- Angelina Jolie -
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MORTOS
Nesse mesmo dia e instante,
Eikki Launis indagou pelo rádio a outros companheiros embarcados. Ele sentiu no
ar um forte odor vindo de terra, mais do que o odor do mangue ali existente. O
mangue lança um forte odor e coisa podre. Mas, acostumado com os mangues, Eikki
não deu muita importância ao fato. E quando indagou foi apenas para ter certeza
de que o odor não era apenas do estrume do manguezal. E foi isso o que
aconteceu:
RA 1
--- É carniça. Gente morta.
Putrefata. Dos edifícios. – respondeu o companheiro até a sorrir.
Com o comentário, Eikki se
levantou e olhou fora vendo os carcomidos prédios altos todos arriados como
brincadeira de papel. Eikki observou bem para os edifícios mais distantes,
contudo nada se podia fazer. Eles estavam totalmente arriados. Dos altos e
magníficos edifícios apenas restavam sombras e nada mais. Ainda Eikki pode
observar na parte de baixo da cidade, os barqueiros despejado seus peixes
capturados na pescaria em alto mar. E o capitão pouco desatento ainda pode
observar mulheres e meninos a colher entre sargaços os peixes miúdos. Logo em seguida Eikki retornou a banca do
rádio.
Eikki:
--- E a cidade não tem
prefeito? – indagou perplexo o capitão.
RA 1
--- Tinha! Tinha! Mas fugiu
para local incerto. – respondeu o outro radio amador a sorrir.
Eikki:
--- E o Governador? – voltou a
perguntar o capitão meio assustado.
RA 1
--- Pegou a mesma canoa. –
gargalhou o confrade.
Eikki:
--- O mau cheiro é dos corpos?
– indagou assustado o capitão.
RA 1
--- De gente e bicho. Os vivos
não puderam tirar todo mundo morto. E nem os animais. – declarou o radio amador
novamente a gargalhar.
Eikki:
--- Mas alguém tem que fazer
algo. O negócio não pode continuar do jeito que está! Toma-se dinheiro
emprestado e faz-se alguma coisa! – falou inquieto o capitão.
RA 1.
--- Munheca! Veja bem! Dinheiro
nessas alturas é a coisa que menos importa. Dinheiro não vale nada nessa terra.
Se você quiser comprar qualquer coisa tem de levar ao vendedor um objeto de
troca. Se ele tiver interesse o negocio é fechado. Do contrario você volta sem
nada ter feito. – declarou o rádio amador.
Eikki:
--- Mas assim não é possível.
Há instante eu indaguei se havia aqui Usina de Gás. Agora, vejo que não se pode
fazer gás, álcool e óleo diesel. Pelo visto está tudo parado!!! – fez vez com
assombro o capitão.
RA – 1.
--- Isso é claro. A Usina de
gás está lacrada por causa do fenômeno cometa. Esse deixa de sobressalto os
engenheiros. Quando surge uma faísca os engenheiros correm para debaixo do
chão. – vez ver o rádio amador.
Eikki:
--- Mas...E o futuro? – indagou
atrapalhado o capitão.
RA – 1.
--- Não há futuro. Esse é
“hoje”. As autoridades, mesmo de outros países, nada falam. Pelo visto nós estamos no fim. – declarou o
companheiro ao seu amigo.
Eikki:
--- Mas deve haver um “futuro”!
Deve haver! – reclamou o novato capitão.
RA – 1.
--- Deve. Isso é certo. Mas o
amigo sabe da situação do Haiti? Pois bem. Lá o negócio foi bem mais fraco do que ocorre nesse mundo. Hoje, não tem
energia na Inglaterra, França, Itália, Japão, China e Rússia. Por fim, em
nenhum País. Nem nos Estados Unidos. Uma geleira imensa do tamanho da
Inglaterra vem para matar os nativos dos Estados Unidos. Você deixou o seu País
em boa hora. Pois os habitantes da Finlândia estão no mesmo pavor. Essa é verdade. Se você
quiser ser mau visto, apareça com uma nota de cem dólares para comprar qualquer
coisa! Dinheiro não vale nada. Nem aqui e nem em outros recantos do mundo. –
relatou o radio amador quase a cansar de tanto falar.
Eikki:
--- Mas os Estados Unidos são
imensos. – relatou o capitão cheio de temor.
RA – 1.
--- É isso mesmo. Pois o
desastre vai do Maine à Flórida. Além do Canadá. – falou já irritado o outro
capitão
Eikki:
--- Bom. É esperar. Não adianta
temer pelo acontecido. E agora eu vou olhar um pouco o que se faz na Marinha.
