- Meenakshi Thapa -
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O CONTRATO
Nesse ponto o homem já bem desconfiado
com as artimanhas de amigos ou inimigo mandou Anselmo entrar primeiro e ficou
no aguardo do acontecer seguinte. Anselmo, pistoleiro afamado em toda a região
não fez questão e entrou sem dar qualquer aviso. Em seguida foi também Teodoro,
apesar de inquieto com a cabana armada no meio do nada, local escolhido pelo
prefeito para combinar uma ação feita pelo bandoleiro. Com todo o cuidado
Teodoro entrou na cabana e se pôs em ação temerosa em todos os sentidos.
Anselmo era o mais tranquilo entre os dois pistoleiros. Nada o fazia temer.
Apenas aguardava a chegada do seu chefe. E foi assim passando os minutos. Meia
hora. E o chefe chegou. Ele era o prefeito Jorge Nepomuceno, astuto e sagaz,
senhor de terras, as mais longínquas possíveis, capangas e muito mais dos
homens decadentes do sertão. Nepomuceno mandou chamar o quadrilheiro Teodoro
para um acerto de morte. Isso era todo o combinado. Após a caminhada. O rijo
senhor de terras mostrou a ver o seu pensar ao matreiro homem mau.
Jorge:
--- Eu quero do senhor há
averiguar o tempo em que sai e entra no sitio o Coronel Godinho. Isso é parte
do plano. Ele é homem de pouca conversa. E o senhor fica no aguardo do
acontecer. Apenas o senhor entra em ação após o pleito eleitoral. Nada antes.
Só após a votação. Até lá o senhor fica hospedado em uma casa fora da cidade.
Na Vila, pode ser. É bom não fazer nenhum assombro. – falou o homem prefeito de
Alcântara.
Teodoro:
--- Nesse ponto o senhor me paga
a metade do contrato antes e tem a minha estadia também. – acertou o pistoleiro.
Jorge:
--- Ótimo! Tudo acordado! E
numerário segue amanhã. O senhor acompanhe o pistoleiro Anselmo, pois ele mostra a tua hospedaria. – falou sem graça o prefeito
Logo após esse acerto, o Prefeito
Jorge Nepomuceno tomou o seu cavalo e, na companhia de pistoleiros caminhou
para o seu destino. Teodoro fez o mesmo em companhia do pistoleiro Anselmo,
homem duro de roer.
A Vila da Lagoa, canto remoto
onde houve o assassínio de outros bandoleiros, era de uma distancia bem longa
no casebre onde Jorge Nepomuceno se encontrou com o quadrilheiro Teodoro. Ao
cair da tarde, Anselmo chegou uma espelunca onde não morava ninguém e mostrou a
Teodoro a sua nova habitação.
Anselmo:
--- É aqui! – disse o pistoleiro
Anselmo.
O bandoleiro desceu vagarosamente
do seu cavalo e olhou para um lado e para o outro da rua já um pouco deserta de
mulheres e crianças. Apenas alguns bandoleiros estavam a sentar em tamboretes
na calçada da bodega da esquina um pouco mais além. Teodoro mandou Anselmo
abrir a porta e entrar primeiro. Sempre com bastante cuidado, a olhar para um
lado e para outro, até mesmo na cobertura das residências o bandido entrou
afinal na moradia. Todo era calmo no recinto. Cama, rede, sala mobiliada com pouca coisa,
armário, guarda-louças, mesa, cadeira, tamborete, sanitário, banheiro e um
quintal razoável. O bandoleiro viu tudo. Anselmo mostrou calado todas às
dependências da casa. Mas há certo instante ele salientou:
Anselmo:
--- Uma mulher vem cuidar da
habitação. – relatou o pistoleiro.
Teodoro o ouviu, porém não deu
maior sentido a explicação. Apenas olhava o teto da casa para notar a segurança
a poder servir. Após tudo explicado, Anselmo deu boa noite e saiu da casa.
A primeira noite em uma casa não
surtia o efeito de satisfação para o celerado. Por isso Teodoro foi se
aconchegar na Rua do Vai Quem Quer onde havia mulheres acalentadoras. Por lá
também estavam alguns salteadores, porém nada fizeram de atropelos. Teodoro
arranjou uma mulher para si e ficou a bebericar até a hora de entrar em um quarto
desprotegido de qualquer coisa. Alguém falou alto no salão, porém Teodoro nada
respondeu. Era caso de um alcoólatra. Os seus revolveres estavam juntos com
ele. A dama se deitou a fazer carícias do homem. A noite era escura e após
algum tempo tudo era silêncio.
