- Kate Hudson -
- 18 -
PERIPÉCIAS
Logo após as peripécias de
Vanesca, o casal foi fazer a sua refeição matinal com ovos e frutas. As frutas
foram apanhadas no largo quintal da casa velha. Otto conseguiu colher de tudo
um pouco. Cajus, Manga, Mangada e até mesmo umas frutas silvestres azedas de
morrer. A moça sorria enquanto sugava os ovos por ela apanhados. Ovos fritos
não foram possíveis fazer, pois o fogão a lenha estava apagado. Otto sugeriu
sugar os ovos mesmo na casca e até mostrou como se fazia. Dai por diante tudo
foi fácil. Entre mangas e cajus os noivos sorveram de tudo. Uma penca de
bananas ainda de vez, Otto havia conseguido. Mesmo assim, como as bananas
estavam de vez, ele guardou para outra oportunidade. E a terra de vez em quando
estrebuchava mostrado ser ainda muito cedo para se parar de ter medo. A cada
movimento sísmico, o casal se protegia como se podia temendo haver algo mais
sério naquela hora. E foi então ter a
moça explicado a seu noivo como tudo aconteceu.
Vanesca:
--- Foi assim mesmo. Você estava
cuidando do pessoal desprezado desde a enchente havida. A gente deixou o
trabalho e se meteu na ajuda dos desprotegidos. Certa vez você veio ao desmaio.
Eu gritei como uma louca. E veio um homem e cuidou de leva-lo ao Hospital. Foi
assim. Pois, pois! – disse a moça a seu noivo.
Otto:
--- E havia médico no hospital? –
indagou surpreso o noivo.
Vanesca:
--- Que nada! Eu segurei um pela
gola da camisa. E era o diretor. – gargalhou a moça sem motivos.
O homem sorriu sem querer. Ele
pensava a fuga. E na cabana onde estava. Otto olhou para o quintal da choupana
e observou um bode e três cabras a circular por entre matos e rochas. As pedras
eram parte da serra. Elas eram nascidas alí mesmo e em outros locais havia
outras. Em alguns lugares nada havia de restos de serras. Vanesca se admirou
com as cabras e quis saber de Otto se eram todas de uma só raça.
Vanesca:
--- Cabras? – indagou a moça de
forma inquieta.
Otto:
--- E bode! – sorriu o rapaz para
nutrir mais a curiosidade da moça.
Vanesca:
--- Besta! Pensa que eu não sei?
– indagou com certa malcriação a moça.
O rapaz olhou para Vanesca e
sorriu. A moça fez cara feia para seu noivo. Apesar da desavença corriqueira de
ambos nada de mais ocorreu. Dai por diante, os dois ficaram a pensar no futuro
incerto. Já era hora de tomar uma decisão. Os tremores abalavam com menor
frequência àquela hora da manhã. Otto se lembrou do Hospital. Tanta gente
doente a precisar de ajuda. Mesmo assim, ele resolveu sair em busca de seus
familiares. A casa em que a mãe de Otto residia ficava a uma boa distância do
ponto onde os dois estavam àquela hora da manhã. Casa por perto não havia. Otto
foi até a porta da rua e olhou bem para ver se tinha certeza. O pessoal da
tapera teria fugido ou saído a procura de algum médico. Ele pensava. Nada havia
a indicar a presença de gente naquele mocambo. E após ter posto e reposto a sua
inquieta paciência Otto resolveu partir. Ele um saco com um pano que estava
postado na cabeceira da cama e resolveu seguir viagem com bastante pressa. E
chamou a sua noiva para acompanha-lo. Saíram os dois de mato afora sentindo os
abalos da terra oca. Não raro a moça corria com temor e após a viagem voltava
como se nada encontrasse. Com uma penca de bananas nas costas e frutas em um
saco levado por Vanesca, os noivos já cansados chegaram a um local onde havia
uma bodega e algumas casas de taipa. Otto resolveu perguntar ao dono da bodega
onde ficava a rua onde ele estava morando, pois daquele ponto Otto não sabia de
nada. A bodega estava rachada em vários pontos. O homem notou a presença de
Otto, todo sujo apesar de ter tomado banho de lata. Um tanto desconfiado o
homem indagou de onde ele estava a caminhar. Otto responde ter estado na serra.
