segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Quatro

- CENTRO -
- 4 -
TERRÍVEL
Na noite de segunda feira o Centro Espírita Nova Visão, na Cidade, estava apinhado de frequentadores durante as primeiras da noite. A cada dia o Centro recebia cada vez maior em seu salão um número maior de adeptos do Espiritismo. Alguns estavam no meio pela vez primeira. E dentre os quais a mulher do senhor Adeodato Rosset, a senhora Dalila. Essa fazia companhia a sua sobrinha-filha, a garota Linda Rosset e mais duas governantas. O calor era insuportável apesar de haver no recinto oito ventiladores de parede. As janelas estavam abertas no inicio dos trabalhos com uma palestra feita pelo médico Hermógenes Andrade a discorrer sobre o tema de Reencarnação.  Dizia o médico espírita – “que a reencarnação não é um castigo como se pode pensar. Mas  uma lei da vida”. Para a maioria das pessoas presentes, tudo era de forma alheia, pois os assistentes eram pessoas apenas simpatizantes. Apesar de todos já estarem em convívio de se falar em tal processo, mesmo assim, quase ninguém acreditava. A Igreja pregava Ressureição. Esse caso era perfeitamente incompleto. – “Reencarnação não quer dizer modo algum a ressureição. A primeira é de um espirito a se reencarnar eu um novo corpo. A segunda era apenas a pessoa poder recobrar o sentido. E a pessoa não está vivendo por um castigo. Ela está em uma nova vida. Não raro, é uma mulher ou homem que se reencarna em outro corpo, morando distante de sua família de origem. E às vezes é um corpo de um tio, um pai, um irmão que não teve a possibilidade de renascer quando era preciso. No caso de um pai esse espírito pode se reencarnar no corpo de um neto. E tem casos mais antigos aonde o espirito vem depois de varias gerações à procura de outro corpo para ele habitar podendo ser de alguém que no passado viveu como seu amigo ou supostamente figura muito influente na vida daquele ser. Diga-se: a pessoa tem um tio. Esse tio morre e depois  de algum tempo morre também o sobrinho. Os dois se encontram em outra vida. Isso porque quem morre, ele aparentemente não morre. Ele desencarna. E no caso, os dois desencarnam. Tempos depois até mesmo alguns séculos, os dois voltam para viver como sendo eles irmãos ou parentes consanguíneos.  Note-se: alguém que não vemos há vários anos uma vez ele nos reencontra. E é um regozijo feliz de ambos. Isso se dá nesse mundo. Quem desencarna também sente igual felicidade em se reencontra com aquele velho amigo no outro lado da vida. Quando se está desencarnado e assim vemos o outro Espirito nós o reconhecemos. Se no passado nós cometemos um crime, o outro espirito vai nos dizer ter sido aquele espirito que cometeu tal crime. E eles então ficam ou não amigos, porque na vida do outro lado não existe vingança. Pode haver soberba. Mas não vingança. E pode haver situações onde o espirito desencarnado, se ele é maldoso quando era um ser, fica recolhido por longos tempos em um lugar apenas de máculas para entender melhor o que ele fez aqui na Terra. Tem situações de um espírito viver agora como médico e depois esse espirito renasce e vem como um mendigo, porque ele como Médico fez abusos contra seus pacientes. Um dia ele desencarna. E volta depois de muito tempo até de séculos como então um mendigo para mostrar que a vida de uma pessoa não é apenas flores. Tem espinhos “também,”. Isso foi o exemplo dado pelo médico doutor Hermógenes em sua preleção. Outros fatores abordados pelo médico foram os defeitos congênitos. Outros casos são paradigmas, ou seja, “verdades absolutas” .
No final de sua preleção o doutor Hermógenes Andrade fez questão em salientar que  hoje “nós temos pesquisadores sérios e bem capazes de orientar a todos o que se observa no mundo dos seres desencarnados. E por terem sido eles do mundo de seres encarnados. Veja-se bem: para ser bem claro, quando nós morremos, por assim dizer, não vamos para outro mundo. Nós ficamos aqui mesmo. Se nós viventes não conseguimos visualizar um ser que morre é porque ele está em outra dimensão. Não raro, nós sonhamos com pessoas vivas e que conhecemos nos sonhos, mas na verdade, ao despertar, nós não lembramos de quem era o ser. Isso se dá porque nós temos muitos irmãos que já passaram para a outra dimensão e que nós conhecíamos, porém que agora nós não mais o conhecemos pelo fato dele ter sido um parente ou não parente de há muito. Em outra forma nós vivemos em um mundo distante do nosso atual mundo quando sonhamos. Tem casos de mortos que no entanto “falam” como um perito médico quando estão sendo periciados de sua causa mortis. E teimam e afirma que eles não morreram. Isso é verdade. Esbravejam, ameaçam de morte o técnico. Fazem de tudo para mostrar que eles estão vivos. Isso é pura verdade. O que ocorre é o espírito do morto não acreditar estar morto. É delirante tal fato. Eu peço a cada um de vós rezarem não pelos mortos. Mas pelos desencarnados.” - finalizou o médico a sua fala.
