domingo, 29 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 34 -

- Bruna Marquezine -
- 34 -
COITEIRO
Otelo Gonçalves Dias esperou a licença dada pelo Deputado Marcolino Godinho para se sentar ao tempo em que ficou de pé. O homem carrancudo e sério por algum tempo não notou estar Otelo de pé em frente a ele e quase encostado ao birô.  O deputado se conservava sereno a olhar os papeis postos a sua mesa todos eles incriminando o prefeito de Alcântara, Jorge Nepomuceno. Eram papeis com os dados de entrada e saída do Coronel da cidade ou quando o mesmo ficava por longo período na fazenda. Dados sobre seus jagunços e coiteiro; moradas dos coiteiros a casos seguros e fortes do Coronel Godinho. Estava anotado também o seguir da campanha eleitoral e o nome de Otelo Gonçalves Dias para suplente. O velho observou tudo com bastante cuidado e depois de alguns minutos foi soerguendo a cabeça para onde estava o bandoleiro e viu naquela hora estar o homem em pé e bastante quieto. Então, Godinho indagou do seu ajudante:
Godinho:
--- O senhor viu isso aqui? – indagou o homem com voz tranquila.
Otelo:
--- Não senhor. Tudo ficou com a senhoria Ludmila. – respondeu Otelo com paciência.
Godinho:
--- E o coiteiro quem é? – perguntou cismado o Coronel.
Otelo:
--- Quem sabe é a senhorita. Logo depois de nós entramos na casa de Teodoro ela saiu. E depois foi embora. É provável ter encontrado o coiteiro na estrada. – respondeu Otelo sem temor.
Godinho:
--- Na estrada! E Renovato estava aonde? – indagou o Coronel um tanto desconfiado.
Otelo:
--- Bem! O pistoleiro, provavelmente, estava com a senhorita. – respondeu Otelo um tanto temeroso.
O coronel ficou calado e mandou Otelo sentar. E esse obedeceu. Em seguida o Coronel especulou para saber se o pistoleiro não tinha visto o seu nome escrito nos papei. E o homem respondeu que não:
Otelo:
--- Não vi não senhor!  - respondeu o pistoleiro.
Godinho:
--- E o coiteiro? Nem isso o senhor sabe? Pois vamos ver quem é o homem. Peço que chame o Renovato aqui. – respondeu de vez o Coronel.
Otelo:
--- Sim senhor! – disse de vez o pistoleiro e se levantou para ir até à frente da casa.
Foi e veio. Otelo e Renovato. O rapaz estava tranquilo. Nada o assustava. Foi quando o Coronel indagou para Renovato quem seria o coiteiro. O rapaz olhou para Otelo e de imediato respondeu:
Renovato:
--- Manoel Quelé, meu senhor! – respondeu sem titubear o pistoleiro.
Coronel:
--- Quelé? Quelé? Quelé? Filho de uma puta! Aquele corno sabia de tudo! – reclamou exaltado o velho coronel.
Renovato:
--- Penso que não. Ele arranjou uma arenga com o prefeito e, por isso, falou tudo o que ele sabia. Mas apenas a senhorita Ludmila. Eu estava presente à conversa! – respondeu Renovato.
Coronel:
--- E onde ele foi posto agora? – indagou perplexo o Coronel.
Renovato:
--- Aqui mesmo senhor! Espera apenas que o chame! – respondeu azougado o pistoleiro.
Coronel:
--- Aqui? Nas minhas barbas? – falou alto o coronel cheio de ira.
Nesse momento a porta se abriu e a moça Ludmila entrou com o sujeito Manoel Quelé. Ele meio acanhado, já sem forças para andar, a segurar um chapéu de palha nas mãos, roupas sujas e rasgadas, um cinturão de cordas na cintura, sem armas de qualquer natureza. Apenas pedindo a proteção do Coronel Godinho.
Ludmila:
--- Eis aqui o homem. Coronel. Já velho por demais. Ele quer apenas um lugar para morrer. Foi ele quem falou tudo o que eu sei. – reprovou a senhorita Ludmila.
O Coronel ficou abismado com aquele traste velho. Antes, um homem corajoso, valente por sinal, coiteiro de fama. E naquela hora um traste perdido no meio da selva.
Coronel:
--- Não acredito no que estou vendo! Quelé é o senhor mesmo? – indagou perplexo o Coronel Godinho ao rever aquele coiteiro.
Quelé:
--- Sou eu mesmo Coronel. É a vida! A gente não sabe o dia do amanhã. Mas sou sim!  - respondeu o coiteiro Quelé todo arrasado.
Coronel:
--- O que é feito da tua vida? Como o senhor está acanhado? Velho e sujo! Eu tenho pena até. Um protetor de jagunços e bandoleiros!...Francamente! Bem! Vamos ao que interessa! Onde o senhor estava que eu nem ouvi falar? – perguntou de modo austero o Coronel.
Quelé:
--- Andando! Andando! Vez aqui. Vez acolá! Não mais me meti com tropas de “macacos” e nem com jagunços. E mesmo as autoridades. Tudo o que eu faço é andar! – disse Quelé com voz débil.
O coronel olhou Ludmila e se voltou para Quelé.
Coronel:
--- E o que mais tem a dizer? Como soube do caso de Teodoro? – indagou meio sem jeito o Coronel.
Quelé:
--- Teodoro era um pistoleiro de aluguel. Era pago para matar! Mas não teve sorte dessa vez! O pistoleiro Satanás foi mais ágil que ele e o matou sem dó nem piedade. A moça do senhor também teve sorte. Ela chegou ao fim da luta e alvejou um capanga. Eu vi tudo! A menina leva jeito com as armas! E, afinal, eu disse para a senhora. Quem mandou foi o prefeito Jorge Nepomuceno. Agora ele está escondido fora daqui. É o que eu sei! – reportou Quelé.
Coronel:
--- Mas o senhor sabe de tudo isso e não me procurou? – relatou perturbado o Coronel.
Quelé:
--- O senhor não acreditaria no que Quelé dissesse. – pontuou o guardador de bandidos.
Coronel:
--- Tem razão! Tem razão! Eu não acreditaria!  O senhor mesmo é quem o diz! Mas, me diga uma coisa: para onde foi o prefeito? – indagou o Coronel Godinho.
O impasse se deu para todos os ouvintes de Quelé.

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