- Penelope Cruz -
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A BUSCA
O velho homem ficou sisudo a
pensar no dizer ao Coronel Godinho à marcha tomada pelo Prefeito Jorge
Nepomuceno na noite anterior. Quelé sabia muito bem do caminho. Ele estava um
homem acabado, corcunda por assim dizer, magro mais do que era quando homem
sério, mãos tremulas e nem sequer um cigarro de palha para despistar as horas
derradeiras da vida. Na verdade, Quelé era um verdadeiro molambo. As calças
rotas encobriam a sua senilidade. Ele caminhava a pé quantas léguas fosse
preciso, de manhã ao anoitecer. Se precisar fosse vivia da caridade alheia. Era
uma vida tirana aquela do ancião no derradeiro degrau da vida. A cabeça
abaixada e sem saber como começar ou mesmo falar Quelé era um vulto de um
passado remoto. Em algum lugar do passado Quelé era um homem valente para matar
ou morrer. Tremendas batalhas ele enfrentou ao sinal do meio dia. Por acaso ele
recordava naquele derradeiro instante a grande luta a qual se chamou “A luta de
Quelé”! Um bando de jagunços ao ataque da força principal dos soldados chamados
“macacos”. Quelé não temia a luta nem ele combatia. Ele era igual a um
comandante de turma em plena campanha a seguir sempre à frente. Seus ancestrais
eram irlandeses e seu nome – Quelé - era Agressivo. E seguindo o seu rumo
Manoel Quelé aos acabados feitiços da vida. Naquele momento estava ele diante
do poderoso senhor de terras, o Coronel Marcolino Godinho, homem de seiscentas
vidas. E Quelé tinha de encontrar um meio de dizer a verdade.
Quelé:
--- O senhor pode buscar Jerônimo
Alvino. Ele vai ensinar como se chega ao prefeito. – respondeu o homem
descaído.
Coronel:
--- Alvino? Quem é esse homem? –
indagou embaraçado o Coronel por não conhecer ninguém com esse nome.
O ancião quis sorrir. Alvino era
um nome alemão e tinha sentido de “Nobre Amigo”. Era costume de povos antigos
por um nome em uma criança a representar algo. Alvino era um dos tais. E depois
de algum tempo Quelé discorreu:
Quelé:
--- Ele é o meu filho de criação.
Eu o peguei numa contenda com a turma dos “macacos” na Aba da Serra de Taperoá,
para os lados de Pernambuco. – detalhou Quelé.
Coronel:
--- Alvino? Que nome! – respondeu
com um gosto amargo na boca o coronel.
Júlio Medalha procurou resolver a
inquietação do Coronel Godinho e falou:
Júlio:
--- Eu sei onde fica Coronel. Se
ordenar, eu posso ir à busca de Alvino e digo que foi o seu pai quem mandou. –
falou Júlio de forma resoluta.
A conversa então amainou e o
Coronel Godinho se voltou para Júlio e esse de pé estava e de pé ficou. Cara
seria sem chapéu por respeito ao Coronel, pois a cobertura da cabeça estava em
suas mãos guardadas sobre o cheio peito.
Nesse ponto o doutor Godinho, alarmado falou:
Coronel:
--- Sabe mesmo? – perguntou de
modo zangado.
Júlio:
--- De um tiro! – respondeu sem
sorrir o pistoleiro Júlio Vento.
Coronel:
--- Pois traga o homem! Quero ver
se sabe mesmo! – articulou com raiva o doutor.
Quelé:
--- A meu ver, eu mandaria logo
buscar o homem. –disse muito manso o coiteiro.
Coronel:
--- Heim? Buscar? Mas como
buscar? – respondeu irado o coronel Godinho.
Quelé:
--- Evita duas viagens e a
possibilidade do homem fugir mais uma vez. – relatou o coiteiro.
Coronel:
--- Heim? Vocês estão me deixando
louco! Pois faça assim. Mande-o trazer vivo ou morto! – decidiu o coronel mais
tranquilo.
Júlio:
--- Morto, Coronel? – indagou
Júlio já pensando em liquidar o preso.
Coronel:
--- É! Morto! – sentenciou o
Coronel Godinho.
Ludmila:
--- PAPAI? – falou de forma rude
a filha do Coronel como a dizer quem matasse estaria morto também.
Coronel:
--- Heim? Não! Vivo! É melhor
assim! – contradisse o coronel a olhar cheio de zanga a sua filha.
E daí começou a caçada ao
prefeito da cidade de Alcântara, fazendeiro Jorge Nepomuceno, homem ladino e
cheio de manhas e traquinagens a se refugiar nos barrancos de Pernambuco para
se proteger de uma caçada humana. Antes de se tornar prefeito por imposição do
próprio coronel Godinho o homem já era fazendeiro e roubava gado dos criadores
vizinhos e quase sempre deixava uma lista de sangue em sua passagem. Certa vez,
ao assaltar um rancho ele deixou espichado no chão toda uma família de
criadores e ainda tocou fogo na casa como ato de rebeldia. De outra vez, Jorge
Nepomuceno montou tocaia contra um grupo de rancheiros. Os homens conduziam uma
boiada de um sertão seco, pois não chovia há mais de dois meses e o pouco gado
ainda restante estava definhando cada vez mais. Do pouco rebanho ainda
restante, seu Jorge tomou tudo e ainda pôs morte nos boiadeiro, onde não sobrou
viva alma. Essa atitude Jorge Nepomuceno fazia todo ano, principalmente de
seca. Com isso os pequenos criadores o chamavam de “carniceiro”. Nunca foi
preso por essas bagunças.
Após dois dias e duas noites de
viagem Júlio Vento chegou ao seu destino em uma bodega de um arruado fora do
município de Taperoá. No lugar o pistoleiro indagou por Alvino, pois estava à
procura do mesmo há dois dias, uma vez ter o “dono da terra posto à venda”.
Essa era a senha acordada entre o pai de criação e o seu filho. Quando quisesse
ele alguém diria ter o dono da terra ter posto à venda. Claro que ninguém
usaria como senha e nem desconfiaria de um homem a vender as suas terras. Com
isso, o dono de alguma bodega onde Alvino pudesse estar compreenderia o negócio
das terras e avisaria a Alvino ter alguém a sua procura. Dai por diante era só
conversa. Quando Júlio Vento largou a
senha o dono da bodega ainda quis saber.
Dono da bodega:
--- Que dono de terra é esse? –
indagou meio cismado o bodegueiro.
Júlio;
--- O pai de Alvino é quem mandou
dizer. – relatou o pistoleiro.
Dono da bodega:
--- Eu não vi mais esse homem que
o senhor procura. – disse mais o bodegueiro puramente desconfiado.
Júlio:
--- Não tem importância. Quando
Alvino aparecer, por favor, dê o recado. Eu vou agora para o bereu. – disse
Júlio como uma contrassenha.
O dono bodega um tanto meditado olhou
muito bem para Júlio vendo as armas bem expostas prontas para atirar ainda
relatou:
Dono da bodega:
--- Aqui não tem esse tipo de
comercio. – falou o bodegueiro querendo despistar o bandido.
Júlio:
--- Ah bom. Eu me arranjo. –
relatou mais uma vez o bandoleiro.
Júlio Vento ajeitou o seu chapéu
na cabeça, deu as costas e saiu bem devagar.
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