- Thaís Fersoza -
- 07 -
CONVITE
Na quinta feira, de manhã bem
cedo, alguém bateu palmas na porta da casa de Nara. A moça estava no final do
quintal. A sua mãe foi quem atendeu ao moço, rapaz alegre, jovem ainda, corpo
forte e muito bem parecido. Dona Ceci indagou do rapaz o nome. Ele respondeu:
Rapaz:
--- Eurípedes. É o meu nome. Eu
procuro por Nara. Ela está? – indagou e sorriu.
Dona Ceci sorriu leve e respondeu
sem se preocupar.
Ceci:
--- Eu sei quem é o senhor.
Doutor Eurípedes. Ela está. Vou chama-la. Entre, por favor. – sorriu dona Ceci
enquanto o rapaz adentrava a sala dizendo não ser precioso trata-lo de doutor.
Eurípedes:
--- Faço questão da senhora não me
chamar de doutor. É muita pompa! – sorriu o médico.
Dona Ceci sorriu e se dirigiu
para o interior da casa. Enquanto isso, Eurípedes se encaminhou para uma
poltrona bem acolchoada e retirou do centro onde se colocava revistas, um
cinzeiro e um pé de adornadas rosa. Ele tomou de uma revista e passou a ler. No
canto, forrado, estava o violão no ‘descanso’, mudo, simplesmente mudo. Na sala
havia ainda uma estante, outras cadeiras estofadas, um boneco tamanho médio de
jade entre outras coisas mais. O homem cruzou as pernas e passou a ler a
revista de notas para violão. Quando Eurípedes estava entretido com a leitura
apareceu à porta do corredor a figura de Nara. A sorrir a moça indagou ao
rapaz;
Nara:
--- Que bons olhos te vejam! Que
está fazendo? Estudando violão? – sorriu a moça e se aproximou o acolchoado.
Na ocasião, Eurípedes se levantou
de onde estava fazendo um largo sorriso no rosto e foi cumprimentar a moça
Nara. Ele a tinha visto no sábado de carnaval quando Nara saída da Catedral.
Depois daquele encontro surpresa, o rapaz ficou a imaginar se Nara se casara,
pois levava um rebento em seu colo. Passado o período de carnaval, ele resolveu
até a sua casa, pela manhã de quinta-feira e tirar o caso a limpo. E tinha uma
boa desculpa para tal. Em meio da conversa foi ele logo direto ao assunto:
Eurípedes:
--- Você casou senhora? – sorriu
o rapaz esperando um “sim”.
Nara:
--- Coitada de mim. (sorriu). Eu
reconheci você na saída da Catedral. Na verdade, eu tenho um filho, querido
como tal. Mesmo assim, não foi preciso casar. – sorriu a moça a todo pano.
Eurípedes:
--- A bom. Logo vi. Eu não sabia
de você gravida. E o pai? – indagou surpreso o homem.
A mossa gargalhou como nunca para
o rapaz surpreso e de olhos abertos. E bem abertos.
Nara;
--- O pai? (gargalhou). Deve
andar por ai! Quem sabe? - gargalhou outra vez a moça.
Eurípedes:
--- Ah bom. Deve estar no
trabalho. – sorriu ele sem querer e a pensar em um “magricela” e mais para
completar todo sujo graxa com efeito de
consertar um carro. – “Só pode” – ainda Eurípedes pensou.
Nara gargalhou como pode a sentar
no sofá para não ter de cair no chão. E não podia nem olhar a cara do rapaz,
pois a gargalhada voltava. Era uma risadagem ter a moça ao se deitar no sofá se
curvando toda com certeza forção o seu estômago para ver se então parava dessa
besteira de algumas vezes. Um tanto desconfiado, o rapaz perguntou:
Eurípedes;
--- Ele trabalha? – indagou
surpreso com os risos da moça.
Então, não teve mais conversa.
Nara se levantou da poltrona e foi cair em no meio da sala somente a gargalhar.
E o tempo passou até Nara poder falar de vez a verdade da história. Ele
confirmou não ter casado e então nem nunca. O menino lhe foi deixado por uma
“amiga”. A doadora saiu para comprar fraudas e não mais voltou. Essa era a história
resumida. Com isso, o rapaz já suado, teve tempo de tranquilidade. E assim
repousou se espreguiçando por inteiro na poltrona onde estava a repousar.
