- Cameron Diaz -
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SOCORRO
Desse ponto em
diante os acontecimentos modificaram por completo o dia a dia naquele Hospital
quase o único da Capital. Ambulâncias da Secretaria de Saúde atenderam socorro
em diversos pontos. O difícil era o motorista alcançar o Hospital. A lagoa despejada
pela adutora de abastecimento da Caixa d’Água movia a terra na altura da
Maternidade e descia sem tréguas para o bairro da Ribeira. Quem se dirigia ao
hospital encontrava uma trágica situação. A enxurrada não permitia os
transeuntes a andar pelo acostamento do Hospital. Em grande parte, o calçamento
tinha sido desfeito. E na rua logo abaixo caminho para o bairro da Ribeira, não
havia calçamento. Os veículos desciam uma rampa até a Rua Condor e ali voltavam,
pois para além só existia uma enorme cratera com plantio de mato onde as
pessoas, indo à pé, caminhavam pelo acostamento, quando era tempo de seca. As
ambulâncias da Secretaria de Saúde tiveram mesmo de ser dirigida para Rua Nilo
Peçanha, única existente de acesso mais rápido ao pronto-socorro. A prestação
de atendimento era para alguém ferido ou em desmaio afetado pelo terremoto
daquela hora. Eram visíveis na rua principal da Cidade e nos bairros da
Ribeira, Rocas, Alecrim e pontos mais distantes pessoas caídas entre muitos
outros casos. Casas e prédios desmoronavam a um único instante. As poucas
ambulâncias não conta desse contingente. O povo a clamar por ajuda a outras
vítimas desse verdadeiro holocausto. A fiação dos postes da rede elétrica se
rompeu por completo com o estremecimento degradante. Em outros segmentos da
Capital houve igualmente o rompimento dos dutos e a consequente falta de água
nas residências. Tudo isso era o clamor do Céu.
Povo:
--- Castigo,
Nosso Senhor! Castigo! – relatava enlouquecido o povo a correr para qualquer
lado
Os anciãos
eram os mais temerosos por questões de saúde. Era gente a pedir ajuda a
qualquer um no meio a atribulação vivida por todos. Os mendigos eram os mais
sofridos. E qual a pedir uma ajuda a quem intempestivamente passava. E eram
muitos na atual situação. O Mercado Público da Cidade Alta se tornara em um
abrigo de toda sorte de gente. Como não havia iluminação elétrica por conta do
rompimento da fiação dos postes, no Mercado existia tão somente a iluminação
feita por lamparinas, candeeiros e velas. E era naquele ermo local um
verdadeiro tumulto de pessoas aflitas a procura do nada. Do bairro da Ribeira
seguiam carros ou mesmo caminhonetas a levar pessoas enfermas para o Centro de
Cura do Hospital “Miguel Couto”. E nesse zum-zum-zum carros e gente transitavam
sem parar. Quase o local não cabia mais
de gente enferma. E naquele local o drama ainda era maior, pois médicos e
enfermeiros transitavam feito louco para acudir quem estava internado e para
quem chegasse. As pessoas entre a lama do duto estourado a despejar para
qualquer local eram vítimas recentes. Se houvesse tempo de se avistar a Avenida
Atlântica podia-se enxergar o volume de água a cair do aterro formando uma
cachoeira a enxotar os poucos moradores da Rua do Motor e suas imediações.
Alguém:
---Loucura!!!
– dizia um homem a correr desenfreado em busca de ajuda.
