quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Quinze -

- ZÉLIA -
- 15 -
ALMA
Todos os médiuns presentes ficaram a observar o ancião Melchiardes com a sua explicação sobre a matéria e a alma. Desde tempos remotos vem se perguntando o que faz a alma quando morre a pessoa num momento crucial de sua existência. Em idades mais remotas ainda, os sumérios tinham uma concepção de a alma ser o principio de tudo. Isto é: a concepção era o primeiro entre outros passos. O tempo passou e não se conhecia o sentido da alma. Os estudiosos de após admiravam o belo e por isso mesmo eles admiravam a alma. No decorrer dos milênios, surgiram várias versões sobre o significado do espirito. Após tantos milênios ainda hoje se pergunta como é feita a fusão da alma de do corpo. As teorias mais avançadas alegam ser o espirito aquela alma de um ser que um dia partiu. Após certo tempo, ela resolve retornar para rever os seus erros e acertos. Esta é a função da alma ou espirito. Quando a pessoa morre, o períspirito se passa a um seguimento onde tudo ele ouve e enxerga do certo e do ruim. Quando o espirito retorna em outra existência, já é sabedor que ele fez de errado. E, por consequência, ele não mais o fará.  Essa é a ciência da alma. Ela existe quando o espirito está em um corpo. Então, por consequência, o espirito é a junção dele com o corpo físico e corpo energético. Três em um só. O ser já existe antes do corpo. Quando a pessoa morre, ela tem mais acesso a memoria tanto da vida presente como das vidas passadas. Contudo, algumas pessoas não acessam pelo fato de não saber lhe dar com essas memorias, ou seja, ver na clarividência do presente os efeitos de outras vidas pelo qual já existiram.
Melchiardes:
--- Com eu falei há pouco o processo é gradual. Nós temos laços que nos prendem ao corpo físico. É como uma lamparina. Ela pode reacender por um momento a chama por existir combustível em sua matéria que é aquele fio que conduz o querosene até o topo. Mesmo assim, isso é definido como um tempo de nada. À medida que o espirito se desliga, a luz vai se esgotando. Vale lembrar que o sendo espírito mais evoluído esse processo é bem mais rápido. Quando o espírito menos evoluído esse processo se torna mais lento. Eu até comento o caso que se deu em um bairro aqui de Natal. Um espírito era tão apegado à matéria, pois toda vez ele estava sentado em um tronco de pau esperando a sua condução. Esse é um atraso mental do espírito. O que determina o grau de evolução do espirito é ele mesmo se desprender daquela que antes foi matéria. É preciso anos, talvez séculos para tal fim. – afirmou o ancião.
Edgar:
--- Quer dizer que nós nos batemos com os espíritos na rua? Até conhecidos? – indagou surpreso.
Melchiardes sorriu antes de responder. Então iniciou a conversação.
Melchiardes:
--- E como se bate. Veja bem: quem costuma ir ao cemitério, vai encontrar milhares de espíritos. Tem do lado de fora como do lado de dentro. Agora, eu costume dizer: levem flores para as almas. Mas, não se esqueçam de que, muitas dessas almas ou espíritos já devem estar ocupando outro corpo. Pode ele está aqui ou em outro país. Mas as flores servem de alivio para outros espíritos. Muitos deles recolhem o néctar das flores. Tem espíritos de mendigos que um dia foi muito rico em bens e dinheiro. É um pouco difícil de saber se eu, quando for para o além vou ficar ciente do que em fiz aqui na Terra. Tenho o direito de me lembrar de tudo o que eu faço. E tenho o direito de saber de outras vidas que eu tive. Mas, eu não sei se vou lembrar-me de tudo. Eu posso ser até um mensageiro evoluído. Vai depender muito do que eu faço onde estou na Terra. Eu diviso muitos seres que já passaram pela vida e, agora, seguem sem destino. Alguns ficam lendo os livros que não tiveram tempo de ler quando em vida. Outros guardam iras. Tem espirito vingativo. Ele arranja um meio de matar que a ele matou. É uma verdadeira feira ou um carnaval. – explicou com muita atenção.
Edgar:
--- Mas, diga-me uma coisa: quem morre por afogamento, ele se liberta do seu corpo.
Melchiardes:
--- Depende da vontade dele. Se for um beberrão, ele ainda vai ficar por algum tempo. Se for uma moça, com as três inocentes que você está querendo saber, estas podem se libertar da vida terrena. No entanto, elas ficam durante séculos na sua casa. Se derrubarem a casa e construírem outra, não há problema. Elas ficam na mesma casa, pois o espirito não escolhe a casa em que mora. O espirito fica aonde for o que achar melhor. O que achar melhor para ele, bem entendido. Por falar no caso das três moças, elas podem ter migrado para Natal ou mesmo viajado para outros locais, como a Escócia e Grã Bretanha. Vai depender muito da vontade das três. Mas, digamos que elas preferem viver em Natal. Então elas ou apenas duas irmãs ficam nesse local. – falou bem manso o ancião.
Edgar:
--- Mas a vida espiritual é continua? – indagou sem entender ao certo.
Melchiardes:
--- Nós nunca deixamos de estar no mundo espiritual. O períspirito continua existindo. E como eu já frisei. Os laços aqui na Terra precisam se desfazer. E esses desprendimentos vão ser de pessoa para pessoa. Exemplo: um criador de gado; ele está tão habituado com o seu meio de vida que, quando ele morrer, o espírito fica como se pudessem dar ordens. Não raro, um filho tem mais fluidos com os fluidos do seu pai, e toda vez que o criador de gado da uma ordem o períspirito do filho recebe aquela ordem e faz o que o seu pai ordena. Veja isso: Quem não se lembra de ouvir dizer: “Ah! No tempo do meu pai, isso era diferente”. Ele está traduzindo a ordem do seu pai. – explicou o ancião.
Edgar:
--- Cada um morre conforme viveu? – indagou.
