sexta-feira, 19 de abril de 2013

"NARA" - 41 -

- Mariana Ximenes -
- 41 -
TREMOR
A Terra tremeu naquele instante afetando sobremaneira moradores de Natal. O médico Eurípedes estava se dirigindo para o anfiteatro do Hospital quando sentiu abalo forte. Por alguns segundos, não mais que oito, ele viu todo o edifício rodar e os objetos a cair para todo canto. Natal estava numa época de sismo. Ninguém podia prever o acontecido. O novo abalo ocorria no tempo quando o médico se dirigia para fazer palestra aos novos estudantes tendo deixado sua noiva Nara em um apartamento em recuperação de uma forte crise menstrual. O médico já receitara medicamentos e esperava de momento o restabelecimento da moça. Não era nada de risco, aventava o medico. Com o abalo, Nara estava a dormir e sua mãe seguia para o jardim do Hospital após ter falado com o seu marido, Sisenando. O homem ficou de estar no Hospital “Miguel Couto” antes de concluir o primeiro expediente da repartição. Contudo, o tremor mudou o rumo das pessoas. O abalo, de certa forma, foi tão forte que uma auxiliar de enfermagem derrapou no chão e parou em um choque contra a parede de prédio. A própria mãe de Nara se aguentou a segurar Neto, o seu protegido daquele instante e procurou apoio em qualquer lugar temendo tudo a sua volta, pois o abalo Ceci já sentira outro um pouco semelhante quando saiu na correria a buscar abrigo no Convento franciscano onde outro pessoal também buscava. Do ultimo abalo, ou pelo menos o inicial, a Prefeitura quase ou nada fez na recuperação dos estragos provocados nas partes de repartições ou mesmo nas casas mais antigas da capital. A cidade vinha sofrendo constantemente os efeitos dos sismos de um modo bem frequente. Desde o último sismo, com repetição a vários outros, os homens do interior buscavam mesmo até água para dar ao gado, pois as chuvas não ocorriam de modo algum. Sem chuva não havia água das cabeceiras dos rios. E na capital do Estado eram os sismos a ocorrer. O transporte de cargas por caminhão era de certa forma prejudicado desde o primeiro sismo. E ainda se temia pelo poder dos tremores quando a terra sacudiu novamente. De imediato alguém sentiu a terra a vibrar e já estava se acostumando com esses terremotos regulares. Mesmo assim, o novo abalo ocasionou problemas diversos tendo sido sentido em vasta área da cidade e em cidade vizinhas. Até aquela data ainda estava em vigor o toque de recolher em certas horas da noite. E em decorrência o novo sismo veio a afirmar serem tão necessário como antes se alertar as pessoas e proteger a saúde das empresas do comércio e da indústria. Mas isso era o dever posterior. O caso era o abalo naquele instante. Por isso nem adiantava se referir ao que estava por vir. O caso do Hospital era tão grave como os demais da Capital. Os médicos e estudantes calouros do curso de Medicina entraram em polvorosa quando sentiram seus pés abalarem. Formou-se uma correria para qualquer canto em busca de uma saída onde os estudantes pudessem se proteger de algo anormal. Foi uma celeuma atroz mesmo com alguém a gritar:
Alguém:
--- Calma turma! Calma! – dizia um professor a sair do anfiteatro.
Mesmo assim, não havia forma de se conter a fúria dos estudantes. Eles queriam era sair. E com eles levaram carteiras, bancas e tudo mais. O negócio era sair do anfiteatro para qualquer espaço. No apartamento onde estava desacordada a paciente Nara, noiva do médico uma auxiliar de enfermagem foi ao solo como por encanto pondo a moça ao desespero. Tudo balançava no interior do apartamento, desde o lustre sobre a cama até mesmo as ampolas de injeção postas em uma mesa de ferro em um canto de parede. A cama onde Nara conciliava o sono balançou com ímpeto rodopiando em seus pés. O suporte e a bolsa de soro vieram ao solo. Caixas de medicamentos voaram ao leu como a se escapar em derradeiro impacto. De apartamentos em frente, vieram de imediato aos borbotões os outros objetos guardados nos seus armários. A moça telefonista se agarrou com força ao sentir o terremoto. As sirenes das ambulâncias alarmaram como se alguém mandasse perpetrar aquele sinal. Era um verdadeiro tumulto no interior da casa de saúde. Um clamor do Céu. A correria foi constante de um lado para outro com as enfermeiras e auxiliares a esbarrar uma na outra sem saber de fato o mais ser feito. Motoristas alarmados gritavam o poder e não poder. Doentes caíram de seus leitos e a pedir amparo. Por fim, o médico Eurípedes, quase ao vir ao solo, se aprumou de vez e caminhou para o apartamento de Nara passando de imediato por sua futura sogra e o menino, ajudando-a a se soerguer de forma pelo menos com muito esforço.
Eurípedes:
--- Vamos! Segure-se em mim! Assim! Depressa! É um sismo e dos maiores! Siga-me! – falava com vexame o médico.
