- Audrey Hepburn -
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O carro oficial do Governo do Estado estava lentamente a chegar naquele aglomerado de gente de toda sorte. Eram enormes quantidades de pessoas entre os carros de bombeiros, polícias militar e civil, camburões, rabecões do Instituto Médico, ambulâncias entre outras viaturas e autos infernizando a vida de cada um. Casas baixas de taipa fechavam suas portas por temer ladrões e até mesmo o próprio incêndio a consumir o caminhão acidentado. O veículo com bastante gente em sua carroceria foi arrastado por cerca de 200 metros após ser colhido pela composição de cargas e passageiros. Um tumulto se formou em toda área e pessoas moradoras em casebres corriam a todo custo para se livrar das chamas do veículo incendiado por conta da colisão. O trem da colisão estava estacionado sem soltar dos trilhos, porém com sua máquina a funcionar. O carro do Governo chegou de mansinho a buzinar para a multidão atormentada e os meninos a gritar sem fim como fazem os garotos de meio de rua. Com um pouco de demora o carro estacionou e se viu descer uma autoridade do Governo. Seu nome pregado em um crachá dava conta ser Armando Viana, Secretário de Comunicação. A garotada o recebeu com estupendo grito com se ele fosse o próprio Governado do Estado. Os policiais da Guarda Estadual viram logo o crachá e providenciaram passagem para aquela autoridade. De passagem pelos policiais, Armando Viana mostrou sua identidade e teve acesso ao local fechado para as pessoas aglomeradas nas imediações. O homem indagou quem era o oficial a comandar e logo teve a oportunidade de conhecer. Ao comandante do destacamento Armando Viana indagou pelo chefe da Casa Militar. E recebeu a resposta de o Coronel Soares fora comunicado e estava por chegar.
--- Muito bom! Há quanto tempo à polícia foi informada? – indagou Armando Viana.
--- Logo que houve o acidente. Nós despachamos carros da policia, bombeiros e comunicamos ao coronel Soares. – relatou o oficial comandante.
--- Certo. O bombeiro parece ter dominado o incêndio do caminhão. – falou Armando.
--- Certamente Senhor. Nós usamos pó químico. Só estamos fazendo o rescaldo. – declarou o oficial com toda pompa.
--- Eu posso ir mais perto do acidente? – perguntou o Secretario de Comunicação mostrando a sua Identidade de Imprensa.
--- Eu aconselho ao senhor ser prudente, senhor! – argumentou o Comandante da Tropa.
--- A questão e que tenho profissionais de imprensa cuidado do acidente e eu preciso falar com eles. – explicou o Secretário de Comunicação.
--- Nesse caso, o senhor tem todo o direito. Porém veja se os jornalistas de serviço estão bem ambientados, pois ainda corre o perigo de haver alguma explosão. – advertiu o Comandante.
--- Farei isso. – pronunciou o Secretario Armando Viana.
E de imediato Armando partiu para um dos carros do trem a procurar os seus repórteres e o fotógrafo sem encontrá-los a primeira vista. Os carros do trem já estavam desocupados de gente. Apenas os vagões não estavam totalmente vagos. E também um carro de terceira classe era onde se podia ver gente a jogar baralho. Foi nesse instante, entre o meio da gente pobre a fazer conturbado barulho Armando avistou a sua repórter Marta Rocha. Ele a chamou e ela, de imediato atendeu o chamado sem nem mesmo conhecer o rapaz todo vestido a rigor. O homem estava nos batentes do carro da composição. E Marta somente o reconheceu quando já estava bem perto do rapaz. O garçom do trem se aproximou o Secretario e lhe disse ser aconselhável descer do carro, pois a composição estava sob guarda do Governo. Armando Viana olhou para a cara o garçom e lhe mostrou a identidade de Secretario do Governo. O homem se retraiu e pediu desculpas. Nesse momento, Marta Rocha chegou mais perto do rapaz e foi logo dizendo estar muito confuso tudo o que acontecera. E ela apenas queria a presença do fotógrafo Canindé para ele flagrar um caso especial.
--- O que está havendo? – indagou o rapaz.
--- Veja com seus próprios olhos no carro de terceira classe! – disse a moça.
--- Eu já vi. Você procure Canindé para fazer a foto. – recomendou Armando.
--- Pois não. Agora mesmo. – disse a moça.
--- Um instante! Por favor, use esse crachá da Assessoria do Governo. Ele facilita você a percorrer os destroços do trem. Tem escrito a palavra; IMPRENSA. Leve-o com você. – falou o homem a Marta Rocha.
Ela agradeceu e quando já estava a sair percebeu uma câmera no colo de Armando. E se voltou a dizer:
--- Por que o senhor não faz a foto? – disse Marta apontando a câmera do seu colo.
