- Milla Jovovich -
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INQUERITO
O delegado de polícia, sargento
Tobias, entrou no escritório do Prefeito Jorge Nepomuceno como sendo um
furacão. Não falou coisa alguma com quem estava a espera ou mesmo a trabalhar
na Prefeitura de Alcântara. Uma senhorita, alarmada com tanta fúria, logo abriu
a porta para o delegado entrar e esse nem mesmo agradeceu a presteza. E entrou
direto no Gabinete do Prefeito Nepomuceno não se importando com quem estava ou
não e falou baixo para o Prefeito Municipal ter ele um assunto de suma
importância a lhe dizer. Dito isso, caminhou apressado para uma sala vazia onde
apenas o prefeito podia receber um visitante ilustre ou qualquer coisa de
interesse do prefeito. E lá estava os dois a confabular sobre o caso da morte
do pistoleiro Fabiano, homem disposto a matar. O delegado sabia muito bem ter o
prefeito Nepomuceno contratado o pistoleiro para a sua guarda pessoal. O
prefeito ainda não sabia do caso àquela hora da manhã. E ficou perplexo quando
soube. A vista se deu no momento no qual o corpo furado do pistoleiro ainda
estava estendido na calçada da pracinha a espera de ser removido para o recanto
dito aos policiais pelo próprio delegado. Após saber o ocorrido o prefeito
Jorge Nepomuceno não quis ir à praça ver o cadáver de Fabiano e declarou ao
prefeito deixar a coisa esfriar.
Prefeito:
--- Deixe a coisa esfriar. Não
vale a pena. –declarou entristecido o prefeito.
Delegado:
--- Tenho informes de ter sido
gente do coronel! – relatou o delegado meio constrangido.
Prefeito:
--- É. Deve ter sido. Mas é
melhor esquecer o caso. Esse é ano de eleição. O coronel pode não gostar. Além
do mais ele está na capital. O homem era um pistoleiro. Coisa sem importância.
– deduziu o prefeito e se encaminhou para a sala de despachos.
O delegado Tobias também o seguiu
e nada mais foi dito. Apenas um muito obrigado e até breve fez o delegado ao
sair do Gabinete e o prefeito continuou sua sessão de despachos com secretário
e outros mais. Para o delegado Tobias o dia começou nem um pouco bom. Mas mesmo
assim ele se encaminhou para o seu escritório reservado todo embrulhado com os
acontecimentos recentes. Apenas ouvia-se reclamar:
Delegado:
--- Nada bom! Nada bom!
Esculacho! – reclamava o delegado vez por outra.
Um preso quase liberto fazia a
limpeza do xadrez e olhava sempre para o delegado com uma visão desconfiada. O
preso nada fazia. Apenas varria o xadrez. Outro ex-detento se acostumou em
ficar no xadrez e fazer refeição para os presos e o delegado Tobias. Ele fazia
isso por vontade própria. Mas, toda vez ele se atrapalhava com o delegado. Esse
reclamava do café frio, ou quente, ou morno, ou amargo ou mesmo doce demais. Se
for ao almoço, mais reclamação vinha de lá.
Delegado:
--- O bife está frio! Está mal
cozido! O ovo está duro ou está mole! – reclamava sempre o sargento Tobias.
E desta forma o ex-detento se
encaminhava de volta para refazer tudo e levar para o delegado. Esse, como de
costume, voltava a reclamar com a boca cheia e a olhar o ex-detento. De nada
adiantava fazer cem vezes, pois sempre o
delegado reclamava. Como de vezes anteriores, dessa vez o delegado voltou a
reclamar do novo café servido e despejar a bandeja em cima do ex-detento. Dessa
vez foi o pingo nos is. O ex-detento se aborreceu de veras e mandou o delegado
fazer a sua própria refeição, pois ele estaria indo embora. E saiu sem dizer
mais nada. O delegado esbravejava a todo punho contra o ex-detento.
Delegado:
--- Volte já aqui! Volte! Estou
ordenando! – falava áspero o delegado Tobias.
E o ex-detento, de tanta
humilhação sofrida, saiu sem dizer nem bom dia. E caiu na farra, pois ninguém é
de ferro.
Dramas e sorrisos de uma
Delegacia de Policia. Os demais presidiários foram os mais exaltados com a
ausência do ex-detento. Para eles, um serviçal exemplar. Para o delegado apenas
um defenestrado.
