- ENIGMA -
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Após esses atropelos de quem não sabe o querer, lá estavam os dois, Glauco de Racilva no meio de toda a gente a comemorar os oitenta anos de vida do coronel Fabriciano ao som da concertina e sob o cantar dos violeiros matutos. Eram dois os violeiros. Porém, de violeiros ninguém morria de sede. Havia uma porção de violeiros de pleno sertão a querer cantar os improvisos feitos ao coronel. Esse, animado que só pinto em beira de cerca, aplaudia a cada um dos que tocavam e cantavam. O comandante Sollo se aproximou do seu cunhado para saber algo mais sobre a moça.
--- Ela é uma amiga minha. – sorriu sem formalidades o cunhado Glauco.
--- Muito bela a moça. – fez partida o comandante.
--- Ela é filha do velho Arantes. Você conhece? – indagou Glauco ao comandante.
--- Creio que não. Porém pela forma é uma bela moça. – recomendou o homem do espaço.
E nas bancas vendiam-se cocadas, bolo de milho, bolo preto e todo as lances de se querer vender por um preço muito baixo. Tinha até galinha frita cozida e vivas mesmo. Tinha peru. Ah isso tinha. Até mesmo porcos vivos e tatu. E a moçada a dançar em plena manhã. Bebidas a granel. Desde cerveja a cachaça para os mais afoitos. Racilva olhava tudo aquilo de ficar de boca aberta para não dizer mais.
--- Como esse pessoal dança! – fez ver alarmada Racilva.
--- Esse é o começo. Mais tarde tem mais. – respondeu Glauco animado com a moça.
O velho coronel Fabriciano era todo cheio de contentamento. Até ele dançava o chamado “Miudinho”, dança típica do interior. Na parte do churrasco, esse tinha de monta e a granel. Quem comia não pagava nada. Era só pedir e comer. O churrasco era feito de boi ou de vaca. Uma porção enorme de carne enfiada em um espeço de ferro. Racilva tomou a iniciativa de ir até a banca de churrasco e provar um pouco da carne de boi. Ela se admirou no gosto da carne assada na brasa.
--- Hum! É uma delicia essa parte da carne! – sorriu com fé a jovem Racilva já empolgada com a festa matuta.
--- Coma mais. –recomendou Glauco.
--- Coma menina! – disse sorrindo o coronel Fabriciano, animadíssimo.
Fabriciano era o dono da festa. Esse, contente, começou a puxar conversa com a moça Racilva. E disse-lhe ter um pouco de terra para formar uma pequena fazenda. O neto tinha outro pedaço ficando no baixio onde Glauco criava umas cabeças de gado. A neta tinha mais um pouco de terra e o seu filho, Arthur era o de maior lucro, pois sua terra era um mundo velho para onde se podia ir. O coronel Fabriciano tinha também outra porção onde criava seu gado de leite e de corte.
--- Mas é tudo muito pouco. – declarou o fazendeiro de bom quilate.
--- E de que tamanho? – quis saberá moça.
--- Aqui mesmo é cinquenta léguas de frente, e mais cinquenta de fundo, correndo por cima e pelo outro lado com mais cinquenta léguas de cada vez. – relatou o velho fazendeiro.
--- Cinquenta léguas? O senhor acha pouco? – indagou perplexa Racilva.
--- É. Uma bostinha de nada. – relatou o coronel animado com a festa.
--- E o senhor queria quanto? – perguntou a moça ao coronel.
--- Pra a senhora vê. Meu avô, que foi o homem que chegou primeiro em Serra Grande, tinha um mundão de terra. Os vaqueiros passavam dias para atravessar as terras do meu avô. – decifrou de vez o coronel Fabriciano.
--- E como se chamava o seu avô? – quis saber Racilva.
--- Meu avô? Coronel Timbó. João Duarte Rodrigues Timbó. – respondeu cuspindo de banda
--- Ah. Já sei. O filho do seu filho, o que eu vim com ele, me disse que era chamado de Joca de Timbó. É por isso. – sorriu a moça a decifrar a alcunha do homem.
--- É. O povo daqui tem esse costume. Família Timbó, que é a nossa; família do Berro que mora lá para os confins do mundo; família do Magro. E assim por diante. Nós não entramos em confronto, agora. Mas tem uns do Mato. Esses vivem em confronto. Família contra família. É um Deus nos acuda. – relatou o velho coronel.
--- Mas quem manda nesse povo todo? – perguntou com certa esperança de saber a moça Racilva.
