- Paula Oliveira -
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CARAVANA
A caravana parte em busca do
desconhecido a perambular com imenso cuidado para não ser atingida por algumas
das bolas de fogos arremessadas com brutalidade do céu. Cuidado era pouco para
se falar. Pelo caminho perseguido pelos andarilhos a mata virgem em chamas era
o risco de vida. Animais pequenos e médios mortos era o sinal dos tempos.
Animais ainda vivos percorriam desesperado em busca de outras paragens. O
coronel Aguiar olhava a mata e notava ser prudente buscar outros caminhos. Por
certo instante Otto brecou o seu carroção e foi saber do coronel algo de melhor
alcance. O Coronel, pois a mão no
pescoço como a limpar de tanto sujo, e informou apenas isso:
Coronel:
--- Vamos caminhar. Essas bolas
de fogo. ... – e olhava para o céu
Otto, supresso com tamanhas
bolas de fogo a cair do Céu e sem poder ver, pois o sol estava encoberto por
uma nuvem densa de cor escura. As bolas de fogo atravessavam a nuvem como se
nada tivesse para atrapalhar e vinha a cair aos montes na serra. As árvores
ardiam em chamas com a pancada das bolas. O calor ao meio da tarde era intenso
parecendo à boca de um forno quente, acesso. Por todos os recantos vinham às
labaredas assustadoras como a vomitar em chamas sobre as oleiras de barro
iguais ao deus pó. Em dado instante Vanesca, atormentada, correu para junto do
seu noivo. Ele estava a trocar ideias com o coronel e quase não a notou:
Vanesca:
--- Estou com medo benzinho!
Essas bolas de fogo! – disse a moça a olhar para o firmamento.
A tarde não parecia tarde. Tudo
estava opaco. A nuvem escura encobria o sol. Talvez a essa altura o eclipse da
lua já havia passado. Apenas a cauda do cometa sacudia fagulhas de fogo sobre
todos os cantos remotos, inclusive a Terra. E a caravana do Coronel não sabia
onde estava o cometa, o monolítico gigante a passar perto da Terra. Em termos
máximos, o cometa era 140 vezes maior que a Terra. Um verdadeiro monstro de
pedra a se arrastar em direção ao Sol de tamanho colossal. Calado de sua parte,
apenas jogava fagulhas de sua cauda de tamanho vertiginoso o monstruoso cometa.
Desde o maremoto havido semanas antes a invadir a capital, era o efeito do
cometa Gato ao se aproximar da Terra. Toda uma confusão se tornou em volta, e
pelo visto o temível aguaceiro tomado em todas as partes, a impressa ficou
atada de informações. Nesse igual período, as informações corriam lentas dos
cinco continentes. Na Serra, um rádio amador, mesmo com a falta de energia,
conseguiu montar o seu aparelho e, de forma precária, ouvia a transmissão em
código Morse de um navio a solicitar “socorro” através do código SOS e, por aí,
o patrulheiro das horas incertas ouviu igual solicitação de outro barco. A
transmissão precária informava sobre forte maremoto e em outros casos do
afundamento de parte da Terra em algumas partes do globo. O radio amador ele
continuou na escuta dia e noite ouvindo diversas estações de rádio, todas em
código Morse, a informar sobre o afundamento de Usinas Atômicas em varias
partes dos países, incluindo a Europa, Ásia, as Américas e até mesmo países do
Oriente Médio.
Rádio amador:
--- É uma catástrofe! – dizia
atormentado o homem.
E assim, com paciência e muito
cuidado o radio amador prosseguiu em sua pesquisa procurando outras estações a
qual pudesse dar maiores informações a respeito da catástrofe. Como radio
amador, já aposentado do serviço público, quando era inspetor da Polícia
Rodoviária Federal, o homem seguiu para a Serra, onde mantinha uma fazenda de
poucos alqueires de terra. Para cuidar do oficio de radio amador, seu “luxo”, o
homem pesquisava dia e noite as estações nacionais e internacionais. Ele era um
homem aos seus cuidados de radioamadorismo. Para ter energia em sua casa, ele
montava um cata-vento a servir para fornecer água para a casa e ao mesmo tempo
para gerar energia, inclusive para o seu rádio. Dia e noite o homem estava na
escuta. Em 10, 15, 17, 20 ou mesmo em 40 metros. Vez por outra se aborrecia
quando uma estação lhe faltava e dava um grito baixo:
Radio amador:
--- Hah! – o homem fazia.
Tipo baixo, cor morena, olhos
vivos, mãos suaves. Era ele o homem à toda prova. E não tinha hora para largar
a sua tarefa, quer de dia ou mesmo à noite/madrugada. Ele conseguia contato com
seus desconhecidos companheiros do interior do país ou mesmo de outros
territórios. E as noticias eram por demais lineares.
