- Charlize Theron -
- 32 -
TERREMOTO
Na segunda
feira, por volta das 9 horas, chegou à residência de Nara o seu noivo,
Eurípedes com o intuito de receber aulas de piano dadas pelo professor França,
conforme o combinado. O professor ficou com acerto de prestar aulas dia sim,
dia não. Além de sorrir a contento por ter aulas de piano Euripedes também
estava com outra lembrança no bolso do seu paletó: um par de alianças de ouro.
Ele nada falou. Apenas, com o abraçar e beijar de Nara, o rapaz logo após lhe
deu a encantadora joia e solicitou ter a moça o direito de colocar em seu dedo
anular da mão direita. Beijos e carícias foi o prolongamento das eras. Mais um
pouco chegou à casa o professor França aparentando cansaço e calor. A manhã de
segunda-feira era mesmo de muito calor, pois àquela hora matinal já era quente
o dia, apesar de ser ainda muito cedo. O homem do carvão passou em sua marcha a
levar seus dois jericos apinhados de
sacos. Para mostrar a sua tendência o homem oferecia a cada instante:
Carvoeiro:
--- Carvão!
Olha o carvão! Carvão! – falava alto e bom som.
Logo atrás
vinha o rapaz do sorvete a oferecer a delícia da manhã para quem quisesse. Uma
mulher saiu da sua residência preocupada com a hora. E olhou para a residência
de dona Cecí, para calcular se a mulher estava em casa ou não. Qualquer coisa a
mulher teria a falar com dona Cecí. Embora preocupada, a mulher saiu quase
correndo para não perder a hora na repartição e resolver algo de todos os meses.
O barulho do avião se misturou com o de um automóvel a passar em outra rua. O
homem gordo do balaio trazia as compras de alguém e desceu a ladeira da rua com
seu andar alquebrado. Dentro da residência de Nara, estava o professor
enxugando o suor a brotar de sua testa aos poucos momentos do dia. E pediu água
a Nara. Algo surpreendeu os cães da rua. O latir de todos punha as pessoas ao
nervosismo Um ruído fez as telhas de a residência tremer. Ao mesmo tempo um
barulho intenso fez vibrar o chão. Parecia com um trem de carga ou de vários
caminhões a passar em outra rua. O professor sentiu ao mesmo tempo algo de
anormal em seu pescoço. De repente algo lhe fez pensar:
França:
--- Estrondo?
Onde? – inquietou o homem a indagar.
Oito segundos.
Um abalo sísmico estremeceu toda a casa e outras casas mais adiante. O berço do
menino correu o chão. A casa toda sentiu o forte tremor. Dona Cecí estava em
sua máquina de costura e viu os carreteis de linha correr para o lado. A
própria mulher se desequilibrou. Nara tombou à mesa. Seus copos caíram desordenados. Tudo
estava se transtornando em sua volta. O mundo todo ruiu. Eurípedes gritou de
vez:
Eurípedes:
--- Terremoto?
Meu Deus do Céu! – e tombou para o sofá.
Do piano ouvia-se
uma música misteriosa. Naquele instante a tragédia era o caos. Dentro de casa
dona Cecí olhava atenta para todos os lados. Por fim misteriosamente falou de
vez:
Cecí:
--- Deus meu!
– disse a mulher procurando ver o céu de qualquer maneira.
Tudo era
pânico na moradia de Nara. A moça cambaleou para um lado e para o outro com se
estivesse tendo uma impressionante vertigem. Com o berço a transitar pela sala
da moradia e o pequeno menino a chorar, não se sabia por qual motivo, Nara
procurou segurar o berço como pode, mesmo a estar distanciado de suas mãos para
dar amparo ao seu filho amado. Dona Ceci, completamente atordoada com a tormenta
buscava se apoiar com segurança para não ir ao solo. Na sala, o professor
França tombou por cima de Eurípedes totalmente sem ter noção do ocorrido. O
terremoto causou estragos em toda a moradia bem como nas outras casas ao largo
da rua e em outras ruas de Natal. Um estrondo repentino se ouviu em pleno morro
do Tirol, o já chamado por antigos moradores como sendo o Morro do Estrondo.
