- Susan Hayward -
- 15 -
E depois de mais umas aulas de montaria a moça findou por obedecer a Glauco e montou no cavalo passando a mão no seu rosto. Ela não viu nada de mais no rosto do cavalo para se passar a mão. Mesmo assim aceitou as ordens do mestre Glauco. E em seguida tentou montar no seu cavalo manso. E disse:
--- Consegui! – disse Racilva a Glauco.
--- Está vendo? Ele ficou no mesmo lugar. Olhe as orelhas dele! – apontou Glauco para Racilva
--- Que tem as orelhas? Uma pra frente e outra pra trás. – disse Racilva depois de olhar as orelhas do animal.
--- Ele, pois espera as suas ordens. Diga o que tem a fazer! – relatou Glauco.
--- E o que é que eu digo? – indagou assustada a moça.
--- É bastante fazer: “Eia Avançar”! Só isso. E ele começa a avançar. – comentou Glauco por vezes a sorrir.
--- E como é o nome dele? – indagou perplexa a moça.
--- “Avançar”! – sorriu Glauco ao explicar a Racilva.
--- Avançar? Que nome mais triste. – resolveu dizer Racilva.
--- Cuidado! Ele está prestando a atenção ao que você diz! – recomendou Glauco.
--- Nossa! Eu não sei dizer a ele: “Eia Avançar”. – relatou a moça e o cavalou seguiu em frente entre os gritos da moça alarmada.
--- Puxe as rédeas para ele brecar! – falou Glauco a Racilva.
--- Que é isso? Pare cavalo. Pare cavalo! – disse então tremendo de medo a moça.
Nesse ponto, Glauco caminhou no seu encalço e fez o cavalo estancar. E disse ao animal: “Eia, Eia Avançar” – fez o homem ao cavalo que se aquietou de vez.
--- Tá vendo o que eu disse. Ele obedece as suas ordens. Quando você deu o sinal, ele partiu. Agora vamos com calma. Muita calma. Faça o que eu faço. Assim! – descreveu Glauco.
--- Não. Eu não vou mais nesse jumento! – disse Racilva apoquentada.
--- Ah vai sim. Aprenda a adestrar a montaria. E não é jumento. É cavalo! Ele entende tudo o que você diz. É como eu. Eu entendo o que você diz. O cavalo também entende! – disse mais uma vez com severidade o namorado da moça.
A moça começou a chorar baixinho, mas obedeceu a ordem do seu mestre. Devagar, temendo novas repreensões de Glauco principalmente de como sair a caminhar a jovem moça seguiu os passos de quem ordenava. Ajeitou-se na sela, deu com os pés na barrica do cavalo, de forma mansa e disse o que era para ser dito quando o animal quisesse obedecer.
--- Eia Avançar! – o cavalo se pôs a caminhar de forma vagarosa.
Racilva temeu na hora por dizer “cavalinho” ou “burro”, pois ela ficou sabendo não dever dizer outro nome a não ser o dele mesmo. Com certa firmeza, mesmo tendo balanço na sela, Racilva entendeu a sua voz e a marcha de “Avançar”. E desse modo seguiu tranquila o seu mestre e professor. Ele também não avançou como devia fazer. Em alguns instantes da travessia, Glauco mandou a moça brecar o cavalo. Racilva puxou as rédeas dizendo para o animal parar. Mais o animal não parrou. Glauco disse apenas ter ela que puxar a rédea e dizer. “Ih Avançar”, pois assim o animal parava. A moça obedeceu e o animal estancou.
--- É tanta coisa! – resolveu dizer a moça.
--- Não é nada! Agora você veja o que eu vou fazer. Não dê ordens ao cavalo. Apenas olhe o que eu faço. Agora! “Eia Cego”. – Glauco soltou a rédea e fez finca-pé no cavalo.
O cavalo disparou com toda a força, percorrendo longos trechos da fazenda onde só tinha caatinga. Ele fez uma longa volta em toda a correria do seu cavalo com a estranheza de Racilva apenas a perceber o fazer de Glauco em todo seu caminhar de longo percurso, arredondado até voltear ao ponto de partida junto a Racilva, sua namorada de então. E olhou para a moça a dizer ser a mesma coisa a fazer com a sua montaria e lhe dava o mesmo ímpeto para então não trotear tão devagar assim. A moça sorriu com o suor escorrendo pela face e perguntou ao seu namorado:
--- Ele faz isso? – indagou Racilva querendo correr como uma amazona.