A mulher a segurar o garoto se aprumou e tentou seguir o seu futuro genro entre o meio de muita gente a correr para um lado e outro e a gritar frenética com temor da tragédia. E assim, os dois saíram a cambalear por entre rumas de estragos vindos de qualquer ponto. Outro médico gritava às enfermeiras e auxiliares ter cuidado com os pacientes, pois muitos estavam a cair dos seus leitos. Eram médicos e enfermeiros a sair para qualquer canto com a terra a tremer em seus pés. Essa tragédia durou por vários tempos onde não sabia quem era quem. Todos estavam metidos num torvelinho de consequências imprevisíveis sem proteção alguma. Entre o meio de toda gente Eurípedes conseguiu entrar no apartamento onde foi encontrar a auxiliar totalmente estabanada a procura de repor a todo custo em seu lugar à cama na qual Nara se encontrava. Nessa ocasião o médico ajudou a repor a cama no seu devido lugar e dona Ceci ficou apenas a observar o esforço dos dois sem poder ajudar em nada. O vento forte açoitou o tempo provocando o maior desespero naqueles que ainda percorriam com macas ou não a socorrer alguns doentes prostrados no chão dos quartos onde alguém colocou alí. Era mais os indigentes uma vez que os em melhores condições financeiras tinham ao lado sempre uma auxiliar a proteger. Nesse ponto, as Freiras a prestar assistência aos doentes corriam cada qual como podia e se apressavam em cuidar de algum enfermo. Na verdade, tinha doente no final da vida esperando tão somente o dia de sua morte. Alguns desses enfermos nem sequer tinham roupa usando tão somente os trajes rotos do Hospital. As Irmãs cuidavam do setor, de modo especial, da capela e de forma geral dos acamados e das mulheres a dar à luz aos seus rebentos. Essas Irmãs se dividiam entre o Hospital e a Maternidade “Januário Cicco”. Na hora do tremor de terra eram as Irmãs as mais sofridas a se deslocar de um lado a outro. Não foi com muita graça que algumas dessas Irmãs chegaram a cair ao solo por conta do habito a usar. Traje longo, todo preto a cobrir das Freiras da cabeça aos pés. Freiras tinham novas, de idade variada entre vinte e mais de setenta anos. As mais idosas ficavam sempre no Retiro. Mesmo assim, o tremor abalou todos os setores do Hospital bem como de outros locais da Cidade. A estação de telefonia ficou muda com o abalo. Na capela houve Imagens de Santos jogados ao piso. Na verdade, foi um verdadeiro terror sofrido por toda a gente daquele nosocômio.
Operário:
--- É o fim do mundo! – gritou um operário a correr desenfreado para se esconder em algum canto qualquer.
Gritos, lamúrias, expressões de medo e tudo o que se podia imaginar ocorria a um só tempo naquele hospital. Uma mulher que estava a esperar a hora pôs a criança para fora da barriga pelo terror formado naquele instante. E nem esperou por qualquer parturiente. Foi de um só instante. Macas caídas, berços aos montes, tudo empilhado ou desempilhado em algum canto de parede. Foi um horror tudo aquilo a se poder notar. Choros e lágrimas, gritos de dor e de desespero. Correria às tontas. Era um hospital em alvoroço. É bom lembrar: tudo isso em um só minuto. O homem da casa funerária caiu dentro da urna como um molambo e foi ao barro com urna e tudo. Flore se grinaldas se amontoaram em cima do caixão.  De tanto terror a ficar o homem nem saiu de dentro da urna nos seus primeiros instantes. Ouviu-se um baque surdo e abafado para os lados do necrotério. Era o de um cadáver. O defunto de imediato rolou ao chão arrastando consigo tudo o existente no local. Água turbilhoava pela calçada aos montes. Era de um cano rompido naquele instante. A  água entrou pelo necrotério formando imenso lago e arrastando o cadáver para fora. Homens passavam de um lado para outro e nem dava fé no cadáver. E se dava nada importava. Cada qual pensasse depressa;
Um:
--- Terremoto? Ai meu Deus! Meus filhos! – fala alguém com muita tormenta.
Dois;
--- Minha mãe! Pelo amor de Deus! – alarmava outro.
Três;
--- A casa vai desabar! – falava ao desespero um terceiro lembrando-se da tapera.
E todos assim corriam de um lado para outro com o chão a tremer nas suas bases. De repente, um estrondo. Uma imensa adutora a abastecer a Caixa de Água da Avenida Atlântica se rompeu de imediato e transbordou para as moradas de baixo com imensa turbulência e seguindo para o local onde se erguia o Hospital e dali para a Maternidade a ficar embaixo da rua. Um Bonde foi tragado pela força das águas e desencarrilhou se virando como se fosse um brinquedo. Poucos carros a circular pela rua ficaram emborcados devido ao transbordamento da adutora. A parte da balaustrada suportou a imensidão das águas, porém serviu para despejar para a Rua do Motor tudo o podia ser feito.
Enquanto isso, no apartamento onde Nara estava o médico Eurípedes auscultava mais uma vez o ritmo cardíaco da paciente enquanto a auxiliar removia todos os entulhos para um canto de parede. Dona Ceci, preocupada com seu neto. O menino não parava de chorar enquanto a algazarra continuava pelo lado de fora. Um médico, espantado, estirou a cabeça para dentro do apartamento e logo retirou. A mulher fazia todo esforço para confortar o seu neto. O medico a olhava e depois ainda preocupado com a saúde de Nara dizia algo por ninguém entendido. Nesse instante entrou no apartamento uma enfermeira a solicitar ajuda para um enfermo. O homem a olhou e não disse nada. A calamidade implantada era enfim absurda. Doutor Eurípedes recolheu o material e seguiu de imediato a enfermeira alertando enfim a sua futura sogra.
Eurípedes:
--- Volto já! – disse o médico angustiado.
A auxiliar procurou algo e não encontrou. Cruzou as mãos nas ancas e prognosticou:
Auxiliar:
--- Pronto! E agora? – falou sobressaltada a moça.
Um moço penetrou no apartamento e indagou:
Moço:
--- Onde está o médico? – perguntou alarmado.

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