Mais para o lado norte da capital o tremor de terra ou maremoto abalou com
maior força o mar, o qual se soergueu de forma brutal como uma fera uivante e
faminta. Os barcos de pescas ancorados no rio Potengi eram largados como folhas
jogadas ao vento. O mar terrível se
avolumou de instante em assustado rigor penetrando terra adentro. Nesse ponto,
quem estava por sua casa nada sabia do havido por longos trechos de Natal. No
momento do terremoto o caso se atinha a residência de Nara. Contudo, o terror
vertiginoso se espalhou depressa por toda a rua com mulheres meninos e moças a
correr desesperados em busca de alguma proteção em qualquer ponto sendo o
Convento de Santo Antônio o principal refugio. Era um alarido atroz de choros
entre adultos e infantes. Em plena rua, na frente da moradia de Nara algo bateu
com força. Era o automóvel do jovem Euripedes. O veículo veio aos trancos e barrancos
posto para o interior da moradia. Com o baque o carro forçou entrar. E nesse
tal momento o jovem procurava se desvencilhar do corpo do professor França.
Esse por sua vez, fazia o mesmo ainda sem noção do ocorrido. Gatos e cães
saíram em desespero a penetrar por qualquer canto. Os cães vira-latas foram os
primeiros a notar o rigoroso barulho do ameaçador terremoto como a correr rua a
fora desenfreados a latir por algo desconhecido. No quintal de Nara apenas o
galo fez um barulho curioso com o seu gorgolejar. Na rua, um burro, arrastando
sua carroça passou desenfreado a relinchar. Tudo isso ocorreu no mesmo tempo. E
mais alguma coisa como o descarrilhar do trem próximo a Tração, ponto de se
trocar a posição das locomotivas. Tudo isso veio a se saber após. No instante
apenas a tragédia na casa de Nara. Aos primeiros minutos quando tudo se acalmou
os moradores da casa se levantaram de seus lugares apoiando-se no local mais
perto possível para então refazer as suas ideias. E não foi apenas isso. Quando
todos já estavam a se levantar dos escombros da moradia veio o pânico
generalizado. Como outros moradores da rua, o pessoal de Nara – filho, avó,
noivo e professor – tiveram então o terror por companhia. E então, todos
correram também para o meio da rua passando sobre o automóvel de Eurípedes
caído de encontro à parede da casa além de outras trágicas noticias declaradas.
Cada um que disse o que mais lhe vinha a cabeça.
Moradores:
--- É o mundo!
É o mundo! Vai todo mundo morrer! – diziam os desesperados em fugaz alarme
No seu
caminhar apressado, com o menino nos braços dizia a qualquer custo.
Nara:
--- Depressa!
Depressa! A casa pode cair! – declarou alarmada a moça.