Melchiardes:
--- Nem sempre. Nem sempre. Há morte indesejável. O cidadão morre por uma chifrada de touro, ou um desastre de carro. Ou mesmo por um naufrágio. Terá ele escolhido o modo de morrer?  Pode até ser. Por exemplo: as três moças. Elas eram comandantes de umas embarcações em suas vidas anteriores. Então, elas guerreavam. As três – pode ser espírito de homens também – ordenavam o massacre dos prisioneiros de outra embarcação, por sinal, inimiga. Elas voltaram agora e se juntaram novamente. E morreram em um naufrágio. Pode ter sido até assim. Há uma explicação para tal. Os espíritos de muita gente um dia voltam mesmo em países diferentes, e morrem em circunstancias semelhante. Todos eles sucumbem. Entendeu o senhor? – indagou o ancião.   
Edgar:
--- Mas. ... E se não era elas ou eles os comandantes dos outros naufrágios? – indagou com convicção.
Melchiardes:
--- Há muitas explicações para tal desfecho. Por exemplo: elas queriam se vingar de alguém. Ai está o seu pai. Mas não se pode dizer ser o pai. Apenas se sabe se houver interrogação às vítimas. Afinal foram muitas pessoas. Não se levando em conta as outras pessoas, temos que seguir por algum caminho. E o nosso é os das três irmãs. Entendido? – pediu o homem a confirmação.
Edgar:
--- Entendo perfeitamente. E se o caso não de vingança? - perguntou com cuidado.
Melchiardes:
--- Entendido: Morrer, longe de ser um descansar nas mansões celestes ou o expurgar sem remissão nas zonas infelizes, é puramente recomeçar a viver. A reencarnação é uma bendita oportunidade de evolução. A matéria em que nos encontramos imersos é abençoado campo de luta. A cada dia é um recomeço. Quando morremos continuamos a viver em outro plano. Não é pura vingança. A vida acaba naquele instante para recomeçar logo após. Se nós formos um espírito ruim, então levaremos um pouco mais de tempo. Porém, se formos bons, e morrermos por um acidente, nunca confie que é morte acidental. É o passar dos tempos. Mas se formos um bebê, tem-se o mérito de que um bebê resolve voltar para a vida anterior e renascer de novo,  pois naquela família ele não desejava permanecer. Era um bebê? Sim! Mas o espirito já não tem idade. Ele sabe quem seriam seus pais. E essa criança resolve voltar ao seu espirito para depois reiniciar. – explicou o ancião.
Edgar:
--- Então é prudente se ouvir as três moças? – o home sem muito acerto indagou.
O ancião suspendeu os ombros como quem diz não ou não sabe. Ou mesmo se acharem prudentes.
Melchiardes:
--- Amigos. Se nós pudermos conversar com esses espíritos será uma maravilha. Entendamos: não existe apenas um só espírito. Se nós pudéssemos percorrer nessas avenidas, encontraríamos seres aos milhares. Hoje, na Terra, temos nada menos que 18 bilhões de seres desencarnados procurando então retornar a um corpo físico. Bilhares deles não retornam. Tem-se como meta se um espírito que se reencarnar terá que esperar milhares de anos. Alguns retornam mais depressa. E eu não sei a razão. Mesmo assim, no além outros permanecem à espera da reencarnação. Nos lugares mais distantes da Terra, em outros planetas já é sabido ter bilhões de seres em busca de um lar. Existem no Universo, bilhões de estrelas com bilhões de aglomerados de algo como a Terra. Se alguém reencarna em outros planetas é provável ser naquele espaço bem melhor para ele. É o Universo. E dentro desse Universo tem outros Universos. É  um multiverso. – afirmou o ancião.
Edgar:
--- Já ouvi falar desse Multiverso, ou seja, Multe Universo. Um fabrica, ou melhor: refaz a si próprio como sendo o outro. Não é bem assim. Melhor dizendo: como uma bolha no mundo. Somos vários. Eu posso estar em outro lugar em outra vida. Isso é incrível. – falou com sapiência o advogado.
Melchiardes:
--- Esse é o conceito da sinergia. Cooperação. Sinergia é um trabalho ou um esforço para se realizar uma tarefa muito complexa e se poder atingir o seu êxito. – ratificou o ancião.
 

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Catorze -

- FANTASIA -
- 14 -
VISAGEM
Na reunião dos médiuns da sexta feira à noite, quando se passava em revista as principais questões enfrentadas pelo Centro Espírita, uma voz se levantou para informar sobre um casarão existente na cidade, há muito ao abandono depois da morte de seus habitantes. A mansão foi construída no século XIX pelo Coronel Protásio Miller homem de tradição inglesa e muito ligado à família real do seu país de origem. Sempre austero, no Brasil casou com uma jovem moça prendada atendendo pelo nome de Evelyn herdeira de larga fortuna dos seus pais. Ainda bem jovem, dona Evelyn teve a sua prole. Três belas filhas: Sophia, Isabelle e Jessica.  Trigêmeas. Foi uma operação cesariana de muito cuidado. Desde novas, as três garotas passaram a ser educadas no regime inglês e com aprendizado das línguas portuguesa, francesa, italiana e alemã. Nos primeiros anos, o Coronel Protásio Miller fez uma viagem transatlântica junto com sua grata família para a Inglaterra. Com as cinco pessoas também seguiam uma governanta e uma criada. Ao todo, sete pessoas. Era tempo de verão na Inglaterra e a família demorou dois meses nos albores da civilização. Ao retorno a terra por ele adotada continuou com as suas obrigações de um augusto fazendeiro. Quando não estava na capital do Estado, era a vez de ele estar, junto com a sua família na granja onde havia plantado quase tudo. Na volta a Capital, o Coronel já havia matriculado as suas ternas filhas na Escola Doméstica a melhor instituição de ensino a existir no País. As meninas ficaram internas junto com outras estudantes. Apenas, no fim de um semestre havia férias e as garotas voltavam para o casarão onde ali permaneciam por longo período. Apenas saíam com a sua mãe e uma governanta para fazer compras nas lojas de tecidos e calçados. Essa era vida sossegada da família Miller. Nada de namoricos na adolescência. E por vezes as três irmãs escrivam para os seus parentes na Grã Bretanha e na Escócia, local amado de sossego eterno.