Logo após ter feito o serviço nas
patas do cavalo, o de fazer o ferrageamento e cravar as ferraduras, os dois
companheiros voltaram para a fazenda. Foram eles: Ludmila, filha do deputado Marcolino
Godinho e o pistoleiro Renovato Alvarenga, o Chulé. Antero Soares já estava
abrigado na fazenda, pois se voltou contra o bandido Fabiano e desfechou o
punhal na sua garganta. Ludmila resolveu
voltar por outro caminho saindo de perto da multidão formada na praça vendo os
corpos dos dois homens mortos. Isso foi antes do enterro de Fabiano pela força
militar. Eles caminharam por outras redondezas sempre de olhos abertos com
relação ao sucedido. Renovato Alvarenga caminhava como se fosse solitário sem dizer
uma só palavra. A moça, por igual, fazia o mesmo. E nessa caminhada atingiram
os dois a Lagoa Dourada, parte da fazenda Guandu. Eles percorreram um longo
caminhar temendo se topar com alguém ou algum outro bandoleiro. Renovato
Alvarenga era pistoleiro afamado de não negar um tiro sequer. Mesmo assim,
todos sabiam de um dia aparecer outro para desfazer a devida lambança. Ao entrar na Lagoa Dourada, os dois se
refestelaram como podiam fazer à sombra das acácias e de outros arvoredos. Era
um caminho bastante árduo o qual os dois companheiros de cavalgada fizeram. O
sol já estava bem alto, quase a pino quando os dois arriaram para repousar um
pouco. Após ver as arvores a balançar instigando pássaros a partir para lugares
estranhos, Ludmila após uma breve pausa indagou de Renovato há quanto tempo ele
conhecia o seu companheiro Antero Soares. Esse então respondeu estirado na
grama existente na região e com as mãos por baixo de sua cabeça.
Renovato:
--- Não muito. – disse Renovato a
olhar o céu claro e de vez voltar para a moça Ludmila.
Ludmila:
--- Isso não responde a questão.
Um dois ou três meses? – indagou a moça também postada na grama com a sua
cabeça escorada com as suas delicadas mãos.
Renovato:
--- Pode ser um pouco mais. Qual
é a sua curiosidade? – fez ver o homem do gatilho silencioso.
A moça demorou a responder a
questão e Renovato a olhou novamente e se voltou a seu estado natural de estar
deitado na grama. Ele viu algo na lagoa a mergulhar constante e deixou de lado
tudo o visto. Era apenas um peixe não muito grande. Talvez desse um almoço para
dois. Olhou ele de novo e indagou a moça esbelta, de olhos suaves e pele clara.
Renovato:
--- A senhorita quer almoçar? Tem
peixe na lagoa! – fez ver o pistoleiro.
Ludmila:
--- Peixe! Não é necessário. – respondeu
Ludmila a se soerguer um pouco para verificar o peixe
O bandoleiro se soergueu e foi
até a Lagoa Dourada onde com pouco tempo pescou dois peixes não muito grandes e
logo voltou ao seu lugar onde estava a deitar Ludmila colhendo impressões da
mata virgem, das aves, veados, esquilos e tudo mais. O bandoleiro se acercou e
mostrou em enfieira de peixe ainda a se rebelar por estar fora da água. Ele
mostrou os peixes suspensos por sua mão direita. E rodeou um pouco pela mata.
Dentro de algum tempo já estava ele a fritar os dois pescados. A moça, de onde
estava, sorriu e se virou para ver melhor o assar dos peixes. E o bandoleiro
indagou em voz branda.
Renovato:
--- É servido? – indagou o
bandoleiro remexendo as brasas feitas pelo fogo.
Ludmila:
--- Eu nunca pensei em ver o
senhor pegar um peixe. Para mim, o senhor nem comia tanto assim. – relatou
Ludmila com sua voz branda.
Renovato:
--- Sabe moça. Eu sou também
humano. Eu pesco, caço. E às vezes também durmo. – fez ver o pistoleiro.
Ludmila:
--- Interessante. Para mim o
senhor é outro cavalheiro. – respondeu Ludmila a sorrir.
O sol voltou a crescer no céu
para os dois amantes da natureza.
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