- Anne Hathaway -
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Norma Vidigal foi até à porta de entrada da casa e de pronto abriu-a para Armando Viana poder entrar. Muito solicita fez questão em o rapaz sentar em uma poltrona depois de apresentá-lo a seu pai. Nesse mesmo instante, cheia de alegria, Norma teve a preocupação de convidar a sua mãe, uma senhora de meia idade conhecida pelo nome de Maria Helena. Por seu aspecto, Armando notou ser uma mulher bastante católica, pois ao convite de conhecê-lo chegou com um rosário preso às mãos. O homem, Teodomiro, ficou de pé no meio da sala a espera de algum assunto advindo.
--- Conte-me o que procuras? – quis saber a moça a olhar terno o rapaz.
Armando, meio encabulado, apenas dedilhou em dizer ter sido convidado pelo Governador para ser o seu Secretário de Imprensa, cargo a assumir no dia seguinte e faria o convite a Norma para acompanhá-lo em uma cerimônia bastante simples.
--- Ora viva! Um Secretário do Governo em nossa casa!! – sorriu a moça com imensa alegria.
--- É. Mas Secretário é hoje e amanhã não é. Eu aceitei o convite. Apenas aceitei. – sorriu o rapaz meio encabulado.
--- Mas meu rapaz, um Secretário é um passo muito importante. Se o Governador o convidou é, com certeza, por ter confiança em você. – declarou Teodomiro falando austero.
A mãe de Norma nada comentou. Privou-se com um sorriso a perguntar se o rapaz gostaria de tomar um ponche. E Armando Viana nada recusou. Enquanto a doméstica da casa lhe trazia o ponche, o rapaz fez perguntar se seria possível Norma estar com ele à simples cerimônia de transmissão de cargo no dia seguinte às dez horas da manhã.
--- Mas claro que eu posso ir. É só dizer aonde eu posso encontrar o novo Secretário. – sorriu a jovem Norma.
--- Menos! Menos! Menos! É uma cerimônia sem grande brio. Eu quero estar com você, por que achou que você é um amparo para mim. Na verdade, eu sou um molenga! – sorriu o rapaz ao dizer tanto.
--- Molenga que nada! Você é um homem! Eu quero-te ver subindo mais alto no pórtico da gloria. Um Governador ou mesmo um Presidente da Republica. - falou alto a moça para o seu ouvir muito bem.
--- Que é isso! Um escritor seria muito para mim! – sorriu Armando querendo esconder o rosto
--- Que é isso, homem? Um presidente da República é apenas um cargo. Bom seria você se tornar um magnata. Homem de poder. Muito mais que um reles Juiz. –falou com bravura a moça no meio de tanta duvida lançada pelo rapaz.
E com o passar do tempo o rapaz concordou com tudo. A moça estava coberta de razão, era o quanto ele pensava. Deputado, Senador e até mesmo Governador do Estado. De cabeça baixa como a pensar Armando Viana deixou cair uma lágrima na face pela alegria contida no falar da moça Norma Vidigal.
--- Coragem. Homem. Coragem! - - relatou Norma com um sorriso na face.
--- Tenho que ir agora. Amanhã nos veremos. Eu ainda vou fazer matéria para o jornal A IMPRENSA. Já é tarde. Tenho que ir agora. – expôs Armando a todos os que estavam na sala.
--- Eu julgava você tomando café comigo. – penalizou-se Norma.
--- Tem tempo! Tem tempo! Qualquer dia eu volto para conversar com seu pai. – disse o homem a agradecer a atenção de todos os presentes. Sorriu mais uma vez e saiu.
No dia seguinte, logo cedo da manhã, Armando Viana já estava no café do Mercado onde havia conversa de todos os tipos. Ele advertiu a Canindé não falar sobre as suas nomeações para cargos superiores. Esse reconheceu também. Canindé guardou sua veste em casa do amigo e estava no café de forma simples apenas com a sua máquina fotográfica. Os parceiros de café, macaxeira, cuscuz, mungunzá e tapioca discutiam de forma acalorada os efeitos dos jogos de futebol realizados na Cidade em recentes dias. Outros discutiam o preço da banana ou a matança do gado.
--- Está muito cara a carne! – dizia um deles.
--- E o peixe? – indagava outro com voz acalorada.
Desse modo, Armando estava a recolher informações sobre o custo de vida na Capital. Ele ainda faria uma noticia sobre a situação enfrentada pelos mais pobres. E, em conseqüência, o mesmo pelos mais ricos. Um dos circunstantes dizia ter ouvido um secretário do Município dizer esperar pelo final do ano quando a carne de boi estaria naquelas alturas. O homem ficou indignado com a desfeita do Secretario.
--- Não é ele que come! Não é ele que paga! – deflagrava o homem com bastante raiva.