Com o passar do tempo e as viagens constantes em um transatlântico a vida dos Miller virou rotina. Guerras era um ponto crucial para não fazer viagem. Mesmo assim, a família rodava o mundo indo para os Estados Unidos e Canadá. Às vezes também visitava o restante do Brasil, como Rio de Janeiro. As moças, distintas e elegantes com suas vestes soberbas alegravam mesmo seus pais. Certa vez, as notícias dos embates onde a Grã Bretanha viveu dias de horrores, a família decidiu não ir para os locais em conflagração. Sendo assim, o melhor era visitar Porto Alegre, no sul do Brasil, capital de um Estado bem pouco visitado por esses tempos. De malas prontas, a família decidiu então visitar a capital gaúcha naquele ano de sombrias noticias do além mar. A viagem seguia um rumo certo. Natal, Recife, Rio, e enfim o cais mais próximo do mar. O frio já iniciava por aquelas alturas do ano. Um vento forte sobrava do sul acompanhado de torrenciais chuvas. O navio seguia a rota certa. Mesmo assim a visibilidade caiu a ZERO. O salão de baile estava repleto na noite antes da chegada a Porto Alegre. Casais dançavam no maior delírio se dar importância ao mar revolto. No tombadilho os moços de convés verificavam todos os letais perigos. No salão de baile, a orquestra executava os recitais da ocasião. Música americana por excelência. As máquinas do vapor corriam à solta no momento. E o capitão do navio dava as ordens às quais se prestavam.  O escuro véu da noite permanecia com a sua sinistra sombra. O imediato seguia as ordens recebidas. Do mar nada se poderia enxercar dado à imensa escuridão. No salão de baile, a orquestra tocada os mais sagrados blues, Charleston, jazz e eternas valsas. Toda a classe de passageiros seguia animada apesar do gigantesco temporal. As três filhas do Coronel Miller estavam radiantes com o inesquecível dança. Garçons serviam as mesas, mulheres de fartas gorduras apenas observavam os pares, seus esposos se ajeitavam para ver o final da festa, em alguns apartamentos cenas de amores incontidos e as máquinas a trabalhar sem parar. No navio transatlântico, o imediato demonstrava precaução com o intenso temporal. E nada se conseguia enxergar a um palmo do nariz. Apenas os instrumentos de bordo advertiam sobre o risco de uma colisão iminente com um tenebroso iceberg a seguir a igual rota. O imediato, com sua destreza, evitou a colisão arrastando a embarcação para um pouco mais distante. Enquanto a festa prosseguia no salão de baile, os homens marujos de bordo se aventuravam em salvar o seu transatlântico de um derradeiro fim.  Um barulho terrível foi ouvido em toda a embarcação. Vitrines caíram como brinquedos deixando o grande transatlântico “Concordia” a deriva por igual instante. O salão de baile se viu a cair para um lado levando todos os passageiros para o os seus acostamentos, Não havia ordem que obedecesse de forma alguma. Em questões de segundos o gigante e colossal navio inclinou totalmente para a esquerda. Em desespero, os passageiros pediam socorro sem ninguém ouvir, pois o barulho era intenso em todo o transatlântico.  Pedidos de socorro foram emitidos da embarcação de todo imediato enquanto o tempo permitia. Não se podiam conter os passageiros, uma vez de que todos correram arrastados para o imenso mar. Era, na verdade, um pânico generalizado. A embarcação tinha a bordo mais de 3.500 passageiros e tripulantes no momento do trágico naufrágio. Os botes salva-vidas eram atirados ao mar para que pudesse pegar. A água invadiu a embarcação em um instante e o barco naufragou em duas horas e quarenta minutos. Com vários passageiros machucados ou levando crianças tudo tornou um verdadeiro tormento. Com o naufrágio ninguém conseguia com certeza se segurar em qualquer objeto. Os primeiros socorros demoraram a chegar por mais de duas horas. Já estava amanhecendo quando alguns passageiros agarrados em embarcações salva vida foram então recolhidos. Do trágico acidente, morreram vários passageiros, inclusive as três irmãs e o seu pai Protásio Miller. A sua mulher, Evelyn conseguiu ser salva. A senhora Miller não mais voltou a Natal. E o casarão ficou ao abandono.
Em alguns anos se ouviu falar em assombros no casarão. Dizia-se de gargalhadas ou sombras. Alguém avistou uma mulher com véu no seu rosto e logo desapareceu. Era uma jovem moça dos seus 20 anos de idade com um vestido de renda. A sua face era de esmerada beleza e falava com alguém do outro lado do local. Esse fato durou apenas um minuto e a sombra de imediato desapareceu. Em outras ocasiões ouvia-se falar de gargalhadas como se mais de uma pessoa estivesse a pilheriar. A Polícia foi chamada até o local, mas em nada identificou. Apenas os moveis cobertos já há algum tempo era a marca de alguma pessoa. O casarão era abandonado por todos esses longos tempos. Apenas uma mulher chegava uma vez por semana para averiguar todos os cômodos. Mas isso foi há um bom tempo. A mesma mulher já não fazia mais a real visita costumeira. Falou-se de ter morrido ou estar paralítica. E não se sabia dar o seu paradeiro. Nesse momento, alguém bateu a porta de um médio. Esse foi ver de quem se tratava e apenas encontrou um bilhete pedindo para que o homem fosse libertar as três moças ainda perdida no mar gaúcho.
Médium:
--- Eu não acredito muito em que espíritos mandem recados. Mesmo assim, temos assim um caso de dúvidas. – relatou o médium
Edgar:
--- Eu já ouvi falar na casa do Coronel Miller. Por algumas vezes eu fiquei a observar o palacete. Confesso que, eu, pessoalmente, nada vi de concreto. Porém uma doméstica de falou de ter se assombrado ao passar em frente ao casarão. A mulher falou de ter visto uma moça encostada a um limoeiro lendo um livro em plena noite de escuro. Por esse motivo eu fiz várias visitas ao local. – falou reticente o advogado.
