terça-feira, 15 de outubro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Cinco -

- O PAI -
- 05 -
A VOLTA
De volta ao Hotel onde se hospedava. Edgar Barreto guardou o seu carro na garagem particular em um terreno logo atrás do prédio. Ele estava exausto com os afazeres do dia. A sessão tinha sido por demais tormentosas. Naquela ocasião Edgar acertou com dona Dalila Rosset para poder ir dia seguinte, com o seu marido, Adeodato Rosset ver no consultório do doutor Hermógenes Andrade a continuação do exame com a menina Linda. Edgar estava magoado por tudo o que houve com a enteada do seu amigo naquela noite. Com certo tempo, ele entrou no seu quarto de dormir e se despiu de pronto e sair para o banheiro a fim de tomar um banho. Via-se no seu semblante o rosto de preocupado. Ainda estava no banheiro quando ouviu um bater leve na porta do quarto. Ele entendeu o toque e nada fez. Demorou-se um pouco no banho e depois saiu já vestido com sua roupa de dormir. Quando Edgar saiu, procurou abrir a porta do quarto e viu uma mocinha tão acanhada como um coelho preso numa arapuca. Naquele instante, Edgar procurou verificar se tinha mais alguém. Como não viu mais do que aquela lebre, então a mandou entrar. A moça, acovardada, entrou no quarto, com as mãos para trás. Toda encolhida, a moça ficou em pé escorada na porta do quarto com seus olhos miúdos cheio de espantos. Sua idade parecia ter uns 17 anos. Edgar saiu para o outro lado do quarto e ligou o radio em uma estação de fora do Estado. Talvez estivesse a cata de algum informe atual. Ele olhou de viés para verificar onde estava a simpática coelhinha. E viu encostada à parede junto à porta com as mãos para trás talvez com temor de algo. Em seguida, Edgar se soergue e disse a coelhinha.
Edgar:
--- Sente-se. Tem a cama próxima de você. – disse sem sorrir o homem.
A menina não fez gesto em sair do lugar. De inicio o homem indagou se ela estava com frio. A mocinha nada respondeu. Apenas ficou escorada na parede do quarto com o rosto acabrunhado. Edgar se sentou na cama e então indagou:
Edgar:
--- Qual o seu nome? – indagou com voz suave.
A mocinha demorou a responder. E disse:
Moça:
--- Não vou fazer nada. – respondeu a mocinha.
Edgar, sem surpresa, concordou. E logo após perguntou:
Edgar:
--- Doente? – indagou o homem.
A moça nada respondeu. E em seguida Edgar falou:
Edgar:
--- Eu não vou fazer nada com você. Apenas desejo conversar.  – falou calmo
A moça falou olhando a janela fechada que dava para a Rua Duque de Caxias.
Moça:
--- Essa janela se abre? Eu não quero ficar aqui. Vou embora. – respondeu inquieta a moça.
O homem olhou bem a janela e indagou:
Edgar:
--- Quer fugir? – perguntou o homem.
Moça:
--- Nair. Meu nome. Essa mulher é ruim. Não fico mais aqui. – declarou Nair cheia de temor.
Edgar:
--- Ah! Bom! Assim está certo. Quer que eu abra? – indagou sem vexame.
Nair:
--- O senhor vai dizer a ela? – perguntou a moça um tanto temerosa da ponta da parede.
O homem refletiu um pouco e respondeu:
Edgar:
--- Você tem dinheiro? Eu posso deixar fugir. – disse o homem sem receios.
A moça ficou calada olhando a janela. Ouvia-se o barulho de um bonde a trafegar no sentido da cidade. Então a moça esmoreceu com temor.  E falou depois.
Nair.
--- A mulher é ruim. Eu preciso sair daqui. Eu quero ir embora. – falou a lacrimar a moça.
Edgar então entendeu a aflição da moça. E ainda perguntou para tirar qualquer dúvida.
Edgar:
--- Você já faz alguma vez ou ainda é moça? – indagou com precisão o homem.
Nair se acovardou e deu um momento para declarar.
Nair:
--- Sou moça. Meu pai é doente. Não tarda a morrer. Tosse o dia e noite. Minha mãe já morreu do peito. – confessou Nair um tanto chorosa e temerosa.
Edgar.
--- E o seu pai tem tratamento? – perguntou o homem.
Nair:
--- Ele está tomando um remédio. Mas não adianta. Ele bebe muito. E o que ele engole, vomita. – relatou acabrunhada.
Edgar.
--- Ele trabalhou alguma vez? – indagou.
Nair:
--- Ele é empregado do Saneamento. Mas com essa doença, foi afastado. Apenas recebe dinheiro. E minha irmã é quem recebe. Ele não anda mais. Só de casa para a bodega. Vai e volta. – falou com tristeza.
Edgar:
--- Incrível! E você tem se tratado? – perguntou a estranhar.
Nair.
--- Eu fui ao doutor e ele mandou tirar uma chapa. Eu mostrei a ele. E ele disse que eu não tinha nada. – falou conformada.
Edgar:
--- Ele medicamento para tomar? – perguntou.
Nair.
--- Acabou na semana passada. Agora só quando receber pagamento. – falou com lágrimas.
Edgar.
--- Mas não pode ser assim. Eu vou te dar um dinheiro para você comprar o medicamento. E ele tem que tomar. Nem que seja a força. – comentou com altivez.
Nair.
--- Eu agradeço. Mas se for a força. Ele não toma mais o remédio. Diz que vai morrer. E pronto. – comentou chorando.
Edgar:
--- Quem te trouxe para cá? – perguntou
Nair.
--- A lavadeira. É outra. Não vale o que o gato enterra. – fez cara feia.
O homem buscou o dinheiro que, com certeza era o suficiente e recomendou a moça a lhe dar novas informações a respeito da saúde do seu pai.
Edgar:
--- Eu trabalho naquela repartição ali em frente. Qualquer coisa me procure. Agora suba e pule para fora. Deus te abençoe. – falou o homem cheio  de tristeza.
A moça Nair, 17 anos de idade, pulou a janela e correu rua a fora em busca de uma farmácia no bairro das Rocas onde, possivelmente acharia alguma ainda aberta com certeza e despacharia a receita com os medicamentos para seu pai. O pulo foi como o de um gato. Edgar ainda percebeu a mocinha correndo feito uma lebre para depois fechar a janela de vez. Aquele dia, para Edgar, foi um tremendo desespero.

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