--- Eu só queria que desse uma peste bovina no rebanho dele, só para ver o que o infeliz tinha a dizer. – reprovou um outro ao calor do debate.
Canindé, a certa altura, disse a meia voz:
--- Eu acho é pouco! – o fez cara feia saindo do recinto.
Por seu lado Armando fez sinal para Canindé não dizer nada. Apenas ouvir o debate de todos os dias. Canindé ouviu o jornalista e respondeu:
--- Eu vou ali. – respondeu Canindé ao seu amigo e desceu os batentes do Mercado.
--- Pra onde você vai? – indagou Armando a Canindé.
--- Urinar!!! Posso?!!! – reclamou o fotógrafo de forma rude.
Ás dez horas da manhã estavam Armando Viana e José Canindé Revoredo, prontos para a cerimônia de posse nos cargos de Secretário de Imprensa e de Fotógrafo Oficial do Governo do Estado. Canindé se tremia todo não suportando o fraque que ele trajava. Era a gola para cá, era a gravata para lá e nesse impacto de desespero ele sacudia todo o seu material de trabalho fotográfico em cima de uma cadeira perto dele. Armando, por seu lado, se posicionava quieto tendo ao seu amparo a linda flor de Norma Vidigal, representado o seu pai, o homem forte do Cartório da Cidade, senhor Teodomiro Vidigal, um exemplo de dono de terras herdadas do seu pai e do seu avô. Dono da mansão “Mundo Velho”, ele pouco aparecia no local vivendo apenas do Cartório para a sua casa onde podia ouvir as noticias do rádio. No Cartório ele era o Tabelião tendo a filha Norma Vidigal como a Tabeliã Substituta. Não foi por esse cargo ter sido levada pelo namorado Armando Viana para a posse no cargo de Secretário de Imprensa. Ele somente queria ter o apoio da jovem moça e o amparo de se ter alguém de maior confiança ao seu lado. Com relação à Leane Ventura, o rapaz tinha acabado o romance na noite do dia anterior. Tal namoro estava em caldo morno já há algum tempo. O caso da irmã da jovem moça no dia passado também contribuiu para ser o pivô de tudo, muito embora Armando não tenha dito qualquer coisa a respeito do assunto a Leane Ventura. Aquele foi um namoro de pouco tempo com idas e vindas. E com a designação de Secretário, isso faz mais pompa para o rapaz se decidir em terminar o tal namoro.
Para início da cerimônia falava apenas a chegada do Governador. Esse estava na sala ao lado tendo a secretaria especial, Dulce Pontes, retardado um pouco no bater das nomeações dos dois servidores. Tão logo terminou de redigir a ata de posse, a secretária especial levantou do seu lugar e avisou ao Governador já está tudo pronto. O Governador se dirigiu para o seu gabinete tendo em seguida a Secretária Especial Dulce Pontes e parte do seu Secretariado. Havia um clima de pura emoção entre todos os presentes, inclusive Armando Viana e José Canindé Revoredo. A acompanhante de Armando torceu o braço do rapaz como quem dizia:
--- Coragem, homem! – e com isso sorriu a contento.
Armando não se desesperou, porém a tranqüilidade estava longe de ser presente. Ele também olhou para Norma Vidigal e fez um gesto meigo para a moça. A Secretária Especial Dulce Pontes colocou o livro em cima do birô do Governador enquanto esse prolatava palavras agradáveis sobre o assumir do Gabinete dois novos servidores. Isso lhe dava imenso orgulho. Em seguida mandou Armando assinar o seu termo de posso para depois o Governador referendar. Em seguida foi à vez do fotógrafo José Canindé Revoredo também assim o termo de posse. Todos os participantes da solenidade aplaudiram a posso do Secretário Armando Viana e em seguida o rapaz agradeceu por toda aquela oportunidade de poder servir mais diretamente ao Governo. Taças de champanhe, canapés, uísque entre outras bebidas e comidas foram servidas aos novos servidores do Palácio. Canindé aproveitou a oportunidade para fazer as fotos necessárias, inclusive a da posse de Armando Viana.
--- Uma linda festa! – declarou o Governador sorrir.
Nesse instante, alguém surgiu na sala e fez uma confidencia ao Governador. Esse teve um leve susto, porém se conteve para dizer. O mesmo rapaz retornou ao seu ambiente ao salão de trabalho contiguo. O Secretário Armando Viana olhou para a moça e disse baixinho.
--- Algo aconteceu! – falou murmurando Armando ao ouvido de Norma Vidigal.
--- Percebi! – relatou a moça no mesmo instante.
E o Governador deu por encerrada a solenidade tendo sido apresentado pelo novo Secretário à jovem que o acompanhava como sendo Norma Vidigal.
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