Alguém:
--- O mundo está se acabando! –
transmitia um “macanudo” de alguma parte onde havia um rádio amador na
expectativa de dias melhores.
Outro:
--- É fogo por toda a parte! –
salientava extasiado alguém.
MAIS:
--- Vou cair fora! – respondia outro
bastante temeroso.
Mesmo assim, o rádio amador
tarimbado continuava na escuta do Morse quando ele não estava a firmar contato.
O mar gigante continuava a subir e as paredes do continente africano cediam a
cada instante. No seu País, poucas informações eram dadas. Quando não, um telegrafista
do Governo dedilhava estar a situação sob controle. Homem astuto conhecedor das
armadilhas do Poder, ele cuspia de lado com tal informação descabida. Na
fronteira sul do País chegava pelo código Morse que o imenso reservatório de
água projetado a abastecer os três pais acabara de desmoronar.
Rádio amador.
--- Ê lasqueira! É agora! –
comentou o homem a se levantar da
cadeira estofada.
Com as mãos na cabeça ele foi
olhar os retumbantes incêndios provocados na mata do alto da montanha pelas
reluzentes bolas de fogo caídas a todo instante. De sua casa, ele viu as
carroças embaixo a passar. Os andarilhos estavam desolados com tais fogos. O
radio amador também olhou e estava desolado. Pequeno em seu porte, ele,
Eugenio, era um gigante quando por trás de um radio ou mesmo na tarefa que um
dia exerceu durante longos tempos da vida. Ele olhou bem a caravana e apostou
em seu cavalo. E foi a seguir os desanimados homens e mulheres para dizer tudo
o que sabia até àquela hora. E nesse ponto ele reconheceu o dono caravana.
Mesmo estranhando o porquê das andanças, Eugenio se mandou a cavalo para saber
do ocorrido. E cavalgou uns bons minutos até chegar a carroça da ponta. E ao
chegar na ponta foi logo cumprimentado.
Eugenio;
--- Olá caravaneiros! Boa
tarde! Para onde estão a seguir! – indagou esfoliado o telegrafista.
O Coronel Araújo não entendeu
bem a conversa e voltou à pergunta. A cada passo, os dois homens foram se
entendendo e o Coronel foi a dizer estar a procura de um local mais seguro.
Eugenio saltou da montaria e foi a dizer ter um cometa ao redor da Terra e pelo
que conseguiu saber, era um gigante.
Eugenio:
--- Os oceanos, em toda parte,
estão se avolumando. Parte da África sucumbiu. As calotas polares estão a se
desmanchar. Com isso, o volume das águas cresce bem mais. Os barcos estão como
folhas soltas. E o rompimento de uma barragem foi a pior noticia. – relatou com
tristeza o homem.
O Coronel Araújo junto com o
seu genro e sua filha, ficou atônito com a informação. O Coronel conhecia muito
bem o radio telegrafista Eugenio. Entretanto o considerara um excêntrico ermitão.
Por certo os dois nunca trocaram palavras. Naquele instante ambos estavam lado
a lado. O Coronel Araújo saltou da carroça e perguntou ao ermitão.
Coronel:
--- Como o senhor está sabendo
dessa historia? – indagou um tanto sem querer saber.
O ermitão Eugenio fez um
sorriso e comentou em seguida:
Eugenio:
--- Radio. Eu sou radio amador.
Tenho seguido a trilha do cometa. É provável ser nossa costa invadida pelo mar.
Ondas gigantes ameaçam a Terra. – comentou o ermitão sem sorrir.
O Coronel se voltou para o
jornalista esse levantou apenas os ombros como se afirmasse o dito. Em seguida,
o Coronel se voltou para o ermitão e lhe fez perguntas:
Coronel:
--- Como eu vou ter certeza do
mar invadir nossa Terra? – indagou meio cismado o homem.
O ermitão pigarreou e
respondeu:
Eugenio:
--- Nunca se tem uma prova.
Apenas dedução. As geleiras se derretem e vem parar em alguma costa. Então, nós
deduzimos ser a nossa costa a mais provável. Tem os Estados Unidos também. E
outras terras, como Oceania de América Central. Enfim, tudo forma um único
bloco. A África já está sofrendo as consequências. E se tem a Itália e o Japão.
Tudo é muito simples. – comentou muito sério o ermitão.
Coronel:
--- Coisa estranha! O cometa
vir destruir a Terra? – pesquisou em sua mente o homem.
O telegrafista sorriu e ficou
serio para poder responder.
Eugenio:
--- Um super cometa. Veja que
estamos afrontando um bloco de pedra bem maior do que a Terra. É de descomunal
tamanho. – relatou bem calmo o homem.
Otto sorriu e por fim declarou
ser verdadeira a informação dada pelo ermitão.
Otto:
--- É seguramente certa a
informação do rádio telegrafista.
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