- Guilhermina Guinle -
- 41 -
PEIXE
Por
volta às oito horas da manhã daquele mesmo dia, Maria José, já em casa de
Isabel, de frente para o mar, estava a fazer o almoço do meio dia para a
senhora Salete e demais pessoal, incluído o seu próprio filho, Paulo. Naquela
hora o garoto brincava com os pedaços de ossos. Ele chamava aquela diversão de
boi ou de caminhão. Os bois andavam nos caminhões. E era assim a brincadeira. O
seu colega, Francisco, tinha caminhado para o jardim. Dessa forma, Paulo se
encontrava só. Ele e a sua brincadeira com os ossos. A mãe estava a tirar a
carne da geladeira e cortar os pedaços para quem comesse inclusive Salete ou dona
Salete se assim a moça a tratasse. Foi nessa hora que um rapaz chegou até a
porta da casa oferecendo peixes. Ela olhou de repente e logo falou:
Maria:
---
Quero não! – respondeu a mulher a espantar as moscas de seu rosto.
Pescador:
---
Faço barato prá senhora. – disse o pescador.
Maria:
---
Nem de graça. – respondeu a mulher.
Pescador:
---
São oito por cinco reais. – insistiu o homem.
Maria:
---
Virgem Nossa! Ainda tem peixe na geladeira. – respondeu a mulher sem achar
graça.
Pescador:
---
Mas esses são novos. Eu peguei agora. – sorriu o rapaz a levantar a enfieira de
peixe.
Maria:
---
Ora que abuso. Já disse não e pronto! – falou ríspida a mulher.
O
pescador sorriu e saiu da porta da casa. A mulher veio de dentro e fechou a
porta para não ter mais que ouvir tanta lamentação de pescador nenhum. Porém
ela ouviu o tilintar no bolso de sua saia e, então, isso lhe prestou uma ideia.
Ela puxou do bolso as moedas e o dinheiro de papel. Apenas contou o tanto e viu
que dava para negociar. Maria José se voltou apressada e abriu novamente a
porta para chamar o pescador. Debalde. O homem já havia desaparecido da rua.
Ela então voltou para dentro da casa fechado a porta com certa força. Ao passar
pelo quarto observou a mulher se estava acordada ou não. E nesse ponto, a
mulher, deitada, falou para Maria José:
Salete:
---
O pescador. Ele está perto da casa. – falou mando a mulher.
Maria
---
Senhora? Como a senhora sabe? – indagou a mulher com surpresa.
Salete
---
O pescador. Ele está perto da casa. – falou com solidão a mulher.
Maria
--- Nossa! A senhora escuta? – indagou perplexa a
mulher Maria
E
a mulher nada mais respondeu. Salete se deitou como se fosse dormir. Maria
José, num supetão, correu para a sala, abriu a porta e se topou com o pescador
que ainda estava na porta a oferecer o pescado. E ele disse:
---
Compre essa enfieira. Não custa muito. A senhora me ajuda bastante. Compre. –
recitou o pescador de pouca idade agarrando os seus peixes a altura do seu
rosto quase a chorar.
Maria:
---
Tá bom. Eu fico com a corda. Mas sou dou esse trocado. Não tem muito. Depois o
senhor passa por aqui e lhe dou o restante. – falou a mulher com voz serena.
Pescador:
---
Está bom. Eu passo depois. Amanhã, talvez. Sempre venho do mar. – e apontou
para o mar.
Maria
José olhou para o mar e se voltou para os pescados. Logo a seguir pôs o pescado
em suas mãos e já estava a partir quando o rapaz indagou:
Pescador:
---
A senhora pode me arrumar um copo d’água? Estou morto de sede. – falou o rapaz.
Maria:
---
Posso. Pois não. Espere um instante. – falou a mulher inda para dentro da casa.
E
lá por dentro sempre a olhar o pescador, apesar da porta está fechada, ela
depositou a água em um copo e voltou com pressa para servir ao rapaz. Esse
bebeu e depois indagou a mulher.
Pescador:
---
A senhora é daqui? – indagou o pescador a Maria José.
Maria:
---
Por que me faz essa pergunta? – falou a mulher recuando da porta.
Pescador:
---
Porque é a primeira vez que a observo. – falou o rapaz.
Maria:
---
Sou de perto. – falou a jovem moça querendo fechar a porta.
Pescador:
---
Ah bom. Na certa é casada. – falou desiludido o rapaz.
Maria:
---
Sou sim. Meu marido não tarda a chegar. – respondeu a jovem moça.
Pescador:
---
Ah Bem. Feliz é o homem que tem uma mulher como esposa. – disse o pescador com
a cara de desiludido.
Maria:
---
Pois é. Ele é um bom homem. – falou a mulher.
Pescador;
---
Um bom? Pena! Eu seria bem melhor que isso se arranjasse uma esposa. – disse o
pescador meio desiludido.
Maria:
---
Ah bom! Já conversou demais para o meu gosto. Dá licença! – e se apressou em
bater a porta.
O
rapaz saiu cabisbaixo, com as pernas das calças levantadas até ao meio da
canela. E Maria ficou a escutar o passar do homem e nada mais. Num espaço curto
de tempo ela ouviu uma voz lamuriosa a cantar uma modinha a falar de uma
sertaneja. O cantar o homem vinha dos mares profundos e bravios com então um
eterno namorado. Na canção ele pedia a Deus que lhe desse espaço para voar e
ter o tempo de percorrer a natureza para não ver a sua amada a chorar. E o
rapaz cantou a musica de forma tão suave a não momentos de espera para a virgem
amada. Maria José sorriu e deixou o moço mergulhar os seus sentimentos
imprevistos nas mágoas de uma nativa. A fonte do amor partido era mesmo o
sacudir as ondas onde sereias de encanto navegam contemplativas para o fundo
abismal da natureza.
O
menino Paulo chamou a sua mãe por que nem mais. Apenas ele chamou. A mulher
ouviu e correu para saber o que estava a se passar. E o menino abaixou a cabeça
e tornou a empurrar o seu carro de animação. E depois de um curto tempo a
criança indagou:
Paulo:
---
Mainha! Quando a gente volta? – indagou o garoto a brincar com seu carro de
osso.
A
mãe ficou a pensar no que responder. E de pronto lhe disse:
Maria:
---
Breve. Filho. Breve. – respondeu a mãe a enganar a criança.
Paulo:
---
Breve é quanto? – indagou o menino empurrar o seu carro fantasma.
Maria:
---
Breve é breve, filho. – e sorriu para a criança.