- Quadro de Madalena gravida -
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Marta Rocha se esqueceu de até mesmo de dormir naquela noite lendo com voraz atenção tudo o que diziam os livros postos no birô por Armando Viana. A avidez da moça era de tudo o qual mais trazia os novos lumes sobre o Santo Graal ou Maria Madalena. Ela ficou pasma ao ler ter sido Jesus (histórico) casado de verdade com Maria Madalena e eles tiveram vários filhos e então migraram para a região do sul da França. E ambos formaram amizades com as famílias nobres criando uma sociedade secreta. Dizia-se ter sido a tal sociedade sido conhecida em anos depois e Jesus continuou a pregar a sua doutrina formando assim uma espécie de religião cujo teor tempos depois veio a ser o catolicismo. Nas publicações chegaram a ser dita ter Jesus percorrido toda a região da Gália conhecida depois simplesmente por França. Os filhos de Jesus e Maria Madalena estiveram com os seus pais por longos anos. A filha, Sara, fez vocação de não descobrir sua face perante toda aquela gente. Os descendentes do sangue real de Jesus, por ser ele um verdadeiro Rei e a sua mulher uma verdadeira Rainha ainda vivem nos dias atuais. Jesus morreu já bastante idoso, tendo sido sepultado em uma terra da Índia, para onde foi a pregar a sua nova religião. Madalena morreu na Gália e a mãe de Jesus, Maria teve sepultamento em terras onde se chama atualmente Bangladesch. Por determinação de Jesus, os restos mortais de Maria mãe chegaram a ser sepultados no mesmo local em que, um dia foi sepultado Jesus. Com relação ao Santo Graal, é evidente ter sido apenas Maria Madalena filha de uma tradicional família cujo percursor foi Benjamim uma das doze tribos de Israel.
Madalena deixou o seu Evangelho onde ela declara ter Jesus não deixado normas, pedindo somente que levassem o que ele mostrou na sua prática de amor incondicional. No seu Evangelho Maria Madalena também apresenta ensinamentos de Jesus, que não foram passados para os outros discípulos ou não compreendidos por eles. “O reino de Deus está dentro de cada pessoa e que é necessário para se mantiver em equilíbrio”. Diz Madalena ter Jesus proclamado “não haver pecado; sois vós que os criais, quando fazeis coisas da mesma espécie que o adultério, que é chamado ‘pecado’”. A cada passo, Marta Rocha ficava cada vez mais admirada com as declarações reveladas pelos livros, muitos dos quais revelados com os achados do Mar Morto. Já era manhã e Marta Rocha não cabia de emoção por tudo aquilo revelado. Armando Viana estava acordado pela manha e visto a moça ainda lendo os livros. Ele então perguntou:
--- Ainda está lendo os pergaminhos do Mar Morto? – indagou Armando a Marta em sua mesa.
--- Não tive sono. Até porque esses livros tem muito que contar. – sorriu Marta abrindo a boca sonolenta.
--- Você verá ainda, Jesus e a Ordem dos Essênios, depois dos treze anos. Os Manuscritos do Mar Morto são leitura essencial para se compreender Jesus como um ser humano. – sorriu o rapaz ajeitando a sua gravata.
--- E tem isso aqui? - perguntou a moça surpresa de tanta história.
--- Essênios, Jesus, Qumran, Judéia! – sorriu Armando procurando o seu paletó.
--- Eu vou ler até o último livro. – declarou Marta abrindo a cada vez mais a boca.
--- Cuidado! Tem muita coisa para se ler. Vá dormir agora. – sorriu Armando passando a mão na cabeça de Marta.
--- Estou sonolenta mesmo. Nem a Prefeitura eu irei, hoje. – sorriu Marta aprumando-se de pé para tomar banho e então dormir.
Um mês depois daquele emocionante momento chegara o dia 1º de janeiro data da posse do novo Governado do Estado, Targino Oscar de Almeida. Era um dia de festa total. Em frente ao Palácio do Governo era armado um palanque. Grupos folclóricos e musicais se faziam presente a parte do meio dia com danças típicas e musicais regionais. O povo tomou conta da Praça empunhando bandeiras desde parte da manhã. Era um mundo de gente. Fogos de artifício eram ouvidos de várias partes do local festivo e a gritaria da gente entusiasmada com apoio popular e gritando modas improvisadas enaltecendo a “rapadura”.
---Olé. Olé, olá! Rapadura pra este povo ajudar a governar. – cantavam os amigos do eleito.
Carros a buzinar passavam a todo instante pelas ruas próximas ao local do evento com as suas bandeirolas desfraldadas. O dia 1º de Janeiro era feriado nacional. Por isso não havia expediente no comercio, indústria e nas repartições públicas do Estado, Município e Federais, salvo os serviços considerados de urgência ou mesmo os serviços de caráter imprescindíveis. O rádio e os jornais colocaram suas equipes para colher melhor o acontecimento. Ao passar do tempo mais gente chegava a praça a espera da solenidade da posse e transmissão de cargo ao novo Governador. Segundo fora divulgado, a solenidade de passagem da faixa seria feita pelo vice-governador demissionário porque o Governador do Estado não estava em boas condições de saúde. Quando o relógio marcava as dezessete horas uma estrondosa salva de fogos de artificio tomou conta do palanque e o povo a gritar delirante:
--- Viva a rapadura. – gritava o povo emocionado.
