- Audrey Hepburn -
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DELEGADO
Nesse estado de coisas o
delegado de policia não estava mais na cidade destruída. Há alguns dias, quando
houve o insistente perigo na capital do estado, ele se arranjou e partiu para
ver de perto como estariam seus familiares. E nunca mais deu noticias. Podia
até morrido ou está em algum hospital da capital. A falta de comunicação levava
a crer tudo ou nada de esperança. O certo era que o afastado município estava
nesse instante sendo destruído por um sismo de proporções gigantescas. E a
pequena cidade era então governada termos de Polícia apenas por um cabo: o cabo
Tenório. Ele e dois soldados. Com o sismo abatido sobre a cidade, Tenório
resolveu liberar os dois presidiários. Um, porque seu julgamento ainda tardava.
Outro por já ter cumprido pena e preferiu não sair da cadeia ondo fazia
serviços gerais. Até mesmo a cozinha do presidio ou arrumar processos quando
nada havia a ser feito. Naquele supremo instante, o ex-sentenciado Cosme Luna
correu até o suposto delegado e foi logo a relatar.
Cosme:
--- Seu Cabo! Seu Cabo! O
senhor já sabe que sucedeu?! – falou apavorado de olhos bem abertos.
Cabo:
--- Um terremoto! Não está vendo?
– bradou o cabo correndo de um lado para outro.
Cosme:
--- Eu sei sim senhor! Mas o
sino da Matriz veio ao chão! E um buraco enorme está tragando toda a gente que
encontra! É um horror! – relatou Cosme quase louco com a situação do momento.
Cabo;
--- Buraco? Enorme? Que buraco
é esse? – indagou alarmado o homem.
Cosme:
--- Não sei! Está se abrindo no
chão! – relatou com espanto o ex-presidiário.
Cabo;
--- Ave Maria! Vou já pra lá! –
declarou a tremer o delegado substituto.
E ambos teriam de ir ver o tal buraco
quando uma multidão entrou na delegacia. Todos falavam ao mesmo tempo e ninguém
se entendia. Um deus-nos-acuda sem precedentes. A mulher gritava como nenhuma
para salvar seu marido. Um rapaz reclamava pelo burro levado do buraco afora.
Um homem clamava por sua mãe de idade avançada. Outros queriam o filhinho de
volta. Alguém clamava para se retirar um carro. Enfim, todos pediam alguma
proteção das autoridades policiais: um cabo e um soldado, enfim.
Cabo:
--- Silêncio! Eu não escuto
ninguém! – bradou o policial.
E todos se calaram por alguns
segundos. E de imediato, a turba voltou com mais alvoroço entre choros e
lamentos para quem não podia fazer quase nada. Um homem falou do Hospital:
Homem:
--- Não tem médico no hospital
“derna” a semana passada! Ora já se viu uma coisa dessas? – lamentou o
denunciante pondo seu chapéu nas mãos.
Mulher:
--- E as enfermeiras? –
reclamou uma mulher toda arrebitada.
Outra:
--- Quem? Essas? Coitadas! Nem
“morgam!” – respondia outra com cara de fastio.
Alguém:
--- Mas o hospital fica pras
bandas de lá! – fomentou um homem entristecido.
Na verdade, o Hospital ficava
do outro lado da fenda, muito pra lá do Matadouro da cidade. Esse já era bem
distante do centro. E o Hospital era mais distante ainda. Desse o tremor havido
da capital que os médicos rumaram para outro destino. Havia da cidade, um
farmacêutico. Esse fazia o papel de Médico, quando não era caso grave. Mesmo
assim, no começo do tremor, nem o farmacêutico se encontrava na cidade. Talvez
tivesse ido para atender sua família, por certo. Por certo. Porém, aflito com
tanto clamor a um único tempo, o Cabo Tenório resolveu partir para a enorme
cratera por ele nunca visto e procurou resolver cada caso apontado. Na calçada
do presidio um homem, sentado, maldizendo a sorte, continuava a chorar e
lamentar da mula perdida na cratera gigante. Por outro lado, uma carola chegou
aflita e maldizendo a sorte. Ela procurou falar com quem pudesse para consertar
o carrilhão da Matriz. No entanto, delegado não havia no local e toda a cadeia
se encontrava abandonada. A mulher chorou as mágoas.
Carola:
--- O sino! O sino! Ai meu bom
Jesus! O sino! – chorava triste a carola.
A cidade em peso estava
destruída. Comercio não havia. Indústria de rapadura também não havia. Redes,
camas, guarda-louças, camiseiros e mesmo saco de estopa se acabara desde muito
tempo. As bodegas existentes, essas não funcionavam por causa do tremor. E o
pequeno número de habitantes da cidade, estava então a procura de parentes,
alguns já mortos, atraídos pela grande vala. Caminhões atolados na vala. E o
posto de gasolina não funcionava pela falta de energia elétrica. Apenas o
borracheiro ainda consertava pneus, apesar de não encher de ar. Para ter
certeza, o homem enfiava em um tanque de água e observava se o buraco estava
fechado. No momento das pessoas a correr em debandada, o borracheiro fez o
mesmo e se largou da carreira para ajudar quem precisasse.