Hermógenes:
--- Eu admito poder haver algo no local. Mas, trazer para o Centro, isso é um pouco difícil. Sabemos ter guardiões que nos protegem. E nenhum ente pode entrar em uma sala sem ter a permissão de algum guardião. Para podermos ir até o casarão, seria mais provável. Então teríamos que em insistir uma autorização a um Juiz. – falou por sua vez o médico
Melchiardes:
--- Tenho a impressão existir um mistério no plano espiritual. Há informações confiáveis e detalhadas sobre esse assunto cheio de dúvidas. Quando se desliga do nosso corpo, a alma se torna a sermos nós mesmos. Hoje, achamos que nós somos apenas nós. Mas, depois que se morrer, a nossa alma revive em nós. Acontece, porém, ter entre outros os que chamamos de criminosos. Pessoas que matam, estupram, roubam. E eles têm almas? Tem! E quando morrem? Ah. Quando morrem tem muitas vezes que ficar presos ao corpo em desgaste. Porque eles não sentem a liberdade do desencarne. E isso é castigo? Não! Ele não sofre de castigo. Apenas não se desligam de sua matéria. Houve um caso de um jornalista que matou a sua noiva. E ele ficou vivo! Pois quando ele se for, tenha ou não religião católica ou evangélica, porém ele fica atrelado a seu corpo presente, pois seu crime não foi atenuado. Ele fica o tempo que for necessário para então se libertar. Isso se prende as três moças do casarão. Elas não tiveram tempo de se desvincular da sua matéria. E é até ser prudente não se questionar a sua presença pós-morte.   
Edgar.
--- Então, com relação às três virgens: elas não retomaram a consciência desta ou de outras vidas? – indagou por saber o advogado.
Melchiardes:
--- É bom entender o que é desencarnação. Esse é o ato de espirito deixar definitivamente o corpo físico. Outra parte é que os espíritos de nossos amigos já estão em nosso meio. Esses entes nos procuram para nos receber. Agora, tem outro caso. O espirito de um morto por assassinato que levou dez tiros, ele é um espírito bom ou mau? Se for um bom homem, ele continua a ser bom. Se ele for um mau homem, ele vai continuar sendo mau. Nas sessões espíritas, os maus espíritos não podem entrar por uma ação da guarda protetora espiritual existente no local. Eu já estou nessa doutrina há setenta anos. E sempre vejo espíritos maus desencarnados prostrados na frente de o Centro a espera de poder ter ingresso. Eles são elementos maus, perversos e procuram pessoas sem proteção para poder viver como se ainda fossem vivos.
Edgar:
--- Mas a vida no mundo espiritual, ela é contínua. Se eu tenho um períspirito eu continuo no mundo espiritual. = rebateu o advogado.
Melchiardes:
--- Mas há um espírito sem qualificação que não acessam as suas vidas passadas por causa da sua própria ignorância de modo físico enquanto esteve vivendo no seu recente corpo. Ela não se relembra de outras vidas onde ela responde por crimes, onde foi um mau caráter ou pessoa que abusou dos seus parentes, que causou alguns danos a sociedade. Aqueles erros estão registrados no seu inconsciente. Se a cada emoção vinda, pode fazer esse espirito perder novo equilíbrio. E assim vai depender mais do grau da evolução da pessoa. Acontece caso de espíritos se lembrarem de fatos cometidos em existências passadas e vai servir como guia de se conduzir na vida espiritual. Esse é um fato de muitas vezes nós nos lembrarmos de nossa vida corpórea.  
Edgar:
--- Então há uma separação gradual do espirito? – indagou o advogado.
Melchiardes:
--- O normal é um desprendimento gradativo. – respondeu o ancião.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Treze -

- ESTÁTUA -
- 13 -
A VÍRGEM
A noite de quinta-feira chegou fria e tenebrosa. Logo depois do jantar no Grande Hotel, o doutor Edgar Penteado ficou a espera de um tempo melhor. Na sua memoria ainda havia a lembrança da manhã daquele dia, a chuva traiçoeira, o povo em correria, a escola mais a frente onde estudavam alunos de varias séries, as casas de moradia, o Manicômio dos Doentes Mentais e mais para o lado de baixo, casas de moradia e a Padaria de Abel Viana. Eram lembranças do homem após sair do campo santo. Ele se lembrava de um amplo sepulcro onde estava ao descanso a sua atraente e formosa Zélia Albuquerque onde por alguns instantes o pacífico cidadão orou por algum tempo. Duas lágrimas se verteram dos seus ternos olhos. No Hotel, o passar das pessoas deixavam um perfume eterno de Tabu, loção sutil de frescor duradouro. Quando estava a sós na varanda do Hotel, uma pessoa se aproximou. Ele pouco notou a sua presença. Mas, por longos e eternos minutos aquela pessoa abraçou o doutor Edgar Penteado a dizer, sensibilizada o seu meigo:
Zélia:
--- Olá. Muita chuva. Como vai você? – indagou com suavidade a sua noiva.
Edgar não percebeu de imediato. Porém com um vagar de tempo, ele confirmou também o seu olá. E falou da chuva a cair sobre a Ribeira.
Edgar:
--- Olá querida. Eu vou bem. Muita chuva. E temo chegar ao hotel onde eu tenho o meu leito amado. – respondeu o homem a vagar.
Zélia:
--- Verdade. Levando o assunto ao passado: Você se lembra de que fez a minha morte? – indagou com paciência a divina deusa.
Edgar.
--- Ah. Sim. Um problema cardíaco. Sopro no coração. Não foi? – perguntou afirmando.
Zélia:
--- Sim. É verdade. Mas você sabe como se deu  aquele sopro? – indagou a sorrir levemente.
Edgar:
--- Problema de nascença. Creio. – responde com mistério.
Zélia:
--- Isso foi. Mas teve algo no passado. Não foi a primeira vez que nós éramos noivos. Em outros tempos eu estava correndo para não ser apanhada pelo os homens do Império a caçar as pessoas por estar doentes sofrendo de fomes e pestes. E foi dessa vez que uma lança me acertou o peito, em cima do meu coração. E eu sucumbi de morte. – explicou a divina noiva.
Edgar:
--- E eu? Onde estava? – indagou o noivo amado.
