- Deborah Secco -
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TERRA ÔCA
No domingo, pela manhã, Orlando Martins estava no alpendre da fazenda admirando o levantar vôo dos aviões a jato bem ao longe de onde ele se encontrava naquele momento. O roncar das aeronaves era ensurdecedor. O homem não se importava mais com tanto barulho. Não raro, os aviões cruzavam pelo alto, por cima de seu casarão. Os vaqueiros ficaram a olhar para o céu vendo quando as aeronaves cruzavam. As aves de rapina eram as mais sacrificadas pelos aparelhos supersônicos. Isso se dava mais na subida dos jatos. Porem, alguma das vezes, eles eram abatidos quando dos jatos estavam a descer para pousar no campo de aviação. Tudo isso era visto por Orlando. Ainda bem não esperasse tão cedo, eis que surge ao seu derredor a filha Marina. Ela surgiu intempestiva e foi logo a indagar:
--- Ô meu pai! O que o senhor saber sobre tal chamado Caso Roswell? – indagou surpresa a moça.
--- Que? – quis saber Orlando sem atinar para algum Roswell.
--- Tem no livro que o senhor me deu. Caso Roswell. O que é? – fez questão em saber a moça Marina.
--- Ah. Bom. Faz algum tempo. Caso Roswell. Foi nos Estados Unidos. Roswell é uma cidade. Conta-se que um grande objeto oval cruzou o céu de forma incandescente a voar de alta velocidade. Havia uma forte tempestade e o objeto caiu na Terra em forte explosão. Por quatro quilômetros o Disco Voador se despedaçou deixando lâminas de metal maleável. Mesmo assim, sendo retorcido, o material voltava a sua forma original. O Disco trazia impresso escrita em hieróglifos. Esses materiais eram indestrutíveis. Os copos encontrados eram de gente pequena, três corpos. Cabeça com olhos fundos e grandes, pequenos orifícios nasais, boca fina, sem pêlos, braços compridos e finos. As mãos tinham quatro dedos cada uma. Os humanoides não tinham cabelos e sua pele era cor de prata. Cada qual tinha tamanho era de um metro e vinte centímetros. Quando os três humanoides chegaram ao hospital exalavam um mau cheiro terrível. Esse caso foi como sendo o primeiro UFO encontrado na historia recente. Os destroços do UFO foram levados para o Estado de Ohio. – declarou o pai da garota secretária de Educação Municipal.
--- Em que ano foi esse caso? – indagou a moça querendo ter certeza.
--- O ano.....Foi em 1947...Mês de julho, se não estou equivocado. – respondeu Orlando Martins.
--- Tá certo. Obrigada! – sorriu a moça e deu vira volta e entrou no casarão.
O homem se voltou para o local da Base Aérea e ficou a pensar de ter escolhido um ofício errado.
--- Eu bem podia ter sido um Ufólogo. – sorriu Orlando até certo moto feliz.
A sua volta, a menina Amanda se acercava com o seu imenso bubu na boca preso a uma tira de pano se enrolou em seus braços como quem pedindo para subir. Ele fez a vontade de Amanda e a beijou na face. Em seguida Orlando rumou para a esquina do alpendre onde mais podia vislumbrar as aeronaves a subir e a descer.
Às nove horas da manhã o doutor Orlando Martins de Barros já estava no casarão alpendrado do coronel Juca – João Tenório de Alencastro – para trocar dois dedos de prosa. O ancião, como sempre, tinha se levantado da rede de dormir por volta das quatro horas. Ele fez o que sempre fazia de manhã logo cedo como aguar as plantas, tirar mangas, goiabas ou mesmo colher leite no peito da vaca, tomado um pouco de café, sorvido coalhada, ingerido queixo entre outras coisas comuns do dia a dia. Orlando já o esperava quando o coronel Juca deu as boas vindas ao visitante. Conversa e mais conversa assunto de quem não sabia de muita coisa, foi então que o visitante encaminhou o assunto:
--- Coronel é até de estranhar a minha visita a vossa senhoria. Mas eu tinha que fazer. Primeiro porque nós estamos em tempo de Festa. Natal está chegando, o ano novo está por vir e muito se tem oque ser feito. Mesmo assim, uma coisa me aflige. Essa semana, - já faz quase uma semana – eu entrei numa roda de não ter mais parada. Hoje, antes de vir a vossa residência, eu tive que fazer uma ligação para a capital. Fui direto para o Hospital onde está internado o Diretor Geral da minha repartição. Por lá me informaram que o homem não teve melhora por esses dias. É uma lástima. Eu, agora respondo pela a direção do Ministério da Agricultura em nosso Estado. Pela situação do velho, ele não vai voltar. Fez uma cirurgia de próstata. Até aí muito bem. Mas, durante a cirurgia veio a complicação: um AVC. Para bem explicar ao senhor, AVC é o mesmo que trombose. Pode dar na perna, no braço e mesmo no coração. O dele acometeu o cérebro. E então o homem ficou em estado de coma. É triste mais é verdade. E eu, como fico? Fico com a direção do órgão, como já estou e vejo que a minha candidatura a Prefeito do Município foi para o brejo.
--- É. Eu estou de mãos atadas. Meus filhos, esses, apenas um pode ser vereador. O outro só sabe vender algodão. Na verdade eu não me lembro de outro. – respondeu o coronel com cara enfadonha.
--- Mas tem que haver. Nem que seja o vice-prefeito. Ou então Manoel das Cuícas. É homem decente e pode ser convidado. O que o senhor pensa? – indagou Orlando de repente.
