- Sinone Sinoret -
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SOCORRO
Quando a canoa com o Coronel
Araújo se aproximou bem da embarcação naufragada, aconteceu de ser também a chegava
do telegrafista Eugenio, com sua também canoa. Os dois começaram o resgate dos
náufragos. A carroça estava quase totalmente afundada. Apenas os dois náufragos
se sustentavam em pedaço de madeira quando o socorro chegou. Otto foi resgatado
por Eugenio e Vanesca, por sua vez, pelo seu pai. A moça já tremia de frio com total pavor de morrer afogada. Otto, por
sua vez indagou ao Coronel Araujo para onde eles deviam seguir. E o coronel
respondeu:
Coronel:
--- Vamos para onde eu vim! E
logo! Vanesca está passando mal! – respondeu com altivez o homem
E as duas canoas, uma com cada
um dos parentes de Coronel Araújo, seguiram para o lugar distante. O Coronel
tinha o seu remador. A outra canoa era conduzida por Eugenio ajudada por Otto.
O tempo se virou por completo e já mostrava sinais de chuvas. Os embarcadiços
tomaram empenho para chegar o quanto antes na margem onde o Coronel tinha
pegado a embarcação, propriedade de um motorista de caminhão conhecido por
Ademar Motorista, homem que fazia viagem de caminhão quando o temo favorecia.
Com as agruras do momento, Ademar encostou o caminhão a espera de alguém a
fazer reparos da pista rompida desde o começo do terremoto.
Enquanto isso, fora e bem longe
da lagoa, estava a cidade onde o Coronel Araújo tinha morado por longos
períodos. Na sede do Município estava tudo consumido. Mercado nada vendia; a
buraqueira no chão; mortos por todo lado;, casas caídas;, gente a lamentar as
suas vítimas;, Hospital de portas abertas embora ninguém trabalhasse;, a
Prefeitura de portas fechadas;, Juiz nem se falava. Muito pior era a chefatura
de Policia. O lugar era um desprezo. As poucas ainda vivas faziam os enterros
dos parentes quando o tempo deixava, pois o lugar era a sede do bombardeio de
meteoros em espaço constante. Meninos, moços ou velhos eram as principais
vítimas. Para se sepultar um corpo escolhia-se qualquer lugar ou se deixava ao
desalento para os urubus fazer a festa. Na verdade, era uma pobreza total.
Crianças chorando por ter perdido a sua mãe; homens aflitos por não ter a quem
mais recorrer; mulheres desoladas por não haver o mínimo de comida em sua casa:
Mulher:
--- Isso é uma bosta! Até as
galinhas sumiram. – dizia revoltada a mulher.
Outra:
--- E as cabras? E as cabras?
Foram todas para o buraco. – outra dizia com bastante raiva.
Terceira:
--- Quando acabar não tem um
homem nessa casa! – era a terceira mulher profundamente magoada.
Quarta:
--- Uma cidade sem Prefeito! –
reclamava a quarta mulher.
Quinta:
--- Ora mais! Que serventia ele
teve? – indagou outra com a mão no queixo aparando o cachimbo.
E a cidade virou vila, não
tardando em ser aglomerado de taperas. O homem da bodega ficou com as mãos no
queixo a espera de boa vontade do tempo.
Bodegueiro:
--- Só tem chuva nessa
porqueira! – reclamava com tristeza o bodegueiro
E assim vivia o povo pobre da
então vila do desterro. As repartições federais, estaduais e municipais não
mais funcionavam. Lojas não havia; comércio nem se fala; indústria? Esse não
funcionava. A criação de ovelhas e galetos estava parada. O único setor a
operar era o de sepultamento dos mortos. Mesmo assim, era de graça. A
choradeira era franca de pessoas a perder entes queridos. A única coisa a
perdurar no vilarejo era o bombardeio feito pelas bolas de fogo. Algumas
chegavam a destroçar em plena vila. Os motoristas de caminhão de carga pegaram
o caminho que eles romperam e seguiram para longe, pois na vila não tinha
sequer água. Os burros de carga eram os fazedores de serviços. Mesmo assim,
eles eram bem poucos. Os seus tangedores – almocreves, se bem sabiam o seu
significado – comiam fumo a passar de um lugar a outro. O carregamento era de
modo principal de caixões de defunto. E assim passava o dia a coletar corpos de
defuntos e alocar em caixão – se ainda tivesse – e levar para um local feito
cemitério. Quando não tivesse caixão, o carrego era mesmo em rede de dormir. Os seguidores do enterro eram quatro ou cinco
parentes do morto. Quando o enterro era de uma criança, se levava outras duas
ou quatro crianças vivas para se mostrar ser o enterro de um “anjo”. Mulheres carpideiras, essas eram de franqueza.
