- SENSUAL -
- 08 -
No fim da semana estava marcada uma festa na fazenda do pai de Glauco, o coronel Arthur, filho do velho coronel Fabriciano, oitenta anos, casado com Maria do Rosário, de igual idade. Era uma festa onde havia corridas de bois, cavalos amestrados, vaqueiros típicos além de haver comida farta de se sacrificar gados para fazer churrasco, paneladas, enfim, coisas do sertão de antigamente. A fazenda de Fabriciano, Arthur, seus irmãos e seus dois filhos, Glauco e Glauce era o mundo todo. Pela fazenda tinha de tudo o que se podia imaginar ou não. Durante o almoço, Glauco indagou de Racilva se gostaria de conhecer a sua cidade, Serra Grande naquele final de semana.
--- É longe? – perguntou assustada Racilva de olhos bem abertos.
--- Não. Até que é perto. Se você quiser ir, nós partimos no meu calhambeque, - sorriu Glauco a temerosa moça.
--- Calhambeque? Eu nem pensei ter o senhor um carro. – respondeu a moça.
--- Pois tenho. Ele vive guardado na garagem. – sorrio Glauco à atemorizada jovem.
--- Garagem? E onde o senhor mora? – perguntou aflita a moça.
--- Bem. Eu durmo aqui perto. Porém o carro está guardado na garagem da minha casinha, no alto de Petrópolis,. – sorriu o homem a saborear o vinho verde.
--- Eu nem conheço o senhor direito. Agora o senhor me chama para ir de calhambeque para conhecer a sua cidade. – reprovou a moça ao homem,
Ele sorriu para poder falar sobre si mesmo.
--- Eu tenho as melhores intenções para com você. E se eu convido para conhecer a minha vila, é por que desejo a você uma boa oportunidade de me conhecer melhor. – respondeu Glauco de forma séria.
A moça refletiu um pouco olhando para baixo. O vinho que ela tomara já fazia efeito. A tontice era clara e a sua voz passou a ser angelical.
--- Olhe bem. Eu não pretendo duvidar do senhor e dos seus planos. Mas esse convite não é mesmo extemporâneo? – refletiu a seu modo a moça.
--- Bem. Para o começo de conversa, você pode me tratar de uma forma mais amena. Apenas você. Em segundo lugar, da forma como eu fiz o convite a você, pode ser encarado somente como um ato de confiança. Na sexta feira começa uma vaquejada no sítio do coronel Fabriciano. Isso vai até o domingo. Eu sei que você não pode ir à sexta feira, Porém posso sugerir para ir no sábado. É uma festa mesmo. E Serra Grande é um município pequeno, de pouca gente. E você tema oportunidade de conhecer melhor indo até o ligar. – falou como para conseguir convencer a moça o seu amigo.
--- Posse fazer uma pergunta? – quis saber Racilva já um tanto zonza com o vinho que bebera
--- Pode. Até mil. Se me for possível, eu respondo. – falou serio o senhor Glauco.
--- Em posso levar alguém? – perguntou Racilva já zonza e meio.
--- Homem ou mulher? – quis saber Glauco.
--- Olhe você com suas más intenções, viu! – e Racilva deu um soluço de embriagues
--- Isso não é má intenção. É para acomodar a pessoa de uma forma melhor na fazenda. – relatou o homem querendo desistir da ideia em levar Racilva para a fazenda.
A moça começou a refletir na sua forma de quem estava embriagada e relatou apenas o fato de não poder ir mais trabalhar da parte da tarde, pedindo a Glauco levar até a sua casa.
--- Está bem. Eu a levo. Você me diz ande, e eu informo ao motorista. Eu a levo sim. Com relação à festa, você pode apenas desistir de ir. Não tem problema. – relatou Glauco já um tanto de mau humor.
--- Não. Eu vou com você no sábado. Nem que seja em uma carroça de burro. – refletiu de forma incoerente a moça Racilva querendo já vomitar o almoço de peixe.
--- Vá ao banheiro. Vá ao banheiro. Depressa! – relatou o homem a moça totalmente ébria.
