- Elisha Cuthbert -
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REI DOS JUDEUS
Em torno de três horas da tarde desse mesmo domingo, o caçador de tatu Aquiles Gafanhoto foi até ao casarão do coronel Juca – João Tenório de Alencastro – para saber do que estava a ser chamado pela hora da manha daquele mesmo dia. Ao chegar ao casarão, Aquiles Gafanhoto teve de esperar, pôs o ancião de oitenta anos estava a dormir àquela hora da tarde. Aquiles tomou assento em uma cadeira de vime no alpendre da frente do solar admirando o roseiral plantado a frente do casarão onde também havia plantados vários pés de macaíba, palmeira de vasta distribuição, pois os estudiosos pesquisaram a árvore encontrando a espécie até no México, passando por toda a América Central e do Sul. A macaíba brota uns frutos alaranjados tendo o seu miolo escuro e de doce sabor. Além do mais, no terreno longo e plano eram plantados coqueiros e umburanas além de vários tipos de árvores, como acajus e cedro. O vento morno sobrava do lado de trás do casarão. Ele jamais entrara do interior da casa grande. Mesmo assim, se fazia supor ter dentro do casarão algo como uma mesa de jantar com catorze cadeiras ao longo da habitação. Além disse, existiam vários quartos e mobílias. Tais mobílias eram no mínimo, antigas. Na frente da casa tinha uma espécie de escada com vinte degraus para subir ou descer. A frente do casarão era de mais de dez janelas, todas de vidro, e a porta central. Quem avistava de longe se achava curioso por tanta beleza de um habitante, sua mulher, filhos e netos. O casarão devia ter sido edificado por volta do ano de 1850. Isso, ele, Aquiles Gafanhoto tentou supor. Quem morasse no interior do Estado encontraria dessas mansões tão antigas e feitas de madeira de lei e tijolos de trinta centímetros de comprimento por vinte de largura que nem se imaginava ser.
Após todo esse esmero e cuidado, tendo sido oferecido de uma xicara de café por uma mucama, Aquiles despertou para a realidade quando o coronel Juca apareceu à porta, olhando ao largo com a mão nos olhos o seu belo sitio, e comprimento o rapaz até logo pode. O coronel se sentou em uma cadeira acolchoada. Ficou meio deitado, o pé suspenso no assento do móvel e largou a dizer:
--- Esse ano não chove mais. – relatou o coronel olhando em sua volta e com a voz soturna.
--- Já estamos em dezembro. – respondeu Aquiles Gafanhoto a concordar com o coronel.
--- Pelo que eu vejo, vamos ter chuva por meados de fevereiro. – disse o ancião.
--- As formigas dizem isso. – comentou Aquiles.
--- É verdade. As formigas. E elas não mentem. – falou o ancião olhando para bem longe.
--- Os tatus também dizem o mesmo. – disse mais Aquiles.
--- Tatu! Bicho bom. O povo do mato é quem sabe de tudo. Tem aqui os pebas, formigas e pássaros. Eles sabem muito. – respondeu o ancião coçando os dedos dos pés e a falar com a sua voz grossa.
--- Quando eu era menino, do tamanho do menino seu neto, eu aprendi com meu pai o tempo de chuva e se não tinha mais promessa de chuva. Foi ele quem me ensinou. – relatou o homem Aquiles.
--- O velho Juvenal. Ele morreu ainda moço. Tem casos que a gente não entende. Um homem robusto como Juvenal morrer tão moço. – confessou o ancião de forma pensativa.
--- Eu chego até a imaginar ter ele não morrido. – disse Aquiles de forma de quem sabia o que dizia.
--- É de se pensar mesmo. – comentou o ancião pensativo.
Depois de tanta conversa, o coronel Juca mudou de assunto. Até então ele estava preocupado com o inverno, pois era dezembro e a perspectiva era de não chover. No momento, o ancião voltou a conversa que ele queria mesmo: Jesus Cristo. Caso que o homem Aquiles Gafanhoto não entendia muito bem.
--- Esse caso de Jesus, coronel, eu não entendo muito bem. Meu pai me contava uma historia de um rapaz dos seus trinta anos que se intitulou como “O Rei dos Judeus”. Esse rapaz viveu até quatro anos antes de Jesus nascer. Bem. A terra da Palestina, como a Gália, a Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de Gales, tudo isso era dominado pelo Exercito de Roma. Acontece que, na Palestina houve revolta. Tinha gente revoltado com Roma. E esse povo era tido os revoltosos. Quando apareceu o rapaz intitulado de Rei dos Judeus, o negocio tomou novo rumo. Esse rapaz era Simão de Tereia. Ele foi morto e seu corpo deixado aos abutres. Acontece, porém que Simão de Tereia, anterior a Jesus, não veio só. Tinha ou tem um manuscrito ditado como Pedra das Revelações de Gabriel. Essa Pedra revela ter o Messias há ressuscitar três dias após a sua morte. Acontece que essa pedra data de um século antes do aparecimento de Jesus. E tem mais; a pedra do anjo Gabriel tem a origem na margem leste do Mar Morto, na Jordânia. O texto apresenta a revelação do arcanjo Gabriel em ressuscitar o Príncipe dos Príncipes três dias depois de sua morte. O senhor está entendendo? – perguntou o homem Aquiles Gafanhoto.
--- É. Mais ou menos. Estou com a cabeça velha demais para esses assuntos! – pigarreou o ancião João Tenório de Alencastro.