Em todo o enterro se levava algumas carpideiras para agourar a “morte”. Os “ricos”, pessoas de “posses”, esses eram os mais “lacrimosos” do vilarejo.
UM –
--- Coitada da morte! Não dá
prá quem quer! – era o que se ouvia falar por parte da matutada.
Dois –
--- Eu que não quero estar na
vida dela! – dizia alguém virando as costas.
Três –
--- O defunto era tão bom! –
lamentava um terceiro
Quatro:
--- ‘Pru’ fogo! ‘Pru’ fogo! –
respondia uma quarta pessoa.
Quinto;
--- Não diga isso meu
rapaz! Não diga isso! .... Tem gente
muito pior do que o morto! – respondia o homem com os olhos torcidos para o
quarto personagem.
Quarto:
--- Isso é comigo? É comigo? Se
for diga logo! – ressaltou de forma enfezada o homem ajeitando a faca na
cintura.
E o negocio para por aí o se
matava alguém por tudo ou por nada.
Quando os dois barcos com os
seus passageiros chegaram à beira d’água da lagoa, já começava a chover de modo
fraco. Eugenio olhou para o céu e não quis dizer o que ele pensava. Otto e
Vanesca se apressaram em descer. Vanesca tinha maior cuidado por conta do seu
pai. Otto caminhou olhando para trás e buscou se informar do velho Homero,
relojoeiro aposentado por causa da trombose sofrida.
Eleanor respondeu a pergunta
como eles se sentiam em uma casa não sendo mesmo a deles. A moça nada respondeu
e fez apenas um sacudir de ombros. Logo a seguir Otto pediu a benção de sua
mãe, Luiza, e foi até o local onde estava o velho Homero. Ele não disse nada.
Apenas fez um afago passando a mão na cabeça do seu pai. Nesse momento apareceu na sala o dono da casa,
conhecido por Ademar motorista. Os dois fizeram amizade e logo o rapaz Otto
indagou como estava a vida por aquele local. O homem, ainda moço, respondeu ter
pavor das bombas do céu. O rapaz sorriu
e explicou ser apenas um cometa.
Ademar:
--- É por isso mesmo. Com os
seiscentos diabos! Esse negócio estragou minha vida. Agora não posso mais nem
sair de casa! – replicou o homem.
Otto soltou uma bela gargalhada
e tentou explicar ser cometa um corpo do nosso sistema. Ele, quando passa
próxima a Terra, provoca um ‘coma’.
Otto:
--- Esse teve origem há 200 anos.
Era previsto a sua passagem pela Terra. ‘Coma’ é o que se dá igual a cometa.
Coma = cometa. É isso. Ele tem uma cauda enorme, de vários quilômetros. E essa
cauda tem uma estrutura de centenas de quilômetros. – explicou com ênfase o
rapaz.
Ademar.
--- É esse “porcaria” quem vem
cair em cima de nós? – indagou perplexo o motorista.
Otto:
--- Isso mesmo. Pelo visto, o
senhor Eugenio informou ter recebido mensagens de várias partes informando ter
o cometa destroçado Usinas Nucleares e até mesmo em nossa Terra, já rompeu um
reservatório muito grande. Imenso até. É provável não se ter energia elétrica
pelo um bom tempo. – fez ver o rapaz.
Ademar:
--- Porcaria! Bem! Eu estou
acostumado a carbureto e lamparina! Energia nem me faz falta. Mas a mulher
reclama a bessa pela falta de luz. Eu não sei o que faça! – reclamou Ademar por
sua vez.
Quando todos já estavam dentro
da casa e jumentos, cavalos, bois, vacas e mesmo o caminhão de Ademar dormiam o
sono das mil e uma noites, um estrondo se ouviu. Nesse ponto o rádio
telegrafista tinha saído em seu barco a rumar para a sua casa. Mas o estrondo
pegou toda a gente de surpresa a ponto do Coronel Araújo perguntar de repente:
Coronel:
--- Que diabo foi isso? –
indagou alarmado o homem.
E não se teve tempo para nada.
Uma vaga gigante provocada por uma enorme bola de fogo veio a cair no centro da
lagoa. A explosão do impacto deveu-se a vertiginosa rapidez da bola de fogo
vazando por todo o recanto da baía e espalhando a lama por imensos campos. O
Coronel Araújo quis abrir a porta da casa, mas a onda de lama foi bem mais
rigorosa. Todas as casas pequenas de perto da lagoa foram cobertas pela imensa
onda. A casa de Aderbal, mais afastada das outras casas, sofreu menos impacto.
Mesmo assim, de qualquer forma só deu tempo ao homem se levantar, pois a brava
onda gigante atravessou toda a sala, quebrando portas e janelas e penetrado por
toda a moradia. Foi um impacto tão violento que ninguém pode se esquivar. Tudo
estava consumado.
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