O seu noivo
vinha logo atrás e em seguida o professor França. Dona Ceci teve de buscar o
galo, pois queria salva-lo da hecatombe anunciada. Na rua cheia de gente, já
estavam moradores, todos desatinados e cada um querendo dizer ter sido um
fantasma em plena manhã estival. Mais para frente o Convento já recebia os
fieis ou não para acudir e dar amparo. Nada se sabia ao certo de haver um
terremoto em plena manhã de sol. Cada um queria ser o primeiro a se confessar
dos pecados, pois é hora de se entrar no Céu como prometera o Senhor. E podia
se notar dezenas de pessoas, velhos, moços e crianças a procurar o protegido abrigo
do Convento dos Frades Capuchinhos. E era um alvoroço só para os Frades
Capuchinhos aguentar tanta celeuma. Crianças a chorar demais. Velhos a pedir
qualquer proteção. Moças a se lembrar do namorado. Mulheres a querer despejar
seus agoniantes pecados. No meio de tanta gente, vinha Nara com seu filho nos
braços a correr seguida do seu noivo e de sua mãe. O professor, nem se sabia
com quem estava, pois se perdera na multidão. Os estrondos continuavam a ser
ouvidos a todo instantes para os lados do Tirol. Um mundo de gente vinha de
trás do Convento onde dezenas de pessoas residiam. Todos da região do Paço da
Pátria e ruas próximas para o lado direito de quem desce naquela direção. A
feira do Paço já não existia mais. Mesmo assim, tinha os seus moradores. As
casas de palafitas já não representavam mais, pois a forte maré de alguns dias
passados já as destruiu de uma só vez. Mesmo assim, havia moradores da parte de
cima do muro de pedra em direção à Cidade Alta. Gente sofrida e temerosa, essas
pessoas já vindas de remotas eras. Nessa parte alta da cidade morava gente rica
misturando-se assim a mísera pobreza indigente. No entanto, todos estavam à
deriva dividindo espaço, apesar dos mais fortes querer as promessas feitas em
primeiro lugar pelos óbolos dados. A imensidão era cada vez maior entre pobres
e ricos. Na Igreja de Santo Antônio, onde era o Convento, anciãos e mendigas
disputavam espaço pelo lado de fora do Templo ao tempo em que pediam socorros
aos que estavam apressados a chegar. Eles estiravam apenas a mão a pedir uma
esmola pelo amor de Deus. Era tanta confusão formada por conta do arroto dado
pelo de terremoto e bastantes pessoas a chegar às tontas onde não mais havia
espaço para se abrigar tamanha gente. Meninas a levar suas bonecas de pano.
Gente maior a tremer de pavor sem saber ao certo o que fazer. Mulheres ao
desmaio, ruas tomadas por população desatinada. Não se sabia de quanto era a
magnitude do sismo e pouco importavam em saber. Gente ferida era o mais
frequente. No instante, Eurípedes tomava conta desses socorros aos indigentes
sem saber ao certo quem era a pessoa a cuidar. O sismo provocava réplicas a
cada instante. Nas casas próximas muros desabavam a deixar as suas vítimas.
Eurípedes não procurava saber se esse era o maior sismo ocorrido em Natal, pois
não dava tempo para o médico pensar em suposições de tal natureza. Os danos e
vítimas eram a maior preocupação do médico. E não se ouvia falar em primeiros
socorros, uma vez toda a cidade estar em pânico. Carros encalhados, batidos,
uns sobre outros. Uma confusão tamanha. E o sismo a continuar pelos lados do
Morro do Tirol, o chamado Morro de Estrondo. Vagas enormes lavaram a costa de
Natal, a penetrar pelo Forte dos Reis Magos e praia da Redinha a seguir pelo
Rio Potengí. No bairro da Ribeira, o rio entrou pelas ruas de acesso bem como
também pelo Canto do Mangue e afetando as Rocas sobremaneira. Tudo isso
acontecia há um tempo só. E o povo pobre e ricaço ao desespero reclamava por
misericórdia em todos os locais por onde passava. Todos e de uma só vez. Na
verdade, era um pandemônio o existente. Apenas a parte alta da cidade era a de
melhor aceite para essa tumultuada população. Ouvia-se dizer ter o Governo
autorizado se ocupar o terreno ao lado do Palácio onde havia casebres de gente
paupérrima. Mesmo assim, não se tinha noção da retumbante calamidade. Ouviam-se
apenas os dolorosos gritos a enormidade de gente a clamar por socorro.
Gente:
--- Por favor.
Acudam-nos. - diziam os que chegavam aos improvisados pontos de atendimento
Outros:
--- Minha
filha onde está? – clamava alguém a procura a sua filha.
Alguém:
--- Vou
morrer! – gritava uma mulher ao desespero.
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