Zélia:
--- Ah. Você estava enfermo. Tuberculose. Já quase morto. O Império o matou sem dó nem piedade. – explicou a jovem amada.
Edgar:
--- Verdade? Eu não sabia desse fato! – estranhou o homem.
Zélia:
--- Eu colhia ervas no quintal da moradia quando surgiram os homens do Império. Então, um deles atirou uma flecha atingindo meu peito. Desde aquele tempo eu procuro me salvar do brutal assassinato. Quanto a você, hoje resolveu parte do nosso problema. O homem que você o enterrou era o mesmo que lhe feriu de morte. – lamentou a virgem.
Edgar:
--- Como? – indagou cheio de dúvidas o doutor.
Zélia:
--- Como eu disse: desde então o seu espirito vaga. E hoje, ele desencarnou e seu espirito continua a vagar. – explicou a púbere bela.
Edgar:
--- E a mulher dele? – indagou o advogado.
Zélia:
--- Ah. Aquela é uma sofredora do destino. Ela está bem. Mas sofre pelo marido. Eles, no passado, estiveram juntos, casados. – respondeu a virgem.
Como um passo de mágica, a virgem donzela desapareceu. Edgar, temeroso com a sua ausência assim de imediato, a procurou de um lado a outro sem a ver por certo. A chuva caía em potes e barris como nunca fora vista. O vento frio sobrou intenso assolando portas e vitrais com o fechar constante. Poucos automóveis se aventuravam passar pela imensa lâmina de água formada no igual local de todos os tempos. O piano do bar do hotel fechou a tampa tão depressa chegando a causar temor em toda gente a passar constante. A luz faltou e veio de imediato em um piscar de olhos. E depois a energia elétrica faltou de vez. Alguém gritou de tanto susto. Garçons corriam em zig zag a lacrar as portas de ferro as quais se projetavam para o exterior por estar então abertas. Os uivos sisudos da ventania eram tudo a sentir. Galhos finos quebrados de árvores se projetavam para o alagado chão. De repente, como pássaros a grasnar, um Bonde saltou dos trilhos em plena avenida tomada pela imensidão das águas. As faíscas elétricas se avolumaram tão de súbito e o fogo tomou conta do misterioso condutor de gente no cruzamento das avenidas ali próximas. De imediato, o advogado correu para dentro do apinhado salão de gente nobre. Por um instante, o doutor Edgar Penteado se lembrou da eterna inerte virgem dos seus sonhos de quase sempre. E clamou:
Edgar.
--- Minha linda noiva tu onde estás?  -  clamou constante com olhar inaudito.  
E as lembranças se desvaneceram por fim. Tudo aquilo que a linda dama conversou era de um apenas passado. Enfim, em coisa alguma o homem jamais podia acreditar. Um vulto sorrateiro passou de imediato ao lado do homem. Ele apenas pressentiu a sua passagem. Ainda se voltou em plena multidão a se agasalhar, porém nada distinguiu.
 Havia falta de luz elétrica há um bom tempo. O Bonde foi açoitado pelas chamas até seu último suspiro. A ação dos bombeiros nenhuma ação pode surtir. A chuva amainou por uns instantes às nove horas da noite. Então, com sua maior pressa o advogado a segurar sua roupa para evitar molhar de toda correu ao desespero para chegar ao hotel onde residia. No interior do casarão, apenas avistou as mulheres a tratar da limpeza do salão do jantar. Em questão de segundos, Edgar Penteado conseguiu a chave e penetrou para o interior do quarto. Nada mais restou a contar.  
Naquela noite, Edgar Penteado teve um sonho de certo modo enigmático. Ele avistava um bêbado caído no chão e uma mulher ao seu lado. Na verdade, no sonho, Edgar os conhecia. E de certo tempo, ele chamou a mulher para lhe dizer:
Edgar:
--- Ele está morto! – dizia o ilustre homem.
A mulher, sorrindo, respondia.
Mulher:
--- Ele está vivinho da silva. Ele gosta de fazer essas proezas. – dizia a mulher se voltando.
Edgar:
--- Não pode! Ele me falou que estava morto! – respondeu atônito o doutor.
Mulher:
--- É o medo de morrer antes do tempo. – falou a mulher.
E Edgar saiu do local indo para uma praia deserta. Era um lugar tristonho onde não quase havia viva alma. Ele indagava a alguém se já estava na hora do banho. A pessoa dizia ser o local preservado para os banhistas de última hora. E Edgar retornou a um local muito alto onde havia apenas areia. Ele então dizia para consigo:
Edgar:
--- Aqui é o deserto. Ninguém sobe. – declarou o homem
E então saiu voando a buscar uma menina de seus 10 anos de idade para poder ir para a sua casa. A menina era a sua filha. A sua mulher falava temerosa:
Mulher:
--- Louco! Por aí é mais distante! É um lugar remoto com pessoas ruins– dizia a mulher com receio.
Nesse ponto o homem acordou suando demais. E procurava saber quem seria a mulher e a menina a aparecer no sonho. Na verdade Brígida era seu nome menina a se tratar no Centro Espírita.
