sexta-feira, 20 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 25 -

- Milla Jovovich -
- 25 -
INQUERITO
O delegado de polícia, sargento Tobias, entrou no escritório do Prefeito Jorge Nepomuceno como sendo um furacão. Não falou coisa alguma com quem estava a espera ou mesmo a trabalhar na Prefeitura de Alcântara. Uma senhorita, alarmada com tanta fúria, logo abriu a porta para o delegado entrar e esse nem mesmo agradeceu a presteza. E entrou direto no Gabinete do Prefeito Nepomuceno não se importando com quem estava ou não e falou baixo para o Prefeito Municipal ter ele um assunto de suma importância a lhe dizer. Dito isso, caminhou apressado para uma sala vazia onde apenas o prefeito podia receber um visitante ilustre ou qualquer coisa de interesse do prefeito. E lá estava os dois a confabular sobre o caso da morte do pistoleiro Fabiano, homem disposto a matar. O delegado sabia muito bem ter o prefeito Nepomuceno contratado o pistoleiro para a sua guarda pessoal. O prefeito ainda não sabia do caso àquela hora da manhã. E ficou perplexo quando soube. A vista se deu no momento no qual o corpo furado do pistoleiro ainda estava estendido na calçada da pracinha a espera de ser removido para o recanto dito aos policiais pelo próprio delegado. Após saber o ocorrido o prefeito Jorge Nepomuceno não quis ir à praça ver o cadáver de Fabiano e declarou ao prefeito deixar a coisa esfriar.
Prefeito:
--- Deixe a coisa esfriar. Não vale a pena. –declarou entristecido o prefeito.
Delegado:
--- Tenho informes de ter sido gente do coronel! – relatou o delegado meio constrangido.
Prefeito:
--- É. Deve ter sido. Mas é melhor esquecer o caso. Esse é ano de eleição. O coronel pode não gostar. Além do mais ele está na capital. O homem era um pistoleiro. Coisa sem importância. – deduziu o prefeito e se encaminhou para a sala de despachos.
O delegado Tobias também o seguiu e nada mais foi dito. Apenas um muito obrigado e até breve fez o delegado ao sair do Gabinete e o prefeito continuou sua sessão de despachos com secretário e outros mais. Para o delegado Tobias o dia começou nem um pouco bom. Mas mesmo assim ele se encaminhou para o seu escritório reservado todo embrulhado com os acontecimentos recentes. Apenas ouvia-se reclamar:
Delegado:
--- Nada bom! Nada bom! Esculacho! – reclamava o delegado vez por outra.
Um preso quase liberto fazia a limpeza do xadrez e olhava sempre para o delegado com uma visão desconfiada. O preso nada fazia. Apenas varria o xadrez. Outro ex-detento se acostumou em ficar no xadrez e fazer refeição para os presos e o delegado Tobias. Ele fazia isso por vontade própria. Mas, toda vez ele se atrapalhava com o delegado. Esse reclamava do café frio, ou quente, ou morno, ou amargo ou mesmo doce demais. Se for ao almoço, mais reclamação vinha de lá.
Delegado:
--- O bife está frio! Está mal cozido! O ovo está duro ou está mole! – reclamava sempre o sargento Tobias.
E desta forma o ex-detento se encaminhava de volta para refazer tudo e levar para o delegado. Esse, como de costume, voltava a reclamar com a boca cheia e a olhar o ex-detento. De nada adiantava fazer cem vezes,  pois sempre o delegado reclamava. Como de vezes anteriores, dessa vez o delegado voltou a reclamar do novo café servido e despejar a bandeja em cima do ex-detento. Dessa vez foi o pingo nos is. O ex-detento se aborreceu de veras e mandou o delegado fazer a sua própria refeição, pois ele estaria indo embora. E saiu sem dizer mais nada. O delegado esbravejava a todo punho contra o ex-detento.
Delegado:
--- Volte já aqui! Volte! Estou ordenando! – falava áspero o delegado Tobias.
E o ex-detento, de tanta humilhação sofrida, saiu sem dizer nem bom dia. E caiu na farra, pois ninguém é de ferro.
