- O PAI -
- 05 -
A VOLTA
De volta ao Hotel onde se hospedava. Edgar Barreto guardou o
seu carro na garagem particular em um terreno logo atrás do prédio. Ele estava
exausto com os afazeres do dia. A sessão tinha sido por demais tormentosas.
Naquela ocasião Edgar acertou com dona Dalila Rosset para poder ir dia
seguinte, com o seu marido, Adeodato Rosset ver no consultório do doutor
Hermógenes Andrade a continuação do exame com a menina Linda. Edgar estava
magoado por tudo o que houve com a enteada do seu amigo naquela noite. Com
certo tempo, ele entrou no seu quarto de dormir e se despiu de pronto e sair
para o banheiro a fim de tomar um banho. Via-se no seu semblante o rosto de
preocupado. Ainda estava no banheiro quando ouviu um bater leve na porta do quarto.
Ele entendeu o toque e nada fez. Demorou-se um pouco no banho e depois saiu já
vestido com sua roupa de dormir. Quando Edgar saiu, procurou abrir a porta do
quarto e viu uma mocinha tão acanhada como um coelho preso numa arapuca.
Naquele instante, Edgar procurou verificar se tinha mais alguém. Como não viu
mais do que aquela lebre, então a mandou entrar. A moça, acovardada, entrou no
quarto, com as mãos para trás. Toda encolhida, a moça ficou em pé escorada na
porta do quarto com seus olhos miúdos cheio de espantos. Sua idade parecia ter
uns 17 anos. Edgar saiu para o outro lado do quarto e ligou o radio em uma
estação de fora do Estado. Talvez estivesse a cata de algum informe atual. Ele
olhou de viés para verificar onde estava a simpática coelhinha. E viu encostada
à parede junto à porta com as mãos para trás talvez com temor de algo. Em
seguida, Edgar se soergue e disse a coelhinha.
Edgar:
--- Sente-se. Tem a cama próxima de você. – disse sem sorrir
o homem.
A menina não fez gesto em sair do lugar. De inicio o homem
indagou se ela estava com frio. A mocinha nada respondeu. Apenas ficou escorada
na parede do quarto com o rosto acabrunhado. Edgar se sentou na cama e então
indagou:
Edgar:
--- Qual o seu nome? – indagou com voz suave.
A mocinha demorou a responder. E disse:
Moça:
--- Não vou fazer nada. – respondeu a mocinha.
Edgar, sem surpresa, concordou. E logo após perguntou:
Edgar:
--- Doente? – indagou o homem.
A moça nada respondeu. E em seguida Edgar falou:
Edgar:
--- Eu não vou fazer nada com você. Apenas desejo conversar. – falou calmo
A moça falou olhando a janela fechada que dava para a Rua
Duque de Caxias.
Moça:
--- Essa janela se abre? Eu não quero ficar aqui. Vou embora.
– respondeu inquieta a moça.
O homem olhou bem a janela e indagou:
Edgar:
--- Quer fugir? – perguntou o homem.
Moça:
--- Nair. Meu nome. Essa mulher é ruim. Não fico mais aqui. –
declarou Nair cheia de temor.
Edgar:
--- Ah! Bom! Assim está certo. Quer que eu abra? – indagou
sem vexame.
Nair:
--- O senhor vai dizer a ela? – perguntou a moça um tanto
temerosa da ponta da parede.
O homem refletiu um pouco e respondeu:
Edgar:
--- Você tem dinheiro? Eu posso deixar fugir. – disse o homem
sem receios.
A moça ficou calada olhando a janela. Ouvia-se o barulho de
um bonde a trafegar no sentido da cidade. Então a moça esmoreceu com
temor. E falou depois.
Nair.
--- A mulher é ruim. Eu preciso sair daqui. Eu quero ir
embora. – falou a lacrimar a moça.
Edgar então entendeu a aflição da moça. E ainda perguntou
para tirar qualquer dúvida.
Edgar:
--- Você já faz alguma vez ou ainda é moça? – indagou com
precisão o homem.
Nair se acovardou e deu um momento para declarar.
Nair:
--- Sou moça. Meu pai é doente. Não tarda a morrer. Tosse o
dia e noite. Minha mãe já morreu do peito. – confessou Nair um tanto chorosa e temerosa.
Edgar.
--- E o seu pai tem tratamento? – perguntou o homem.
Nair:
--- Ele está tomando um remédio. Mas não adianta. Ele bebe
muito. E o que ele engole, vomita. – relatou acabrunhada.
Edgar.
--- Ele trabalhou alguma vez? – indagou.
Nair:
--- Ele é empregado do Saneamento. Mas com essa doença, foi
afastado. Apenas recebe dinheiro. E minha irmã é quem recebe. Ele não anda
mais. Só de casa para a bodega. Vai e volta. – falou com tristeza.
Edgar:
--- Incrível! E você tem se tratado? – perguntou a estranhar.
Nair.
--- Eu fui ao doutor e ele mandou tirar uma chapa. Eu mostrei
a ele. E ele disse que eu não tinha nada. – falou conformada.
Edgar:
--- Ele medicamento para tomar? – perguntou.
Nair.
--- Acabou na semana passada. Agora só quando receber
pagamento. – falou com lágrimas.
Edgar.
--- Mas não pode ser assim. Eu vou te dar um dinheiro para
você comprar o medicamento. E ele tem que tomar. Nem que seja a força. –
comentou com altivez.
Nair.
--- Eu agradeço. Mas se for a força. Ele não toma mais o
remédio. Diz que vai morrer. E pronto. – comentou chorando.
Edgar:
--- Quem te trouxe para cá? – perguntou
Nair.
--- A lavadeira. É outra. Não vale o que o gato enterra. –
fez cara feia.
O homem buscou o dinheiro que, com certeza era o suficiente e
recomendou a moça a lhe dar novas informações a respeito da saúde do seu pai.
Edgar:
--- Eu trabalho naquela repartição ali em frente. Qualquer
coisa me procure. Agora suba e pule para fora. Deus te abençoe. – falou o homem
cheio de tristeza.
A moça Nair, 17 anos de idade, pulou a janela e correu rua a
fora em busca de uma farmácia no bairro das Rocas onde, possivelmente acharia
alguma ainda aberta com certeza e despacharia a receita com os medicamentos
para seu pai. O pulo foi como o de um gato. Edgar ainda percebeu a mocinha
correndo feito uma lebre para depois fechar a janela de vez. Aquele dia, para
Edgar, foi um tremendo desespero.
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