 

domingo, 27 de outubro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Doze -

- CEMITÉRIO -
- 12 -
URNA
O automóvel seguia em marcha nem rápida nem vagarosa. Um bonde descia pela Avenida Junqueira Ayres, vindo da Cidade Alta com destino ao bairro da Ribeira. O veículo trazia gente, alguns em pé agarrados no pau de sustentação existente do lado de fora. Outros vinham sentados nos bancos do lado de dentro. Nair ouviu o homem, o cobrador, sacolejar a catraca, mas não deu a devida importância. Ela se interessava em chegar à casa mortuária. Uma dessas casas ficava em uma rua estreita próxima de uma escola na rua principal. A moça nada sabia da questão de escolas. Talvez fosse igual a um presídio. Mesmo assim, ainda estava muito longe de se chegar. O veículo estava do bairro da Ribeira. De um lado tinha um colégio. Para a moça parecia um colégio de garotos. Ele deu pouca importância ao caso. Apenas se lembrava do Saneamento. Esse organismo estava disposto na Rua do Sul. Perto havia  outra escola, parece de moças. A cabeça rodava em todas as direções. A moça apenas se importava em chegar à casa da venda de caixão de defuntos. Ela costumava fazer as contas nas mãos para ver quanto o homem de gravata e paletó conseguiria gastar com o negócio do enterro. Mesmo assim, Nair não tinha dinheiro algum. O automóvel subia a ladeira. O motorista alavancava um  pouco mais rápido. Homens a subir e a descer. O ar aquecido batia no rosto da bela jovem. Com isso, o seu cabelo solto se assanhava um pouco mais. Ela então se envolvia o cabelo pondo frisos para não voar constantemente. Do seu lado esquerdo ela avistou o Mercado Público. Fez uma careta com o seu rosto. Na esquina da rua era o prédio da Prefeitura. Foi ali que o homem seguiu caminho. Gente a passar a frente do veículo fazia o homem frear um pouco. Um solar abandonado ao lado esquerdo. Ela não sabia por quê. Nem mesmo se interessava saber. Havia uma farmácia ao lado. O perfume de éter cobriu o ar. E nesse mesmo local o carro adentrou. O homem falou com certa calma.
Edgar:
--- Logo à frente tem uma casa mortuária. Nós iremos até esse local. A casa tem um carro. Tudo eles fazem. Levam a urna e tudo mais. Eu pergunto. Prepare o seu endereço. É preciso. – falou com tranquilidade o cavaleiro.
Nair:
--- Eu moro na Rua do Motor. É só areia. Mas o carro passa. O outro passou. - - falou a moça com o seu lenço a enxugar as lágrimas.
Foi o tempo de se chegar a Pracinha do Padre (João Maria). De um lado estava a Loja “21 de Março”, do outro, a pracinha de poucas árvores. Em frente era a sede da Irmandade dos Passos. Na esquina estava a Escola de Comércio. Para seguir a rua estava a Casa Mortuária. Um marceneiro burilava uma urna. O responsável pelos negócios estava sentado em seu birô a fazer as suas contas. Entre urnas e castiçais chegava o doutor Edgar Penteado. De inicio, ele examinava as urnas. Em seguida, o responsável se soergueu e veio atendê-lo. Atrás dos dois homens estava à simpática jovem Nair. Ela conservava a cabeça abaixada a chorar constante. Os dois homens iniciaram a conversa e ainda Edgar indagou da moça a altura do seu pai. Ela respondeu não saber.
Nair;
--- Parece ser desse tamanho. – disse a virgem a levantar a mão e fazendo mais ou menos à altura. 
Edgar procurou escolher uma urna mortuária e orientou ao moço de atendimento ser na rua aprazada bem próxima a praia do Meio. Conferido o endereço o rapaz do atendimento respondeu ter o motorista feito à entrega de uma urna nessa mesma rua alguns dias antes. Além do mais o moço indagou se o morto já estava com a certidão de óbito. Edgar olhou para Nair como querendo saber. Ela declarou.
Nair:
--- Minha irmã foi ver se achava o doutor. – respondeu a moça a lacrimejar.
O atendente anotou e responde um pouco após ter o carro fúnebre levar todo o que era preciso e logo mais à tarde, seria feito do sepultamento.
O enterro de José Pereira somente ocorreu na manhã à quinta feira, pois o corpo teve que ser levado para o necrotério do Estado onde se faria o exame pericial. Nesse tempo, o medico esteve ocupado com um acidente de um trem com um carro e houve várias vítimas fatais. Quando o corpo de José Pereira foi liberado eram mais das seis horas da noite.
Nessa mesma noite, houve sessão espirita no Centro Nova Visão organismo fundado há algum tempo por Edgar Penteado por solicitação de sua noiva desencarnada desde quando ela estava com 25 anos de idade. Nessa sessão daquele dia várias pessoas procuravam ajuda dos médiuns. A menina Linda Rosset de 10 anos de idade já estava sentada à mesa, apesar dos cuidados obtidos com suas manifestações alarmantes. Houve preleção sobre o espiritismo, o desencarne, as comunicações pós-morte, o desencane de crianças e toda essa cena a qual várias pessoas ainda não acreditam. Após essa parte surgiu  outra. Os médiuns passaram a receber os espíritos de pessoas já desencarnadas. E a menina Linda Rosset recebeu o seu primeiro espírito. Era um espírito de uma mulher. Esse espírito buscou a atenção do doutor Edgar Penteado, pois queria agradecer os cuidados tidos com o seu marido. E foi assim a manifestação.
Espírito;
--- Eu sou Maria Emília esposa de José Pereira (da Silva). Eu venho agradecer ao seu mentor Edgar por ter feito o bem para o meu marido. Ele ainda está perturbado e não sai de onde houve o desencarne. Ele pensa que não morreu e procura a garrafa de cachaça. Eu não posso de aproximar desse espírito e não se pode fazer nada em seu beneficio. Eu agradeço as manifestações com quem teve para com José Pereira, pois esse vivente tem luz em seu caminho. – foi o que declarou o ente entre os doutores da sala
Nesse pondo houve a paz na menina Linda, pois logo recobrou a memoria. Edgar, surpreso com o surgimento do espirito da senhora Maria Emília, de tanta comoção findou por chorar. Até àquela hora o homem não sabia sequer o nome da mulher de José Pereira. E, de repente, aquele ente surgiu para agradecer o feito. E era apenas uma urna mortuária que ele comprara. Não havia nem suposição que a médio Linda fizesse a manifestação do espirito da mulher, pois não sabia de coisa alguma.  Ele ficou pasmado com a menina por ter se manifestado de coisa tão simples como a compra de um ataúde.  E a sessão prosseguiu com outros médiuns a receber novos espíritos. Edgar se levantou da mesa e foi até o quarto de orações e agradecer por ter sido assim um privilegiado daquela noite.  Nesse momento, surgiu à sua frente uma imagem de mulher. Tão logo ele a observou sentiu um arrepio porquanto, era a senhorita Zélia Albuquerque, a sua noiva do eterno passado. Ela sorriu para Edgar e demonstrou de vez ser ele um médium cada vez mais promissor. E após alguns minutos de perspectiva Zélia Albuquerque foi aos poucos desaparecendo até completamente àquele estagio da vida.