--- Mas isso é antigo! – falou Aquiles Gafanhoto.
--- É. Mas me dá o sono! – relatou o velho um tanto acabrunhado.
--- Bem. Se o senhor não quiser mais que eu conte, eu paro aqui. – disse o moço Aquiles.
--- Não. Conte. Conte! – respondeu o ancião tomando forma.
--- Então está bem. Eu mesmo acredito não em um Deus. Mas Filhos das Estrelas. Pelo que eu sei, o Rei dos Judeus é o mesmo Messias, morto por “Armilus”. Ele foi ressuscitado pelo profeta Elijah. Esse Messias aparece nos escritos igualmente chamados como José “filho primogênito de Deus”. O Testamento dos Doze Patriarcas, que trás o testamento de Benjamin. – da família de Maria Madalena – liga o Servo Sofredor de Isaías. Diz Benjamin que “em você será cumprida a profecia celestial”. Eu fico a pensar que a Revelação de Gabriel apoia a idéia de que a tradição do Messias remonta ao primeiro século antes de Jesus. – revelou o homem Aquiles Gafanhoto.
Nesse momento Aquiles observou ter o ancião adormecido na sua cadeira com um dos pés levantados até o assento. O ancião dormia a sono solto com a boca aberta e a cabeça decaída para trás. Nesse ponto, Aquiles parou de falar e ficou a observar a amplidão do Universo. O ocaso começava a cair entre brumas crepusculares. Pássaros viageiros se deslocavam para um local mais ameno onde dormitariam em noite cálida e serena até o despertar da alvorada da segunda-feira. Os batráquios já estavam a gracejar em pleno adormecer do dia enquanto do interior da casa grande uma mucama surgia para acordar o seu patrão a dormir sossegado como uma criança feliz. Nesse ponto, Aquiles Gafanhoto se levantou e cumprimentou o ancião prometendo para depois lhe contar o restante da história.
--- É. Hoje estou com um sono da moléstia. Vá me desculpando se eu dormi. – respondeu o ancião.
Quando a segunda-feira chegou, Aquiles Gafanhoto já estava de pé esperando o jipão da Base Aérea. A sua mulher chegou à porta do barraco com uma caneca de café. O homem pegou a caneca e perguntou a mulher se teria que ir cuidar da fazenda. E a mulher nada respondeu. Ela partiu para dentro da choupana olhando adiante e vendo o jipão que acabara de chegar. E então, Aquiles Gafanhoto desembaraçado embarcou cumprimentando os que estavam no jipão. Dessa vez, o carro rumou para a Base Aérea. O tenente explicou que naquele momento o Comandante da Base precisava falar com ele. Aquiles não fez questão. O veículo era do tempo da II Grande Guerra pelo que denotava a ver.
--- Um jipão e tanto. – fez questão em dizer Aquiles.
O tenente nada respondeu. Apenas olhou para o veículo. E fez um sinal com a sobrancelha, como quem diz:
--- Deve ser! – nem falou o homem aconselhado a não conversar com estranhos.
A brisa campeava naquela manhã e o povo já voltava ao seu labor diário. Aqueles que trabalhavam fora. Mas o comércio ainda estava fechado. O Mercado já estava a funcionar desde as cinco horas. Na Igreja, o seno tocou o seu campanário ditando às sete horas da manhã. Aquiles ouviu aquele som, mas não deu a devida importância. De repente, uma serpente atravessava a estrada. O motorista desviou da cobra para não matar. Mas o gesto do motorista não livrou as rodas traseiras. E a serpente foi esmagada com certeza. Aquiles olhou pelo retrovisor dianteiro.
--- Essa não teve escapatória! – respondeu Aquiles.
O motorista não muita importância. O tenente nada falou. Apenas se ajeito do sacolejo do jipão. Calado estava e calado ficou. Uma mulher seguia com seu menino e uma trouxa de roupa na cabeça andando as pressas pelo acostamento. O menino olhou o jipão e apontou para a sua mãe. Um carro azul saia de uma fazenda no acostamento da estrada. Aquiles viu quem era. E cumprimentou a moça.
--- Bom dia senhora. – disse Aquiles.
Era a moça Marina. Ela estava a sair para o Grupo Escolar. Marina era a filha de Orlando Martins. O homem nunca desejou que lhe chamasse pelo último sobrenome. “De Barros”. E Aquiles pensou que seu Orlando já estaria longe àquela hora.
--- Já deve estar a caminho do Ministério da Agricultura. – pensou Aquiles com os seus botões.
O jipão entrou na Base Aérea naquele momento. O motorista entregou a senha à sentinela. Os aviões a jato levantavam para o cerrado. Eram três aeronaves. Aquiles observou bem para onde os aparelhos seguiam. Mesmo assim não dava para saber se os aviões se dirigiam para a região da mata, bem em cima do alto da Serra do Monte Sagrado. Em questão de segundos o jipão parou em frente ao Comando onde Aquiles Gafanhoto deveria descer para falar com o chefe geral da Base. O Campo de Aviação veio com a presença de objetos voadores no interior do Estado, pois a todo o momento se falava em naves extraterrestes ocupando certas áreas do município de Panelas. As autoridades federais resolveram intensificar a vigilância em toda aquela região. Além do mais havia a presença de terrenos ocupados pelos extraterrestres, coisa que já havia sido verificado também pelo Exercito. Naquele instante de temor se fez necessário a presença de aeronaves militares.
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