A faixa foi passada para orgulho do novo Governado Targino Alencar. Bastante emocionado, com os braços levantados em forma de V Targino agradecia a manifestação popular. E os fogos espocavam cada vez mais a todo instante. Ninguém percebeu um disparo feito de cima de um prédio de três andares em direção ao peito do novo Governador. Apenas se ouviu um eco de um homem a cambalear e cair para trás. Os seguranças ampararam o Governador ferido sem saber que fora feito contra o homem.
--- Segura! Segura! O Governador está ferido!. Depressa! Ajudem! – gritou um segurança.
Um tumulto se formou em plena praça e no Palanque com as pessoas correndo para ver o sucedido enquanto outros, no próprio palanque, gritavam baixo com a mão na boca:
--- Ai meu Deus! Atiraram no Governador Targino! – diziam assombrado alguém do Palácio.
--- Corre! Depressa! Um carro! O hospital! Depressa! – rogavam os seguranças do Governador.
Mesmo assim, o tiro foi fatal. Apesar de ser socorrido às pressas, o Governador Targino estava sem vida desde o instante em que foi tirado do Palanque Oficial do Governo. Gritos estridentes do povo; correria para um lado e para outro, algazarra total dos participantes da festa; bandeiras esmigalhadas do partido caídas em meio ao chão; rapadura sendo levada pelos pés dos apressados e com temor: isso era tudo o que se formou na praça em frente ao Palácio do Governo. Ate mesmo buques de rosas eram postas para o além dos participantes.
Um vulto não visto saiu do prédio de três andares com sua escopeta com mira telescópica enrolada por um pano. Ele saiu devagar como se nada tivesse feito de mais. Um bêbado estava perto do prédio e viu quando o homem saiu do local. Mesmo assim, nada falou. O bêbado vinha cambaleante e permaneceu continuada a sua marcha. Ele ainda se virou e olhou como se nada visse para o atirador de tocaia. Apenas havia o sonoro espocar dos fogos a despeito de se mandar parar de imediato.
--- Parem os fogos! – gritou alguém que comandava o tiroteio.
O sepultamento do Governador Targino Oscar de Alencar aconteceu no dia seguinte depois de um velório que durou a noite toda e o dia seguinte. Uma Missa de corpo presente ao som de uma marcha fúnebre foi celebrada pelo Bispo da Capital ajudado por demais padres. O cortejo fúnebre saiu do Palácio até o cemitério da Capital, em profundo silencio. Apenas se ouvia a Banda de Musica da Policia Militar a executar os acordes de uma Marcha Fúnebre de forma quase cansativa. A esposa de Targino Almeida estava presente a todo o velório. Ela era acompanhada por dois filhos e uma filha de Targino. Ainda estavam presentes também amigos, parentes e políticos do recém-empossado Governador. O Bispo seguia na frente logo atrás do féretro em companhia da primeira dama e seus filhos ao entrar no cemitério. O sepultamento se deu ao toque de um clarim entoando um canto tormentoso.
No dia seguinte foi empossado o novo Governador do Estado, Alcebíades Monteiro para os quatro anos de mandato. O Jornal A IMPRENSA divulgou o fato com toda a cerimonia e no mesmo tempo iniciou a busca pelo matador o Governador Targino Almeida tendo à frente a equipe de investigação da Polícia Civil. Foi no Mercado Publico onde Armando Viana tomou conhecimento de um pormenor: um bêbado viu um homem saindo de um prédio vizinho ao Palácio no dia e hora do assassinato.
--- Quem era o bêbado? – indagou Armando a quem falou.
--- Ele vive por aqui. É um bêbado. – disse o homem do café.
--- E o senhor tem visto esse homem? – quis saber Armando insistentemente.
--- Quando eu vinha para o Mercado ele estava dormindo debaixo de uma mangueira, ali fora – relatou o homem que começou a conversa.
--- Se é aquele que estou vendo. ....- relatou Canindé olhando para o bêbado adormecido.
A toda pressa, Armando e o homem que viu o bêbado falar quando estava acordado.
--- É ele mesmo. Tente acordá-lo para ver se ele diz o que viu! – relatou o homem de olhos arregalados.
Outras pessoas chegaram até o homem adormecido e um deles disse:
--- Eu o conheço. É Zé Bodega! Juro! – relatou outro homem do café.
E a mulher do café do alto do mercado ainda perguntou:
--- Ei, suné. Não vai pagar o cuscuz, não, cafajeste! – perguntou com toda a voz dona Gloria
E todos acharam graça com a cobrança de dona Dalva no meio daquela altercação.
A polícia foi de imediato acionada e levou o bêbado ainda sem ao menos acordar direito e nem sabendo por que estava sendo levado para onde e por quem. Ele apenas entoava uma breve canção e perguntava assim mesmo;
--- Para onde nós vamos? Vocês sabem quem sou eu? Eu sou José do Patrocino. (hic). Todos me conhecem... (hic)... Na cidade... (hic).
E mesmo assim, o bêbado foi levado até a delegacia do Primeiro Distrito para onde lhe deram um banho até ele curar a ressaca. O pessoal que o acompanhou sorria como não mais tivesse modos.
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