- CEMITÉRIO -
- 12 -
URNA
O automóvel seguia em marcha nem rápida nem vagarosa. Um
bonde descia pela Avenida Junqueira Ayres, vindo da Cidade Alta com destino ao
bairro da Ribeira. O veículo trazia gente, alguns em pé agarrados no pau de
sustentação existente do lado de fora. Outros vinham sentados nos bancos do
lado de dentro. Nair ouviu o homem, o cobrador, sacolejar a catraca, mas não
deu a devida importância. Ela se interessava em chegar à casa mortuária. Uma
dessas casas ficava em uma rua estreita próxima de uma escola na rua principal.
A moça nada sabia da questão de escolas. Talvez fosse igual a um presídio.
Mesmo assim, ainda estava muito longe de se chegar. O veículo estava do bairro
da Ribeira. De um lado tinha um colégio. Para a moça parecia um colégio de garotos.
Ele deu pouca importância ao caso. Apenas se lembrava do Saneamento. Esse
organismo estava disposto na Rua do Sul. Perto havia outra escola, parece de moças. A cabeça
rodava em todas as direções. A moça apenas se importava em chegar à casa da
venda de caixão de defuntos. Ela costumava fazer as contas nas mãos para ver
quanto o homem de gravata e paletó conseguiria gastar com o negócio do enterro.
Mesmo assim, Nair não tinha dinheiro algum. O automóvel subia a ladeira. O
motorista alavancava um pouco mais
rápido. Homens a subir e a descer. O ar aquecido batia no rosto da bela jovem.
Com isso, o seu cabelo solto se assanhava um pouco mais. Ela então se envolvia
o cabelo pondo frisos para não voar constantemente. Do seu lado esquerdo ela
avistou o Mercado Público. Fez uma careta com o seu rosto. Na esquina da rua
era o prédio da Prefeitura. Foi ali que o homem seguiu caminho. Gente a passar
a frente do veículo fazia o homem frear um pouco. Um solar abandonado ao lado
esquerdo. Ela não sabia por quê. Nem mesmo se interessava saber. Havia uma
farmácia ao lado. O perfume de éter cobriu o ar. E nesse mesmo local o carro
adentrou. O homem falou com certa calma.
Edgar:
--- Logo à frente tem uma casa mortuária. Nós iremos até esse
local. A casa tem um carro. Tudo eles fazem. Levam a urna e tudo mais. Eu
pergunto. Prepare o seu endereço. É preciso. – falou com tranquilidade o
cavaleiro.
Nair:
--- Eu moro na Rua do Motor. É só areia. Mas o carro passa. O
outro passou. - - falou a moça com o seu lenço a enxugar as lágrimas.
Foi o tempo de se chegar a Pracinha do Padre (João Maria). De
um lado estava a Loja “21 de Março”, do outro, a pracinha de poucas árvores. Em
frente era a sede da Irmandade dos Passos. Na esquina estava a Escola de
Comércio. Para seguir a rua estava a Casa Mortuária. Um marceneiro burilava uma
urna. O responsável pelos negócios estava sentado em seu birô a fazer as suas
contas. Entre urnas e castiçais chegava o doutor Edgar Penteado. De inicio, ele
examinava as urnas. Em seguida, o responsável se soergueu e veio atendê-lo.
Atrás dos dois homens estava à simpática jovem Nair. Ela conservava a cabeça
abaixada a chorar constante. Os dois homens iniciaram a conversa e ainda Edgar
indagou da moça a altura do seu pai. Ela respondeu não saber.
Nair;
--- Parece ser desse tamanho. – disse a virgem a levantar a
mão e fazendo mais ou menos à altura.
Edgar procurou escolher uma urna mortuária e orientou ao moço
de atendimento ser na rua aprazada bem próxima a praia do Meio. Conferido o
endereço o rapaz do atendimento respondeu ter o motorista feito à entrega de
uma urna nessa mesma rua alguns dias antes. Além do mais o moço indagou se o
morto já estava com a certidão de óbito. Edgar olhou para Nair como querendo
saber. Ela declarou.
Nair:
--- Minha irmã foi ver se achava o doutor. – respondeu a moça
a lacrimejar.
O atendente anotou e responde um pouco após ter o carro
fúnebre levar todo o que era preciso e logo mais à tarde, seria feito do sepultamento.
O enterro de José Pereira somente ocorreu na manhã à quinta
feira, pois o corpo teve que ser levado para o necrotério do Estado onde se
faria o exame pericial. Nesse tempo, o medico esteve ocupado com um acidente de
um trem com um carro e houve várias vítimas fatais. Quando o corpo de José
Pereira foi liberado eram mais das seis horas da noite.
Nessa mesma noite, houve sessão espirita no Centro Nova Visão
organismo fundado há algum tempo por Edgar Penteado por solicitação de sua
noiva desencarnada desde quando ela estava com 25 anos de idade. Nessa sessão
daquele dia várias pessoas procuravam ajuda dos médiuns. A menina Linda Rosset de
10 anos de idade já estava sentada à mesa, apesar dos cuidados obtidos com suas
manifestações alarmantes. Houve preleção sobre o espiritismo, o desencarne, as
comunicações pós-morte, o desencane de crianças e toda essa cena a qual várias
pessoas ainda não acreditam. Após essa parte surgiu outra. Os médiuns passaram a receber os
espíritos de pessoas já desencarnadas. E a menina Linda Rosset recebeu o seu
primeiro espírito. Era um espírito de uma mulher. Esse espírito buscou a
atenção do doutor Edgar Penteado, pois queria agradecer os cuidados tidos com o
seu marido. E foi assim a manifestação.