Enquanto isso, no começo de
tudo, quando a Terra estremeceu de dor e de raiva, no Hospital, estava no local
apenas uma enfermeira. Eram três nesse turno. Porém, uma estava de folga por
ter completado o horário de outra no dia anterior. A segunda pedira para sair e
buscar um enxoval em uma costureira. Como tudo estava calmo, apenas ficou uma
enfermeira naquele turno e mais alguns técnicos de enfermagem, o pessoal ASG e
um técnico em manutenção da energia. Como faltava energia, o rapaz deixou o
local de trabalho e foi para a sua casa. Foi nesse instante que a Terra
estremeceu. Um barulho ensurdecedor tomou conta de tudo. A enfermeira caminhava
com um vidro de soro nas mãos e foi ao chão com o estremecer de tudo. Um ancião
que estava deitado na cama, veio ao chão por conta do barulho e do estremecer
da Terra. Não havia médico no Hospital, pois todos tiveram que ir para a
capital onde a tragédia tinha sido maior há alguns dias. O certo foi a
enfermeira cair e não tinha nem a proteção de alguém para se soerguer de
verdade. O tremor era horrível e o estrando com a abertura da fenda era ainda
tão grave da enfermeira não saber o sucedido. Com o impacto da Terra, tudo
estava em reboliço no Hospital. Estantes vieram ao chão junto com os frascos de
medicamentos. A cozinheira se atrapalhou toda com a zoada ensurdecedora e
outras pessoas que procuravam receber medicamentos igualmente foram ao barro.
Uma pergunta era feita:
Gente:
--- O que é isso? – perguntava
à mulher a espera de seus remédios.
Outro:
--- O mundo está se acabando
meu povo! – relatou um home ainda no chão.
E ninguém conseguia se
soerguer, pois a Terra tremia com bastante força. O pânico foi geral em todo o
Hospital. Mulheres se segurando nas mesas ou camas. Algumas alarmadas com a
tragédia vinda não se sabem de onde. Um vigia engoliu o apito de tão apreensivo
ele estava. Um guarda caiu de nádegas no chão. Um carro buzinou insistente não
sabe a razão. Era, enfim, um pandemônio assustador.
Homem.
--- É a guerra! – gritou o
homem espichado pelo chão.
Após alguns de terror, a
enfermeira conseguiu se levantar e notou de imediato à sua frente o estrago
feito pelo aparente terremoto. Embora ainda sentada no chão a mulher por fim
gritou de uma forma sem precedentes ser aquilo um terremoto igual ou pior o
qual abalou a capital em dias passados. A tremer de medo, a mulher procurou se
levantar com todo o sacrifício observando para todos os lados o estrago feito
no Hospital. Vidros de medicamentos
espalhados pelo chão, borrachas, gases, máscaras e tantas outras coisas a
existir em uma casa de saúde de cidade de interior.
Enfermeira:
--- Terremoto! Terremoto!
Terremoto! – gritou a mulher.
No restante da casa de saúde
havia também mulheres e doentes, todos caídos e alguns a procura de ajuda para
poder se levantar. Porém, ninguém era capaz de dar a mão, pois o terremoto era
tão violento coisa nunca vista na cidade. Cada qual procurava se apoiar em uma
banca ou cadeira e se por de pé. Apesar do sismo, era o muito a ser feito por
pacientes ou não. O velho caído da cama emitia um ruído como a pedir socorro;
Ancião:
--- Gente! Acuda! Acuda! –
falava o ancião a todo custo.
Um rapaz saiu apressado à
Clínica de Doutor Teixeira, veterinário, talvez o único médico na cidade e
entrou como um foguete na sala do homem. Esse estava todo atrapalhado com as
suas prateleiras a cair, vidros pelo chão, uma estante emborcada, gatos, cães e
até cavalos todos soltos na buraqueira. O rapaz não sabia o que dizer e o homem
embaraçado a segurar as estantes para proteger algumas das aves engaioladas e,
mesmo, os medicamentos e negócio para tratamento de animais grandes e pequenos.
Mesmo assim, o rapaz alarmado chamou o veterinário para socorrer o povo doente
no Hospital.
Rapaz:
--- Doutor! Doutor! Chega
urgente! Tem gente morrendo no Hospital! – declarou com muito temor o rapaz.
O veterinário ainda todo
atrapalhado se voltou para ver quem estava a chamar. E disse então:
Teixeira:
--- Por favor, me ajude aqui! A
prateleira! A prateleira! – respondeu o veterinário enquanto suportava a
prateleira. A Terra tremia como um cão.
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