Nara:
--- Foi esse o milagre. Então meu
pai registrou o filho como meu, legítimo, por sinal, sem pai e, no sábado, nós
fomos batizá-lo. Pronto. Está desfeito o mistério. – sorriu Nara a se por de
pé.
Eurípedes:
--- Caramba! Que história! Nem
Shakespeare! Matou-me! – falou sem graça o rapaz.
Nara;
--- E você? Que estás fazendo
além de ser uma “colombina”? – gargalhou a moça.
Eurípedes:
--- Colombina! (refletiu o rapaz
com a cabeça abaixada) – Bem, além de ser “colombina”, eu estou aqui, a essa
hora da manhã, para te fazer um convite. Mas já sei não ser possível, pois
estás acompanhada com um neném. Mas não custa nada falar. A garotada está
querendo fazer uma apresentação, talvez no teatro. Por enquanto se pensa no
assunto. Temos a garagem de Fred. Não é o melhor canto. Contudo, entre os
piores esse é melhor. E estamos nesse
drama. De inicio, estamos com seis participantes, incluindo, você. É um
festival. Vai acontecer do Recife ainda esse ano. João Pessoa, Fortaleza. E
Natal não podia ficar de fora. O Festival da Juventude! É esse o nome da
“majestosa” festa! – sorriu o homem ao relatar tudo.
Nara ficou serena a meditar, pois
o Festival da Juventude era algo novo e de muita garra. Ela estava com um bebê
de pouco tempo. Era difícil dizer “não”. Mas para dizer “sim”, era outro
problema. E Nara ficou há hesitar um tempo a meditar no filho e na turma. E assim foi o tempo a passar e então Eurípedes
indagou por qual causa Nara não toca piano. Nara se limitou a sorrir. Por fim,
ao longo do tempo, a moça falou:
Nara:
--- Piano! (Nara ficou silente a
meditar. E então falou). Eu estava com meus cinco anos de idade. Na casa do meu
avô tinha um piano. E eu, muito arteira (sorriu) certa vez o meu avô me flagrou
no piano. Desse momento, então, ele, no lugar de me repreender, começou a me
dar lições de músicas e me ensinar a tocar piano. Demorou muito para que eu
aprendesse todo o trabalho. Passei dos cinco
para os seis, sete, oito e mais anos. E aprendendo com ele a tocar. Meu
avô dava aulas de músicas. Mesmo assim, eu não fui para a escola. Aprendi a
tocar Chopin o seu preferido, e Mozart, Vivaldi, Beethoven, Bach, o meu
favorito (sorriu) e outros mais. Villa Lobos, o brasileiro, todos o conhecem
por um classicista. Ele não é um classicista. Nem ele e nem Bach e tantos mais.
Hoje, se compõe uma melodia e então essa melodia, com o tempo, vira um
clássico. Essa é a questão. Bach nunca foi um autor clássico. Ele tocava hinos
de Igreja. Schubert também. Mas, ambos nunca foram um clássico. Apenas o mundo
os chama assim. A música é universal. Tudo o que faz som, faz música. Até um
pedaço de pau. O chiado de um rato. O grunhido de um porco. Todo isso é música.
Uma queixada de burro também faz música. – fez vez a moça como querendo dizer
tudo o que sabia sobre melodia.
Em instante, Eurípedes ficou a
meditar e a fitar aquela sombra esguia de mulher, meiga por sinal, simples no
seu trajar, afeta no seu falar, certa no seu pensar. Aquela mulher era apenas
Nara por quem ele já de inicio devotara tamanho afeto. Em certo instante, uma
lágrima desceu em sua face em a confusão de sentimentos recolhidos. Ela,
talvez, fosse uma vida, capaz de renunciar do algo de maior importância e a
devotar todo o seu carinho para algo novo. Ele já sabia que reconhecera em Nara
uma mulher fatal mesmo com a sua silhueta franzina. Eurípedes nem falava para
não por fim ao silencio profundo e cheio de ternura. Não importava ter tal
máscara, pois a linda e perfumosa mulher estava bem a sua frente. E passado
alguns segundos Eurípedes enfim falou:
Eurípedes:
--- Bem. Eu posso contar com
você? – indagou sem medo o rapaz.
Nara:
--- Sim. Eu estarei presente nos
ensaios e discussões. – resolveu em dizer a moça.
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