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INQUISIÇÃO - PARTE II
Passaram-se dois dias e durante esse tempo o Abade não tocou
mais no livro da Inquisição. Em seguida ao primeiro dia, Euclides, o Abade,
voltou a fazer visitas ao Observatório da Serra aonde um Monge recente, vindo
de Roma, tomava cuidado com os seus afazeres. O Abade o conheceu tão logo
chegou ao Mosteiro e por alguma vez o viu ajoelhado a frente ao Santuário do
altar, com a sua cabeça pendida, como era o costume de todos, a fazer preces ao
Divino Senhor Jesus Cristo. Nas horas da refeição, o Monge de Roma estava a
comer um pouco de carne de porco como era o costume de vários beneditinos
daquele templo. Nas horas marcadas, o Abade voltava a vislumbrar a figura do
Monge de Roma, cujo nome era Dom Giuseppe de Acosta, vindo de uma abadia da
Espanha e em seguida foi transferido para Roma, a grande Cidade Santa onde
quase todos os beneditinos costumavam a passar por algum tempo. Dom Giuseppe de
Acosta estava distraído quando o seu superior entrou no salão do gigante
Observatório, pois tinha o costume de ler quando não era hora de se por
observando o Céu estrelado a procura de algo misterioso e surpreendente.
Então, o Monge Dom Giuseppe de Acosta ou apenas Dom Giuseppe,
se levantou da cadeira para dar os seus
cumprimentos ao Abade e se dispôs a ouvi-lo de imediato. O Abade fez sinal para
que o Monge sentar, pois estava naquele espaçoso complexo apenas para “matar a
saudade”, pois quando era noviço naquele local ele aprendera bastante com
astrônomo Dom Ambrósio morto ha cinco anos de um mal súbito. O novo astrônomo
desconhecia dom Ambrósio, pois estava em Roma e por esse tempo talvez ele ainda
estivesse nos estudos acadêmicos a completar como astrônomo. Os dois Irmãos
conversaram bastante e logo ter entrado o Abade, o outro Monge postou o livro
no qual estudava em cima de uma banqueta onde havia outros compêndios, mapas e
revistas com relação ao espaço. O Abade observou com bastante atenção o livro
posto na reserva. E notou algo interessante uma vez se tratando de um tomo de
parte da Inquisição. Um livro que retratava toda a perseguição religiosa –
católica e protestante – contras as pessoas apontadas como hereges. Em fracas
suspeitas as forças ocultas dos católicos ou protestantes buscavam as futuras
vítimas para as sangrentas e bestialidades punições. Há poucos dias o Abade
Euclides tinha rejeitado de ler os cruciais desmandos dos divinos ou pecadores
poderes da Igreja. No entanto, o Monge não vacilou em indagar o que tratava o
tal livro.
Monge:
--- Perseguição das hereges! – declarou sem maior atropelo o
Monge Giuseppe.
Abade:
--- Ah. Bom. Eu estive lendo um livro sobre esses tratados. –
reportou com cisma o Abade beneditino. Ordem de São Bento.
A Ordem de São Bento ou Ordem Beneditina é uma ordem
religiosa católica de clausura monástica que se baseia na observância dos
preceitos destinados a regular a convivência comunitária. É considerada como a
iniciadora do chamado movimento monacal. O monasticismo é a prática da
abdicação dos objetivos comuns dos homens em prol da prática religiosa. A “Regula Benedict” foi em 529 para abadia
de Monte Cassino, na Itália, por São Bento de Núrsia, irmão gêmeo de Santa
Escolástica.
Giuseppe:
--- É um ótimo livro. Ele mostra como eram feitas as agonias
na Idade Média. Não difere muito de hoje, quando o herege é apanhado em suas
moléstias inimagináveis. Em terras brasileiras, o tribunal do Santo Ofício chegaram
a ser instalados nos séculos XVII e
XVIII. Porém não apresentaram muita força. Mesmo assim, alguns hereges ainda foram
punidos com queimaduras nos seus pés. – observou o homem culto.
Abade:
--- Eu imagino. Certamente. No livro, eu observei no século
XII da Idade Média, como se chamava Idade das Trevas. A Igreja se encontrava em
pleno domínio do seu poder estatal. O Cristianismo romano se tornara na
religião oficial de todo o Império. Os deuses pagãos foram abolidos. Hoje, o
que restam deles são apenas ruinas. O paganismo foi definitivamente abolido.
Porém a sua essência havia se infiltrado no seio da Igreja. A veneração aos
Santos substituiu os cultos a deuses pagãos. A 25 de dezembro, há sete mil anos
se comemorava a Festa do Deus Mitra que representa a Luz. A Igreja trocou essa
data pelo nascimento de Jesus. E o antigo festival dos Mortos pelo Dia de
Finados. A Igreja dedicou os altares antes ocupados pelos pagãos e então foi
coberto pelos heróis cristãos. E se adaptou o ritual da Igreja no censo,
imagens, esculturas, as velas, as flores, as procissões, as vestes, os hinos e
orações com os quais satisfaziam os povos antigos. A Igreja passou a instituir
dogmas e preceitos, como o Sinal da Cruz, o batismo infantil e a lenda do
purgatório onde se acredita que as almas dos mortos são atormentadas até serem
purificadas dos seus pecados terrenos. O tempo que uma alma passava no
purgatório era limitado pela venda de Indulgências, as quais eram uma espécie
de passaporte para o Paraíso e de perdão dos pecados. Isso envolvia vasta soma
de dinheiro aos cofres da Igreja. Os verdadeiros fiéis eram muito poucos.