Isso foi quando ocorreu o estrondo. Ele e a sua noiva ficaram abraçados a
pensar ser aquele o fim do mundo. Contudo, nada ocorreu e os dois findaram a
caminha de um lado para outro até achar aquele local. Nem tão tranquilo, o
bodegueiro respondeu:
Bodegueiro:
--- Aqui nós estamos em Taborda.
A cidade fica mais para adiante. – respondeu o bodegueiro um tanto desconfiado
com aquele casal. E fez gesto com o braço direito.
Otto:
--- Ah. Bom. Já sei onde estou.
Agora acerto a casa. Fica longe, mas acerto. – fez um gesto de quem queria
sorrir e agarrou em sua penca de bananas.
Bodegueiro:
--- E no morro tem bananas? –
indagou o bodegueiro ao ver o monte de bananas preso às costas do rapaz.
Otto:
--- Quer dizer: na serra, não
tem. Essas eu encontrei no caminho para cá. – fez um gesto de se arrumar para
sair em procura de sua casa.
Bodegueiro:
--- Ah bom. Eu já estava
pensando. - fez ver o homem da bodega.
Otto:
--- Quer algumas? Se quiser eu te
dou. – torceu o pescoço o rapaz.
Bodegueiro:
--- Sempre é bom. Estão maduras?
– indagou o homem
Otto:
--- Algumas. Algumas. – e
resolveu baixar o saco de bananas.
Trato feito e os noivos seguiram
de rua afora. Os casebres estavam quase todos abandonados. Havia um ou outro
com os seus moradores. Uma casa na margem da passagem estava toda descoberta.
Essa era uma moradia velha onde o pessoal não mais habitava. Vanesca olhava as
moradias e comentava ser aqueles casebres até protegido por Deus, pois em todos
o quase todos não se observava o debandar dos seus moradores:
Vanesca:
--- Taborda! Não conhecia esse
lugarejo! – fez ver a moça.
O caminhar de Vanesca lhe causou
um inchaço nos pés. Ela resolveu tirar as sandálias e sair descalça. Otto viu a
cena e comentou sem querer ferir a moça.
Otto:
--- Cansada? – indagou Otto a sua
noiva.
Vanesca:
--- Perebas! – respondeu a moça a
olhar os seus pés.
Otto:
--- É a tirada! – conversou o
rapaz com o saco às costas.
Quanto mais eles percorriam o
caminho mais distante era a casa de Otto. Uma parada para beber um pouco de
água fornecida por um morador. O descanso para prosseguir. Enfim, a caminhada a
fazer. E já entardecer quando Otto despontou na rua na qual morava a sua mãe
Luiza casada com Homero tendo a filha Eleanor como a única companheira a cuidar
dos afazeres domésticos. Homero sofreu de trombose e quase não falava. A filha
Eleanor, de tanta paciência, entendia o modo do pai pedir alguma coisa. Para se
falar era uma moça paciente no entender do seu pai. A rua estava às escuras,
apesar de ainda ser pouco antes do anoitecer. A bater à porta, dona Luiza se
tomou de medo. E então falou:
Luiza:
--- Meu filho!! – gritou com
alarme a mulher.
Eleanor:
--- Otto? – disse a irmã com
bastante surpresa.
E todos caíram no choro, menos o
velho Homero. Esse só fazia gaguejar como a querer saber de quem todo mundo
estava a chorar. Otto e Vanesca por igual caíram no pranto. De imediato, o
rapaz foi até onde estava seu pai para abraça-lo e beijá-lo. Igual procedimento
fez também a noiva Vanesca. Foi um prato de muitas lágrimas. Após tudo
terminar, Otto buscou noticia como os de casa suportaram o sismo. Então,
Eleanor foi quem falou:
Eleanor:
--- Foi muito forte. Eu ainda
tremo de pavor. Eu vi a casa cair! – respondeu a moça sobre o fenômeno.
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