Espírito;
--- Eu sou Maria Emília esposa de José Pereira (da Silva). Eu
venho agradecer ao seu mentor Edgar por ter feito o bem para o meu marido. Ele
ainda está perturbado e não sai de onde houve o desencarne. Ele pensa que não
morreu e procura a garrafa de cachaça. Eu não posso de aproximar desse espírito
e não se pode fazer nada em seu beneficio. Eu agradeço as manifestações com
quem teve para com José Pereira, pois esse vivente tem luz em seu caminho. –
foi o que declarou o ente entre os doutores da sala
Nesse pondo houve a paz na menina Linda, pois logo recobrou a
memoria. Edgar, surpreso com o surgimento do espirito da senhora Maria Emília,
de tanta comoção findou por chorar. Até àquela hora o homem não sabia sequer o
nome da mulher de José Pereira. E, de repente, aquele ente surgiu para
agradecer o feito. E era apenas uma urna mortuária que ele comprara. Não havia
nem suposição que a médio Linda fizesse a manifestação do espirito da mulher,
pois não sabia de coisa alguma. Ele
ficou pasmado com a menina por ter se manifestado de coisa tão simples como a
compra de um ataúde. E a sessão prosseguiu
com outros médiuns a receber novos espíritos. Edgar se levantou da mesa e foi
até o quarto de orações e agradecer por ter sido assim um privilegiado daquela
noite. Nesse momento, surgiu à sua
frente uma imagem de mulher. Tão logo ele a observou sentiu um arrepio
porquanto, era a senhorita Zélia Albuquerque, a sua noiva do eterno passado.
Ela sorriu para Edgar e demonstrou de vez ser ele um médium cada vez mais
promissor. E após alguns minutos de perspectiva Zélia Albuquerque foi aos
poucos desaparecendo até completamente àquele estagio da vida.
No dia do sepultamento de José Pereira, em sue lugar estava o
homem de uma forma resguardada e com o seu veículo, conduziu a garota Nair, a
sua irmã Laura e uma mulher parecendo ser uma tia do desencarnado. Entre o meio
de pessoas naquela rua de casas pobre, Edgar vislumbrou uma figura de mulher.
Essa mulher lhe sorriu e como por um encanto, desapareceu. Nair em nada
pressentiu de momento. Apenas disse ter sentido presença de sua mãe naquele
sepultamento. Foram três automóveis além do carro fúnebre. Um dos outros
veículos com certeza era de um conhecido da família. Alguém passou por perto do
carro fúnebre com uma lata de água em sua cabeça. Outra mulher voltava para o
chafariz para apanha mais uma lata. Meninos corriam para acompanha o carro
fúnebre. Um dos quais chegou até a porta do automóvel de Edgar e suplicante
pediu uma moeda. O home tirou de sua bolsa de trocados três moedas, pois outros
garotos já estavam ao lado com a cara simples e sorridente. Após deixar o
cemitério, Edgar teve a oportunidade de indagar da bela jovem Nair qual seria o
nome de sua mãe. A moça respondeu:
Nair:
--- Maria Helena. Eu não disse ao senhor? – indagou curiosa.
Edgar:
--- Creio que não. – respondeu
Nair.
--- E por que perguntou agora? – perguntou meio prudente
Edgar.
---Apenas por perguntar. – disse o homem a disfarçar.
Nair:
--- A minha mãe tinha qualquer coisa de espírita. Eu fui
muitas vezes com ela as sessões no bairro das Rocas..
O homem ficou deveras impressionado. O vento forte da manhã
de quinta feira de sol ardente soprou e levantou em redemoinho folhas de
jornais, revistas, livros dentre outros
mais. Era tão forte a ventania a dar impressão de chuva de imediato. A lufada
percorreu todo o caminhar em frente do Cemitério chega às idosas e corpulentas
senhoras se benziam e agarravam seus vestidos de organdi e malha negra muito a
recomendação de um severo sepultamento. Crianças se ajuntavam nas paredes do
campo santo temendo o verdadeiro e demoníaco tufão. O homem do pão a voltar à
padaria derrapou e foi ao chão em inesperado instante. O céu se fechou de vez
encobrindo o sol a anunciar a mudança no tempo. Uma chuva de verão açoitou a
terra. O bonde do Alecrim caminhava lendo e os seus solitários passageiros se
agasalhavam a qualquer forma. O temporal rugia como o cão. Os transeuntes
corriam para se abrigar na Igreja de São Pedro. Os demais, vindos de
automóveis, corriam para o interior dos veículos. O terrível temporal rogava a
forma de se redimir dos pecados cometidos por muitos ao longo de suas vidas. Do
interior do Cemitério se ouvia o ranger de portas de alguma catacumba. Era o
tempo a uivar.
Edgar:
--- Chuva! Foi só o enterro acabar. – disse o homem a temer o
temporal.
Nair:
--- E agora? – indagou a moça completamente nervosa.
Edgar.
--- Esperar que a chuva passe. – falou o homem a limpar o
para-brisa do automóvel.
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