O Deputado Estadual e Coronel,
Doutor Marcolino Godinho chegou a sua fazenda em companhia de seu guarda-costas
na sexta-feira, por volta das dez horas da noite. Ele passaria o final de
semana na casa grande a examinar gados, cavalos e demais animais além de
pesquisar o motor de luz já nesse tempo sob os cuidados do pistoleiro Júlio
Medalha, chamado de Júlio Vento. Nada demais tinha ocorrido a não ser a morte
do pistoleiro Fabiano perpetrada por seu empregado, Antero Soares, o Foguetão. Disse o homem ter matado Fabiano em defesa
própria e narrou o acontecido. Fabiano, como era sabido, vivia de contrato com
o Prefeito Jorge Nepomuceno, homem forte da cidade de Alcântara. O coronel
ficou calado logo depois do notificado. Disse ele ter de conversar com
Nepomuceno na manhã seguinte. E manter calado o jovem Antero, pois nada seria
útil nesses dias de acontecer o pleito eleitoral. Antero ficou acanhado por ter
matado Fabiano, porém nada havia ocorrido contra o arremessador de punhais.
No dia seguinte, pela manhã, o
prefeito Nepomuceno foi convidado pelo deputado a comparecer a sua fazenda. E
foi. Entre conversas de gado e cavalos veio a tona a situação do matador
Fabiano. Esse era ainda o assunto a ser ventilado. Contudo, o prefeito deu a
desculpa de quem matou fez por bem. Afinal o morto era um desajuizado. O
pistoleiro não tinha qualquer combinado com o prefeito, e se houve morte foi
fora da sua repartição. E até mesmo o delegado estava de prova.
Jorge:
--- Quem matou, matou. Vamos
deixar de arengas por causa de um celerado. Afinal foi ele mesmo quem comprou a
briga. O delegado nem encontrou provas para prender o coitado. Para mim, a
morte foi praticada pelo outro morto antes de morrer. Eu disse ao delegado:
“Deixa pra lá, É menos um”! Foi o que eu disse ao sargento Tobias. Ta aí ele de
prova! – relatou o prefeito ao Coronel.
Coronel:
--- E quem foi que matou? –
indagou meio desconfiado o Coronel.
Jorge:
--- Eu não sei e nem me interessa
saber. Eu até dou as condecorações da Cidade a quem o fez afinal o homem era um
pistoleiro. – respondeu o prefeito olhando por baixo a fisionomia do Coronel.
Coronel:
--- Assim é melhor! E as
eleições? O senhor vai sair mesmo para prefeito? – indagou o Coronel.
Jorge:
--- O senhor é quem sabe. Eu vou
para qualquer lugar. Nem ainda comecei a campanha. Ou prefeito, ou suplente.
Qualquer coisa me serve. – respondeu o Prefeito.
Coronel:
--- Está muito bem. E eu vejo ter
havido exaltação de uma minoria pedindo mudanças. Isso nem me preocupa. Afinal o Governo é quem
manda mesmo. Quem for eleito e der apoio ao Governo terá o seu apoio. Eu estou
do lado da situação. É isso! – respondeu de pronto o Coronel Godinho.
Jorge:
--- Eu digo o mesmo. Quem manda é
o Governador. E, por sua vez, com o apoio da bancada federal e do Presidente. É
assim que eu vejo! – relatou o prefeito de Alcântara.
Coronel:
--- Então está desfeita a lengalenga.
Estamos com a barriga seca e vamos nos preparar para comer. – sorriu o Coronel
convidado o prefeito a almoçar.
E dois homens foram para a mesa
onde foram postos os mais nobres pratos da casa. Estavam presentes, além do
prefeito e do coronel os homens da segurança, como os pistoleiros Otelo
Gonçalves Dias, Júlio Medalha, Renovato Alvarenga e Antero Soares, o matador do
perverso assassino de aluguel o homicida Fabiano, cujo corpo foi despejado em
um canto da Caverna do Diabo. Ainda se fazia presente à esposa do coronel
Godinho, senhora Cantídia e a filha de ambos a moça Ludmila. Para servir a mesa
era apenas a moça Emília. Quando se fazia necessário outra doméstica estava
presente. No curral ouvia-se o estalar do chicote sobre o dorso dos equinos. Um
realejo solitário entoava uma canção de certo gosto como se tivesse posto para
fazer tal ato. A tarde começava e nada mais acontecia.
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