--- Tá! Um bom nome. Apesar do mau cheiro que ele tem. Neco das Cuícas. A gente da um banho nele e fica bonzinho. – sorriu o ancião com o nome de Manoel das Cuícas.
--- Está vendo como se encontra? O negócio é falar com ele. Chama-lo aos carreteis. E mostrar o que fazer. É não dá rédeas. Manter o esperto de rédeas curtas. – sorriu Orlando dando graças a Deus se livras dessa barafunda.
--- Eu vou chamar o caboclo aqui. Nem se preocupe. Agora: a vossa menina não vai desistir? – indagou com um pé atrás o coronel.
--- Não. De jeito algum. Agora, ela vai ter que estudar. Esse negócio de ser secretária de Educação sem estudo não dá certo. Depois vem uma rebordosa e estamos perdidos. O outro era do mesmo jeito. Vamos pra frente. Pra frente é que se anda. – sorriu Orlando para o coronel.
Após longa conversa o doutor Orlando Martins virou a página do livro. O coronel Juca mandou buscar o homem Manoel das Cuícas – seu nome verdadeiro era Manoel Amâncio. Chamava-se de Manoel das Cuícas porque ele vendia cuíca na feira. E o doutor Orlando enveredou por outro caminho. De conversa em conversa, Orlando quis saber do coronel se havia por perto alguém que lhe alugasse um jipe para fazer uma viagem a qualquer dia. O coronel Juca foi mesmo à cima da bucha.
--- Homem! Eu tenho um jipe! Eu nunca utilizo e não tem nem pra que. Mas o carro tá todo jeitoso. É para o senhor mesmo? – indagou o velho Juca já em pé da cadeira.
--- É para mim. No mês que vem eu pretendo fazer uma viagem e esse carro não aguenta o rojão. Eu apelo para um jipe. – falou Orlando apontando para o seu automóvel estacionado em baixo de uma gameleira.
A gameleira é uma árvore de grande porte com madeira utilizada para a confecção de gamelas e objetos domésticos. Nativa em todo o País pode atingir de dez a vinte metros de altura. Seus frutos são redondos, pequenos, macios e verdes. O coronel Juca chamou o “compadre” para ir até a garagem postada no fundo do quintal e por vez mostrar o velho calhambeque, orgulho para ele do tempo quando dirigia o veículo. E os dos amigos caminharam descendo os batentes da escada da frente e seguiram juntos com o velho Juca a tecer os melhores carinhos para o velho jipe. Visto o cabão, bem conservado por sinal, o homem Orlando se encheu de contentamento. E se sentou na bancada do jeep procurando passar marcha com o motor desligado. Assim mesmo tudo deu certo. Mas a marcha pequena que permitia o jeep trafegar em locais mais íngremes, essa ele não pode trocar.
--- É dura, essa! – reclamou Orlando ao tentar trocara marcha.
--- É. Mas é assim mesmo. Isso é bom quando o jeep está em trânsito em um alagado. Então o senhor passa marcha. – recomendou o coronel Juca todo ancho e satisfeito.
--- Pois é. Eu vou pensar. Depois do fim do ano eu pretendo ir a um determinado lugar e só presta para ir de jeep. Então eu venho pegar o vosso. Está certo? Não se incomode que eu trago de retorno. – falou contente o doutor Orlando.
Quando foi um pouco mais tarde, negócio de onze horas, o doutor Orlando Martins de Barros estava no Hotel Cassino, de sua propriedade, quando, de repente chegou às pressas senhorita Marina Martins, filha do mesmo homem com os cabelos todo ao desalinho, o coração batendo até demais e, esfogueada foi logo a perguntar a Orlando sem a menos pausa.
--- Meu pai! Meu pai! O que danado é a tal Terra Oca? – quis saber a moça muito apressada.
--- Que? Terra Oca? De onde você tirou esse negócio? – quis saber Orlando tão meio atordoado com a questão.
--- Tá aqui, ó! No livrou que o senhor me deu. Ó! – declarou a moça toda despenteada no salão nobre do Hotel.
O seu pai pediu para ler o texto que estava no livro e viu detalhes sobre a matéria desconhecendo por total o teor da história. Orlando notou apenas teorias da Terra Oca e desenvolvidas ao longo da história. As formulações científicas sobre a matéria datavam do século XVII. O homem não mais se lembrava de ter ouvido algo a respeito do assunto, até porque esse não era o seu ramo de estudo. Ter a formação da Terra um lado oco isso era totalmente positivo. Orlando Martins se lembrou de passagens comuns de casos que se ligavam com o assunto. Formigueiros, era um deles. Mas ainda conferia com as cavernas das montanhas e até mesmo as fendas existentes nos morros ou nas praias. E ele ficou a pensar ao ler o livro a trazer o tema de casos de montanhas onde teses serviram de base para diversas obras literárias. O povo do Oriente habitava cavernas, foi o que se lembrou de imediato o homem. E no seu País havia grotões onde o gado se escondia por tempos temendo as intempéries. Tal caso era comum, então, para Orlando. E após ler e reler a historia ele devolveu o livro a dizer.
--- É ôca mesmo a Terra. Não há duvidas. – sorriu o homem a passar a mão na cabeça da sua filha.
A moça sorriu com impetuosidade se alegrando que de fato nada de mais ela tivesse para duvidar daquele segredo antigo. E em seguida tomou o seu rumo em direção a um sofá onde por mais tempo estaria ela a sentar e ler a brochura.
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