No dia do sepultamento de José Pereira, em sue lugar estava o homem de uma forma resguardada e com o seu veículo, conduziu a garota Nair, a sua irmã Laura e uma mulher parecendo ser uma tia do desencarnado. Entre o meio de pessoas naquela rua de casas pobre, Edgar vislumbrou uma figura de mulher. Essa mulher lhe sorriu e como por um encanto, desapareceu. Nair em nada pressentiu de momento. Apenas disse ter sentido presença de sua mãe naquele sepultamento. Foram três automóveis além do carro fúnebre. Um dos outros veículos com certeza era de um conhecido da família. Alguém passou por perto do carro fúnebre com uma lata de água em sua cabeça. Outra mulher voltava para o chafariz para apanha mais uma lata. Meninos corriam para acompanha o carro fúnebre. Um dos quais chegou até a porta do automóvel de Edgar e suplicante pediu uma moeda. O home tirou de sua bolsa de trocados três moedas, pois outros garotos já estavam ao lado com a cara simples e sorridente. Após deixar o cemitério, Edgar teve a oportunidade de indagar da bela jovem Nair qual seria o nome de sua mãe. A moça respondeu:
Nair:
--- Maria Helena. Eu não disse ao senhor? – indagou curiosa.
Edgar:
--- Creio que não. – respondeu
Nair.
--- E por que perguntou agora? – perguntou meio prudente
Edgar.
---Apenas por perguntar. – disse o homem a disfarçar.
Nair:
--- A minha mãe tinha qualquer coisa de espírita. Eu fui muitas vezes com ela as sessões no bairro das Rocas..
O homem ficou deveras impressionado. O vento forte da manhã de quinta feira de sol ardente soprou e levantou em redemoinho folhas de jornais, revistas, livros  dentre outros mais. Era tão forte a ventania a dar impressão de chuva de imediato. A lufada percorreu todo o caminhar em frente do Cemitério chega às idosas e corpulentas senhoras se benziam e agarravam seus vestidos de organdi e malha negra muito a recomendação de um severo sepultamento. Crianças se ajuntavam nas paredes do campo santo temendo o verdadeiro e demoníaco tufão. O homem do pão a voltar à padaria derrapou e foi ao chão em inesperado instante. O céu se fechou de vez encobrindo o sol a anunciar a mudança no tempo. Uma chuva de verão açoitou a terra. O bonde do Alecrim caminhava lendo e os seus solitários passageiros se agasalhavam a qualquer forma. O temporal rugia como o cão. Os transeuntes corriam para se abrigar na Igreja de São Pedro. Os demais, vindos de automóveis, corriam para o interior dos veículos. O terrível temporal rogava a forma de se redimir dos pecados cometidos por muitos ao longo de suas vidas. Do interior do Cemitério se ouvia o ranger de portas de alguma catacumba. Era o tempo a uivar.
Edgar:
--- Chuva! Foi só o enterro acabar. – disse o homem a temer o temporal.
Nair:
--- E agora? – indagou a moça completamente nervosa.
Edgar.
--- Esperar que a chuva passe. – falou o homem a limpar o para-brisa do automóvel.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Onze -

- CEMITÉRIO -
- 11 -
A MORTE
Na manhã de quarta-feira por volta das 09,00 horas, Nair já estava em frente ao prédio da Recebedoria de Rendas local onde trabalhava o doutor  Edgar Penteado. Naquela hora, precisamente, o auxiliar de serviços gerais, o senhor Ribeiro, abriu a grande porta de ferro permitindo a entrada dos que fossem regularizar suas contas, verificar livros ou mesmo comprar estampilhas dentre outros afazeres. A porca gente que aguardava a abertura do portão de ferro foi de imediato adentrado. Nair, com lágrimas nos olhos teve tempo de indagar ao porteiro. Ela perguntou apenas se o “homem” que se sentava em um birô de trás já havia chegado. A moça, cheia de temor, procurava observar o birô. Porém esse estava vago. Era sinal de que o homem não chegara. E foi a resposta recebida do porteiro.
Ribeiro.
--- Não está. – respondeu o porteiro com sua voz apressada.
E dizendo isso, o homem se voltou às pressas para o interior do prédio. Pessoas continuavam a adentrar e umas poucas saíam. Nair estava na calçada com seus olhos a lacrimejar. Um lenço rústico de pano era o seu companheiro. Com ele a moça constantemente se assuava. Passados alguns segundos, Nair deu meia volta e se encaminhou para um banco da praça. No lugar a bela jovem procurou se sentar a espera do homem de terno branco. Bonde trafegava para o final da linha na Ribeira em frente à Alfandega, repartição do Governo Federal. Carros seguiam velozes com destino a Cidade Alta, onde havia menos comércio. O vendedor de roletes de cana seguia com sua pressa em direção do Mercado Público. Outros negociantes igualmente passavam para o setor da Cidade. Um apito forte. Era o trem. Ele já estava a trafegar para entregar os fardos de algodão ou mesmos sacos de cimento na Rua Chile, a última a se seguir pela Travessa Aureliano antes de se encontrar o rio com o seu movimento do dia: botes, lanchas, navios entre yoles e batelões. Com seu pleno movimento de compras, a moça não dava importância aos balaieiros com suas cabeças fincadas no meio dos balaios a levar para algum lugar. Pouco ou nenhum destaque a moça conferia aos carregadores de madeiras. A sua maior preocupação era notar o homem de roupa branca. Um rapaz de braços para trás fazia reverencia a quem passava em frente à loja onde trabalhava. Outros traziam canos de ferro para levar ao seu destino. Uns poucos entravam e saíam de um Cartório bem próximo. Um ébrio dormia ao relento na calçada do Coreto da pracinha.