--- Faz. Faz sim. Até assistir missa ele faz de forma ajoelhada. Quer ver? – perguntou Glauco a moça meio assombrada.
--- Não. Eu levo um tombo! – respondeu a moça querendo sorrir.
--- Leva nada. Veja! “Missa Avançar”! Missa! – e o cavalo se ajoelhou com as patas dianteiras para o temor da moça em cair da cela.
--- Nossa! Ele vai me por ao chão! – gritou alarmada a moça.
--- Levantar, Avançar. – deu a ordem em seguida o chamado treinador.
E o cavalo se soergue e se aprumou do jeito como estava antes.
--- Está vendo como se faz? Mandar beber água, você vai descer, ele descansar, e tudo mais o que você quiser. Mas agora não faça isso. Apenas vamos caminhar com mais pressa. Eu digo quando. -disse Glauco à nova namorada.
--- E ele não me morde? – indagou a moça com medo de o animal estranhar.
--- Morde nada. Esse daí manso que nem um carneiro. – explicou o homem sorrindo.
--- Tenho medo. Ele depois se enfeza! – relatou a moça com temeridade.
--- Vou mandar fazer uma cama para ele e você dormirem juntos. – sorriu Glauco à moça.
--- Nem invente! Nem invente! Dormir com um cavalo brabo! Não! – repreendeu Racilva amedrontada com a ideia de Glauco.
Nesse momento, Walquiria estancou com a sua montaria ao lado de Racilva orgulhosa por ver os dois unidos com dissera antes. E então perguntou aos dois:
--- Como vai o noivado? Já entraram em acordo? – perguntou Walquiria a sorrir.
--- Nós estamos aprendendo a caminhar a cavalo. Ela tem medo que o animal morda. – disse cheio de si o homem.
--- Morde nada. Esse aí não morde nem as moscas que lhe perturbam. – sorriu Walquiria respondendo a questão formulada por seu tio.
--- Racilva tem medo que ele morda! – gargalhou Glauco.
--- É. É. Pois o meu morde mesmo. Mas, vamos com calma. Para aonde vamos? – perguntou Walquiria aos dois namorados.
--- Andando mesmo pelo campo. Talvez eu chegue a Cabana do Pai Tomaz. – sorriu o homem
--- Apenas que na tua cabana já tem liberdade. – relatou a moça em cima do seu cavalo.
--- É. Eu disse isso como forma de falar. Aqui nem tem nada do que se encontrava na Cabana e nem vai ter mais. – aludiu o homem sem achar graça.
--- Eu penso como era dura a vida dos escravos, principalmente dos norte-americanos. Era uma onda de sacrifícios a varrer todo um país. Era um comércio de homens escravizados de forma brutal e selvagem. Aqui, no Brasil, também teve dessas coisas. E ainda tem. Mas escondidas. Ah isso tem. O pobre só vive pobre. Não por que quer. Mas porque não tem a noção de sua valentia. O Império já acabou. Porem eles ainda vivem como se fossem escravos. O rico não como ao lado do pobre. Ademais, quando é tempo de eleição, o rico sabe pedir para que vote nele e eu vou ser deputada para acabar com essa nojenteza. Hoje se vê homens com armas. E o Governo nem toma tempo de fazer o desarme dessa gente. E é gente rica. Não é nada de pobreza. Não tem um rico que preste. A começar por mim. Desgraçados! – falou revoltada a moça nesse momento.
--- Calma. Calma. Ainda tem rico de presta. Olha teu avô. – revelou Glauco.
--- É. Pode ser. Mas eu vou ser deputada. – reclamou Walquiria em cima da bucha.
--- Eles não fazem nada. Conluiam-se com o Governo e pronto. - falou Glauco sem temor.
--- Quero ver se eu me conluio. Nessa festa na fazenda na fazenda não veio um representante do Governo para dizer que veio. Nem deputado, nem secretario e muito menos senador. Esses só pensam neles. Os outros que se lixem. Mas a coisa vai mudar. Ah se vai! E muito! Eu vou sair candidata à deputada queira ou não. Vou ver quem manda nessa porcaria daqui por diante e mesmo que meu avo não me dê à bênção – concluiu Walquiria o seu pronunciamento
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