As sirenas das
ambulâncias do hospital tornaram a tocar de forma normal e os motoristas
seguiram com pressas para os diversos bairros da Cidade onde havia maior
contingente dede vítimas. Enquanto isso, quase uma hora depois, chegou ao
hospital o senhor Sisenando a procura da enfermaria onde se encontrava a sua
filha. Era gente demais em tal ocasião. A atendente nada podia fazer. Alguém
com precaução e de imediato se prestou a declarar do senhor Sisenando e lhe
mostrou o caminho. O homem estava plenamente coberto de barro por conta do
lamaçal do duto da Caixa d’Água. Além do mais a barulheira dos carros a chegar
apinhados de gente enferma. Na hora quando Sisenando se acercou do apartamento
de Nara, foi justa a hora quando Nara saiu do involuntário sono. Apesar de
estar o médico, sua mãe, seu filho e a auxiliar de enfermagem em volta da sua
cama, à única pessoa por ela a notar foi à enigmática imagem do pai. A virgem
nada fez. Ela apenas focou em Sisenando. E por alguns segundos Nara quis saber:
Nara:
--- Quem é
esse homem sujo? – indagou alarmada a moça.
E todos
olharam de uma só vez. Dona Ceci foi quem se esforçou em falar.
Ceci;
--- Velho? Que
traje é esse? – indagou perplexa a mulher.
Então foi
quando Sisenando notou o estrago de sua roupa. E por vez passou o pente no
cabelo como se o pente resolvesse a questão. Em seguida declarou:
Sisenando;
--- Terremoto!
A terra voltou a tremer!. Muita gente!. Eu apenas tive sorte!. Casas
desabaram!. Os mendigos estão de dá dó pelas esquinas das ruas!. Nem sei
explicar como em estou aqui! -explicou de uma só vez o velho.
Eurípedes:
--- Terremoto
dos diabos! Toda a Terra está por vez tremendo!. Não foi como o primeiro! Mas
foi gigante! – relatou o homem enquanto vidros de medicamentos tilintavam no
armário.
Um enfermeiro
pôs a cabeça na porta e chamou pelo médico em uma medida urgente. O doutor
pediu licença a quem estava e foi saber do assunto. Por constante forma a nívea
Nara despertou e disse a alguém ter ela estado acordada todo esse tempo. A sua
mãe respondeu:
Ceci:
--- Tu
dormiste um pouco. - respondeu a mulher.
Nara:
--- Tudo
caído! – disse a virgem ao notar o ambiente quase acabado.
Sisenando:
--- Um sismo!
Muita gente ferida! Um motorista falou em mortos! – enfatizou o velho.
Nara:
--- Tremor de
terra? Mas o senhor está sujo! Que foi? – indagou estranhando a cara do pai.
Sisenando:
--- Tem muita
gente pelo interior do Hospital! Doentes! Quase mortos! – declarou o seu pai.
Depois da
declaração do seu pai, Nara se lembrou da razão de está esse tempo desacordada,
da menstruação e até do terremoto não ouvido. O soar das sirenas fez a moça se
lembrar do Hospital. Enfim, de tantas coisas de não ter ouvido falar por
alguém. Daí em diante Nara foi recobrando os seus sentidos e ambientando-se na
cama onde estava. A virgem estirava seu corpo em ligeiro desconforto enquanto
perguntava a seu pai:
Nara;
--- Chove? –
indagou a virgem.
Sisenando:
--- Não. Um
duto estourou. A Caixa d’Água despejou para cá. – afirmou o velho.
Nara:
--- Caixa? –
indagou a estranhar a virgem.
Sisenando.
--- Sim. Uma
que tem aqui na subida da praia. – explicou.
Nara:
--- Ah. Já
sei. Minha cabeça é que não funciona. – sorriu a moça
Ceci;
--- É melhor
repousar. E velho? Fica assim? – indagou Ceci ao marido.
Sisenando:
--- É o jeito.
Se houver ainda a minha casa, eu vejo se eu as mudo. – sorriu desfeito.
Ceci;
--- Casas
caídas? – indagou perplexa.
Sisenando:
--- Sim. Não
sei quantas. – afirmou o velho.
Ceci;
--- Nossa!
Será que foi para os lados da rua onde moro? – indagou preocupada.
Sisenando:
--- Não sei.
Creio que não. Foi mais para baixo ou nas Rocas, Alecrim....- discorreu o
marido um pouco preocupado.
Ceci:
--- Eu acho
que vou ver! – atemorizou a mulher.
Nara:
--- E meu
filho? – indagou a virgem batendo suave na cama.