Perdeu-se de vista o brilho da luz do Evangelho. Mas, multiplicaram-se as
formas de religião.
Giuseppe:
--- Certamente. Certamente. E o povo foi sobrecarregado de
severas exigências. - relatou constrangido o monge
Abade:
--- Com certeza. Com certeza. Todos que não fossem da Igreja
papal eram considerados hereges. E entregues as autoridades do Estado para que
fossem punidos. – vez ver o abade
Giuseppe:
--- As penas variavam desde o confisco de bens, penas de
liberdade, até pena de morte. – relatou o Monge com muito acerto.
Abade:
--- Isso mesmo. Muitas vezes na fogueira. Muito embora
houvesse outras formas de se aplicar a pena. E dessa forma ficou instituída a
Inquisição católica.
Giuseppe:
---- Essa foi uma época de bastante terror. Era de trevas. E nessas
trevas durante o longo período da supremacia papal a luz da verdade não podia
ficar inteiramente extinta. Em cada época houve testemunhas de Deus. Homens que
acalentavam a fé em Cristo em quem acalentavam esperança entre Deus e o homem. -
relatou com certeza incerteza o Monge.
Abade:
--- Justamente. Justamente. Muitos deles se separaram da
cristandade oficial para procurar uma forma de cristianismo mais puro e apegado
à simplicidade do Evangelho. Nos vales alpinos do norte da Itália e no sul da
Suíça prosperaram por vários séculos um grupo de cristãos de características
singularmente especiais a quem a história designou com o nome de Valdenses. Os
Valdenses foram os primeiros dentre os povos da Europa a obter a tradição das
sagradas Escrituras. Centenas de anos antes da Reforma possuíam a Bíblia em
manuscrito na língua materna. – relatou com suavidade o Monge abade.
Giuseppe:
--- Valdense quer dizer os seguidores de Pedro Valdo, na
Idade Média. E ainda subsiste hoje nos Estados Unidos, França, Alemanha,
Itália, Uruguai. Esse povo foi excomungado pela Igreja. No século XVI eles se
adotada ao Calvinismo, de João Calvino. “Pela fé vós sereis salvo”, segundo São Paulo. –
comentou com certeza o Monge.
Abade:
--- Isso é outra história que não nos compete, apesar de
sermos Cristãos devotos da Igreja de Roma. Muito embora os valdenses também
tenham sido queimados em Roma. Em 1380 o Papa Clemente VII os considerou como
hereges. E assim, mais de uma centena desse grupo foi sacrificada. – destacou com
certa precaução o abade.
Giuseppe;
--- Houve grave perseguição aos valdenses. Isso durou mais de
séculos. Mulheres e crianças morreram nas neves dos altos das montanhas alpinas.
Enquanto isso a Inquisição, nas cidades, matou, afogou, esfolou, torturou e fez
muito mais para destruir os valdenses. Os que não se submeteram ao mandado da
lei pagaram os preços com suas vidas. – relatou compungido o Monge.
Abade;
--- Tem um caso. Para os verdadeiros cristãos, o batismo era
uma coisa séria. E por isso só podia ser celebrado em adultos conscientes, como
acontecia nos primórdios da Igreja apostólica. Os grupos que rejeitavam o
batismo das crianças foram chamados de “anabatistas”.
Eles também seguiam os ensinamentos de Jesus Cristo e a doutrina dos apóstolos.
Por esse motivo também foram vítimas de ódio e perseguição. E considerados
hereges pela Igreja romana. Eles foram condenados pelo Tribunal da Inquisição.
Os anabatistas eram perseguidos e caçados de um povoado a outro. Eles nunca
sabiam quando teriam de sofrer a perdas dos seus bens outra vez. Eles nunca
sabiam quando teriam que se levantar durante a noite para fugir com as poucas
coisas que poderiam levar na mão. – mortificou-se como numa prece o abade.
Giuseppe:
--- Foi uma triste verdade a sofrida pelos estranhos cristãos.
– comentou com incerteza o novo Monge.
Abade;
--- Já mais tarde, no século XVI, a Reforma Protestante,
encabeçada por Martinho Lutero, se espalhava por toda a Europa. Esse mesmo
período, a Igreja Católica ainda proibia, severamente, qualquer pessoa leiga de
ler a Bíblia. O Clero ditava que o povo simples não podia compreender as
sagradas Escrituras e tinha que ter a sua ajuda. A interpretação era feita segundo
a sua conveniência. – relatou bastante compungido.
Essa conversa mantida entre o Abade e o Monge ficou mantida
em absoluto sigilo, pois eles jamais revelariam aos outros Monges e nem ao povo
simples de algum vilarejo existente pela deserta região. Os acordes do carrilhão
da Igreja marcavam a hora da refeição e ambos foram saindo para as suas
refeições do meio dia.
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