Dramas e sorrisos de uma Delegacia de Policia. Os demais presidiários foram os mais exaltados com a ausência do ex-detento. Para eles, um serviçal exemplar. Para o delegado apenas um defenestrado.
Logo após ter feito o serviço nas patas do cavalo, o de fazer o ferrageamento e cravar as ferraduras, os dois companheiros voltaram para a fazenda. Foram eles: Ludmila, filha do deputado Marcolino Godinho e o pistoleiro Renovato Alvarenga, o Chulé. Antero Soares já estava abrigado na fazenda, pois se voltou contra o bandido Fabiano e desfechou o punhal na sua garganta.  Ludmila resolveu voltar por outro caminho saindo de perto da multidão formada na praça vendo os corpos dos dois homens mortos. Isso foi antes do enterro de Fabiano pela força militar. Eles caminharam por outras redondezas sempre de olhos abertos com relação ao sucedido. Renovato Alvarenga caminhava como se fosse solitário sem dizer uma só palavra. A moça, por igual, fazia o mesmo. E nessa caminhada atingiram os dois a Lagoa Dourada, parte da fazenda Guandu. Eles percorreram um longo caminhar temendo se topar com alguém ou algum outro bandoleiro. Renovato Alvarenga era pistoleiro afamado de não negar um tiro sequer. Mesmo assim, todos sabiam de um dia aparecer outro para desfazer a devida lambança.  Ao entrar na Lagoa Dourada, os dois se refestelaram como podiam fazer à sombra das acácias e de outros arvoredos. Era um caminho bastante árduo o qual os dois companheiros de cavalgada fizeram. O sol já estava bem alto, quase a pino quando os dois arriaram para repousar um pouco. Após ver as arvores a balançar instigando pássaros a partir para lugares estranhos, Ludmila após uma breve pausa indagou de Renovato há quanto tempo ele conhecia o seu companheiro Antero Soares. Esse então respondeu estirado na grama existente na região e com as mãos por baixo de sua cabeça.
Renovato:
--- Não muito. – disse Renovato a olhar o céu claro e de vez voltar para a moça Ludmila.
Ludmila:
--- Isso não responde a questão. Um dois ou três meses? – indagou a moça também postada na grama com a sua cabeça escorada com as suas delicadas mãos.
Renovato:
--- Pode ser um pouco mais. Qual é a sua curiosidade? – fez ver o homem do gatilho silencioso.
A moça demorou a responder a questão e Renovato a olhou novamente e se voltou a seu estado natural de estar deitado na grama. Ele viu algo na lagoa a mergulhar constante e deixou de lado tudo o visto. Era apenas um peixe não muito grande. Talvez desse um almoço para dois. Olhou ele de novo e indagou a moça esbelta, de olhos suaves e pele clara.
Renovato:
--- A senhorita quer almoçar? Tem peixe na lagoa! – fez ver o pistoleiro.
Ludmila:
--- Peixe! Não é necessário. – respondeu Ludmila a se soerguer um pouco para verificar o peixe
O bandoleiro se soergueu e foi até a Lagoa Dourada onde com pouco tempo pescou dois peixes não muito grandes e logo voltou ao seu lugar onde estava a deitar Ludmila colhendo impressões da mata virgem, das aves, veados, esquilos e tudo mais. O bandoleiro se acercou e mostrou em enfieira de peixe ainda a se rebelar por estar fora da água. Ele mostrou os peixes suspensos por sua mão direita. E rodeou um pouco pela mata. Dentro de algum tempo já estava ele a fritar os dois pescados. A moça, de onde estava, sorriu e se virou para ver melhor o assar dos peixes. E o bandoleiro indagou em voz branda.
Renovato:
--- É servido? – indagou o bandoleiro remexendo as brasas feitas pelo fogo.
Ludmila:
--- Eu nunca pensei em ver o senhor pegar um peixe. Para mim, o senhor nem comia tanto assim. – relatou Ludmila com sua voz branda.
Renovato:
--- Sabe moça. Eu sou também humano. Eu pesco, caço. E às vezes também durmo. – fez ver o pistoleiro.
Ludmila:
--- Interessante. Para mim o senhor é outro cavalheiro. – respondeu Ludmila a sorrir.
O sol voltou a crescer no céu para os dois amantes da natureza.

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