um gesto de quem queria sorrir e agarrou em sua penca de bananas.
Bodegueiro:
--- E no morro tem bananas? – indagou o bodegueiro ao ver o monte de bananas preso às costas do rapaz.
Otto:
--- Quer dizer: na serra, não tem. Essas eu encontrei no caminho para cá. – fez um gesto de se arrumar para sair em procura de sua casa.
Bodegueiro:
--- Ah bom. Eu já estava pensando. - fez ver o homem da bodega.
Otto:
--- Quer algumas? Se quiser eu te dou. – torceu o pescoço o rapaz.
Bodegueiro:
--- Sempre é bom. Estão maduras? – indagou o homem
Otto:
--- Algumas. Algumas. – e resolveu baixar o saco de bananas.
Trato feito e os noivos seguiram de rua afora. Os casebres estavam quase todos abandonados. Havia um ou outro com os seus moradores. Uma casa na margem da passagem estava toda descoberta. Essa era uma moradia velha onde o pessoal não mais habitava. Vanesca olhava as moradias e comentava ser aqueles casebres até protegido por Deus, pois em todos o quase todos não se observava o debandar dos seus moradores:
Vanesca:
--- Taborda! Não conhecia esse lugarejo! – fez ver a moça.
O caminhar de Vanesca lhe causou um inchaço nos pés. Ela resolveu tirar as sandálias e sair descalça. Otto viu a cena e comentou sem querer ferir a moça.
Otto:
--- Cansada? – indagou Otto a sua noiva.
Vanesca:
--- Perebas! – respondeu a moça a olhar os seus pés.
Otto:
--- É a tirada! – conversou o rapaz com o saco às costas.
Quanto mais eles percorriam o caminho mais distante era a casa de Otto. Uma parada para beber um pouco de água fornecida por um morador. O descanso para prosseguir. Enfim, a caminhada a fazer. E já entardecer quando Otto despontou na rua na qual morava a sua mãe Luiza casada com Homero tendo a filha Eleanor como a única companheira a cuidar dos afazeres domésticos. Homero sofreu de trombose e quase não falava. A filha Eleanor, de tanta paciência, entendia o modo do pai pedir alguma coisa. Para se falar era uma moça paciente no entender do seu pai. A rua estava às escuras, apesar de ainda ser pouco antes do anoitecer. A bater à porta, dona Luiza se tomou de medo. E então falou:
Luiza:
--- Meu filho!! – gritou com alarme a mulher.
Eleanor:
--- Otto? – disse a irmã com bastante surpresa.
E todos caíram no choro, menos o velho Homero. Esse só fazia gaguejar como a querer saber de quem todo mundo estava a chorar. Otto e Vanesca por igual caíram no pranto. De imediato, o rapaz foi até onde estava seu pai para abraça-lo e beijá-lo. Igual procedimento fez também a noiva Vanesca. Foi um prato de muitas lágrimas. Após tudo terminar, Otto buscou noticia como os de casa suportaram o sismo. Então, Eleanor foi quem falou:
Eleanor:
--- Foi muito forte. Eu ainda tremo de pavor. Eu vi a casa cair! – respondeu a moça sobre o fenômeno.

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