--- Quem manda? Quem manda somos nós mesmo. – fez um sorriso o velho.
Alguém gritou do alpendre para o coronel e todos os presentes.
--- Tá na hora da missa. O padre está chamando para todos irem à capela. E é pra já. – recitou a mulher que estava fazendo o convite.
--- Tá na hora mesmo. Vamos correndo. O padre daqui é brabo que nem cascavel. – sorriu o velho coronel para Racilva.
Depois da Missa foi à vez de se almoçar. Racilva estava ao lado de Glauco, o Joca de Timbó, pois então ela ficou esclarecida do nome Timbó e junto também a esposa do coronel Arthur, filho do dono da festa, o coronel Fabriciano. A mulher ficou ao lado de Racilva para dar mais segurança a moça. Era a primeira vez de Racilva na fazenda. Do outro lado ficou os filhos do velho coronel, inclusive o marido de Nair, o coronel Arthur Rodrigues. As filhas e filhos dos outros irmãos de Arthur, e a irmã de Glauco como o seu esposo, o comandante Américo Debiase Sollo também compunham a mesa grande. O almoço foi servido com uma panelada muito bem feita. Além disso, tinham outras comidas, inclusive o churrasco feito no fogão de lenha armado fora de casa.
Durante o lauto almoço de tipos variados de carne de gado, inclusive buchada de boi, várias pessoas usaram da palavra. O padre foi o mais enfático ao dizer ser o coronel Fabriciano a marca de um tempo cujo progresso era o viver para existir. Ele bem aplaudido pelos presentes, inclusive o seu neto, Glauco Rodrigues. A roda de amigos do velho continuou falar e saudar com copos de cerveja e vinho. Tudo era festa. O salão de almoço se apinhava de gente, inclusive os mais simples, como os empregados e as domésticas e camareiras. Havia o serviço de transportar a boa comida feito a todo o momento. Os espetos de carne assada para os participantes do almoço era um negócio comum para a festa do interior. Nesse instante a moça Valquíria sobrinha de Glauco, se aproximou da mesa e se sentou entre Racilva e o seu tio Glauco. Animadas como que, alí as duas senhoritas começaram uma amizade de modo a se pensar ser duradoura.
Logo após o almoço, as duas amigas saíram em busca de um descanso em um dos quarto para moças e levaram uma conversa solta. As outras irmãs e amigas também conversavam com Racilva a perguntar de onde ela estava chegando e com quem estava. E Racilva respondeu:
--- Sou da capital e estou aqui a convite de seu Glauco. – respondeu sorrindo a moça.
--- Ah sim. Natal. Bela cidade. Eu estudo na capital. – respondeu a prima de outras primas a Racilva.
--- Eu sou concluinte de Magistério. – sorriu Racilva ao dizer isso a moça.
--- Vai haver festa? – indagou uma das primas alegremente.
--- Já estamos organizando. – sorriu Racilva ao dizer.
Após a boa sesta as moças em par foram passear do terreiro vendo os fogos de artificio a ser soltos um pouco distante do casarão. O padre conversava animado com o coronel e outros presentes sempre a olhar para as bancas de comidas vendo se tinha muito dinheiro apurado, pois naquela parte da festa todo o dinheiro seria dado em prol da Igreja. Ainda havia o leilão onde se podia ver a sorte de quem tinha mais. Nesse momento, Glauco procurou Racilva e a chamou para dar um passeio na companhia de sua nova amiga Walquiria ao longo da cercania e a montar cavalo. Isso, Racilva não tinha costume. E se tivesse que ir ao passeio, seria na garupa da amiga Walquiria. A moça Walquiria concordou e as duas tomaram as rédeas de um cavalo selado e se montaram a esperar pela ação de Glauco.
--- Vamos ver quem é mais ligeiro? – disse por vez Walquiria a Glauco.
--- Então vamos. – comentou o desafiado de corrida de cavalo.
E assim, os três fizeram a corrida até chegarem à Lagoa das Garças, um local aprazível em um local de mata virgem onde a lagoa se espraiava a longa distancia. Tinha ali um bosque repleto de arvores onde se podia notar as mais antigas e marcadas hasteies vindas de um tempo remoto onde o homem não sabia de derrubada ou coisa assim. Árvores frondosas se unindo como as esplendias companheiras de um sertão remoto. Ao lado a água serena da Lagoa das Garças. E ao fundo, uma casa muito bem aprimorada. Não se via presença de gente nessa casa a despeito de ser bem aprumada.
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