Após essa fala houve então o segmento dos passes ou “tratamento espiritual”. Em tais sessões sempre públicas cada um dos estejam em tratamento recebem os chamados passes, ou seja, introdução das mãos de um passista. Essa pessoa virtualiza as mãos sobre a fronte do elemento em tratamento e, dependendo do caso, o paciente recebe fluidos benfazejos. Foram após a sessão doutrinara, as pessoas em estado dos mais diversos. Uma mulher era conduzida por duas outras pessoas a segura-la pelas axilas, um jovem cego doente de um braço também foi seguido por outro rapaz para a parte da casa onde se dava o tratamento, uma moça em transe foi levada por dois assistentes para dentro do Centro Nova Visão e dentre muito, seguia também a menina Linda Rosset e sua tia mãe além de duas outras mulheres acompanhantes. Pela primeira vez Dalila Rosset frequentava um Centro Espirita. A mulher tinha  certo temor por ter visto pessoas naufragadas em suas vidas entre muitas outras coisas.
A menina Linda Rosset, foi encaminhada ao doutor Hermógenes para lhe o tratamento de passes. Tudo estava em paz, salvo pelos doentes. Em certa ocasião, quando Linda se sentou na cadeira de passes deu-lhe um forte estremecimento. A menina se inquietou e fez uma cara grosseira para o médico, trancando seus belos olhos. E então falou com uma voz grossa;
Linda:
--- O que é que você quer comigo? – indagou de forma irreverente a menina.
O médico Hermógenes aplicava os passes e a menina em transes cuspia fora o que recebera.
Linda:
--- Sai daqui! Sai daqui! Sai daqui! – repetia com voz forte ao médico.
O médico chamou nesse instante mais dois médiuns  para ajuda-lo no tratamento da menina. Os dois médiuns acorreram com imediata pressa tentando segurar a menina pelos braços e pelas pernas. A tia mãe Dalila Rosset ficou exaltada não entendendo o que se passava naquele instante. E gritava então:
Dalila:
--- Tenha calma menina! Tenha calma! – dizia forte a mulher querendo segurar Linda.
O médico por um instante pediu à mulher que deixasse a menina exaltada somente com os médiuns, pois era um espirito de outra esfera.
Hermógenes:
--- Por favor, deixe com os médiuns, pois não é a menina.
E Linda esperneava a todo custo danificando uma mesa ao lado onde estava a água fluidificada e os copos. No estardalhaço feroz a menina rosnava para os médiuns bem como para o médico Hermógenes com seu rosto amarelado e olhos sombrios querendo esganar que pudesse. Um médium findou por cair ao chão com a impetuosidade da menina junto às suas pernas. Como enlouquecida, Linda não se continha com a fúria desalmada querendo se livrar dos médiuns. Se tia mãe correu para trás com os seus olhos esbugalhados e a mão na boca sendo amparada pelas duas governantas.
Linda:
--- Sai da minha casa seu esterco de vaca! Sai! Ela é minha! – gritava como uma fera enjaulada.
Hermógenes:
--- Contenha-se! Ela não é tua casa! Contenha-se! Contenha-se! – gritava o medico a aparição.
Nesse momento chegou de imediato Edgar Barreto. Ele ouviu os gritos estridentes da menina e veio em socorro do médico. De imediato, Edgar Barreto formulou uma oração com a ajuda de seu guia espiritual que já estava com ele. E ambos formaram uma corrente enquanto os médiuns seguravam Linda. Essa ainda a se estrebuchar, porém o esforço redobrado em cima de Linda fez acalmar a menina.  Parecia que a oração feita pelo doutor Edgar ofereceu um reforço. A ajuda de seu guia amainou a força incontida da menina.  A garota retorceu a face em um gritar terrível e de momento foi saindo do seu corpo aquele ser terrificante.
Hermógenes:
--- Terrível! – declarou o médico enxugando a face com os seus braços.
Os dois médiuns se recolheram verificando a pulsação da menina para assistir seu estado de ansiedade. O doutor Edgar soprou leve a sua respiração e orou um pouco para acalmar a todos. E formulou então:
Edgar:
--- Será preciso uma sessão de emergência em seu consultório doutor Hermógenes.  – relatou o médium  angustiado.
Hermógenes:
--- É preferível. Vejamos o que tem a dizer a senhora mãe da menina! – confabulou o médico.
Em certo instante a menina pareceu acordar de um transe e se olhando como estava indagou a sua tia mãe o que acontecera com ela. A mulher Dalila correu e a confortar a menina apenas disse.
Dalila:
--- Nada filha! Está tudo bem! – disse a tia mãe.
As governantas acudiram a menina e a levaram com todo o cuidado à saída do Centro Espírita. Já na rua, as duas amas ficaram a esperar pela patroa. Dona Dalila ficara dentro do Centro a solicitação do médico Hermógenes. O caso de Linda era de muito cuidado
 

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