Cambio, Cambio. – reportou o capitão já plenamente chocado com a situação.
Em igual tempo, na cidade,
tratores do Exército enchiam os caminhões basculantes com restos dos edifícios
desabados onde somente a lama e as pedras podiam ser avistadas. Outra equipe de
civis e militares procuravam localizar algum resto de corpo por ventura já em
decomposição. As equipes usavam máscaras no rosto como forma de proteger da
entrada de objetos contundentes ou de apenas para evitar sentir o forte odor
dos cadáveres. Cães farejadores ajudavam as equipes a encontrar corpos ainda
soterrados. As equipes do Exercito tomaram conta do serviço desde que o Governo
do Estado se ausentou da cidade
juntamente com o Prefeito. Em seu lugar assumiu o Comandante Militar da esfera
federal e era esperado a qualquer instante se decretar estado de sítio em todo
território do Estado. Os comentários vasava de boca em boca em igual sentido. O
Comando Militar já adorara o toque de recolher para os que não tivessem
marcados pelo esquema de prontidão da Guarda. Todas as viaturas particulares
bem como motoristas alheios ao serviço militar foram convocadas com a devida
ordem. Um aterro sanitário foi aberto nos confins da cidade para o depósito de
corpos identificados ou não. Os entulhos eram despejados em outros locais ainda
mais distantes. A Igreja Católica serviu de base para os oficiais de o Comando
despachar as suas equipes. Foi privada a saída de pessoas da cidade para
qualquer outro local sem a devida ordem do Comando da Guarda. Os Hospitais
Militares foram credenciados como pronto-socorro para o atendimento de pessoas
gravemente enfermas. O Hospital do Estado continuava superlotado de doentes. Um
capitão foi designado para responder por tudo o que houvesse naquela
instituição. O trem era outro a fazer
parte do comboio de ajuda humanitária. Foram erguidas pontes de ferro nas
partes danificadas pelas chamas celestes e com isso se passou a atravessar de
caminhões, basculantes, tratores e até pequenos veículos. Foi à luta do Exercito,
Marinha e Aeronáutica a socorrer famílias moradoras em diversos municípios do
interior.
E desta feita, houve empenho de
chamar antigos componentes das Forças Armadas para segurar com brio a
trincheira um tanto desprevenida. Nesse ponto, alguém se lembrou do Coronel Tomaz
de Araujo, velho forte de guerra. A notícia correu campo do Exercito a procurar
de saber do seu paradeiro. Houve o momento em que um dos chefes das Armadas vaticinou:
Chefe:
--- O Comandante está morando
na fazenda. Esse é perto de tal
município. Não sei bem qual. – relatou o militar.
Comandante:
--- Passe uma ordem geral para
que o Coronel Araújo seja chamado com urgência. – relatou o homem forte
A notícia correu depressa por
todos os cantos da esfera. Ordem de encontrar o Coronel Araujo. E, no meio de
tanto tumulto, o coronel Araújo, reformado das fileiras do Exército estava bem
longe do seu município. No momento, ele lutava com bravura contra uma cheia da
lagoa por conta de uma onda gigantesca a invadir a casa do motorista Ademar.
Esse, por sinal tinha o mesmo cuidado em deter a cheia de sua casa tomada de
pronto pela onda. Ouviam-se gritos e real desespero por todo o recanto com as
pessoas desnorteadas a todo custo a procura de se segurar em algo sustentável
para não cair de casa afora. Nas outras casas vizinhas também eram gritos de
tormentas:
Voz:
--- Cuidado! – dizia o
primeiro.
Voz Dois:
--- Ai minha mãezinha! –
gritava outra fora de si.
Voz três:
--- Socorro! – gritava uma
mulher ao ser levada pela maré da lagoa.
E na casa de Ademar motorista
era a mesma angustia com as pessoas a gritar e proteger uns aos outros. A onda surpreendente arrancou de um só
instante as débeis pessoas. Alguém se esforçava para socorrer um dos que estavam
inseguros em direção a porta de frente da casa aberta a todo custo pela forte
vaga. Cavalos, bois, jumentos e demais animais se esforçavam para pular o
cercado e fugir da onda. Enquanto na casa ouvia-se o gritar de gente para
socorrer os seus parentes. Era uma tremenda fúria da onda a arrastar de volta
pessoas. Um grito se ouviu:
Voz:
--- Meu pai!!! – gritou alguém
com espanto.
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