De repente, Nair avistou o homem de terno branco. Ele estava a chegar à repartição e entraria pela porta lateral. Um suor frio lhe correu a espinha dorsal. Ela não teve meios de gritar. Apenas a vontade de correr. E foi o que fez. De um salto, a bela moça estava dentro da repartição à procura do lugar onde devia sentar o doutor Edgar Penteado. Do nome ela apenas lembrava-se de se chamar o homem algo como “cabelo”. Mas não era esse o nome. A mulher do hotel a certa altura disse a Nair o nome do homem.  Por isso a bela moça ficou em mente como o senhor “cabalo” ou “cabeleira”. Quando a moça entrou na repartição procurou de imediato em sua bolsinha algo como um papel onde anotara o verdadeiro nome de cidadão. Entre batons, rouges e muitas outras pontas de papeis de lembrete, ela encontrou o do bendito nome escrito a lápis. Penteado. Ela sorriu sem querer entre lágrimas vertidas.
De posse de um papel pequeno, Nair falou com um rapaz sentado próximo ao balcão e ele não deu resposta. Ela indagou a mais uns três e não obteve reação. No ímpeto de fúria a moça resolveu gritar de sua maneira:
Nair:
--- Seu Penteado, por favor, venha até aqui! – gritava a moça para o diretor.
O homem ouviu alguém chamar pelo seu nome e se virou e imediato. O rapaz de serviços gerais apenas falou para o seu chefe.
Ribeiro:
--- É uma louca! – disse o auxiliar para o seu chefe.
Todos os demais servidores ficaram inquietos com a ação da moça. Um deles indagou se ela era louca.
Funcionário:
--- Gritar aqui dentro! Você está louca? – falou com voz brava o servidor.
Nair:
--- Não se meta comigo ou lhe meto esse estilete! – falou a moça em fúria com a boca cerrada.
Edgar:
--- Que é que tem aquela moça? Ela me chamou! – falou espantado o chefe.
Ribeiro:
--- É uma louca! – disse mais o atendente.
Edgar:
--- Espere! Eu estou reconhecendo a moça. Deixa-me ir até o balcão! – dizendo isso o homem se levantou com maior rapidez.
Do lado de fora do balcão a jovem Nair com bastante fúria trocava palavras com o servidor. Esse a mandou para a merda. E deu ordem de chamar a polícia. Nesse momento de terror, Edgar Penteado se acercou e logo indagou o que estava a acontecer entre a moça e o funcionário. Ela então se acalmou. E logo se pôs a chorar. Ela contou o seu drama.
Nair:
--- Meu pai morreu às três moras da madrugada. Eu vim me socorrer do senhor. É a única pessoa decente que eu conheço. Sai possível que o senhor pode me ajudar? – falou a moça com bastante pressa.
Edgar:
--- Vamos ver. O que lhe está faltando além do seu pai? – indagou preocupado o diretor.
Nair:
--- Não sei como dizer. Mas é um caixão! – disse a moça a soltar as lágrimas.
Edgar:
--- Caixão? Meu Deus do Céu! Caixão? – responde de boca aberta o diretor.
Nair:
--- Sim senhor. Se o senhor puder. Eu só preciso desse caixão de defunto! O senhor pode comprar! Não garanto pagar! Na minha casa está um desespero! Meu irmão está caído no chão de tanta cachaça que ele bebe. O outro está de zonzeira. Minha irmã foi ver se encontra o médico. E sobrou para mim o enterro. Tem um irmão que foi procurar uma cova no cemitério. Mas esse eu não conto pra nada. É um burguês. Assim mesmo, ele tem ajudado. E eu procurei o senhor para me dar um caixão de defunto. – completou a moça a chorar.
Edgar olhou em sua volta e o pessoal ficou pasmo com toda aquela história de uma moça buscar uma urna mortuária em plena manhã de alguém que nem sabia quem era. Então, esperava-se a decisão do diretor da repartição nessa altura do acontecido. E o doutor Edgar resolveu o problema.
Edgar:
--- Sei bem do que se trata. Aliás, a senhorita já havia me posto a par do acontecido. Por favor, espere-me aqui, pois eu vou buscar o meu carro. Não demoro muito. Espere-me. – falou preocupado do diretor
E então Edgar Penteado saiu a quase correr e foi buscar o seu carro na garagem do Hotel onde residia  a demorar pouco tempo. Nair ainda olhou o homem que desagradou, porém não falou mais coisa alguma e nem sabe a razão. Ela ficou animada com a promessa do doutor Edgar em poder ir com ela comprar a urna mortuária, algo que nem sabia pronunciar. Por tudo, para o enterro era apenas um caixão coberto com um pano roxo e nada mais. Os minutos, para Nair, transcorreram de forma muito lenta, apesar de que foram apenas cinco decisivos minutos e nada mais. Quando Edgar chegou na esquina da sua repartição pela rua Sachet, encontrou a moça e alguns funcionários a sua espera, inclusive o servidor Ribeiro querendo agradá-lo por todas diversas maneira. De imediato ainda perguntou ao seu chefe se podia ser útil em sua viagem, ao passo em que o homem o dispensou.  A jovem bela moça adentrou ao carro pela porta da frente e procurou se ajeitar na poltrona do moderno veículo mesmo assim usando seu nariz com o velho e puído pano já bastante encharcado por ação garota ter se assuado.    
Entre lágrimas e prantos a moça ainda contou durante a viagem que o seu pai já não se alimentava apesar de ter sido comprado o medicamento adequado formulado pelo médico. Por todo o dia passado, o sei pai esteve em ânsia agonizante. Delirava vez por outra a chamar por sua mulher. E confundia ser a moça Nair a sua verdadeira esposa.
Edgar:
--- Qual o nome dele de verdade? – indagou sem querer o advogado.
Nair:
--- José. Mas todos os que o conheciam chamavam apenas de Zeca. Era o comum. Mas o seu nome era José Pereira da Silva. Ele detestava esse nome. – falou a infante moça.
Edgar:
--- É. Mas José foi o pai de Jesus. – explicou o advogado.
Nair:
--- Meu pai se lembrava disso. Mas dizia ter muito José no mundo. José e João eram os nomes que ele não gostava. Nas filhas ele disse ter caprichado. Minha irmã se chama Laura. É mais velha que eu. Uma terceira tinha o nome de Otília. Essa moça Deus levou.  – chorou mais uma vez a filha mais nova.