O homem sorriu e não contou conversa. Fez as fotos para a moça. Os jogadores de baralho nem sequer notaram e continuaram a jogar. Armando Viana chamou a Polícia e apontou para os policiais o estado de coisa. Quando todos foram despejados dos seus assentos, havia ali um pouco a usufruir da sorte. A Polícia levou os quatro pilantras para fora com todo o empenho e colocou em um camburão. Marta se sentiu feliz com a ação policial. No lado oposto de quem chega a Cidade havia um congestionamento terrível de carros vindos do interior. A Polícia já havia isolado da área e comandava os motoristas fazer outro percurso. Disso, Armando notou e procurou Cione Damásio a orientar Marta a fazer a matéria. Nesse pondo mais dois jornalistas chegaram ao local e buscaram informação com Armando Viana. Ele então desfez a ordem dada a Cione e mandou um dos repórteres para fazer a devida matéria sobre o congestionamento de carros. O outro repórter cuidaria do pessoal tomado pelo incêndio do caminhão. Os moradores das casas de taipa. Nesse ponto chegou ao local do acidente o Governador do Estado acompanhado do seu Chefe da Casa Militar e do Chefe da Casa Civil. O Governador desceu e foi a pé acompanhado dos seus auxiliares. Na passagem da fita, um soldado tentou empatar a passagem do Governador. O Chefe da Casa Militar Coronel Soares passou um carão no soldado e mandou deixar o seu cargo pondo outro eu seu lugar. Calado, o soldado nada falou. O Governador foi até a calçada alta de uma bodega e falou com da corporação se ainda havia fogo no caminhão.
--- Não senhor. Nós conseguimos debelar o fogo. – respondeu o Comandante.
--- Tem vítimas? – perguntou o Governador.
--- Pelo menos dez mortos. Governador. – disse o oficial.
--- É triste. Coisa triste. – comentou o governador.
Nesse momento os bombeiros começaram a retirar dos escombros do caminhão os corpos dos mortos da pancada com o trem com o carro. Eles traziam os corpos carbonizados e colocavam empilhados uns por cima dos outros, de qualquer forma. Era um trabalho extenuante por demais para os bombeiros cujo oficio não tardava em colocar de uma só vez os cadáveres empilhados igual a uma ruma de frutas podres. O fedor era enorme. Carne assada com as dos matadouros do interior daquela região. Entre as carnes retorcidas estavam milho, farinha, feijão, açúcar e mesmo bananas e mangas. Tudo isso era uma mistura infernal com o mau cheiro a dominar todo o ambiente. O pessoal morador das casinhas próximas tinha sido retirado não apenas por causa do mau cheiro e sim, para a proteção contra qualquer explosão da gasolina ainda existente no caminhão. O Governador vendo aquele trabalho incansável dos homens do Corpo de Bombeiros então perguntou ao oficial comandante:
--- O que é isso? – indagou o governador assustado.
--- Corpos, Excelência. Corpos! – relatou o comandante.
--- Eu sei que são corpos seu germe!!!. Eu pergunto para onde estão sendo levados!!! – refutou o Governador ensandecido.
--- Queira desculpar, Governado. Os corpos dos mortos são mandados para o Instituto Médico. – respondeu o oficial encolerizado, mas sem despertar tal cólera.
--- Ah sei. Quem é o maquinista desse trem? – perguntou o Governador.
--- Ele não foi encontrado, Excelência! – respondeu o oficial comandante.
--- Como não foi encontrado?!! Pois o encontre! E logo! Ele é responsável pelo acidente!! – respondeu o Governador.
--- Não é assim, Governador. O trem viaja em sua linha. O caminhão deve obedecer ao sinal. E pelo que eu notei, o motorista desobedeceu ao sinal! - retorquiu o Coronel Soares, Chefe da Casa Militar do Governo.
--- Ah bom! Se for assim, prenda o motorista! E logo! – falou com raiva o Governador.
--- O motorista morreu no acidente, Governado. O corpo dele está empilhado com os outros. – retrucou o Coronel Soares, Chefe da Casa Militar.
--- Então não se prende ninguém? – perguntou alarmado o Governador.
--- Não, Excelência. Pelo menos dessa vez! – comentou o Chefe da Casa Militar aplacando os ânimos do Governador.
No meio da multidão que aumentava a cada instante uma mulher com um balaio na cabeça oferecia tapioca molhada a quem quisesse. Os políticos de ocasião distribuíam “santinhos” aos que pudessem ser eleitores. E aos que não pudessem também. Um carro de policia saía a toda velocidade conduzindo um batedor de carteira. “Rabecões” do Instituto Médico encostavam para por para o seu interior os corpos carbonizados das vítimas. O trabalho, enfim continuava.
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