No meio do salão do almoço, alguém proferiu com ênfase o recitar de um novo poema feito à moda antiga. Glauco ouviu o que o ébrio tinha a declamar, mas um tropeço. E o homem caiu sem mais dizer uma só palavra.
No sábado pela manhã, logo cedo, Glauco Rodrigues estava com o seu carro em frente à residência de Racilva a esperar por ela. A moça veio até ele e verificou o automóvel. Era um Cadillac Rabo de Peixe de cor negra, capota arriada, espaçoso, veículo importado pois era a época dos importados. O carro era uma maravilha a olhos nus. O espaçoso veículo era de fabricação da Chrysler. Um esmero de automóvel. E nele estava a dirigir o seu proprietário, o senhor Glauco Rodrigues. A moça quando o Cadillac quase desmaio de susto. E algum tempo depois ela perguntou ao homem.
--- Esse é o calhambeque que você falou? – indagou de boca aberta a moça.
--- É. É o calhambeque mesmo. Passa o tempo na garagem. – comentou o homem.
--- Mas que garagem? – voltou a indagar a moça.
--- Na garagem dele! – sorriu Glauco.
--- Nossa Senhora! Nesse carro eu não entro. Não tenho nem roupa para ir. – respondeu a moça plenamente assustada.
--- Vai sem roupa mesmo. – sorriu o homem.
A moça olhou para o homem e disse ainda:
--- Engraçado! Eu digo uma coisa e ele vem com outra. Eu quero dizer: roupas distintas. Não esses trapos de meia tigela. – refletiu a moça olhando admirada para o automóvel.
A moça Racilva Arantes retomou a sua distinta importância e findou por dizer não mais convidar outra pessoa, pois naquele carro conversível de teto aberto somente a ela eram feitos e se Glauco podia esperar um só instante enquanto a moça colhia aquilo que teria de levar. Glauco se pôs a esperar esse momento e tão depressa a moça voltou e procurou assento na parte do banco da frente. Ela estava plenamente feliz com aquele. A sua mãe ainda veio ver o carro e disse para Racilva:
--- Cuidado com a vida. – sorriu a sua mãe a fechar o portão da frente da casa.
Racilva nem parecia ouvir qualquer admoestação feita. A moça estava plenamente feliz. Os vizinhos das casas ao redor comentavam:
--- Eu sabia que ela não era de nada! – comentou uma vizinha.
--- Quem nasceu para puta, puta é! – vez ver o marido da mulher vizinha,
--- Eu gosto tanto dela. Moça educada. Bem formada. Todo dia ela me dá bom dia, - respondeu a anciã deitada em sua rede de dormir.
A viagem prosseguiu sem atropelos com o homem mostrado a paisagem exuberante do sertão onde se podia avistar de tudo um pouco. O cheiro do mato e do carvão sendo feito em algum lugar distante; a passarada a gorjear e a voar de um lado para o outro; o gado a mugi como se fosse alerta para os amigos de cercado; bodes, cabras, ovelhas, galinhas. Enfim, tudo a passar na mente de Racilva igual a um céu sem fim. Glauco mostrava tudo o que avistava pelo passar do campo. Meninas seguindo as suas mães; homens com alforje nos ombros tão somente a caminhar; havia tropeiros com suas foices às costas. Um mundo quieto de uma manhã. Na estrada ela podia ver carcaças de boi; carcará a comer animais de pequeno porte; gente a caminhar pela estrada ou a observar o carro a passar. E ela dava adeus a todos os camponeses apenas para fazer a festa.
--- O teu lugar é longe? – perguntou Racilva a Glauco.
--- Não muito. Já estamos chegando. – sorriu o homem.
--- Já? - se admirou Racilva olhando para um lado e para o outro. E de imediato ela fez uma pergunta até mesmo estranha.
--- Você está diferente. Não sei o que é. – revelou Racilva.
--- A roupa. Só venho de calça e camisa. – sorriu o homem com a audácia da observação.
--- É. Pode ser. Mas é algo no seu aspecto. – voltou a dizer a moça.
--- O sol. – sorriu Glauco olhando a estrada.
--- Sol? Pode ser! Ah. Já sei. O chapéu. – sorriu Racilva por notar estar o homem sem chapéu.
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